Filantropia baseada em confiança para devolver o poder às comunidades

7 de dezembro de 2022

Este conteúdo foi produzido por Instituto Phi


As relações tradicionais entre grandes doadores e organizações da sociedade civil (OSCs) foram atualizadas. Em inglês, conhecida como “trust-based philanthropy”, a filantropia baseada em confiança é uma abordagem crescente da prática da doação que tem como princípio fundamental o financiamento flexível – ou seja, sem determinar exatamente de que forma o dinheiro deve ser usado – e de longo prazo.

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Além de apoiar a estabilidade das organizações beneficiárias, este tipo de doação estimula a autonomia, a criatividade, a exposição ao risco inerente à inovação e a ação emergente, em vez de se ater aos resultados de um projeto inicial, que pode ficar defasado. Mas, principalmente, a filantropia baseada em confiança reconhece o desequilíbrio de poder e cria com as próprias comunidades, para as quais busca corrigir desigualdades e injustiças.


Não se trata de confiança ingênua ou incondicional por parte dos financiadores. 


A filantropia baseada em confiança pressupõe o compartilhamento da tomada de decisões, o aprendizado mútuo e a transparência entre organizações e doadores. 


Estes entendem seu papel como parceiros, buscando apoiar, em vez de controlar, lideranças que têm mais expertise nos problemas sociais que eles querem ajudar a mitigar. 


É assim que funciona no Instituto Phi, organização da sociedade civil que atua assessorando indivíduos e empresas a fazer de maneira estratégica o planejamento de sua filantropia e fortalecendo a gestão de projetos sociais. A construção do uso dos recursos é feita pela OSC em parceria com a equipe do Phi, que auxilia as lideranças a conhecerem suas fortalezas e fragilidades para poderem melhor se planejar, com propostas, metas e avaliação de resultados.


Nesta dinâmica, os doadores têm a chance de obter uma compreensão mais realista dos desafios e das oportunidades enfrentadas pelos parceiros. Segundo um estudo publicado na revista acadêmica Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly, organizações que gastam acima de 35% de seu orçamento com o overhead – isto é, em instalações, equipamentos, treinamento de pessoal, tecnologia da informação, desenvolvimento de programas e arrecadação de fundos – tendem a ser mais bem-sucedidas do que aquelas que economizam com as “despesas gerais”.


Inicialmente, os financiadores costumam ter expectativas irreais sobre administrar uma OSC com baixo custo. Em resposta, as organizações se sentem pressionadas a atender a essas expectativas. Elas podem então gastar muito pouco em despesas gerais pagando salários baixos e não competitivos, substituindo funcionários pagos por voluntários e usando instalações e equipamentos obsoletos.


Mas como as ONGs podem se preparar para construir esta relação de parceria e confiança com doadores que possam oferecer, mais que apoio financeiro, um suporte responsivo e abrangente? 


Confira abaixo um conjunto de perguntas criadas pelo Philanthropy.Insight Project, uma iniciativa da Fundação Maecenata que busca ajudar organizações a detalharem seus princípios, melhorarem sua comunicação e alcançarem altos graus de confiança:


1. Comprometimento


Em que medida a organização está orientada exclusivamente para o bem-estar dos beneficiários e parceiros? A organização atende às diversidades raciais e culturais? Como é assegurado que todas as ações sejam tomadas em uma atmosfera de respeito por cada beneficiário?


2. Interesse público


Os objetivos da organização estão de acordo com objetivos de interesse público? Como a organização mantém independência dos interesses defendidos pelo Estado e/ou pelo setor empresarial? De que forma o estatuto da organização prevê medidas de proteção à corrupção e outras atividades ilegais? De que forma os parceiros e os beneficiários são envolvidos nos processos de tomada de decisão?


3. Relevância


De que forma existe uma metodologia para garantir uma avaliação imparcial de curto e médio prazo de todos os projetos? Como os programas e projetos englobam segurança de ajuste diante de mudança de condições? Até que ponto os programas e projetos estão em conformidade com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU? 


4. Desempenho


De que maneira os objetivos estratégicos são definidos, colocados em prática e avaliados? Até que ponto os membros do conselho e funcionários são escolhidos com base em seu compromisso, capacidade de liderança, expertise e confiabilidade? Como o sistema de governança garante que as decisões sejam tomadas de forma responsável e de acordo com a missão e o estatuto da organização?


5. Prestação de contas para a sociedade


De que forma a organização atende à necessidade de prestação de contas para a sociedade civil? Em que medida os relatórios periódicos fornecem informações suficientes sobre a metodologia, práticas e resultados de todas as operações? Como é garantido que os métodos de contabilidade estejam de acordo com as normas mais recentes e avançadas?

 

A construção da confiança, como todos os elementos importantes de bons relacionamentos, leva tempo. Mas este exercício de autorreflexão para as organizações é um ótimo ponto de partida para o aprofundamento de parcerias visando à reconstrução de uma sociedade mais forte e mais equitativa. Não é só sobre distribuir ou receber recursos financeiros e cobrar ou devolver feedbacks de avaliação de impacto, mas sobre colaborar com humildade e incluir as vozes da comunidade.

Conectar pessoas, organizações e informações para promover a cultura da doação. Esta é a missão do Instituto Phi, uma organização sem fins lucrativos que atua assessorando indivíduos e empresas a fazer de maneira estratégica o planejamento de sua filantropia e, ao mesmo tempo, fortalecendo a gestão de projetos sociais e criando soluções inovadoras e customizadas para potencializar o Terceiro Setor. Em oito anos, mais de R$ 146 milhões foram doados e 1,2 mil projetos sociais apoiados, beneficiando mais de 2 milhões de pessoas. 


Contato: contato@institutophi.org.br


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