É possível equilibrar o trabalho social com lazer, hobby e ócio?

7 de junho de 2024

Sara Dias propõe caminhos para lidarmos com a Cultura da Agitação, estilo de vida que valoriza o trabalho incessante

Um grupo de pessoas está em volta de uma mulher sentada em uma mesa.

“Para resistir à pressão de ser produtivo o tempo inteiro, é essencial enxergar a utilidade do inútil” (Mariane Santana)


Você já desejou ter mais tempo para você? Tempo para descansar, para fazer as coisas que gosta ou para apenas não fazer nada.E quando você consegue um pouco desse tempo, para você é fácil deixar de fazer “tudo” que você tem a fazer, inclusive relacionado ao trabalho?


Com base nesses questionamentos a pesquisadora, escritora e Professora Mestra Mariane Santana, integrante do Núcleo de Estudos das Espacialidades Contemporânea da Universidade de São Paulo - USP, problematiza a relação do indivíduo com o trabalho e o descanso, baseando-se principalmente nas teorias da “prática sobre si” de Michel Foucault.


Mariane cita que vivemos condicionados à uma Cultura da Agitação (Hustle Culture), ou seja, uma cultura que valoriza um estilo de vida de trabalho incessante, que prega que o valor das pessoas está naquilo que produzem.


“A Cultura da Agitação legitima a exploração e a precarização do trabalho. Nesse contexto, as pessoas se sentem mal por estarem descansando ou tendo momentos de lazer”.


A Cultura da Agitação está presente também no Terceiro Setor?


Eu diria que sim. Individualmente, quando não conseguimos questionar e priorizar a nossa utilização do tempo frente às necessidades da causa social em que atuamos, mas principalmente quando, em nível organizacional, é normalizada práticas que não consideram o caráter exaustivo vivenciado no Terceiro Setor e o intensificam ainda mais, realizando reuniões em horários de almoço, enviando mensagens de trabalho fora do horário de expediente ou não considerando tempo e espaço para a descompressão.


Mariana Santana ressalta que “as pessoas impactadas pela cultura da agitação raramente têm tempo para a família, amigos, o lazer ou o autocuidado [...] já que todo o tempo passa a ser ocupado com as preocupações do trabalho”.


O tempo no trabalho ou fora dele


A relação com o tempo, no trabalho ou o fora dele, é um atravessador desses questionamentos, e o contraponto ao super foco no fazer laboral, ou no amor à causa, é o permitir-se descansar, ou dedicar seu tempo livre para o que melhor lhe convier.


Como nos lembra Michelle Prazeres, jornalista, educadora e fundadora do Instituto Desacelera, de São Paulo:


“Descanso não é merecimento,

  Descanso não é prêmio para quem foi produtivo/a,

  Descanso não é combustível para ser mais produtivo/a,

  Descanso é constitutivo da experiência,

  Descanso faz parte da vida,

  Descanso é direito”


Alguns exemplos das escolhas que se pode fazer com o tempo fora do trabalho, estão resumidas em três palavras, que parecem ter os mesmo significados, mas que se diferenciam entre si. São elas: o lazer, o hobbie e o ócio.


O Lazer


Explorado de forma intensa pelo sociólogo francês Joffe Dumazier em seus livros “Lazer e cultura popular” (1973) e “Sociologia empírica do lazer” (1979), a palavra lazer “se apresenta na dinâmica social brasileira, carregada dos valores do capital, relacionando-se diretamente com o tempo de reposição de energia para o trabalho”.


Para o autor, o tempo de lazer é realizado pelo “adulto trabalhador” em quatro principais períodos:

  • Fim do dia
  • Fim de semana
  • Fim do ano letivo (férias)
  • Fim da vida (aposentadoria)


E tem como característica os 3 D’s: Descanso, diversão e desenvolvimento da personalidade.


No livro “Manual de lazer e recreação - o mundo lúdico ao alcance de todos”, Thiago Silva e Kaoê Gonçalves complementam:


“As características do lazer são liberdade de escolha e busca de um estado de prazer e espontaneidade, e suas funções traduzem a busca de equilíbrio mental (psicológica), a integração e a socialização (social), e a manutenção de um bom estado de saúde (terapêutica)”.


O Hobby


Expressão inglesa designada para representar o tempo gasto de forma intencional para si mesmo, descreve atividades escolhidas para serem realizadas em seu tempo livre, como por exemplo: atividades artísticas, esportivas, leitura, escrita, e ações como cozinhar, plantar, costurar etc.


