Minha ONG tem uma cultura de inovação?

24 de agosto de 2023

Trilha de Inovação no Terceiro Setor


Entendendo a importância de trazer inovação para o Terceiro Setor, o Portal do Impacto e o Instituto Bancorbrás uniram forças para criar a Trilha da Inovação com o objetivo de apoiar as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) a aprenderem e experimentarem como trazer inovação para suas ações.


Todo o conhecimento gerado no projeto foi consolidado no e-book “Guia para inovar no Terceiro Setor” traz um glossário com os principais termos utilizados na área, além de detalhar como conduzir o ciclo de inovação dentro das organizações, com ferramentas adaptadas à realidade do setor. Ideal para as pessoas que querem dar seus primeiros passos para inovar.


A publicação mostra como simplificar a tomada de decisão, criar e experimentar soluções de forma rápida, econômica e simples para os desafios identificados na gestão das organizações. O guia é digital e está disponível gratuitamente para download.


Você já deve ter ouvido histórias de empresas que criaram produtos e serviços que revolucionaram o mundo com suas iniciativas inovadoras: Google, Facebook, TikTok, Uber, entre outras. Além de saírem na frente com a construção de soluções, elas continuam se reinventando. A pergunta que fica é: qual é o segredo?


Movidos por esse questionamento, os pesquisadores Gerard Tellis, Jaideep Prabhu e Rajesh Chandy mergulharam no tema e estudaram 759 empresas de 17 mercados e concluíram que o fator decisivo para conduzir a
inovações radicais é a cultura dessas organizações. 


A cultura se mostrou determinante em diversos aspectos: mais importante que o capital acumulado, o trabalho que realizavam, o governo vigente ou a cultura do país em que elas estavam sediadas. Essa conclusão nos leva a outras duas perguntas: o que é uma cultura inovadora e, se a organização ainda não a tem, como desenvolvê-la? 


Com base no trabalho desses pesquisadores, Jay Rao (professor de tecnologia e inovação) e Joseph Weintraub (professor de gestão), ambos da Babson College, nos Estados Unidos,
propuseram um modelo que reúne pontos essenciais para desenvolver uma cultura de inovação. Eles criaram uma ferramenta que, por meio de um conjunto de perguntas,  ajuda a analisar a organização de forma completa, mostrando o quanto ela está ligada à ideia de inovação.


Como avaliar se a cultura da ONG é inovadora?


A cultura de uma organização, geralmente, é reflexo da liderança que a conduz. Isso significa que os valores, a forma de tomar decisões, de engajar as pessoas e até a forma como essa liderança se organiza, impacta na maneira com a qual as pessoas que trabalham naquele espaço agem. Sabe aquela sabedoria popular sobre “liderar pelo exemplo” ou “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”? Essa é a tradução perfeita do que acontece na prática.


Considerando esse aspecto, a liderança é o principal agente impulsionador das mudanças que a ONG e de engajamento da organização. Então, se você está lendo isso e quer dar o primeiro passo, aqui estão algumas dicas inspiradas no estudo feito pelos estadunidenses.


A cultura de inovação é estruturada em 6 pilares: valores, comportamentos, clima organizacional, recursos, processos e sucesso. Todos esses pilares estão conectados de forma dinâmica, ou seja, os valores se traduzem em comportamento das pessoas que, por sua vez, são possíveis de se identificar no clima da organização, por exemplo. 


Abaixo, junto da explicação sobre cada pilar, há algumas perguntas que podem te ajudar nesse processo reflexivo sobre a cultura de inovação da sua organização. E aí vai uma dica: escolha um único pilar e faça primeiro esse exercício de forma franca consigo mesma. Depois, converse com sua equipe sobre os pontos que emergirem.


Lembrando sempre, que todas as vozes são importantes e suas contribuições fazem a diferença.


Os pilares de uma cultura inovadora: perguntas avaliadoras


Valores: São como um guia da tomada de decisão e definição de prioridades e decisões, ou seja, como a organização escolhe investir seu tempo e recursos. Os valores também aparecem nas ações dos líderes - não se deixe enganar: o que você faz conta mais do que o que você fala ou escreve. Organizações inovadoras estimulam a capacidade empreendedora de sua equipe, de resolver problemas por conta própria, de criar novos caminhos e de aprender continuamente enquanto trabalham.


