Comunicação Não Violenta (CNV) como ferramenta para a comunicação interna nas ONGs

15 de setembro de 2023

Este conteúdo foi produzido por Sara Dias

“Falar obscuramente, qualquer um sabe; 

com clareza, raríssimos.” Galileu Galilei

A comunicação é uma habilidade humana poderosa. Ela pode aproximar ou afastar pessoas, pode gerar ou desfazer negócios, pode promover a paz ou gerar guerras entre nações. Dentro das organizações sociais isso não é diferente, além de ser uma importante ferramenta na conquista de parceiros e doadores, quando realizada de forma clara e honesta pela liderança e seus colaboradores, pode alavancar o senso de responsabilidade coletiva e o espírito de equipe, potencializando as ações realizadas.


A Comunicação Não Violenta (CNV), metodologia de comunicação criada pelo psicólogo humanista norte-americano Marshall B. Rosenberg, na década de 1970, é conhecida por oferecer, de forma sensível e didática, parâmetros para o desenvolvimento de uma comunicação sincera e empática, a fim de reduzir os conflitos oriundos de comunicações precárias ou até tentar resolver os conflitos já estabelecidos.


Por meio de 4 passos, Marshall, em seu livro “Vivendo a Comunicação Não Violenta: Como estabelecer conexões sinceras e resolver conflitos de forma pacífica e eficaz” (2019), propõe um caminho de expressividade, onde transformamos o esmiuçar de nossas emoções e a identificação de nossas necessidades em pedidos específicos ao outro, abrindo a possibilidade de compreensão mútua e aumento na confiança nas relações.


E quais são os 4 passos?


  1. Observação: Neste primeiro passo, exercitamos a observação neutra de uma situação que afeta nossa sensação de bem-estar (ver, ouvir, lembrar, imaginar) sem acrescentar avaliação ou julgamento. Isso envolve descrever objetivamente o que está acontecendo, evitando críticas, rótulos ou interpretações que podem gerar mal-entendidos.

  2. Sentimento: No segundo, realizamos uma auto observação quanto às sensações e emoções presentes enquanto observamos ou ouvimos algo e tentamos descrevê-la. 

    Assim como na técnica de Atenção Plena (Mindfulness), na CNV estabelecemos a autopercepção, notando nossas sensações, pensamentos e emoções no momento presente, observando o que nos acontece internamente e externamente com curiosidade.

    Se você quer saber um pouco mais sobre a Atenção Plena, leia o texto a seguir:
    https://www.portaldoimpacto.com/atencao-plena-e-o-cuidado-com-a-saude-mental

  3. Necessidade: Aqui, identificamos aquilo que precisamos ou valorizamos e que não temos neste momento, gerando o sentimento ou sensação que estamos experimentando.

    Exemplos dessas necessidades, que você pode estar sentindo como não atendidas, são: aceitação, valorização, apreciação, compreensão, confiança, respeito, segurança, beleza, ordem, descanso etc.

  4. Pedido: No quarto e último passo, expressamos em um pedido (e não uma exigência) aquilo que gostaríamos que fosse feito para enriquecer a nossa vida.

    Quando elaboramos um pedido de forma clara, positiva e de ação concreta e o expressamos ao outro, oferecemos a oportunidade ao nosso ouvinte de atender voluntariamente a nossa necessidade.


Acrescido destas primeiras etapas, está uma atitude essencial para o diálogo: a escuta ativa e atenta do outro também. Nos colocamos em uma postura de abertura e acolhimento para os sentimentos, necessidades e pedidos, para que, em uma ação conjunta de cooperação, possamos buscar o melhor para ambos os lados.


Comunicação como ferramenta de uma cultura de confiança


O neurocientista Paul J. Zak, escritor do livro “Trust Factor: The Science of Creating High Performance Companies (Fator Confiança: A Ciência de Criar Empresas de Alta Performance – sem tradução para o português), descobriu em seus estudos que a confiança é um componente chave para um ambiente de trabalho estimulante, produtivo e inovador, e parte dela é desenvolvida por uma comunicação transparente e empática, como propõe a CNV. 


