Yoga como ferramenta de autocuidado no Terceiro Setor

17 de agosto de 2023

Este conteúdo foi produzido por Sara Dias

Encontrei no Yoga uma nova forma de me relacionar com o trabalho no terceiro setor. Antes dele, essa relação não estava saudável, me consumindo e mais uma vez me adoecendo. Neste processo de autoconhecimento, percebi que sem me fortalecer individualmente, minha contribuição no coletivo ficava prejudicada e estava prestes a me parar.


Como descrito por Shri Suboth Tiwari, CEO e diretor do Instituto de Yoga Kaivalyadhama, em Lonavala, Índia: “O yoga desempenha um papel de regulação física, mental, emocional, social e espiritual [...] ele assegura que falemos de saúde como um todo, em todos os níveis”. 


Em uma entrevista concedida à ABY - Associação Brasileira de Yoga, em 2023, o mestre indiano ressaltou que para nós é mais fácil observarmos a saúde física como indicador de bem-estar, mas indagou o que responderíamos caso nos perguntassem “como você está?” e não estivéssemos com dor de cabeça ou no ombro, por exemplo. Provavelmente, diríamos que “estamos bem” mesmo nos sentindo fragilizadas (os) e com frequente vontade de chorar.


O yoga, em seu trabalho de integração dos saberes, oferece uma nova percepção de individualidade. No meu caso, percebi o quanto meus pensamentos e ações não estavam de acordo com minha essência, meus desejos e potencialidades, mas sim, debaixo de várias camadas de desculpas e escolhas equivocadas. Era necessário rever a rota.


E como o Yoga faz isso?


Os Yogas Sutras de Patanjali, texto tradicional da filosofia Yoga, apresentam um caminho de oito passos, descritos primeiramente em sânscrito, a serem seguidos pelo praticante de Yoga (yogue), em busca do autoconhecimento e da autorealização.


São eles:


  • Yamas - descrevem 5 condutas éticas do yogue, que incluem: Ahimsa (não violência), Satya (veracidade), Asteya (não roubar), Brahmacharya (moderação sexual) e Aparigraha (não possessividade).
  • Nyamas - falam de 5 observações pessoais: Saucha (limpeza), Santosha (contentamento), Tapas (disciplina), Svadhyaya (autoconhecimento) e Ishvara Pranidhana (entrega ao divino).
  • Ásanas - são as posturas físicas psicofísicas realizadas com estabilidade, conforto e respiração consciente.
  • Pranayamas - são as técnicas de respiração que ajudam a regular nossa energia interna, o prana.
  • Prathyhara - conhecido como abstração dos sentidos, este passo refere-se ao controle das influências externas e é exercitado antes que o estado meditativo aconteça. Um exemplo disso é você identificar os sons à sua volta, para então não se incomodar mais com eles.
  • Dharana - é a concentração necessária para meditar, sendo também a capacidade de manter o foco em algo.
  • Dhyana - refere-se ao estado meditativo. Pode ser considerado a evolução do passo anterior (dharana), onde a concentração é contínua, com espaços maiores entre um pensamento e  outro. 
  • Samadhi - objetivo último do praticante de yoga, esta é a experiência rara de integração do eu com o todo.

 

Mas calma, se você achou esse percurso muito complexo, vamos utilizar os ensinamentos de minha mestra yogue, Carla D’arcanchy, para este momento: “A partir de hoje, temos pelo menos 80 anos para nos aperfeiçoar na arte do Yoga, e já estamos no caminho”.


Comprovações Científicas


Além de ser uma prática milenar e contar com uma infinidade de escrituras em seu legado literário, o Yoga tem recebido, a seu favor, um crescente investimento de estudos científicos para comprovar seus efeitos benéficos em todas as esferas humanas, principalmente em aspectos ligados à saúde mental.