Capacidade empreendedora:

  • Sentimos um forte desejo de explorar ideias novas e criar coisas diferentes?
  • Somos bons em lidar com situações incertas e não nos assustamos quando perseguimos novas oportunidades?
  • Conseguimos evitar ficar presos na busca pela perfeição quando encontramos novas chances, preferindo agir de imediato?


Estímulo à criatividade:

  • Incentivamos novas maneiras de resolver problemas e pensamos de forma diferente, aceitando opiniões diversas?
  • O nosso ambiente de trabalho nos dá liberdade para tentar coisas novas?
  • Gostamos de agir espontaneamente e não nos importamos de rir de nossos próprios erros?


Aprendizado contínuo:

  • Sabemos como fazer perguntas para descobrir coisas que não sabemos?
  • Sempre testamos coisas novas quando tentamos inovar?
  • Não ficamos com medo de errar e encaramos os erros como chances de aprender?



Comportamentos: Fala sobre como as pessoas agem para fazer a inovação acontecer. No caso das lideranças,isso significa querer melhorar ou mudar os serviços existentes por outros novos, inspirar a equipe com a ideia do que querem alcançar no futuro juntos e tentar simplificar o trabalho. Uma organização que apoia a inovação procura soluções para problemas de tecnologia, busca ajuda de pessoas e/ou outras organizações para pensar em formas melhores de resolver seus desafios e escuta cuidadosamente o público que se relaciona: parceiros, beneficiários, voluntários e até a comunidade onde está inserida. 


Estímulo ao desafio:

  • Nossa liderança nos anima ao compartilhar uma visão futura e destaca oportunidades para a organização?
  • Nossa liderança nos incentiva frequentemente a pensar e agir como empreendedores?
  • Nossa liderança serve de modelos de comportamento inovador que devemos seguir?


Engajamento:

  • Nossa liderança investe tempo para ensinar e dar feedback sobre nossas tentativas de inovação?
  • Na nossa organização, pessoas de todos os níveis tomam a iniciativa de inovar de forma ativa?
  • Nossa liderança apoia a equipe tanto em momentos de sucesso quanto nos desafios?


Capacitação:

  • Nossa liderança usa maneiras eficazes para nos ajudar a superar obstáculos dentro da organização?
  • Nossa liderança consegue ajustar o caminho quando é necessário?
  • Nossa liderança busca oportunidades mesmo quando enfrentam dificuldades?


Clima organizacional: É o jeito que as pessoas se sentem quando trabalham juntas na organização. Um clima organizacional que encoraja a prática da inovação, promove o entusiasmo, a autorresponsabilidade e comprometimento. Também ajuda as pessoas a se arriscarem em um lugar seguro, onde podem aprender e pensar criticamente sobre as coisas.


Colaboração:

  • Todos nós compartilhamos uma linguagem comum quando se trata de inovação?
  • Valorizamos e aproveitamos as diferenças entre nós na comunidade?
  • Trabalhamos bem juntos como equipe para abraçar as oportunidades?


Compromisso com a integridade:

  • Nós realmente praticamos de forma consistente aquilo que dizemos valorizar?
  • Questionamos decisões e ações que não estão alinhadas com nossos valores?
  • Ficamos à vontade para expressar nossas opiniões, mesmo que elas sejam diferentes ou controversas?


Simplicidade e eliminação de burocracia:

  • Valorizamos medidas que tornam nosso ambiente de trabalho mais simples? Ou seja, com menos regras complicadas, política e burocracia?
  • Cada um assume responsabilidade por suas ações, evitando culpar os outros?
  • Todos sabem como dar início e seguir em frente com iniciativas em toda a organização?


Recursos: São os elementos para a atividade prática das organizações e podem ser pessoas, sistemas e projetos. Dentre eles, as pessoas são o aspecto mais importante de uma organização, uma vez que elas impactam diretamente na forma como os valores da organização e o clima organizacional se manifestam.


Pessoas:

  • Temos líderes que realmente querem ser impulsionadores da inovação?
  • Podemos contar com pessoas especialistas em inovação que possam nos ajudar em nossos projetos?
  • Temos pessoas talentosas dentro de nossa equipe para fazer nossos projetos de inovação darem certo?


