Conheça as organizações que constroem um Amanhã decolonial em seus Territórios
Este é o primeiro de cinco artigos da série intitulada Vozes dos Territórios: uma jornada decolonial na Filantropia Brasileira. A série dedica-se a compartilhar com o ecossistema de impacto as experiências e aprendizados na construção da Comunidade Territórios do Amanhã - uma iniciativa Próspera Social, com realização do Instituto Phomenta.

O que um coletivo que realiza atividades para fortalecimento da saúde mental de jovens negros periféricos de Brasília-DF tem em comum com uma ONG que atua no desenvolvimento de pesquisas e divulgação científica e tecnológica em diferentes cidades da Bahia?
Para responder a essa e tantas outras perguntas, nasce, em 2022, a Comunidade Territórios do Amanhã, uma iniciativa da Próspera Social, com realização da Phomenta. A Comunidade é um espaço construído intencionalmente para promover o fortalecimento e desenvolvimento institucional de organizações sociais (coletivos e ONGs) que atuam diretamente no atendimento das mais diversas demandas das populações negras, quilombolas e indígenas no Brasil.
Desde a sua concepção, a Comunidade tem a missão de construir novas perspectivas, a partir de uma visão decolonial de atuação sistêmica dentro do Terceiro Setor. O pensamento decolonial, base que sustenta as práticas e atividades desenvolvidas com esta Comunidade, se constituiu historicamente a partir de experiências que projetaram (e projetam) resistências e formas outras de existir diante do racismo, do patriarcado, do capitalismo, especialmente em territórios atravessados pelas experiências de colonização.
Define-se, portanto, pela denúncia dos efeitos da colonialidade – ou seja, de tudo aquilo que permaneceu como herança da escravidão e do colonialismo -, ao passo que busca desestruturar as relações de poder, ser e saber da colonialidade. Estes movimentos de base decolonial se conectam com experiências de resistência ancestrais, enquanto operam politicamente na construção de novos conhecimentos que valorizem as múltiplas formas de existir advindas da diversidade de povos e culturas em todo o mundo. Aqui, perspectivas raciais, étnicas, de gênero, de classe, região, sexualidade e afins configuram-se como fundamentais na leitura de mundo, assim como na atuação sobre ele.
A abordagem de atuação em rede aliada ao pensamento decolonial é uma tentativa de reconhecer os efeitos da colonização e da colonialidade e promover a resistência político-cultural e a descentralização do conhecimento na sociedade brasileira. É a partir desta busca que a Phomenta vem atuando com as 15 organizações que compõem esta Comunidade de prática, de aprendizagem e de fortalecimento emocional de lideranças e organizações atuantes nos mais distintos territórios do país.
A Comunidade Territórios do Amanhã fortalece lideranças e organizações presentes em quatro das cinco regiões do Brasil, sendo 11 cidades de seis estados e o Distrito Federal. Juntas, elas impactam mais de 22 mil pessoas por ano, com cerca de 250 voluntários e 136 pessoas empregadas diretamente. Já as lideranças que representam essas organizações são majoritariamente Mulheres (78%) e Negras (70%), seguidas de Indígenas (26%). E, neste artigo, queremos que você conheça um pouco mais sobre cada uma delas.
Conheça as organizações que estão se dedicando à construção destes Territórios do Amanhã.

Associação de Cultura e Artes - Casa de Bambas
Rio de Janeiro-RJ
A capoeira e as diferentes expressões artísticas herdadas da cultura afro-brasileira são os vetores da transformação de um território e das juventudes e infâncias que o habitam. A Casa de Bambas tem se dedicado à oferta de oficinas e aulas de capoeira, danças folclóricas e produção de instrumentos musicais na Comunidade Alta em Cordovil, no Rio de Janeiro.
Para saber mais e apoiar o trabalho da Casa de Bambas, clique aqui.
Associação de Mulheres Indígenas da Aldeia Muruary
Santarém/PA
Proteger, difundir e fortalecer a cultura e a ancestralidade de um povo passa, necessariamente, pela proteção e promoção dos direitos das mulheres dentro desse território. A Associação de Mulheres Indígenas da Aldeia Muruary tem atuado, desde 2021, na proteção dos direitos das mulheres indígenas, combatendo as diferentes formas de violência que atingem essas mulheres e, junto disso, atuado diretamente na proteção do território em Santarém, no Pará, com a brigada de incêndio voluntária.
Para conhecer e apoiar o trabalho das mulheres da Associação de Mulheres Indígenas da Aldeia Muruary, clique aqui.
Decodifica
Rio de Janeiro/RJ
Mudar a realidade por meio da geração de dados é o que define o Decodifica. Desde 2021, a organização atua com uma metodologia chamada Geração Cidadã de Dados, envolvendo a população no processo de pesquisas que dizem respeito à realidade vivida pelas comunidades onde atuam, para identificar os desafios enfrentados pela população e propor soluções que mudem o cotidiano prático dessas pessoas.