Uma das pesquisas mais significativas foi realizada pela neurocientista Ph.D. Sara Lazar, da Harvard Medical School, publicada em 2005, em que foi comparado, por meio de imagens de ressonância magnética, áreas do cérebro de 20 praticantes de 60 anos, que meditavam a pelo menos 8 anos, com um grupo-controle sem experiência em Yoga e meditação. Os resultados apontaram um aumento na espessura do córtex pré-frontal, uma área do cérebro relacionada à memória e à atenção, nos participantes que praticavam meditação.


De acordo com Eliza Kozasa, neurocientista brasileira do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein,  que contribui com Sara Lazar em várias pesquisas sobre o Yoga, “esses dados podem significar uma vantagem do ponto de vista cognitivo e do envelhecimento [...] e estão relacionados diretamente com a forma que lidamos com as emoções”.


A fim de fundir a tradição do yoga com a ciência, o Instituto de Yoga Kaivalyadhama, citado no início deste texto, possui um Departamento de Investigações Científicas (SRD) integrado à seu espaço físico, com o intuito de investigar o impacto do yoga em vários parâmetros bioquímicos, fisiológicos e psicológicos do corpo, incluindo efeitos perceptíveis do yoga no câncer, doenças crônicas, terapias genéticas e doenças autoimunes. Kaivalyadhama também publica a revista científica trimestral sobre o yoga mais antiga, chamada Yoga Mimansa, reconhecida por seu padrão de qualidade.


Yoga e a saúde mental no terceiro setor


Estamos adoecidos. O cenário pós-pandemia evidenciou uma situação preocupante na forma como os agentes de mudança do terceiro setor lidam com sua saúde mental. 


Uma pesquisa denominada “O fator invisível: Bem-estar e saúde mental para fortalecer o ecossistema empreendedor de alto impacto na América Latina e Caribe”, de 2023, publicada pelo Bid Lab em parceria com The Wellbeing Project, descobriu que “6 em cada 10 empreendedores de alto impacto na região apresenta sintomas de burnout moderado e 3 em cada 10 apresentam sintomas graves de sofrimento psíquico”.


Relacionado com esses dados, um outro estudo publicado em 2020, pela Phomenta, para saber “Como está a saúde mental dos gestores das ONGs”, revelou que “apesar da maioria dos respondentes possuir grandes preocupações e sintomas físicos característicos de transtornos de ansiedade e de outra natureza, quase metade nunca buscou um profissional para lidar com questões emocionais”.


Dessa forma, há pelo menos duas necessidades latentes a serem revistas no que se trata da saúde mental no terceiro setor: A primeira, diz respeito ao olhar que as ONGs têm para este cenário de adoecimento dos gestores e, consequentemente, de suas equipes, criando espaços e aberturas para discussão e ações intencionais para promover o bem-estar organizacional. E o segundo, na priorização do autocuidado por cada agente de mudança, ao investir em ferramentas que possam fortalecê-lo(a) emocionalmente para lidar com os desafio da causa e da vida.


O yoga pode ser uma alternativa nos dois casos. Ela pode ser uma prática oferecida de forma coletiva para as equipes, com a parceria de um professor ou escola de yoga, e pode ser agregada de forma individual por cada um.


Para Sri Suboth “O yoga é a observação de você mesmo. Você não quer que as outras pessoas fiquem observando as posturas mais difíceis que você pratica, nem você foi feito para observar como os outros fazem posturas tão bem. Você foi feito para observar e estar alerta às coisas que acontecem com você, porque a jornada começa dentro de você. O mundo pode estar bonito, mas se você não estiver estável, não tiver harmonia internamente, nada vai parecer bonito. E o mundo lá fora pode nem estar tão bonito, mas enquanto você estiver bem internamente, satisfeito, tiver compaixão, amor, afeição, o mundo vai parecer bonito”.


Marcos Aquino, vice-presidente da ABY, corrobora dizendo que “se o yoga for praticado de forma adequada, ou seja, para dentro, esta pessoa que o pratica é potencialmente mais sensível. Potencialmente com capacidade de responder às situações desse mundo de uma forma diferente, mais positiva. Pode ser uma pessoa mais agradável”.