Sistemas:

  • Nossos sistemas de contratação e recrutamento apoiam uma cultura de inovação?
  • Contamos com ferramentas boas para trabalharmos juntos em nossos projetos de inovação?
  • Sabemos aproveitar nossas conexões com fornecedores e parceiros para buscarmos a inovação?


Projetos:

  • As pessoas têm tempo suficiente para se dedicarem a novas ideias?
  • Alocamos recursos especiais para perseguir novas oportunidades?
  • Temos espaços físicos ou virtuais para explorar e desenvolver novas oportunidades?



Processos: São os caminhos que as inovações seguem quando são criadas. Isso inclui como as ideias novas são encontradas ou escolhidas, e também como os passos são organizados para revisar e priorizar projetos e protótipos.


Processo de geração de ideias:

  • Nós criamos ideias de forma organizada, buscando inspiração em muitas fontes diferentes?
  • Trabalhamos para melhorar e selecionar as ideias mais promissoras?
  • Escolhemos as oportunidades com base em riscos bem entendidos?


Criação de protótipos:

  • Transformamos rapidamente ideias promissoras em protótipos?
  • Mantemos um diálogo constante entre nossa equipe e público atendido para receber feedback?
  • Cancelamos projetos prontamente se eles não atenderem aos critérios pré-definidos?


Implementação de sucesso:

  • Nossos processos são flexíveis e adaptados às situações, sem  burocracias?
  • Colocamos em prática, rapidamente, as ideias mais promissoras?
  • Alocamos recursos rapidamente para iniciativas que mostram muito potencial?


Sucesso: O triunfo de uma inovação pode ser observado nos níveis fora, dentro da organização e individualmente. O externo mostra quanto a organização é reconhecida como inovadora por parceiros, pelo terceiro setor e quanto suas inovações trazem impacto e sustentabilidade para a ONG. Quando a inovação tem sucesso, isso mostra que a organização está no caminho certo com seus valores, jeito de agir e processos criativos.


Parceiros:

  • Nossos parceiros nos veem como inovadores?
  • Nossa inovação é referência para outras organizações como a nossa?
  • Nossos esforços inovadores se traduziram em melhor desempenho financeiro comparado a outras organizações do setor?


Abordagem Estratégica:

  • Encaramos a inovação como parte de uma estratégia de longo prazo, não como uma solução rápida?
  • Temos uma abordagem planejada, ampla e disciplinada para a inovação?
  • Nossos projetos de inovação nos ajudaram a desenvolver habilidades que não tínhamos há três anos?


Nível Individual:

  • Estou satisfeita com o meu envolvimento nas nossas iniciativas inovadoras?
  • Expandimos e fortalecemos, intencionalmente, as habilidades das pessoas por meio de novas iniciativas?
  • Reconhecemos e recompensamos as pessoas por participarem de oportunidades arriscadas, independentemente do resultado?


Tenha ao menos um pilar forte 


Resista a tentação de querer ser excelente em todos os pilares e escolha ao menos um para dedicar o desenvolvimento de sua organização. Os especialistas Jay Rao e Joseph Weintraub descobriram algo interessante sobre as organizações inovadoras: elas sempre escolhem ao menos um pilar como mais importante e sólido entre os seis.


Ao ouvir sua equipe, você não encontrará as mesmas respostas por toda a organização. É natural que perfis diferentes tenham visões distintas de como a inovação acontece.


Depois de fazer o levantamento, a gestão verá os pontos em que a cultura da organização é mais forte e onde ainda precisa melhorar, além disso, a reflexão sobre inovação também indicará ideias e oportunidades de aprendizados para toda a equipe. 


Às vezes, quem está na gestão quer corrigir logo os problemas que encontraram. Mas é melhor focar nos pontos fortes da organização e ir melhorando aos poucos.


Seja paciente, não tente transformar a cultura da organização de uma vez. As culturas mudam lentamente. Quando convidadas a participar, as pessoas geralmente resistem. Demonstrar em ações cotidianas é mais eficiente do que só falar, especialmente quando incentiva as pessoas que estão participando.