Para saber mais e apoiar o trabalho do Decodifica, clique aqui.
Associação para Desenvolvimento Local Co-produzido - ADELCO
Fortaleza-CE
Desde 2001, a ADELCO, com sede em Fortaleza, tem atuado para a melhoria das condições socioambientais e fortalecimento político e cultural das populações indígenas do estado do Ceará. Seja por meio das melhorias habitacionais, do saneamento ecológico, da agroecologia, da gestão ambiental e territorial ou das ações de visibilidade para os povos indígenas, a ADELCO tem contribuído com a autonomia, o fortalecimento de capacidades e a preservação dos saberes culturais tradicionais dos povos indígenas, além da preservação e conservação do meio ambiente.
Para conhecer e apoiar o trabalho da ADELCO, clique aqui.
Casa Poéticas Negras
Parati-RJ
“Queremos que nossas narrativas sejam contadas e protagonizadas por pessoas negras e indígenas.” É assim que a Casa Poéticas Negras se apresenta como um espaço não formal de educação, em um território que ainda possui resquícios coloniais no seu modo de vida e com sua população . Desde 2019, a organização se dedica ao enfrentamento ao racismo estrutural como um espaço não formal de educação, oferecendo programas educacionais afropindorâmicos de longa duração para crianças, jovens e adultos, como contraturno afroreferenciado para crianças de 4 a 10 anos, curso de inglês e cursinho preparatório para ENEM e vestibulares. A organização também é Ponto de Cultura reconhecido e atua nessa frente com uma casa literária, tendo em funcionamento a primeira biblioteca comunitária afropindorâmica da costa verde e participando como casa parceira da FLIP todos os anos com mais de 40 horas de programação afrocentrada.
Para conhecer e apoiar o trabalho da Casa Poéticas Negras, clique aqui.
ConexãoAfro
Brasília-DF
Localizados em Brasília, os jovens do Conexão Afro tem atuado para a construção de um espaço seguro para que os jovens negros possam se conectar, compartilhar vivências e afetos entre eles. Ser um jovem negro no Brasil é um desafio constante, seja pelas violências enfrentadas ou pela sensação de solidão que essa fase da vida traz consigo. O Conexão Afro tem transformado essas dores em resistência e afeto negro em Brasília.
Para conhecer e apoiar o trabalho do Conexão Afro, clique aqui.
Instituto de Preservação dos Direitos Humanos e Preservação do Meio Ambiente - Vale do Sol
Maceió-AL
O Instituto Vale do Sol atua na promoção de conexão justa e sustentável entre campo e cidade, em diferentes regiões de Alagoas. Por meio de seus projetos e ações, o Instituto transforma realidades e fortalece a agricultura familiar, criando valorização dos saberes tradicionais e garantindo acesso a alimento saudável e livre de agrotóxicos. O carro chefe do Instituto Vale do Sol é a Feira Afroecológica Novo Jardim, um espaço de resistência, cultura e cidadania. Nela, as famílias agricultoras compartilham suas produções e vivências, enquanto geram renda digna e promovem a saúde de comunidades urbanas e rurais. Por meio das redes colaborativas das quais fazem parte, o Instituto Vale do Sol contribui para políticas públicas e práticas sustentáveis em todo o estado, sendo uma referência em justiça socioambiental no Nordeste.
Para conhecer e apoiar o trabalho do Instituto Vale do Sol, clique aqui.
Instituto Feminista Jarede Viana
Maceió-AL
O instituto feminista Jarede Viana nasceu em 29 de agosto de 2008 em enfrentamento à LGBTfobia nos espaços de saúde e assistência social. Hoje atua com foco em direitos humanos, especialmente voltados para a garantia da proteção das mulheres e jovens vulneráveis, com foco na população negra e índigena. O Jarede Viana tem sede na periferia de Maceió e na Maloca Mata da Cafurna da Etnia Xucuru Cariri em Palmeira dos Índios - AL. Com três frentes de trabalho, dedica-se ao acolhimento institucional para mulheres e seus filhos que tenham sido vítimas de violências, espaços de aprendizagem e oficinas de geração de renda e o enfrentamento ao racismo ambiental e promoção da saúde mental para as famílias impactadas pelo desastre socioambiental em Maceió.
Para conhecer e apoiar o trabalho desenvolvido, clique aqui.
Instituto Mancala
Salvador/BA
A ciência tem viés, e ele está atrelado a quem faz pesquisa, e para que cada vez mais pessoas indígenas e negras ocupem esses espaços, o Instituto Mancala trabalha em Salvador. Por meio do Mukengi, o Instituto Mancala tem capacitado pesquisadores negros e indígenas para o desenvolvimento de pesquisas sobre insegurança alimentar, meio ambiente e saúde.
Para conhecer e apoiar o trabalho do Instituto Mancala, clique aqui.
