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Cinco soluções em inovação social, pero no mucho

dez. 07, 2022

Este conteúdo foi produzido por Fábio Deboni


Há soluções que rodeiam nossas bolhas da inovação social, do impacto e afins, mas que, se analisadas com mais profundidade e contexto, parecem solucionar a vida de apenas parte do conjunto das organizações que atua nessas áreas. Além disso, acabam ganhando vida própria e adquirindo um status bem maior do que uma mera solução. Curioso isso, não?

 

Para ficar evidente aqui, não sou contrário a essas soluções (e tantas outras). Acho elas relevantes e interessantes, mas nem por isso deixam de ser meras soluções (ferramentas, meios de se viabilizar o tão sonhado impacto positivo) e, portanto, passíveis de críticas e de divergências.

 

A seguir reúno cinco delas:

 

 

1. Fundos patrimoniais

 

Pense comigo caro(a) leitor(a). Que organização social tem condições de constituir um fundo patrimonial, abrindo uma conta/aplicação bancária com alguns milhões de reais? Lembrando que o contexto de boa parte das OSCs é de vender o almoço pra pagar a janta. Acho a ideia muito potente, mas cá entre nós, é algo extremamente restrito a uma elite de organizações da sociedade civil / fundações. Com o olhar de hoje, fica difícil projetar essa realidade para organizações medianas e menores.

 

Não sabe o que são fundos patrimoniais (endowments), sugiro dar uma olhada aqui: 

Saiba mais

Basicamente é um recurso aplicado, cujos rendimentos é que serão utilizados para custear a organização (salários, projetos, etc.). Novamente reitero: a ideia é muito boa e me anima ver alternativas sendo criadas para organizações menos afortunadas financeiramente. A SITAWI está se movimentando pra ‘popularizar’ essa ideia para o setor (https://sitawi.net/como-atuamos/fundos-patrimoniais/). A conferir. 

 

 

2. Pejotização pra tornar o custo-equipe mais acessível

 

Sem dúvida, é uma saída muito praticada no setor e, tem sido, a forma de manter equipes ‘empregadas’. O ponto é que o fenômeno da pejotização, já legalizado no país a partir da mini-reforma trabalhista (Temer, 2018), oculta outro problema que afeta muito o setor: profissionais-empresas que flutuam entre várias organizações e, no final do dia, não estão em nenhuma. Desta forma, a organização tem dificuldade de manter uma massa crítica estratégica que dê corpo à instituição e esses profissionais ficam flutando entre várias organizações e projetos, seja por preferência, seja por necessidade. Ao primeiro sinal de propostas de trabalho mais interessantes, esses profissionais-empresas tendem a partir para novas empreitadas, deixando a organização a ver navios em sua frágil musculatura institucional. Não à toa é muito comum se deparar com regimes distintos de contratação em várias organizações: parte do time é CLT e parte é PJ. Quem é da área de RH já viria aqui um baita desafio de clima organizacional (em função de dois pesos e duas medidas), mas isso é papo pra outra prosa.

 

Respeito os defensores da vida PJ, em função da flexibilidade laboral e da possibilidade de fazer vários trampos ao mesmo tempo, mas não consigo encontrar muita distinção entre isso e os milhares de entregadores e motoristas de aplicativo. Novamente, papo pra outra conversa.

 

Leia o texto: Contratação de MEI por ONGs: normas e cuidados 

 

3. Compliance e programas de integridade

 

Como costumo dizer: não há como ser contra esses tipos de práticas, pois elas apontam para organizações mais transparentes e mais alinhadas às boas práticas de gestão. O ponto aqui é: como essas ferramentas vêm sendo implementadas diante de um conjunto tão diverso de OSCs?

Vejo alguns movimentos no horizonte:


  • De diversas consultorias forçando a barra pra vender soluções de integridade às OSCs que estão léguas de distância do tema e que não têm grana para pagar por isso. Talvez, elas precisem de outros ajustes internos, com outros nomes menos gringos, mas que as posicionem em direção à práticas de gestão, controle e transparência mais avançadas.
  • De financiadores que, da noite pro dia, passam a exigir de seus beneficiários (grantees) uma porrada de requisitos de compliance que ampliam ainda mais a distância entre as OSCs da 1ª prateleira para as demais. Afinal, a ideia era essa?
  • De OSCs que resistem a ser mais transparentes; ONGs com ‘dono’, ONGs que ficaram no passado em termos de práticas de gestão e de controle. Vale frisar que o ‘ficar no passado’ não remete à questão etária dos dirigentes da OSC, nem da idade da própria OSC. Trata-se da visão institucional da organização, a partir da posição de suas lideranças, conselho, muitas vezes resistente à adoção de práticas inovadoras e necessárias.