Se cuide!


Precisamos nos fortalecer, precisamos fortalecer nossos pares. Se não for o yoga, encontre outra maneira de rever suas prioridades, se auto observar, de renovar suas energias. Faremos muito mais diferença neste mundo se começarmos dentro de nós.


Listo abaixo outros textos com temáticas semelhantes para reflexão:


  • Autoconhecimento: a mudança começa em mim!

https://www.portaldoimpacto.com/autoconhecimento-a-mudanca-comeca-em-mim


  • Atenção Plena e o cuidado com a saúde mental

https://wwwportaldoimpacto.com/atencao-plena-e-o-cuidado-com-a-saude-mental


  • Terapia: quando é hora de pedir ajuda?

https://www.portaldoimpacto.com/terapia-quando-e-hora-de-pedir-ajuda


  • Síndrome do Esgotamento Profissional - Burnout

https://www.portaldoimpacto.com/sindrome-do-esgotamento-profissional-burnout


Referências


. Bid Lab e The Wellbeing Project: Pesquisa “El factor invisible - Bienestar y salud mental para fortalecer el ecosistema emprendedor de alto impacto en América Latina y el Caribe”. 2023. Disponível em: https://wellbeing-project.org/el-factor-invisible/


. Entrevista ABY - Sri Suboh Tiwari: “Dia Internacional do Yoga”. Disponível em:

https://aby.org.br/dia-internacional-do-yoga-2/


. Instituto de Yoga Kaivalyadhama: Disponível em:
https://kdham.com/about-kaivalyadhama/


. Lazar, S. W., Kerr, C. E., Wasserman, R. H., Gray, J. R., Greve, D. N., Treadway, M. T. et al. (2005). Meditation experience is associated with increased cortical thickness. neuroreport, 16(17), 1893-1897. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1361002/

. Patanjali. Os Yoga Sutras de Patanjali: Texto clássico fundamental do sistema filosófico do Yoga, Volume 1.Editora Mantra: 2017. Carlos Eduardo Gonzales Barbosa (Tradutor).

. Phomenta. Pesquisa “Como está a saúde mental dos gestores das ONGs?”. 2020. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/saude-mental-gestores-ongs



Sara Dias é Prof.ª Mestra em Artes da Cena pela UNICAMP e Instrutora de Yoga, atua como educadora social desde 2006 e atualmente desenvolve projetos relacionados ao bem-estar no terceiro setor. 