Para melhores resultados, busque e celebre as pequenas vitórias. Um jeito prático é pedir para uma ou duas pessoas trabalharem em até 3 ideias identificadas na avaliação com a equipe. Essas pequenas conquistas podem inspirar os outros a melhorarem, criando um círculo virtuoso de melhorias. 


É importante também seguir atenta aos sucessos que a organização teve no passado. Com o passar do tempo, uma ONG que já teve muito êxito pode não perceber novas tecnologias, maneiras diferentes de fazer negócios ou novos concorrentes que aparecem. Existem muitos casos de organizações e empresas que foram pioneiras em inovação, mas ao longo de uma geração, acabaram se tornando burocráticas e sem criatividade.


Trilha de Inovação no Terceiro Setor


Entendendo a importância de trazer inovação para o Terceiro Setor, o Portal do Impacto e o Instituto Bancorbrás uniram forças para criar a Trilha da Inovação. O objetivo da iniciativa é apoiar as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) a aprenderem e experimentarem como trazer inovação para suas ações.


No dia 25 de julho, lançamos a Trilha com um webinar voltado para profissionais, líderes e empreendedores sociais do Terceiro Setor que têm interesse em trazer ideias inovadoras para melhorar a gestão de suas organizações.


Neste webinar, as lideranças da Phomenta e do Instituto Bancorbrás compartilharam os benefícios de ter uma cultura de inovação e experimentação dentro das OSCs.


Se você quiser saber mais sobre como foi essa conversa, acesse este
link para ver o webinar.


A Trilha de Inovação inclui o webinar, um workshop de 6 horas, uma série de textos disponíveis no Portal do Impacto e também um e-book. Fique de olho para saber quando abriremos as inscrições para a próxima turma. As vagas são limitadas, então esteja atenta para garantir seu lugar nessa jornada enriquecedora. Esta é a sua chance de se unir a nós nessa jornada de inovação no Terceiro Setor!



FAZER INSCRIÇÃO



Aline Santos é mentora e consultora em inovação, gestão e comunicação estratégica.



Trilha de Inovação no Terceiro Setor


Entendendo a importância de trazer inovação para o Terceiro Setor, o Portal do Impacto e o Instituto Bancorbrás uniram forças para criar a Trilha da Inovação com o objetivo de apoiar as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) a aprenderem e experimentarem como trazer inovação para suas ações.


Todo o conhecimento gerado no projeto foi consolidado no e-book “Guia para inovar no Terceiro Setor” traz um glossário com os principais termos utilizados na área, além de detalhar como conduzir o ciclo de inovação dentro das organizações, com ferramentas adaptadas à realidade do setor. Ideal para as pessoas que querem dar seus primeiros passos para inovar.


A publicação mostra como simplificar a tomada de decisão, criar e experimentar soluções de forma rápida, econômica e simples para os desafios identificados na gestão das organizações. O guia é digital e está disponível gratuitamente para download.