Para o Ph.D. Emílio da Silva Neto, Doutor em Engenharia e Gestão pela Universidade Federal de Santa Catarina, “o hobby é composto de momentos em que se faz aquilo que dá prazer, convém, faz bem, carrega a bateria, dá paz, faz feliz”. Porém, para que se possa colher de seus benefícios, há de se ter compromisso com ele, definindo horários e realizando-os de forma periódica.


Em sua dissertação de mestrado em Psicologia, intitulada “A relação da autoeficácia, ajustamento emocional e qualidade de vida em adultos”, (2014) para a Universidade Lusófona de Humanidade e Tecnologia, de Lisboa, a pesquisadora Eugénia Maria de Almeida Francisco defendeu que:


“Em relação ao ajustamento emocional e aos hobbies, os resultados demonstraram que os sujeitos que praticam hobbies têm melhor ajustamento emocional do que os que não praticam. Estes últimos, têm valores superiores de depressão e ansiedade, embora só a depressão revele uma diferença estatisticamente significativa. Os hobbies afetam de forma positiva o equilíbrio emocional, a saúde e o desenvolvimento pessoal”.


O ócio


Palavra de múltiplos significados e interpretações, “ócio” pode ser o tempo em que não se faz nada, livre de compromissos e obrigações, pode ser entendido de forma negativa, como tempo inútil, improdutivo e supérfluo, ou mesmo supervalorizado como o tempo de abertura às novas ideias, como o “ócio criativo” defendido pelo sociólogo italiano Domenico De Masi.


Quando reconhecido como um tempo livre, sem uma finalidade utilitarista, o ócio pode se transformar em uma atitude autoreflexiva e contemplativa do ser, sendo um momento propício para que a percepção intuitiva nos ofereça outras formas de perceber a realidade.


O ócio pode ser experimentado, inclusive, em momentos de silêncio. O pesquisador e médico italiano Luciano Bernardi, responsável pelo hospital San Matteo, de Pavia, Itália, descobriu que reservar um tempo para o silêncio restaura o sistema nervoso, ajuda a manter a energia e condiciona nossas mentes para serem mais adaptáveis e responsivas aos ambientes complexos em que tanto de nós vivemos.


E se o trabalho no Terceiro Setor for meu lazer ou meu hobby?


Já ouvi uma afirmação parecida com essa em uma conversa sobre autocuidado e saúde mental no trabalho do Terceiro Setor, e apesar de achar que isso é possível, me desperta algumas reflexões.


No artigo “When passion leads to Burnout” (Quando o amor leva ao burnout), da Harvard Business Review, de 2019, a escritora Jennifer Moss exemplifica:


“Quando equiparamos o trabalho que amamos a ‘não trabalhar de verdade’, propagamos a crença de que, se o amamos tanto, deveríamos fazer mais - o tempo todo, na verdade. Quem precisa de um dia de folga quando não está trabalhando de verdade?! Há toda uma indústria caseira empenhada em proliferar esta mentalidade [...] Este tipo de mentalidade leva ao esgotamento e as consequências podem ser terríveis e difíceis de detectar”.


Um dado relevante para quem está propenso ao desequilíbrio do tempo livre em favor do trabalho é que períodos muito longos sem descanso comprometem a capacidade cognitiva e física, fazendo com que o desempenho diminua e o estresse crônico possa se instaurar. 


Mesmo que as demandas, principalmente no Terceiro Setor, estejam constantemente lutando contra o relógio, há um movimento em favor de uma produtividade saudável e sustentável que precisa ser realizado e priorizado e isso se inicia com a observação dos próprios limites.


Agora, a pergunta que faço, como no início deste texto é: o quanto temos nos permitido e conseguido desfrutar de tempo de lazer, hobby e até mesmo para o ócio, para o descanso ou simplesmente para nós?


Que tipo de reorganização de tempo precisamos fazer para que as pausas possam ser valorizadas, priorizadas e façam parte de nossa rotina?


Por onde começar novas práticas?


Refletir sobre “como” e com “o quê” gastamos nosso tempo é uma tarefa complexa. Para além do que é prioridade e necessidade para cada pessoa em determinado momento da vida, temos também movimentos “automáticos” de uma cultura da produtividade a todo custo que nos impede de descansar e nos cuidar, sem experimentar o sentimento de culpa e de inutilidade.