Contato: saradias.ds@gmail.com


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Inicialmente, vamos entender melhor o que são métricas? Métricas são números e dados que as redes sociais fornecem para mostrar o desempenho das publicações feitas por você ou pela sua ONG. Quando você publica algo no Facebook ou Instagram, essas redes sociais mostram quantas pessoas visualizaram, curtiram, comentaram ou compartilharam seu conteúdo. Saber interpretar essas informações é muito importante porque ajuda a sua OSC a entender o que está dando certo e o que pode melhorar na comunicação com o público. Ao entender melhor essas informações, você pode criar conteúdos que alcançam mais pessoas e ajudam sua organização a ter um impacto maior. Quais são as métricas mais importantes? Entender as principais métricas pode parecer difícil no começo, mas conhecendo cada uma delas fica muito mais fácil saber se sua comunicação está indo bem. Cada uma dessas métricas traz informações cruciais que ajudam a entender o comportamento do seu público e como melhorar as publicações da sua organização. Desvendando as siglas e abreviações das métricas CTR (Click Through Rate): porcentagem de pessoas que clicaram em um link após visualizá-lo. CPM (Custo por Mil Impressões): quanto custa mostrar seu conteúdo para mil pessoas. CPC (Custo por Clique): quanto você paga por cada clique no seu conteúdo. CPA (Custo por Aquisição): custo médio para que uma pessoa realize uma ação específica, como fazer uma doação. ROI (Return on Investment): retorno financeiro obtido em relação ao dinheiro investido em publicidade ou campanhas. KPI (Indicador-Chave de Desempenho): métricas específicas escolhidas para medir o sucesso das suas ações. Alcance e Impressões O alcance é o número de pessoas diferentes que viram sua publicação pelo menos uma vez. Quanto maior o alcance, mais pessoas diferentes foram alcançadas pelo seu conteúdo. Já as impressões mostram quantas vezes sua publicação apareceu nas telas das pessoas, contando inclusive aquelas que viram mais de uma vez (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Engajamento Engajamento é uma das métricas mais importantes porque mostra como as pessoas estão interagindo com seu conteúdo. Essas interações incluem curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos. Um alto engajamento significa que as pessoas realmente gostaram do seu conteúdo e tiveram vontade de interagir com ele. Quanto mais engajamento, melhor você está se comunicando com o seu público (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Cliques Cliques mostram quantas pessoas clicaram no seu conteúdo ou nos links que você compartilhou. Essa métrica é especialmente importante quando você quer direcionar as pessoas para seu site ou para alguma ação específica, como um evento ou uma campanha de doação (COSTA, 2020). Crescimento de seguidores Essa métrica mostra quantas pessoas novas começaram a seguir sua ONG depois de ver suas publicações. Um crescimento constante de seguidores significa que você está conseguindo chamar a atenção e conquistar novas pessoas para sua causa (COSTA, 2020). Mas afinal, como essas métricas se relacionam? É muito importante não olhar apenas para uma métrica isoladamente. Por exemplo, se muitas pessoas veem sua publicação (alto alcance), mas poucas interagem com ela (baixo engajamento), pode ser que o conteúdo não esteja interessante o suficiente. Para entender se sua estratégia está funcionando, você precisa analisar diferentes métricas juntas, como alcance, engajamento e cliques. Isso ajuda a ter uma visão mais completa do desempenho das publicações (GOMES, 2018). Tipos de análises que você pode fazer Para usar bem as métricas, você pode fazer vários tipos diferentes de análises. Cada tipo serve para algo específico e ajuda você a entender melhor o desempenho das suas redes sociais, mostrando caminhos para melhorar sua comunicação. Análise simples A análise simples é a mais básica e mostra diretamente quantas pessoas viram ou interagiram com seu conteúdo (RECUERO, 2014). Comparação A análise comparativa é quando você compara resultados de diferentes publicações ou períodos. Por exemplo, você pode comparar o desempenho das publicações deste mês com as do mês passado para entender o que funcionou melhor e planejar conteúdos futuros (RECUERO, 2014). Previsão A análise preditiva usa dados antigos para tentar prever resultados futuros (RECUERO, 2014). Um exemplo é que se sabemos que entre novembro e dezembro há um aumento nas curtidas em posts relacionados a doações, construir conteúdo que fale sobre isso antecipadamente é uma