Baixe agora o Guia para inovar no Terceiro Setor


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Por Movimento Bem Maior 29 de julho de 2025
O Movimento Bem Maior (MBM) acaba de disponibilizar o Case Institucional do Futuro Bem Maior, publicação que reúne dados, aprendizados e histórias de impacto das três primeiras edições do programa, realizado desde 2019 em parceria com o Instituto Phi e o Instituto Phomenta. Criado para fortalecer iniciativas sociais em territórios com alto índice de vulnerabilidade social, o Futuro Bem Maior já apoiou 166 organizações de 72 municípios com recursos flexíveis, capacitação e acompanhamento técnico. O case traz uma análise dos efeitos do programa em três níveis: nas organizações apoiadas, público atendido e comunidades. Entre os principais achados, destaca-se que 77% das organizações relataram fortalecimento da autoestima institucional; 73,8% aprimoraram suas capacidades técnicas; 76,1% melhoraram o atendimento ao público; 83,5% conseguiram dar continuidade aos projetos após o ciclo de apoio; 80% ganharam visibilidade em suas comunidades. “Confiar em quem vive os desafios de perto muda tudo. Nosso compromisso é impulsionar quem já transforma a realidade nas pontas. Este case mostra que a confiança, aliada a investimento estratégico, gera resultados reais e duradouros”, afirma Carola Matarazzo, diretora executiva do MBM. A publicação reforça a abordagem do MBM ao apostar em uma filantropia baseada em confiança, que descentraliza recursos e fortalece organizações sociais como motor de transformação social. O documento está disponível gratuitamente. Clique no botão abaixo para ter acesso! 
Por Maria Cecília Prates 14 de julho de 2025
Em projetos sociais os resultados estão quase sempre associados a resultados intangíveis, subjetivos e abstratos, como por exemplo: crianças saudáveis, adolescentes com autoconfiança, autoestima de idosos, jovens capacitados para o mercado de trabalho, comunidade engajada, famílias ajustadas, empreendedores bem-sucedidos, e por aí vai… Alcançar esses resultados intermediários são etapas necessárias e imprescindíveis que vão contribuir para o alcance do impacto final pretendido de transformação na vida das pessoas atendidas. O problema é que até hoje no Brasil ainda não se tem clareza metodológica sobre como medir esses conceitos tão amplamente adotados na área social, que seja confiável e capaz de captar (ser sensível a) os avanços conseguidos . Então, se não há essa clareza – e aqui me refiro sobretudo à grande maioria das organizações do terceiro setor – como conseguir PLANEJAR bem os projetos sociais? Ou seja, como explicitar O QUE queremos mudar? E como saber depois se o que fizemos conseguiu, de fato, chegar AONDE queríamos, ou seja, AVALIAR se as iniciativas conduzidas foram válidas, eficazes e eficientes? Medição compartilhada: uma prática que deveria ganhar força no Brasil No Reino Unido e EUA desde 2003 – No Reino Unido vêm sendo envidados esforços por organizações think-tanks (como a New Philanthropy Capital – NPC , ou a Triangle /Outcomes Star ) e nos Estados Unidos ( FSG) para construírem sistemas de indicadores “de prateleira” (do inglês, off-the-shelf tools ) que possam ser compartilhados por organizações do terceiro setor ( charities or NGOs – Non-Governmaental Organisations ). No Reino Unido, organizações sociais trabalhando em uma mesma área-fim (por exemplo, educação de adolescentes em situação de vulnerabilidade) foram se unindo, capitaneadas por alguma organização think-tank como a NPC, para desenvolverem um sistema comum de avaliação de resultados. Nesse sentido, os conceitos abstratos relacionados a objetivos de resultados (por exemplo: autoestima), adotados por organizações trabalhando com públicos semelhantes, foram sendo operacionalizados nos mesmos indicadores ou escalas. Feita a operacionalização dos conceitos, as demais ferramentas para medição também começaram a ser desenvolvidas em comum, através do apoio de uma equipe especializada, tais como a construção dos questionários, a estratégia para a sua aplicação, o sistema de base de dados (que pode ser online ) e o referencial para análise dos dados coletados. No Brasil, no período em que atuei (2011 – 2016) no Programa da POS (Parceria com Organizações Sociais) da Fundação Dom Cabral – FDC (hoje denominado Pilaris ), quis começar a difundir essa ideia das ferramentas de prateleira ( Avaliação de projetos sociais no terceiro setor: uma agenda em construção , seção IV), mas percebi que o terreno precisava antes ser melhor trabalhado. Por isso, no Manual que desenvolvi para apoiar o trabalho com as organizações participantes do