Será que o processo de compliance, ao invés de estimular OSCs médias e menores a aperfeiçoarem sua gestão/transparência/controles, não estaria ampliando a desigualdade institucional entre elas e as OSCs maiores? De novo, pra mim a questão fundamental é na maneira como o compliance vem sendo implementado no setor e não do compliance em si.

 

4. Redes sociais e mundo digital

 

Escuta-se com certa facilidade que qualquer organização de impacto precisa ser ativa no mundo digital e nas mídias sociais. Raramente se escuta algo contrário a isso. A questão que decorre daí é: como se tornar ativa e relevante nesse mundo digital? Isso cabe no bolso e no pensamento de qualquer organização? De qualquer porte?


Mais um exemplo do rabo que abana o cachorro. Ferramentas de comunicação e de interação digital que, se mal pensadas e mal implementadas, viram a organização do avesso. Afinal, vale a pena estar presente e ser ativa em todas as redes sociais? Em quais, sim? Em quais, não? A cargo de quem ficará a gestão desta área? Será internalizado ou terceirizado? O que a OSC irá comunicar nestes canais? Ela, afinal, tem o que mostrar em busca do tão sonhado ‘engajamento’?


A pandemia nos mostrou que estar ausente no mundo digital pode ser fatal pra qualquer organização. Muitas delas penaram com isso, enquanto outras surfaram bem essa onda. Obviamente, essas ferramentas devem estar a serviço do alcance da missão da organização e não o contrário. Parece banal, mas ainda se vê por aí o rabo abanar o cachorro. Curiosamente, há organizações com diversos canais/redes sociais que seguem sendo inacessíveis; que seguem ‘vendendo’ um mundo de realizações que nada tem a ver com sua essência. Só pra reforçar que não se trata da ferramenta, mas sim de como a organização a encara dentro de suas rotina e de seus processos em direção ao alcance de sua missão.

 

5. NFTs, blockchain, tokens....

 

O mundo digital nos oferece um sem número de novidades, muitas delas bastante atrativas e também complexas. Os NFTs são um exemplo ainda recente no campo socioambiental. Em breve seremos bombardeados por esse tipo de tokens por aqui. No mundo do futebol, por exemplo, já é uma realidade. Clubes criam fan tokens e comercializam para torcedores ávidos por itens exclusivos do seu clube ou em busca de algum poder de decisão sobre assuntos periféricos do seu time (ex: música que vai tocar na entrada do time no gramado, um novo slogan, etc.).


Essa área é ainda recente e traz consigo um mar de siglas e de complexidades. Fora do Brasil já há vários casos de organizações utilizando NFTs para captar recursos. Por aqui ainda é uma grande interrogação (https://medium.com/coinmonks/how-cryptos-and-nfts-can-change-local-economies-when-blockchain-goes-non-profit-cec48c79ea5f).


Se o item anterior (mundo digital/comunicação) já era um enorme desafio para boa parte das OSCs, imagine esse dos tokens. Vejo, pelo menos, dois desafios: um primeiro de entendimento, e um segundo de operacionalização.


Em ambos é de se imaginar que será fundamental buscar um parceiro que já opere nesse universo com convergência de propósitos com a OSC. Repito: encontrar um parceiro e não um vendedor de lenços. Afinal, consultorias e especialistas no tema não faltam e certamente se apresentam para as organizações sedentas por novidades.


Eu particularmente ainda não consegui enxergar valor nos NFTs. Por ora, me soa como comercializar amenidades. A conferir.

 

Leia também: As ONGs na era do metaverso

 

Essas e tantas outras soluções estão aí e vieram pra ficar. Para além do estouro da boiada para temas da moda, o que mais me intriga é o quanto tomada de decisão estratégica e uma boa gestão seguem escassos entre organizações de impacto social (sejam elas negócios de impacto, OSCs, fundações).


Ao invés de nos empolgarmos com essas novidades, não seria mais adequado nos atentarmos a arrumar nossas cozinhas institucionais, a preparar um bom arroz com feijão para, quem sabe, pensarmos em pratos mais elaborados e até mesmo ‘gourmetizados’? Nada contra eles. São saborosos e potentes, mas comecemos por fazer o essencial bem feito, pra a partir daí, projetar novas possibilidades.


Afinal, que inovação social é essa que não começa sua caminhada pelo básico? Que inovação social é essa que se empolga com a inovação deixando o social de lado?



Fábio Deboni - Agrônomo não praticante, escritor, produtor de conteúdo, xereta da inovação social, palmeirense (ninguém é perfeito) e um monte de outras coisas. Publica diariamente textos e artigos em seu blog: https://fabiodeboni.com.br/ e em seu Linkedin: www.linkedin.com/in/fabiodeboni. Lançou em 2022 seu quinto livro: Inovação Social em tempos de soluções de mercado (aqui: https://www.pacolivros.com.br/inovacao-social-em-tempos-de-solucoes-de-mercado e aqui: https://amzn.to/3UiIp5o). 


Contato: fabio.deboni@gmail.com.


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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