forma de “prever” a procura e antecipar-se ao aumento de demanda. Redes sociais Analisar as redes sociais significa entender como as pessoas interagem umas com as outras no seu perfil ou página. Você pode descobrir quem são os principais seguidores, quais conteúdos são mais compartilhados e como essas conexões ajudam a espalhar sua mensagem para mais pessoas (GOMES, 2018). O que ter cuidado ao analisar os números? Ao analisar as métricas, você precisa levar em conta fatores externos que podem influenciar os resultados. Datas especiais, feriados ou eventos importantes podem aumentar ou diminuir a interação com suas publicações (as chamadas datas sazonais). Por isso, sempre olhe com cuidado e verifique se os dados são realmente representativos do desempenho geral (KAHNEMAN, 2012), todo o contexto deve ser levado em conta. Cuidado com erros ao analisar Existem alguns erros comuns ao analisar as métricas. Um deles é o viés de confirmação, que acontece quando você só presta atenção nos números que reforçam o que você já acredita. Outro erro é o viés de recência, que acontece quando você só leva em conta os resultados mais recentes, esquecendo resultados passados (KAHNEMAN, 2012). Como já dito. Recomendações O conteúdo do artigo foi baseado no conhecimento da autora e com referências de base científica. Caso você deseje ampliar o conhecimento acerca da temática, recomenda-se a leitura das fontes a seguir: COSTA, Felipe. Aplicação estratégica de métricas digitais. Panorama, Goiânia, v. 9, n. 2, p. 45-60, 2020. FERREIRA, Mariana; OLIVEIRA, Ana. Produção textual e interações sociais em plataformas digitais. Revista Comunicando, Lisboa, v. 5, n. 1, p. 10-23, 2015. GOMES, André. Dinâmicas de interações nas redes sociais digitais. Salvador: UFBA, 2018. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2014. 
Por Maria Cecília Prates 4 de abril de 2025
Uma boa pergunta é sempre um motivo para reflexão. Como a pergunta que me foi feita uma certa vez pela diretora de uma ONG: “ na sua opinião, o que caracteriza um bom processo de Monitoramento & Avaliação (M&A) de projetos sociais? ” Ela me pediu para responder em poucas palavras.  Tomando por base o referencial da Teoria da Mudança ou do Marco Lógico , somos tentados a dar a resposta tradicional: um bom M & A é aquele que nos permite verificar se o que foi planejado, tanto em termos de processo e resultado, está ocorrendo e/ou ocorreu de fato. E, com isto, nos permite fazer as correções de rota necessárias, tanto “durante” quanto “depois” da iniciativa social. Mas, um bom M & A deve ir além, de modo a evitar o sério risco de cair na armadilha do planejamento . A ´ armadilha do planejamento ` é quando o plano inicial é visto como a situação ideal a ser atingida. Decorrem, daí, as definições para sucesso e fracasso. Sucesso é quando são alcançadas boa parte das metas previamente traçadas; já o fracasso é quando boa parte delas não são alcançadas. E se o plano inicial não se mostrar correto, mesmo tendo sido construído de forma participativa, com objetivos claros, bons indicadores e análise consistente do contexto social? Ou ainda, se com o desenrolar da intervenção, aquele plano for se tornando inadequado frente às novas circunstâncias que forem surgindo? Aliás, situação bem plausível, tendo em vista a realidade tão dinâmica em que vivemos atualmente. O plano não pode acabar funcionando como uma camisa de força para o projeto. Me fez lembrar a frase dita pelo ex-presidente americano Dwight Eisenhower, quando comandou o ´Dia D` da Segunda Guerra Mundial, “ Antes da batalha, o planejamento é tudo. Assim que começa o tiroteio, planos são inúteis ”. O ponto central é que planejar é fundamental, mas não podemos ficar prisioneiros do plano. Então, voltando aqui à pergunta inicial: O que caracteriza um bom processo de Monitoramento & Avaliação? Em poucas palavras: Um bom processo de M&A é aquele que serve como uma bússola para guiar os gestores do projeto. Sem dúvida, o pressuposto é o de que o planejamento tenha sido bem-feito, e há clareza de onde se quer chegar. E por que a comparação com a bússola? O processo de monitoramento e avaliação deve funcionar como uma bússola (para guiar o avião) no sentido de ser útil para orientar os gestores de uma dada intervenção se eles estão indo na direção correta. Então, o M & A vai indicar se estamos fazendo / fizemos a coisa certa, da maneira certa, de modo a potencializar os resultados pretendidos, tendo em vista os recursos disponíveis (financeiros, humanos, experiências, aprendizados e parcerias). O interessante da bússola é justamente a sua capacidade em ir se adaptando ao percurso, até chegarmos ao destino final. Tal como a bússola, também um bom Monitoramento & Avaliação deve ser percebido como um processo dinâmico, e não como um sistema estático de indicadores, não raras vezes com a exigência de métodos complexos para a sua estimativa.