Programa (Manual de Planejamento e Avaliação de Projetos Sociais para Organizações Sociais) , comecei a incluir alguns instrumentos que pudessem funcionar como “ferramentas de prateleira”. Esses instrumentos vinham de três fontes: conceitos abstratos que já tinham sido traduzidos para a prática e validados; experiências de monitoramento com algumas dessas organizações; ou ainda, foram criados durante as avaliações de projetos sociais que conduzi. Para ilustrar melhor a ideia, aqui estão alguns exemplos de instrumentos incluídos no Manual: Conceito: autoestima (escala de Rosenberg), pág. 40-42 do Manual Conceito: impulsividade de adolescentes (escala de Barrat), p.66 Conceito: ser cuidadoso com o meio-ambiente / Avaliação de projeto de apicultura (pág. 67-68) Conceito: bem-estar de crianças e adolescentes, entre 11-16 anos (NPC), Pág. 197-205 Marco lógico: projeto de qualificação digital, Instituto Ramacrisna (pág. 207-210) Questionário: Preparação de jovens (16-18 anos) para inserção no mercado de trabalho, Associação Projeto Providência (pág. 226 – 230) A intenção de compartilhar esses instrumentos no Manual foi oferecer inspiração e facilitar o trabalho de planejamento e avaliação em organizações que atuam com projetos sociais semelhantes, ajudando, assim, a “queimar etapas” e avançar com mais agilidade nesse processo. Medição compartilhada: o caso da ferramenta Outcomes Star Como surgiu? Outcomes Star (traduzido ao pé da letra: Estrela de Resultados) é uma ferramenta para medir e apoiar as mudanças / resultados, que foi criada e desenvolvida pela Triangle Consulting Social Enterprise do Reino Unido . A Triangle, fundada em 2003, se define como “ uma empresa inovadora, guiada por uma missão social que é a de apoiar os provedores de serviços sociais a transformarem vidas de pessoas vivendo em situação de vulnerabilidade social, traumas, deficiências ou doenças, por meio da criação e o uso correto de ferramentas que engajem e promovam abordagem facilitadoras ”. A primeira versão do Outcomes Star começou como uma demanda (em 2003) da St Mungo`s, uma organização social voltada para o atendimento de moradores de rua, que queria avaliar os resultados do seu trabalho. A ferramenta acabou ganhando tração a partir da constatação de sua aplicabilidade também junto a outras organizações do Reino Unido que atendiam moradores de rua. Foi quando a Triangle , então, avançou naquele protótipo inicial, por meio do desenvolvimento da chamada “jornada da mudança” (do inglês, the Journey of change ), das escalas de medição adequadas tanto para os usuários dos serviços (ou clientes) como para os provedores do serviço (ou colaboradores dessas organizações executoras), e do Guia com as orientações para a implementação do instrumento. Assim, em dezembro de 2016 surgia a primeira versão da Outcomes Star , com o foco em moradores de rua. O que é a ferramenta? Conforme explicado no site , cada versão da Outcomes Star compreende um conjunto de escalas apresentadas de modo amigável e acessível em formato de uma estrela (figura), em que cada escala (ou cada ponta da estrela) representa uma dimensão relevante do resultado pretendido. Cada escala é explicitada em estágios (que podem ser 5 ou 10), sendo cada estágio cuidadosamente definido, de modo a caracterizar cada uma das etapas necessárias para promover a mudança sustentável na vida das pessoas atendidas. A ideia é que a ferramenta seja aplicada pela equipe da organização com cada usuário do serviço, desse modo permitindo visualizar e analisar com clareza a “ jornada da mudança ”: onde se está no percurso, os resultados alcançados (e os não alcançados), e as evidências do que precisa ser trabalhado.
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Uma boa gestão de conflitos transforma positivamente o ambiente organizacional ao aplicar princípios de comunicação eficaz. Neste artigo, abordaremos o livro “Conversas Difíceis: Como Discutir o Que Mais Importa”, resultado de 15 anos de pesquisa do Projeto de Negociação de Harvard, que oferece ferramentas para gerenciar relacionamentos e solucionar conflitos em diversas situações. Queremos te ajudar a organizar seus pensamentos antes de começar uma conversa difícil assim como o livro sugere. O primeiro passo é entender os três tipos de conversa. Ao final, sugerimos práticas a serem seguidas. Boa leitura! As Três Conversas Centrais e a Ação da Boa Gestão O livro revela que toda conversa difícil é composta por três "conversas" subjacentes: a Conversa "O que aconteceu?", a Conversa das Emoções e a Conversa da Identidade. A boa gestão age diretamente sobre cada uma delas para transformar desafios em oportunidades: Na conversa do tipo “O que aconteceu?”, os participantes focam em quem está certo ou errado, partindo de suposições que levam ao ciclo de acusações e impedem a solução. Conforme o autor: “quando algo desagradável acontece, o foco da conversa gira em torno de quem está certo, quem está errado, quem disse o quê, quem deve assumir a responsabilidade e assim por diante. Passamos a discutir quase todos os detalhes.”