O poder das microdoações

24 de junho de 2021

Este conteúdo foi produzido por Pedro Sá

Você já ouviu falar em microdoações? Sabe aqueles centavos de troco que sempre sobram de qualquer compra que a gente faz na sorveteria, no supermercado ou até mesmo em lojas? Sabia que existe uma estratégia de captação muito interessante que é focada neste recurso? 


Esse é o foco das microdoações: pequenos valores doados de forma consistente e de amplo alcance por um grande número de pessoas, que no montante gera um valor considerável de fundo livre para a organização. O foco dessa estratégia é não somente alavancar a renda das ONGs, uma vez que o recurso obtido pode ser baixo, mas também tem o propósito de impactar positivamente a organização e os parceiros dessa iniciativa em outros aspectos – como a visibilidade da causa para um público maior¹, o fortalecimento da marca e presença no mercado das empresas parceiras, a possibilidade de captar novos doadores por meio da divulgação das campanhas ativas², o aumento do poder de fidelização de clientes e doadores, a diminuição da dificuldade de passar pequenos trocos, dentre outras possibilidades.


Uma iniciativa exemplar é o Movimento Arredondar, parceiro do Portal do Impacto, que trabalha com a perspectiva das microdoações desde 2011. Nesse período, 58 ONGs foram apoiadas por meio dos recursos arrecadados, 29 milhões de microdoações foram mobilizadas e 2,25 milhões de pessoas foram impactadas. Só em 2019, realizaram-se cerca de 15 doações por minuto. A ideia é fortalecer a cultura de doação, facilitar o processo para o doador, engajar a marca dos parceiros e contribuir para o impacto positivo das atividades desenvolvidas pelas organizações beneficiadas pelo projeto.


“Bacana, gostei dessa estratégia, mas como faço para colocá-la em prática?” 


Há alguns passos essenciais para que essa estratégia funcione corretamente e para que você consiga reverter boas doações e criar parcerias de alto valor. Vou listar o que não pode faltar de forma alguma, mas isso não reduz a necessidade de se atentar a outros pontos que porventura não estejam listados a seguir: 


1. ESCOLHA DOS PARCEIROS


Não adianta você ter como parceiro qualquer loja ou empresa que não tenha interesse na causa, que não abrace a ideia e que não tenha o compromisso de promover a ação de forma conjunta. Então, é importante prestar atenção a alguns pontos ao fechar uma parceria, tais como:

  • O engajamento dos colaboradores da empresa (eles estarão em contato direto com o doador e serão fatores decisivos no ato de doar)³;
  • O bom relacionamento da loja com os clientes (acredito que você não queira vincular sua organização a uma empresa que não trata bem o cliente, certo?);
  • A responsabilidade que a empresa terá na divulgação (explicação da ação realizada, da campanha e da atividade da ONG para os clientes).


2. DEFINIÇÃO DO MEIO DE ARRECADAÇÃO DA DOAÇÃO


É primordial definir as formas de recolhimento das doações. Há diversas possibilidades: a captação informatizada, por meio de um software, instalado pela empresa, que contabiliza os trocos doados, facilitando até mesmo a conferência do valor doado no ato do repasse; ou a arrecadação à moda antiga, por meio da conhecida “caixinha sapato”  – que, no caso, pode ser um cofre bem elaborado, criativo e desenhado para chamar a atenção do doador. É interessante que a caixinha passe para o cliente a mensagem da causa pela qual a organização trabalha. 


3. ALINHAMENTO E TREINAMENTO DE COLABORADORES


Não basta apenas escolher os melhores parceiros e a melhor forma de se receber a doação. É necessário, também, capacitar e alinhar os colaboradores (tanto das empresas parceiras como da própria organização) quanto ao funcionamento da campanha. Os funcionários devem compreender-se como multiplicadores da causa, para que consigam encorajar de forma simples e leve os clientes a fazerem suas microdoações.


4. TRANSPARÊNCIA E COMUNICAÇÃO


Não é só pelo dinheiro que devemos implementar essa estratégia, mas sim pela possibilidade de chegar em milhares de pessoas por meio dos parceiros. Esta  é uma oportunidade para captar novos doadores – pontuais e recorrentes – para sua organização. Para isso, precisamos ter um plano de comunicação de impacto claro, transparente e objetivo que demonstre como aquele recurso é aplicado e, principalmente, quais benefícios têm sido gerados.

Criar formas de reconhecer esses doadores também é uma maneira de se comunicar com eles. Podem ser desenhadas, por exemplo, algumas estratégias de envio de boletins informativos àqueles que desejam cadastrar-se e acompanhar a organização (importante que o e-mail para contato da organização seja divulgado). É fundamental que as mídias digitais estejam alinhadas a essa estratégia de captação de recursos, pois elas podem influenciar os seguidores da organização a doarem para a causa.

Em resumo, o planejamento da microdoação4 deve ser pensado para que a captação seja ampla, rápida, fácil, eficiente, transparente, de preferência informatizada e capaz de divulgar fortemente o impacto da ação. Siga essas dicas, converse com sua equipe e mãos à obra!


Referências para consulta:


1. Micro doações: o que são?

2. Troco Solidário: centavos que fazem a diferença.

3. Artigo Microdoações, Macrorresultados. Tânia Veludo de Oliveira, Edgard Barki e Felipe Zambaldi.

4. Microdoações: Estratégia De Captação De Recursos Para Organizações.



Este conteúdo foi produzido por
Pedro Sá


Pedro Sá

Pedro Sá  é graduado em Gestão Desportiva e de Lazer pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE), possui uma caminhada no setor social desde os 15 anos, enquanto voluntário em ações sociais em defesa da orfandade, do idoso e das pessoas em situação de rua. Como profissional, já atuou na área administrativa e de atendimento ao cliente; foi consultor de gestão, elaborou projetos e captou recursos para OSCs. Hoje, integra o time de captação de recursos da Nexo Investimento Social. Instagram


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