Para guiar uma autoavaliação de como isso chega para você e em sua organização, responda às seguintes perguntas:


  • Quanto tempo faz que não tira férias? 
  • Você tem conseguido realizar algum hobby ou desfrutar de momentos de lazer?
  • É possível encontrar uma pessoa que te cubra por uma semana, quando percebe que necessita de uma pausa? 
  • Que mudanças precisaria fazer para garantir um tempo para você?


E em esfera organizacional:


  • Em momentos de finalização de projetos, que tipos de rituais de checagem da energia da equipe você tem feito? 
  • Há espaços de descompressão ou de fortalecimento de vínculo entre as pessoas da equipe?


Amplie essa discussão: Agende conversas para ouvir a percepção da sua equipe. Reserve um tempo livre na agenda para recuperar sua energia, caso não seja possível um dia inteiro, reserve meio período livre para você. Evite preenchê-lo com afazeres domésticos e descanse sem culpa. 


Se você deseja saber mais sobre aspectos que perpassam o autocuidado e cuidado coletivo no Terceiro Setor, leia também o artigo: https://www.portaldoimpacto.com/autocuidado-a-historia-do-termo-no-campo-social-e-da-saude




Referências

AQUINO, C. A. B.;  MARTINS, J. C. O. Ócio, lazer e tempo livre na sociedade do consumo e do trabalho. Rev. Mal-Estar Subj. [online]. 2007, vol.7, n.2 [citado  2024-05-20], pp. 479-500 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482007000200013&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1518-6148.


BERNARDI, L., PORTA, C., SLEIGHT,  P. Cardiovascular, cerebrovascular, and respiratory changes induced by different types of music in musicians and non‐musicians: the importance of silence. Heart. 2006 Apr;92(4):445-52. doi: 10.1136/hrt.2005.064600. Epub 2005 Sep 30. PMID: 16199412; PMCID: PMC1860846. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1860846/


DE MASI, D. (2000). O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante. 

DUMAZEDIER, J. (1973). Lazer e cultura popular (M. L. S. Machado, Trad.). São Paulo: Perspectiva. 

DUMAZEDIER, J. (1979). Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva.

FRANCISCO, E.M.A. (2014) “A relação da autoeficácia, ajustamento emocional e qualidade de vida em adultos”, [Dissertação] Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, Universidade Lusófona de Humanidade e Tecnologia. Lisboa.


MOSS, J. (2029) When passion leads to Burnout”. da Harvard Business Review. Disponível em:
https://hbr.org/2019/07/when-passion-leads-to-burnout


NETO, E. S. Hobby, mais que ócio criativo (2020). [Artigo] OCP News. Disponível em:
https://ocp.news/colunista/emilio-silva/hobby-mais-que-ocio-criativo.


SILVA, T. A.C.; FERRAZ, K.G. (2017) Manual de lazer e recreação - o mundo lúdico ao alcance de todos. São Paulo: Phorte.


Sara Dias é pesquisadora e facilitadora do movimento e do bem-estar. 

Profª Mestra em Artes da Cena pela UNICAMP,  pós-graduanda em Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional e instrutora de Yoga. Possui experiência como educadora social desde 2006 e desenvolve projetos relacionados à Saúde Mental e Bem-Estar no Terceiro Setor. 


