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Como o voluntariado corporativo e as organizações sociais trabalhando em conjunto podem contribuir para o enfrentamento à emergência climática?

set. 06, 2023

Este conteúdo foi produzido por João Cavalcanti e Nathália Marques

Antes de começar a ler esse texto, gostaríamos de fazer uma pergunta para você, gestor social: já ouviu falar de emergência climática? Dentro da sua organização, vocês trabalham essa temática em alguma frente de atuação? Se não, vem com a gente entender um pouco mais sobre este assunto! E se sim, nos ajude a fortalecer e democratizar o acesso e conhecimento para mais pessoas.


Com o passar dos dias, semanas e meses estamos observando a incessante busca pela precisão científica e o avanço tecnológico, ao mesmo tempo que percebemos o aumento das desigualdades sociais no país e no mundo. É possível adicionar o descarte irregular de resíduos, a exploração indevida da terra, a produção exacerbada de bens não-duráveis, a poluição do ar e muitas outras consequências da ação do homem no próprio planeta Terra. Devido às emissões recorrentes de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera, por meio da queima de combustível fóssil e o aumento do desmatamento atrelado à expansão da pecuária, a temperatura global aumenta - consideravelmente - a ponto de ameaçar a vida, nossa e de todos os seres que aqui habitam! Tal fato provoca um horizonte de emergência, precisamos frear o aumento da temperatura e conter os impactos da crise climática!


É importante dizer que, os impactos da crise climática são injustos, de modo que, aqueles que menos impactam o ambiente são os que mais sofrem com suas consequências. 


No Brasil, os mais vulnerabilizados estão entre comunidades ribeirinhas, quilombolas, povos indígenas, moradoras e moradores de favelas e periferias das cidades, além dos campesinos, agricultores familiares, microempreendedores do campo, mulheres, crianças e idosos. Estima-se que, em nosso país, 40 milhões de meninas e meninos estão expostos a mais de um risco climático ou ambiental e, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as mudanças climáticas comprometem a garantia dos direitos fundamentais¹.

 

É comum ouvir que as crianças são o futuro da nação. No entanto, que tipo de futuro espera o Brasil, caso não promova ações relevantes e eficientes para a adaptação e mitigação das já percebidas consequências da emergência climática?


Segundo o IPCC, ‘ainda há esperança para a ação climática, mas tende ser global.’ Para além disso, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas entende que as soluções precisam ser baseadas na natureza e nos territórios mais afetados. À luz da realidade brasileira e entendendo a complexidade da crise climática, uma das soluções é fortalecer as organizações que já estão tornando seus territórios mais resilientes e adaptados aos eventos climáticos extremos. 


E o que nós temos feito para contribuir com o enfrentamento da crise climática?


A Phomenta apoia, acredita e, sobretudo, incentiva as Organizações da Sociedade Civil que estão trabalhando pela preservação e justiça. Organizações essas que lidam diariamente com os recortes de causa e público mais vulneráveis e afetados diante de um cenário extremo de crise, predispostos a serem mais impactados negativamente com os eminentes efeitos, como a seca extrema, a desregulação do regime de chuvas, o empobrecimento do solo, o aumento do nível do mar e todas as consequências desses efeitos.


Se o modelo econômico continuar o mesmo, a produção e consumo não se tornarem responsáveis e os gases de efeito estufa continuarem sendo emitidos devido a queima de combustível fóssil e o desmatamento desenfreado, estima-se que até 2100 a renda média mundial caia em até 23%. Esse dado é ainda mais assustador para o Brasil, afetando a renda média em até 83% ². As conclusões do 6º relatório do Painel  Intergovernamental de Mudanças Climáticas, lançado no mês de Abril deste ano, são assustadoras e reforçam a necessidade de atuação em favor da mitigação e da redução da emissão de GEE. Concomitantemente, o debate sobre investimentos verdes e sustentáveis cresce no Brasil, segundo a consultoria Natural Intelligence (NINT), as operações sustentáveis de crédito movimentaram R$100 bilhões em 2021 ³.  


Para além dos números, investir em pessoas articuladoras e gestoras sociais que empreendem e garantem o acesso à terra, alimentação segura, moradia digna, proteção dos territórios, preservação dos biomas e as diversas formas de justiça é investir num presente mais justo e sustentável. 


A emergência climática é um desafio do agora e demanda soluções imediatas e globais para o seu enfrentamento. Um desafio que precisa ser enfrentado com políticas públicas relevantes, educação, ação dos entes responsáveis, cooperação econômica, financiamento justo e com a sociedade civil engajada. Para isso, se faz importante democratizar o acesso à informação, ecoando as vozes dos mais afetados, co-criando soluções com as comunidades e transformando realidades.


Por mais complexo que o enfrentamento à emergência climática seja, a Phomenta está comprometida em fortalecer boas práticas de  gestão, conexão e inovação para os gestores sociais. Estamos atuando para que o cenário atual possa ser substituído por uma realidade de ação global, transversal e multisetorial contra a mudança do clima, por meio do fortalecimento das organizações comprometidas com a justiça e dignidade em todos os níveis.   


¹ Dado retirado do relatório ‘Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil’ lançado em 2022 pela UNICEF

² Dado extraído do relatório do IPCC lançado no dia 28/04/2023

³ Dado apresentado pela consultoria NINT (Natural Intelligence) durante o Workshop Financiamento Sustentável realizado pela Eletrobras em maio de 2022.

Referências:
Infância e risco ambiental, Dados da NINT sobre títulos verdes


O relatório síntese do IPCC foi amplamente abordado pela imprensa nacional e internacional, com destaque em veículos como
Agência Brasil, Capital Reset, CNN Brasil, Cultura, Estadão, Folha, Metrópoles, O Globo, g1, Valor e VEJA, além de AFP, Associated Press, BBC, Bloomberg, Climate Home, Financial Times, Guardian, NY Times, Reuters, Washington Post e Wall Street Journal.



João Pedro Cavalcanti é jovem graduando em Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais no CEFET/RJ. Atua diretamente com gestão de projetos de inovação social na Phomenta e está como vice-presidente do time Enactus CEFET/RJ. João entende a importância de impactar diferentes realidades em busca de uma sociedade mais justa e equitativa. Por isso, é fellow do Global Shapers Hub Rio de Janeiro, uma rede global de jovens engajados na solução de problemas da sociedade, apoiada pelo Fórum Econômico Mundial.


Além disso, João é facilitador de aprendizagem e atua como ativista e mobilizador climático trazendo as juventudes como protagonistas para o alcance da justiça climática no Brasil e no mundo. 


Perfil no linkedIn: 

https://www.linkedin.com/in/cavalcantijoao/


Nathália Marques é formada em Gestão Ambiental pela EACH/USP e especialista em Educação Ambiental para a Transição para Sociedades Sustentáveis pela ESALQ/USP. Certificada em Gestão de Projetos, atualmente integra na Phomenta o círculo de Voluntariado Corporativo. 


Acredita que conectar as pessoas para potencializar suas habilidades e ações, contribui com um mundo mais justo e sustentável, pois para ela o futuro, necessariamente, é coletivo. 


Perfil no LinkedIn:  https://www.linkedin.com/in/nathalia-de-toledo-moura-marques/



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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
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