. Exemplo de conflito – Projeto atrasado e disputa de culpa: ao desenhar a festa junina da organização, ficou faltando definir quem compraria e arrecadaria as prendas das barracas, gerando muito estresse no dia da festa. Logo, membros começaram a atribuir culpa uns aos outros: “Foi o time das coordenadoras”; “Não, foram vocês que não passaram direitos”; “Não me envolvam, eu fiz minha parte”. Esse cenário ilustra como a suposição de que “a culpa é sempre do outro” gera impasse, pois cada parte adota a mentalidade “eu estou certo, você está errado”. Já quando falamos no tipo das Conversa das Emoções : as emoções negativas, se não forem gerenciadas, podem transformar uma conversa em confronto, pois a adrenalina liberada pode "deixar o cérebro em branco". Uma boa gestão ajuda a conhecer e expressar sentimentos adequadamente, e a mudar a percepção para alterar a maneira como os sentimentos são experimentados. Isso alivia a ansiedade e permite foco na resolução do problema. Exemplo de conflito – Projeto atrasado e disputa de culpa: imagine que um gestor solicite a um colaborador que faça ajustes em um relatório até o final do dia. O funcionário pode entender esse pedido como “falta de confiança na minha competência” e reagir com irritação ou resistência, mesmo que a intenção do gestor não seja punir, mas sim assegurar a qualidade. 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Ao promover a compreensão mútua, o compartilhamento de responsabilidades e a resolução construtiva de conflitos, a gestão não apenas soluciona problemas de forma mais eficaz, mas também fortalece mais as equipes, aumenta a produtividade e cultiva uma cultura de confiança e resiliência. Dessa forma, as conversas difíceis se tornam oportunidades para aprendizado e crescimento, em vez de fontes de conflito e estagnação. Gostou do conteúdo? A Phomenta está realizando um mapeamento e quer saber como o terceiro setor está gerindo pessoas e conflitos em suas organizações. Compartilhe sua experiência e contribua com este estudo acessando: [link] Artigo realizado com apoio da ferramenta de IA Notebooklm e do livro Conversas difíceis - Douglas Stone, Bruce Patton e Sheila Heen 
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Guia prático que ensina como estruturar uma página de captação de doações para ONGs: mensagem clara, métricas de impacto, transparência financeira e CTA que converte. Saiba mais!
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Inicialmente, vamos entender melhor o que são métricas? Métricas são números e dados que as redes sociais fornecem para mostrar o desempenho das publicações feitas por você ou pela sua ONG. Quando você publica algo no Facebook ou Instagram, essas redes sociais mostram quantas pessoas visualizaram, curtiram, comentaram ou compartilharam seu conteúdo. Saber interpretar essas informações é muito importante porque ajuda a sua OSC a entender o que está dando certo e o que pode melhorar na comunicação com o público. Ao entender melhor essas informações, você pode criar conteúdos que alcançam mais pessoas e ajudam sua organização a ter um impacto maior. Quais são as métricas mais importantes? Entender as principais métricas pode parecer difícil no começo, mas conhecendo cada uma delas fica muito mais fácil saber se sua comunicação está indo bem. Cada uma dessas métricas traz informações cruciais que ajudam a entender o comportamento do seu público e como melhorar as publicações da sua organização. Desvendando as siglas e abreviações das métricas CTR (Click Through Rate): porcentagem de pessoas que clicaram em um link após visualizá-lo. CPM (Custo por Mil Impressões): quanto custa mostrar seu conteúdo para mil pessoas. CPC (Custo por Clique): quanto você paga por cada clique no seu conteúdo. CPA (Custo por Aquisição): custo médio para que uma pessoa realize uma ação específica, como fazer uma doação. ROI (Return on Investment): retorno financeiro obtido em relação ao dinheiro investido em publicidade ou campanhas. KPI (Indicador-Chave de Desempenho): métricas específicas escolhidas para medir o sucesso das suas ações. Alcance e Impressões O alcance é o número de pessoas diferentes que viram sua publicação pelo menos uma vez. Quanto maior o