Estamos chegando ao final do ano e com ele também chega ao final nossa série de artigos sobre captação de recursos com indivíduos. Preciso trazer alguns questionamentos pertinentes: até aqui, como você tem avaliado essas perspectivas de captação com indivíduos? Os artigos anteriores te fizeram refletir sobre como funciona o processo e como você pode, com seu time, definir o que mais se adéqua à sua OSC?
Neste artigo vamos tratar da última parte, as estratégias de captação de recursos! Você já tem em mãos os
tipos de doação: pontuais e recorrentes. Já sabe quais
tipos de abordagem pode escolher. Agora é hora de entender qual a estratégia mais assertiva para sua organização.
Preparados?
1) Apadrinhamento
A advogada Flávia Ortega, em seu artigo
Nova Lei 13.509/2017 dispõe sobre o programa de apadrinhamento, exemplifica muito bem o que é o apadrinhamento, que “consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à instituição para fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro”.
Qualquer organização pode utilizar essa estratégia de captação de recursos, principalmente as que atendem diretamente a infância e adolescência e são configuradas como abrigos institucionais. De fato, como seria esse apadrinhamento? Eles podem se configurar como: Afetivo, financeiro, prestador de serviço ou doação de material. No texto “O que é apadrinhamento?” você pode entender de que formas esses apadrinhamentos podem atender aos seus beneficiários e à sua instituição.
A forma mais comum e que muitas organizações adotam é o apadrinhamento financeiro. A ChildFund Brasil explica no seu texto “Apadrinhamento financeiro: o que é e como funciona” que o apadrinhamento financeiro é uma forma de doação mensal que visa financiar os projetos sociais que atendem o afilhado ou a afilhada de sua escolha.
O funcionamento e o processo de apadrinhamento é peculiar de cada organização, mas há princípios que precisam ser levado em conta como a transparência das ações entre OSC-beneficiário, comunicação assertiva entre padrinhos e OSC, prestação de contas e monitoramento e intermediação das interações afetivas e sociais entre padrinho e afilhado, assegurando que os direitos da criança sejam garantidos.
2) Nota fiscal
O principal propósito desses programa fiscal na maioria dos estados em que existe estabelecido é “o de conscientizar a população sobre a importância de pedir notas fiscais e estimular a participação de todos no controle e na aplicação de recursos públicos através de uma iniciativa que sorteia prêmios e ajuda instituições”.
E por falar em instituição, cada uma pode fazer o relatório social, no qual apresenta como está aplicando os recursos arrecadados no programa para que seus apoiadores acompanhem o trabalho. O objetivo desse relatório é gerar mais simpatizantes com cada projeto, e assim cada instituição poderá ter mais indicações.
No texto escrito por nossa responsável pelo editorial do Portal do Impacto, Daiany França, o “Por dentro do Programa Nota Fiscal Paulista” há um passo a passo super importante para quem lê este artigo do estado de São Paulo. Paralelamente também deixo para quem me lê do estado do Ceará, detalhes sobre o programa
Sua Nota Tem Valor: saiba como participar, concorrer a prêmios e ajudar a quem precisa.
3) Heranças
As heranças são formas de estratégia de doação pouco comuns e muitas vezes problemáticas. Isso porque temos duas configurações de doação de bens, a feita em vida que é muito mais simples e gera menos problema, e a feita após o doador morrer, registrada em testamento. A doação feita após a morte do doador por meio de testamento pode ser complexa pelos seguintes pontos:
- A herança doada
post mortem, conforme a lei, só pode ser doada até 50% do total, caso o falecido tenha deixado uma família (ascendente, descendente ou cônjuge).
- Existe um imposto que tributa esse tipo de doação, Trata-se do ITCMD (Imposto sobre Transmissão “Causa Mortis” e Doação), no artigo
Tributação de doação: barreira para a solidariedade, você pode entender mais como funciona.
As doações de heranças em vida se constituem uma forma mais fácil e menos burocrática, vide o exemplo Giving Pledge, que um grande movimento de pessoas com muita visibilidade e muito dinheiro que se refere a pactos firmados publicamente por essas pessoas que se comprometem a doar parte de suas heranças e fortunas ainda em vida.
Esse processo compete a cada um que se coloca como parte do movimento e possui suas próprias diretrizes sobre quem e como doar. É também um novo perfil de doador que surge, que é a geração Z. No artigo “A nova geração de doadores” falo um pouco desse perfil e recomendo a leitura.
4) Crowdfunding (vaquinha)
Na prática, ao comprar um produto ou serviço, como um remédio na farmácia, um curso on-line ou uma passagem aérea, um indivíduo pode escolher arredondar sua compra e assim doar os “centavos” a mais para uma OSC ou causa. A soma dos centavos vira milhares de reais, que fazem MUITA diferença para inúmeras organizações (e nós sabemos o quanto, hein!).
A ideia é simples: inspirar pessoas a fazerem pequenas doações, dentro de sua rotina de compras. “Se uma conta que deu R$ 17,80, por exemplo, arredonda para R$ 18 e os R$ 0,20 são destinados para apoiar uma causa.” As micro doações também impactaram a vida de mais de 2 milhões de pessoas nas cerca de 15 transações registradas por minuto, em 2019. Tudo isso graças a uma enorme cadeia de marcas que “vestiram a camisa” e treinaram seus funcionários para entusiasmar os clientes.
Explicamos mais sobre essa estratégia neste
Guia.
6) Cofrinho
Algumas formas de captação evoluem com o tempo. Ao olhar para o arredondamento de compras, vejo muito claro que pode ter sido uma combinação de várias experiências de doações, incluindo o “Cofrinho”.
Um jeito de arrecadar recursos à moda antiga, por meio da conhecida “caixinha sapato”, o cofrinho ainda pode ser uma alternativa para OSCs, sobretudo as de pequeno porte financeiro.
Leia também:
O poder das microdoações
7) Campanhas anuais (ex: Dia de Doar)
O foco dessa estratégia é desenhar e fortalecer uma campanha para que ela seja executada anualmente e consiga se estabelecer como marca da organização.
Existem hoje muitas campanhas anuais nacionalmente conhecidas como o Criança Esperança que apoiado pela Rede Globo e organizado em parceria com a UNICEF e UNESCO, e também o Teleton que é apoiado pelo SBT e beneficia as atividades da AACD, que atua com pessoas com deficiência.
Existe um movimento mais novo e que todas as organizações podem aderir que se chama Dia de Doar. O movimento do Dia de Doar vem na sequência de datas comerciais já conhecidas e consolidadas como a Black Friday e a Cyber Monday.
A ideia do Dia de Doar é promover e difundir a cultura da doação no Brasil e em outros países. De 2013 para cá, o movimento cresceu de forma exponencial e hoje conta com 85 países signatários do movimento.
Sobre o que é o dia de doar leia: Dia de Doar - Dia internacional para promover a cultura da doação
Sobre dicas de ações para o Dia de doar, segue:
Reta final para o Dia de Doar no Brasil e no mundo
Apresentadas as estratégias, avalie com o time da sua organização quais são factíveis, viáveis e que trarão boas possibilidades de retorno. Defina quais tipos de abordagens serão implementadas ou melhoradas e saiba quando escolher por campanhas de doações pontuais ou recorrentes. O planejamento é essencial para que o caminho seja trilhado com menos percalços!
Contem conosco, um feliz natal e boas festas!