Em uma cultura de confiança, colaboradores e gestores não precisam perder tempo e energia supondo as intenções que levaram um ou outro a tomar uma decisão. As ações são planejadas, informadas e avaliadas pelas equipes nos momentos oportunos, proliferando um sentimento de pertencimento e clareza dos processos a serem desenvolvidos.


O grupo de consultoria global GPTW - Great Place to Work (criadores do selo Excelente Lugar para Trabalhar), também confirma a relação da comunicação assertiva com a confiança dos colaboradores nas instituições. De acordo com seus parâmetros de avaliação para boas práticas das empresas, a credibilidade em sua liderança, e consequentemente na organização, está em primeiro lugar no ranking de prioridade, sendo desenvolvida por meio da comunicação honesta, coerente e alinhada com os valores organizacionais.


Mais informações sobre como relacionar os parâmetros do GPTW com sua ONG, click neste link:

https://www.portaldoimpacto.com/a-sua-ong-e-um-excelente-lugar-para-se-trabalhar


Agora, pare por um instante e perceba se a organização social em que você trabalha desfruta das qualidades citadas acima, em sua prática de comunicação interna. Eu espero que sim, mas como Tawana Sousa destaca em sua pesquisa intitulada “Os caminhos da comunicação em Organizações Não Governamentais”: “[...] muitas ONGs não compreendem ou reconhecem a importância desse público interno, e desenvolvem uma comunicação falha e ineficiente nesse ambiente”. 


Tawana chama a atenção para o fato de que, antes do investimento em uma comunicação externa, ou seja, uma comunicação usada para atrair doadores, é fundamental “colocar a casa em ordem”, pois se internamente a comunicação não flui, sua atuação externa pode ser comprometida.


Investindo em uma comunicação de qualidade


É necessário investimento. Porém, antes que você pense em quanto isso vai custar em dinheiro, saiba que o primeiro pré-requisito para uma comunicação eficaz, para você ou para a organização que você trabalha, é a de tempo de autoavaliação e a abertura para mudanças.


Não conseguimos avançar muito se não conseguimos reconhecer onde a nossa comunicação é falha. Como afirma a técnica da Comunicação Não Violenta, ela pode estar antes de tudo na forma como observamos os fatos ou como os interpretamos.


Se aprofundar na CNV pode ser uma boa alternativa para quem já sabe que precisa melhorar sua forma de se expressar e se relacionar, mas ainda não sabe como. Outra sugestão, é buscar parceiros com conhecimento em Comunicação Organizacional, que possam oferecer estratégias práticas de comunicação interna ou mediação de conflitos.


Por fim, recomendo que conheça o trabalho da S-Lab, um negócio de impacto com foco em comunicação e mobilização, que oferece dentre outros serviços, uma plataforma on-line com conteúdos gratuitos (e outros exclusivos para assinantes) para você se informar.


Link para a Plataforma do S-LAB:
https://s-lab.tech/


Referências:


MARSHALL, R. B. “Vivendo a Comunicação Não Violenta: Como estabelecer conexões sinceras e resolver conflitos de forma pacífica e eficaz”; tradução de Beatriz Medina. Rio de Janeiro, RJ: Sextante, 2019.


SOUSA, T. C. N. Os caminhos da Comunicação em Organizações Não Governamentais: um guia para ONGs de pequeno e médio porte - Memorial Descritivo. TCC. UNB - Faculdade de Comunicação. Brasília, DF, 2015.


ZAK, P.J. Trust Factor: The Science of Creating High Performance Companies. AMACOM, 2017.





Sara Dias é Prof.ª Mestra em Artes da Cena pela UNICAMP e Instrutora de Yoga, atua como educadora social desde 2006 e atualmente desenvolve projetos relacionados ao bem-estar no terceiro setor. 



Contato: saradias.ds@gmail.com


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