A nova geração de doadores

30 de junho de 2022

Este conteúdo foi produzido por Pedro Sá

Até 2030, a economia mundial testemunhará a maior transferência de riqueza entre gerações da história. Previsões indicam que millennials (nascidos entre 1985 e 1995) receberão mais de US$ 68 trilhões de seus pais e avós, ampliando em mais de cinco vezes suas riquezas¹.


Juntos aos millennials, temos também a geração Z, que vem poucos anos depois (a partir de 1995). Sabe o que essas gerações têm em comum? Tecnologia, smartphones e informação na palma da mão, além de um senso crítico muito apurado quanto à priorização de negócios que geram impacto social.


Essas são apenas algumas características das gerações que hoje modificam a forma como as pessoas se relacionam, como negócios se comunicam e se posicionam e como as redes de consumo se estabelecem.


Como afirmam Roberta Faria e Rodrigo Pipponzi em seu artigo A geração que vai mudar o mundo, essas são as gerações que tomam atitudes a partir dos seus ideais, transportando seus valores e crenças para a prática. Hoje, a Geração Z, juntamente com os Millenials, têm a capacidade de abraçar diversos movimentos e bandeiras de forma simultânea, o que para organizações sociais representa uma grande oportunidade de engajamento e força em suas causas sociais.


No podcast Aqui se faz, aqui se doa, do Instituto Mol², também é citado que hoje existe um grande movimento de pessoas com muita visibilidade e muito dinheiro, chamado "Giving Pledge", que se refere a compromissos firmados publicamente por essas pessoas que se comprometem a doar parte de suas heranças e fortunas ainda em vida. Vide o exemplo do Bill Gates, criador da Microsoft, e Davi Velez, Co-fundador do Nubank. Este último se comprometeu, junto à sua esposa Mariel Reyes, a doar uma fortuna que ultrapassa 5 bilhões de dólares ainda em vida.³ 


Segundo a pesquisa Future of Giving, publicada em 2020 pela Spark and Honey4, cerca de 73% dos entrevistados da geração Z afirmam que “ser politicamente ou socialmente engajado é muito importante para a sua própria identidade”. 


“Pedro, muito bacana essas informações, mas como eu posso acessar essas pessoas/fortunas para minha organização?”. Se você se fez essa pergunta, estamos no caminho certo. Se hoje e nos próximos anos serão essas as pessoas que mais doarão para causas sociais e movimentos com os quais se identificam, são elas que precisamos atrair para nosso mundo.


Como faremos isso? Existem várias formas de conseguirmos mobilizar a atenção, o apoio e o recurso dessas pessoas. Vou citar aqui alguns pontos que não podemos negligenciar:


Comunicação


A comunicação com os millenials e a geração Z tem que ser simples, aberta, clara e objetiva. É uma geração que consome muita informação a todo momento, por isso nossa comunicação com esse público deve oferecer fatos e dados e atrair a atenção e, principalmente, deve ser honesta e transparente.


Por exemplo: se sua OSC necessita de apoio financeiro para reformar uma área importante de uso dos projetos, mostre qual a área, por que aquela área precisa do apoio, o que é desenvolvido ali, quantas pessoas podem ser beneficiadas e, mais ainda, publique depoimentos de quem já é beneficiado e como aquele ambiente fará a diferença na experiência dessa pessoa dentro dos seus projetos. A geração Z constrói relações afetivas com marcas e organizações que comunicam seus propósitos.


Saiba adequar a forma como é comunicada a sua causa e seu propósito, seja por meio de textos que abracem a linguagem ou gírias utilizadas para determinados temas. Outra ideia é utilizar avatares que personificam sua OSC, assim como a Magalu. Quanto mais pessoal e direta a comunicação, mais próximo você vai conseguir estar da geração Z e dos millennials.


Indicadores e transparência


Essas gerações preferem organizações que realmente fazem e mostram que fazem, muito mais do que as que falam que vão fazer. Ter um controle sobre os indicadores e realizar um monitoramento sério dos seus projetos e ações é essencial para que você consiga atrair a atenção deles, e isso será materializado por meio de relatórios de atividades disponíveis nas mídias digitais da sua OSC, relatos de experiências compartilhados e acervos disponibilizados por meio do site da organização. 


Como afirma o autor do livro Philanthrocapitalism: How Giving Can Save the World⁵ (em tradução livre: Filantrocapitalismo: como a doação pode salvar o mundo), "organizações que não caminharem de acordo com suas falas não serão escolhidas pela nova geração nem como forma de consumo e nem como opção para exercer sua força de trabalho." E completo: não serão opção para receber doações e incentivos.

Os millennials são, em sua grande maioria, mobilizados por seus propósitos e valores. Portanto, é pouco provável que um millennial se atraia por uma organização que não consegue se alinhar com os propósitos e preocupações sociais pregados por eles.⁶


Em conclusão, para engajar os millenials e a geração Z nas suas causas sociais, é importante investir em comunicação, monitoramento de indicadores e transparência na conduta. Priorizando esses pontos e sabendo identificar e investir em outros elementos estratégicos, as chances de obter grandes e bons retornos aumentam notavelmente. Então, mãos à obra?



Pedro Sá

Pedro Sá é graduado em Gestão Desportiva e de Lazer pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE), possui uma história no setor social desde os 15 anos e, como profissional, já atuou na administração pública e privada; hoje atua como consultor independente em gestão de projetos de impacto e captação de recursos.


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