alcance, mais pessoas diferentes foram alcançadas pelo seu conteúdo. Já as impressões mostram quantas vezes sua publicação apareceu nas telas das pessoas, contando inclusive aquelas que viram mais de uma vez (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Engajamento Engajamento é uma das métricas mais importantes porque mostra como as pessoas estão interagindo com seu conteúdo. Essas interações incluem curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos. Um alto engajamento significa que as pessoas realmente gostaram do seu conteúdo e tiveram vontade de interagir com ele. Quanto mais engajamento, melhor você está se comunicando com o seu público (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Cliques Cliques mostram quantas pessoas clicaram no seu conteúdo ou nos links que você compartilhou. Essa métrica é especialmente importante quando você quer direcionar as pessoas para seu site ou para alguma ação específica, como um evento ou uma campanha de doação (COSTA, 2020). Crescimento de seguidores Essa métrica mostra quantas pessoas novas começaram a seguir sua ONG depois de ver suas publicações. Um crescimento constante de seguidores significa que você está conseguindo chamar a atenção e conquistar novas pessoas para sua causa (COSTA, 2020). Mas afinal, como essas métricas se relacionam? É muito importante não olhar apenas para uma métrica isoladamente. Por exemplo, se muitas pessoas veem sua publicação (alto alcance), mas poucas interagem com ela (baixo engajamento), pode ser que o conteúdo não esteja interessante o suficiente. Para entender se sua estratégia está funcionando, você precisa analisar diferentes métricas juntas, como alcance, engajamento e cliques. Isso ajuda a ter uma visão mais completa do desempenho das publicações (GOMES, 2018). Tipos de análises que você pode fazer Para usar bem as métricas, você pode fazer vários tipos diferentes de análises. Cada tipo serve para algo específico e ajuda você a entender melhor o desempenho das suas redes sociais, mostrando caminhos para melhorar sua comunicação. Análise simples A análise simples é a mais básica e mostra diretamente quantas pessoas viram ou interagiram com seu conteúdo (RECUERO, 2014). Comparação A análise comparativa é quando você compara resultados de diferentes publicações ou períodos. Por exemplo, você pode comparar o desempenho das publicações deste mês com as do mês passado para entender o que funcionou melhor e planejar conteúdos futuros (RECUERO, 2014). Previsão A análise preditiva usa dados antigos para tentar prever resultados futuros (RECUERO, 2014). Um exemplo é que se sabemos que entre novembro e dezembro há um aumento nas curtidas em posts relacionados a doações, construir conteúdo que fale sobre isso antecipadamente é uma forma de “prever” a procura e antecipar-se ao aumento de demanda. Redes sociais Analisar as redes sociais significa entender como as pessoas interagem umas com as outras no seu perfil ou página. Você pode descobrir quem são os principais seguidores, quais conteúdos são mais compartilhados e como essas conexões ajudam a espalhar sua mensagem para mais pessoas (GOMES, 2018). O que ter cuidado ao analisar os números? Ao analisar as métricas, você precisa levar em conta fatores externos que podem influenciar os resultados. Datas especiais, feriados ou eventos importantes podem aumentar ou diminuir a interação com suas publicações (as chamadas datas sazonais). Por isso, sempre olhe com cuidado e verifique se os dados são realmente representativos do desempenho geral (KAHNEMAN, 2012), todo o contexto deve ser levado em conta. Cuidado com erros ao analisar Existem alguns erros comuns ao analisar as métricas. Um deles é o viés de confirmação, que acontece quando você só presta atenção nos números que reforçam o que você já acredita. Outro erro é o viés de recência, que acontece quando você só leva em conta os resultados mais recentes, esquecendo resultados passados (KAHNEMAN, 2012). Como já dito. Recomendações O conteúdo do artigo foi baseado no conhecimento da autora e com referências de base científica. Caso você deseje ampliar o conhecimento acerca da temática, recomenda-se a leitura das fontes a seguir: COSTA, Felipe. Aplicação estratégica de métricas digitais. Panorama, Goiânia, v. 9, n. 2, p. 45-60, 2020. FERREIRA, Mariana; OLIVEIRA, Ana. Produção textual e interações sociais em plataformas digitais. Revista Comunicando, Lisboa, v. 5, n. 1, p. 10-23, 2015. GOMES, André. Dinâmicas de interações nas redes sociais digitais. Salvador: UFBA, 2018. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2014. 
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