Atenção Plena e o cuidado com a Saúde Mental

2 de fevereiro de 2023

Este conteúdo foi produzido por Sara Dias


Iniciamos mais um ano e junto com ele abrimos espaços em nossas agendas para novos planejamentos, sonhos e metas. O ano é novo, mas a agitação de nossa mente não. Temos muito o que pensar e fazer. 


Dentre tantas áreas da nossa vida em que nos dispomos a rever e mudar os hábitos, uma das que tem ganhado maior espaço na vida das pessoas, nos últimos tempos, é a da saúde mental. Desejamos ter mais paciência, tranquilidade e equilíbrio emocional, em um mundo em que as tarefas se sobrepõem, o nosso tempo é resumido em correria e as demandas do trabalho são infinitas, afinal, estamos tentando mudar o mundo.


Uma coisa é fato, essa é uma área que necessita ser bem cuidada se desejamos que nossa trajetória de impacto social seja prolongada por anos ou décadas, já que, se não estamos bem emocionalmente, não há como ir muito longe.


Na busca por caminhos que podem nos auxiliar a conquistar a inteligência emocional desejada, para este e para os próximos anos, podemos encontrar alguns tradicionalmente conhecidos, como é o caso da meditação, do yoga, da psicoterapia ou também das terapias holísticas, no entanto, hoje quero falar de Mindfulness, traduzido para o português como Atenção Plena, uma técnica que valoriza o tempo presente, as pequenas ações e que você pode começar agora mesmo.


Vamos experimentar?


Tire por alguns instantes o olhar da tela em que você está lendo esse texto e passe os olhos pelo espaço em que você está, observe como os objetos ou móveis estão dispostos ou algum detalhes que lhe chama a atenção, volte-se para seu corpo, perceba como ele está agora. Como está sua postura? Como você está se sentindo? Respire profundamente uma vez e continue a ler.


Mindfulness ou prática da Atenção Plena é isso, se valer das informações que seus sentidos podem lhe oferecer, neste exato momento, de como você está, de como estão o ambiente ou o contexto em que você se encontra e te proporcionar oportunidades de aproveitar, com zelo, o aqui e o agora. O foco pode estar em uma leitura, em uma conversa, no sabor da bebida que você escolheu ou no sentir do vento que entra pela janela. O fato é que, para praticar mindfulness, precisamos dar uma pausa neste estado multitarefas em que permanecemos a maior parte do tempo. Parece redundante, mas não dá para praticar Atenção Plena, já pensando em nossa próxima tarefa ou checando a todo o momento o celular.


Para Jon Kabat-Zinn, médico psiquiatra diretor fundador da Clínica de Redução do Stress e do Centro de Atenção Plena em Medicina, na Escola Médica da Universidade de Massachusetts, ao praticar mindfulness “você está embarcando numa aventura permanente de investigação e descoberta sobre a natureza da sua mente e do seu coração. Você vai descobrir como viver com mais presença, sinceridade e autenticidade – não apenas para melhorar a sua vida, mas também para aprimorar o relacionamento com seus entes queridos, com todos os seres e com o próprio mundo”.


Agora, o que você precisa saber é que, para desfrutarmos destes benefícios, será necessário engajamento de nossa parte, mesmo que seja iniciando com poucos segundos ou minutos por dia. Precisamos driblar a nossa rotina, muitas vezes bem estabelecida, que nos coloca no modo automático e que nos amortece das escolhas conscientes que poderíamos fazer. Já pensou em escovar os dentes com a mão contrária à que você faz habitualmente ou aproveitar cada segundo do seu banho? Experimente.


Estudos na área da neurociência nos mostram que, por questão de sobrevivência, nosso cérebro desenvolveu uma incrível capacidade de lidar com múltiplas demandas e em constante mudança de ambiente, afim de gerar respostas apropriadas para atingir nossos objetivos ou evitar perigos, porém o que Kabat-Zinn, assim como outros estudiosos da prática de Atenção Plena, nos alerta é que confiar no piloto automático nos tira a flexibilidade de reagir aos eventos cotidianos de forma apropriada para cada momento. “Ficamos tão emaranhados em nossos pensamentos e sentimentos sobre passado ou futuro, ou em nossas racionalizações sobre a nossa vivência, que perdemos contato com o que está acontecendo no momento atual”, dessa forma, não estamos no controle de nossas reações e sim à mercê de nosso repertório emocional, muitas vezes inconsciente.


Os malefícios de viver assim, eu e provavelmente você já sentimos: exaustão, estafa mental, ansiedade aumentada, falhas na memória, insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, superficialidade nos relacionamentos e uma lista infindável de outros sintomas que nos deixam em vulnerabilidade emocional.


Recorrer ao mindfulness é se lançar em um caso de amor com a vida, com a realidade, com seu corpo e sua mente, com seu próprio ser. É escolher viver e realizar o que você quer e precisa com mais qualidade, uma de cada vez, com inteireza e presença.


Por meio deste autocuidado da nossa existência, podemos evitar que a insatisfação gerada por nosso estilo de vida, pautado no fazer, fazer e fazer, nos consuma, como no “Mito de Sísifo”, escrito pelo filósofo francês Albert Camus. Nele, Sísifo, um protagonista mitológico considerado o mais inteligente e esperto dos mortais, engana e desafia os deuses, recebendo como castigo carregar em suas costas, eternamente, uma pedra gigante até o topo de uma montanha, sendo que, estando próximo do cume, a rocha lhe escapava e voltava ao ponto de partida, para que lhe perpetuasse a tortura da tarefa.


Neste ensaio, baseado na mitologia grega, Camus nos lembra sobre o risco de vivermos uma eterna repetição sem sentido, uma rotina quase que involuntária, muitas vezes nos dando a impressão de não termos escolhas. A Atenção Plena pode nos oferecer uma alternativa de eliminarmos esse sofrimento, exercitando a desaceleração que precisamos para agir com consciência.


Quando estendemos a influência de mindfulness para nosso trabalho no terceiro setor, sua atuação pode gerar tanto a prevenção do estresse e suas consequências, como a ansiedade, a depressão, o burnout, quanto a melhora do bem-estar individual e organizacional, incluindo em seus benefícios a melhora na comunicação, na qualidade nos relacionamentos, nos níveis de empenho e engajamento.


Quer saber o que mais você pode fazer para começar uma experiência com a Atenção Plena? 


Se atente aos seus sentidos: olhe nos olhos, observe os detalhes dos espaços, dos objetos, da natureza ao seu redor. Sinta o cheiro das frutas, do café (se você gostar), do seu pet ou da pessoa que você ama. Toque e sinta as texturas diferentes, as temperaturas. Saboreie sua comida, preste atenção na cor dela. Fique em silêncio por alguns instantes, observe como se sente nesses momentos. E para todas essas coisas, deixe o celular de lado. Sua saúde mental irá lhe agradecer, a curto, médio e longo prazo.



Livros sobre o tema: 





Sara Dias é Prof.ª Mestra em Artes da Cena pela UNICAMP e Instrutora de Yoga, atua como educadora social desde 2006 e atualmente desenvolve projetos relacionados ao bem-estar no terceiro setor. 



Contato: saradias.ds@gmail.com


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