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A boa gestão age diretamente sobre cada uma delas para transformar desafios em oportunidades: Na conversa do tipo “O que aconteceu?”, os participantes focam em quem está certo ou errado, partindo de suposições que levam ao ciclo de acusações e impedem a solução. Conforme o autor: “quando algo desagradável acontece, o foco da conversa gira em torno de quem está certo, quem está errado, quem disse o quê, quem deve assumir a responsabilidade e assim por diante. Passamos a discutir quase todos os detalhes.”. Exemplo de conflito – Projeto atrasado e disputa de culpa: ao desenhar a festa junina da organização, ficou faltando definir quem compraria e arrecadaria as prendas das barracas, gerando muito estresse no dia da festa. Logo, membros começaram a atribuir culpa uns aos outros: “Foi o time das coordenadoras”; “Não, foram vocês que não passaram direitos”; “Não me envolvam, eu fiz minha parte”. 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Inicialmente, vamos entender melhor o que são métricas? Métricas são números e dados que as redes sociais fornecem para mostrar o desempenho das publicações feitas por você ou pela sua ONG. Quando você publica algo no Facebook ou Instagram, essas redes sociais mostram quantas pessoas visualizaram, curtiram, comentaram ou compartilharam seu conteúdo. Saber interpretar essas informações é muito importante porque ajuda a sua OSC a entender o que está dando certo e o que pode melhorar na comunicação com o público. Ao entender melhor essas informações, você pode criar conteúdos que alcançam mais pessoas e ajudam sua organização a ter um impacto maior. Quais são as métricas mais importantes? Entender as principais métricas pode parecer difícil no começo, mas conhecendo cada uma delas fica muito mais fácil saber se sua comunicação está indo bem. Cada uma dessas métricas traz informações cruciais que ajudam a entender o comportamento do seu público e como melhorar as publicações da sua organização. Desvendando as siglas e abreviações das métricas CTR (Click Through Rate): porcentagem de pessoas que clicaram em um link após visualizá-lo. CPM (Custo por Mil Impressões): quanto custa mostrar seu conteúdo para mil pessoas. CPC (Custo por Clique): quanto você paga por cada clique no seu conteúdo. CPA (Custo por Aquisição): custo médio para que uma pessoa realize uma ação específica, como fazer uma doação. ROI (Return on Investment): retorno financeiro obtido em relação ao dinheiro investido em publicidade ou campanhas. KPI (Indicador-Chave de Desempenho): métricas específicas escolhidas para medir o sucesso das suas ações. Alcance e Impressões O alcance é o número de pessoas diferentes que viram sua publicação pelo menos uma vez. Quanto maior o alcance, mais pessoas diferentes foram alcançadas pelo seu conteúdo. Já as impressões mostram quantas vezes sua publicação apareceu nas telas das pessoas, contando inclusive aquelas que viram mais de uma vez (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Engajamento Engajamento é uma das métricas mais importantes porque mostra como as pessoas estão interagindo com seu conteúdo. Essas interações incluem curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos. Um alto engajamento significa que as pessoas realmente gostaram do seu conteúdo e tiveram vontade de interagir com ele. Quanto mais engajamento, melhor você está se comunicando com o seu público (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Cliques Cliques mostram quantas pessoas clicaram no seu conteúdo ou nos links que você compartilhou. Essa métrica é especialmente importante quando você quer direcionar as pessoas para seu site ou para alguma ação específica, como um evento ou uma campanha de doação (COSTA, 2020). Crescimento de seguidores Essa métrica mostra quantas pessoas novas começaram a seguir sua ONG depois de ver suas publicações. Um crescimento constante de seguidores significa que você está conseguindo chamar a atenção e conquistar novas pessoas para sua causa (COSTA, 2020). Mas afinal, como essas métricas se relacionam? É muito importante não olhar apenas para uma métrica isoladamente. Por exemplo, se muitas pessoas veem sua publicação (alto alcance), mas poucas interagem com ela (baixo engajamento), pode ser que o conteúdo não esteja interessante o suficiente. Para entender se sua estratégia está funcionando, você precisa analisar diferentes métricas juntas, como alcance, engajamento e cliques. Isso ajuda a ter uma visão mais completa do desempenho das publicações (GOMES, 2018). Tipos de análises que você pode fazer Para usar bem as métricas, você pode fazer vários tipos diferentes de análises. Cada tipo serve para algo específico e ajuda você a entender melhor o desempenho das suas redes sociais, mostrando caminhos para melhorar sua comunicação. Análise simples A análise simples é a mais básica e mostra diretamente quantas pessoas viram ou interagiram com seu conteúdo (RECUERO, 2014). Comparação A análise comparativa é quando você compara resultados de diferentes publicações ou períodos. Por exemplo, você pode comparar o desempenho das publicações deste mês com as