Por Pollyana Bonvecchi 27 de março de 2025
Recentemente, montei uma estrutura para conduzir um processo seletivo de voluntárias aqui na Phomenta. Algumas pessoas me perguntaram por que eu estava desenvolvendo etapas que deixariam o processo mais complexo e se eu não tinha receio de que as pessoas desistissem devido à complexidade. Vou compartilhar o que respondi, explicar a importância dessa estrutura e como conseguimos atrair e manter perto de nós as pessoas que realmente querem contribuir. Por que desenhar um processo seletivo estruturado para voluntárias? Desenhar um processo seletivo com etapas claras e bem definidas é essencial para assegurar que as candidatas se comprometam verdadeiramente com cada fase e reflitam se o voluntariado faz sentido para elas. Esse tipo de processo não é apenas uma forma de selecionar os melhores talentos, mas também de verificar se aquelas que se juntam a nós compartilham dos nossos valores e estão alinhadas com o nosso propósito. Um processo seletivo mais detalhado permite identificar quem está realmente disposta a se envolver e quem está apenas explorando uma oportunidade. Divulgação da vaga Para começar, definimos claramente os papéis e responsabilidades, além do tempo de dedicação esperado para as voluntárias. Tudo isso foi explicitado na divulgação da vaga, para que, desde o início, as expectativas estivessem claras para as interessadas. Primeira etapa - triagem de candidatas Após receber as inscrições, realizamos uma triagem criteriosa, avaliando as competências e habilidades das candidatas. Selecionamos aquelas que mais se alinhavam com o perfil que buscávamos e enviamos um e-mail informando sobre as próximas etapas do processo. Segunda etapa - entrega e dinâmica de grupo Nesta etapa, solicitamos uma tarefa prática e informamos que haveria uma dinâmica em grupo. Esse momento foi crucial para observar o comprometimento das candidatas e, como esperado, algumas pessoas desistiram. Isso, no entanto, deixou apenas aquelas que estavam realmente interessadas em seguir adiante e que tinham um verdadeiro desejo de contribuir. Terceira etapa - Seleção final Com base nas etapas anteriores, escolhemos as candidatas que melhor atenderam aos critérios e que demonstraram maior afinidade com a cultura da Phomenta. Em seguida, comunicamos as selecionadas e agendamos da integração para integrar aquelas que iriam começar conosco. Integração A integração na Phomenta é muito mais do que uma simples introdução. É o momento propositivo para apresentarmos o propósito da nossa organização e garantir que todas estejam na mesma sintonia, super motivadas a alcançar os nossos objetivos. Quando nossas voluntárias entendem o impacto social que o seu trabalho pode gerar, o engajamento cresce e o compromisso fica mais forte. Assim como toda nova integrante de um time, as voluntárias precisam mergulhar na nossa cultura organizacional. A integração é uma oportunidade para elas se familiarizarem com características fundamentais da nossa cultura dentro da Phomenta: como nos comunicamos, como trabalhamos, e quais comportamentos valorizamos. Isso facilita a adaptação e ajuda as voluntárias a se sentirem parte do nosso grupo desde o primeiro dia! Durante a integração, é essencial esclarecer o que esperamos de cada uma, desde funções e responsabilidades específicas até o impacto que seu trabalho terá. Essa clareza evita confusões e permite que as voluntárias saibam exatamente como podem brilhar e fazer a diferença. Uma integração bem-planejada faz toda a diferença! Ela aumenta o comprometimento das voluntárias e ajuda a reduzir a rotatividade. Quando elas se sentem acolhidas, bem-informadas e preparadas, é muito provável que continuem engajadas e contribuam com a gente por um bom tempo. Além disso, a integração é a chance perfeita para construir conexões genuínas entre voluntárias e phomenters. Ela cria aquele sentimento gostoso de comunidade e pertencimento, que é essencial para manter a motivação em alta. E tem mais: durante a integração, incentivamos as voluntárias a darem seu feedback sobre a experiência. Isso nos ajuda a fazer ajustes e melhorias, garantindo que todas se sintam apoiadas e que nossa abordagem esteja sempre alinhada com as expectativas. A seguir alguns comentários sobre o processo:
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