Movimento Associativo Indígena Payaya - MAIP
Utinga-BA
As famílias indígenas do povo Payaya, em especial as que vivem às margens do rio Utinga, são as principais atendidas pelo Movimento Associativo Indígena Payaya, também conhecido pela população como MAIP. As atividades são diversas, e passam desde o turismo comunitário para geração de renda, até pelo cultivo de mudas nativas para recuperação de nascentes e plantio de roças agroecológicas.
Para conhecer e apoiar o trabalho do MAIP, clique aqui.
Ponto de Cultura Batá Kossô
Olinda/PE
Desde 2012, o Batá Kossô oferece oficinas de iniciação à musicalização para a população de Olinda. Com uma metodologia própria e reconhecida em outros territórios, o Batá Kossô é mais do que um Ponto de Cultura, é também a materialização da memória cultural dos ritmos populares do Nordeste. Representado por Felipe França, o Bará Kossô realiza a Semana de Artes do Batá Kossô, a festa de Cosme e Damião e seu conhecido desfile oficial durante o carnaval, nas ladeiras da cidade histórica de Olinda.
Para conhecer e apoiar o trabalho do Ponto de Cultura Batá Kossô, clique aqui.
Pretas Ruas
Rio de Janeiro/RJ
A Pretas Ruas é uma organização fundada e liderada por mulheres negras que atua na defesa, promoção e garantia de direitos, na redução de danos e no fortalecimento de pessoas em situação de rua, abrigos e ocupações. Com base no cuidado, na educação, na cultura e na incidência política, promove formações, ações de advocacy, eventos culturais e projetos de saúde e bem-estar, valorizando a ancestralidade e o protagonismo das mulheres negras e pessoas em situação de rua como caminhos de transformação social.
Para acompanhar e apoiar o trabalho do Pretas Ruas, clique aqui.
Projeto Educacional Raízes - Projedur
Salvador/BA
A entrada no ensino superior ainda é uma realidade distante para muitos jovens negros e periféricos de Salvador. É para encurtar essa distância que nasce o Projedur – Projeto Educacional Raízes, em Alto de Coutos, pelas mãos de Maiane Soares. Mestra em Língua e Cultura pela UFBA, Maiane viveu a experiência de projetos sociais educacionais como professora voluntária no GAPPECC, entre 2010 e 2012. Dessa vivência nasceu a certeza: era preciso criar pontes entre o subúrbio ferroviário e as universidades. Pensado em 2016 e iniciado em 2017, o projeto começou com 10 estudantes. No ano seguinte, encontrou acolhida na Escola Municipal Francisca de Sande, crescendo para 35 vagas. Em 2020, a pandemia levou o Projedur ao ambiente virtual, permitindo alcançar estudantes para além de Alto de Coutos. Hoje, junto de uma equipe comprometida, o Projedur segue sua missão: transformar vidas pela educação.
Para acompanhar e apoiar o trabalho do Projeto Educacional Raízes, clique aqui.
Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental - RAIS
Dourados/MS
Lutar por direitos sociais, ambientais, culturais e territoriais enquanto resiste aos mais diversos ataques ao seu povo e sua própria existência é a realidade vivida pelos povos indígenas do Mato Grosso do Sul. A Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental une profissionais técnicos e professores indígenas e não indígenas com profundo conhecimento histórico, prático e técnico sobre os Guarani e os Kaiowa para o desenvolvimento de projetos e programas que fortaleçam estes povos na preservação de seu patrimônio cultural, territorial e social.
Para conhecer e apoiar o trabalho da Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental, clique aqui.
Slow Food Xingu
Vitória do Xingu-PA
A chegada cada vez mais facilitada de alimentos ultraprocessados em aldeias e territórios indígenas é uma ameaça direta à existência e à preservação dos saberes ancestrais. Slow Food Xingu, fundada em 2019, se dedica à promoção do cultivo de mandioca e outros alimentos regionais para promoção da soberania alimentar e cultural dos povos Juruna, Xipaya e Kuruaya, em Vitória do Xingu - Pará. Na Comunidade Territórios do Amanhã, a Slow Food Xingu é representada por Murilo Juruna.
Para acompanhar e apoiar o trabalho do Slow Good Xingu, clique aqui.
No próximo artigo, falaremos mais sobre o que é o Pensamento Decolonial e como ele dialoga com o Terceiro Setor na construção de futuros transformadores. Acompanhe nas redes sociais do Portal do Impacto e aqui no site.
Quem assina o artigo:
Agnes Santos, Gerente de Parcerias na Phomenta, com revisão de Maria Clara Cavalcanti, Professora de História, Pesquisadora e Educadora Popular, e todas as organizações da Comunidade Territórios do Amanhã.
Contamos com o apoio de Kauê Augusto e Camilla Carvalho - equipe gestora da Comunidade Territórios do Amanhã.
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