do mês passado para entender o que funcionou melhor e planejar conteúdos futuros (RECUERO, 2014). Previsão A análise preditiva usa dados antigos para tentar prever resultados futuros (RECUERO, 2014). Um exemplo é que se sabemos que entre novembro e dezembro há um aumento nas curtidas em posts relacionados a doações, construir conteúdo que fale sobre isso antecipadamente é uma forma de “prever” a procura e antecipar-se ao aumento de demanda. Redes sociais Analisar as redes sociais significa entender como as pessoas interagem umas com as outras no seu perfil ou página. Você pode descobrir quem são os principais seguidores, quais conteúdos são mais compartilhados e como essas conexões ajudam a espalhar sua mensagem para mais pessoas (GOMES, 2018). O que ter cuidado ao analisar os números? Ao analisar as métricas, você precisa levar em conta fatores externos que podem influenciar os resultados. Datas especiais, feriados ou eventos importantes podem aumentar ou diminuir a interação com suas publicações (as chamadas datas sazonais). Por isso, sempre olhe com cuidado e verifique se os dados são realmente representativos do desempenho geral (KAHNEMAN, 2012), todo o contexto deve ser levado em conta. Cuidado com erros ao analisar Existem alguns erros comuns ao analisar as métricas. Um deles é o viés de confirmação, que acontece quando você só presta atenção nos números que reforçam o que você já acredita. Outro erro é o viés de recência, que acontece quando você só leva em conta os resultados mais recentes, esquecendo resultados passados (KAHNEMAN, 2012). Como já dito. Recomendações O conteúdo do artigo foi baseado no conhecimento da autora e com referências de base científica. Caso você deseje ampliar o conhecimento acerca da temática, recomenda-se a leitura das fontes a seguir: COSTA, Felipe. Aplicação estratégica de métricas digitais. Panorama, Goiânia, v. 9, n. 2, p. 45-60, 2020. FERREIRA, Mariana; OLIVEIRA, Ana. Produção textual e interações sociais em plataformas digitais. Revista Comunicando, Lisboa, v. 5, n. 1, p. 10-23, 2015. GOMES, André. Dinâmicas de interações nas redes sociais digitais. Salvador: UFBA, 2018. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2014. 
Por Maria Cecília Prates 4 de abril de 2025
Uma boa pergunta é sempre um motivo para reflexão. Como a pergunta que me foi feita uma certa vez pela diretora de uma ONG: “ na sua opinião, o que caracteriza um bom processo de Monitoramento & Avaliação (M&A) de projetos sociais? ” Ela me pediu para responder em poucas palavras.  Tomando por base o referencial da Teoria da Mudança ou do Marco Lógico , somos tentados a dar a resposta tradicional: um bom M & A é aquele que nos permite verificar se o que foi planejado, tanto em termos de processo e resultado, está ocorrendo e/ou ocorreu de fato. E, com isto, nos permite fazer as correções de rota necessárias, tanto “durante” quanto “depois” da iniciativa social. Mas, um bom M & A deve ir além, de modo a evitar o sério risco de cair na armadilha do planejamento . A ´ armadilha do planejamento ` é quando o plano inicial é visto como a situação ideal a ser atingida. Decorrem, daí, as definições para sucesso e fracasso. Sucesso é quando são alcançadas boa parte das metas previamente traçadas; já o fracasso é quando boa parte delas não são alcançadas. E se o plano inicial não se mostrar correto, mesmo tendo sido construído de forma participativa, com objetivos claros, bons indicadores e análise consistente do contexto social? Ou ainda, se com o desenrolar da intervenção, aquele plano for se tornando inadequado frente às novas circunstâncias que forem surgindo? Aliás, situação bem plausível, tendo em vista a realidade tão dinâmica em que vivemos atualmente. O plano não pode acabar funcionando como uma camisa de força para o projeto. Me fez lembrar a frase dita pelo ex-presidente americano Dwight Eisenhower, quando comandou o ´Dia D` da Segunda Guerra Mundial, “ Antes da batalha, o planejamento é tudo. Assim que começa o tiroteio, planos são inúteis ”. O ponto central é que planejar é fundamental, mas não podemos ficar prisioneiros do plano. Então, voltando aqui à pergunta inicial: O que caracteriza um bom processo de Monitoramento & Avaliação? Em poucas palavras: Um bom processo de M&A é aquele que serve como uma bússola para guiar os gestores do projeto. Sem dúvida, o pressuposto é o de que o planejamento tenha sido bem-feito, e há clareza de onde se quer chegar. E por que a comparação com a bússola? O processo de monitoramento e avaliação deve funcionar como uma bússola (para guiar o avião) no sentido de ser útil para orientar os gestores de uma dada intervenção se eles estão indo na direção correta. Então, o M & A vai indicar se estamos fazendo / fizemos a coisa certa, da maneira certa, de modo a potencializar os resultados pretendidos, tendo em vista os recursos disponíveis (financeiros, humanos, experiências, aprendizados e parcerias). O interessante da bússola é justamente a sua capacidade em ir se adaptando ao percurso, até chegarmos ao destino final. Tal como a bússola, também um bom Monitoramento & Avaliação deve ser percebido como um processo dinâmico, e não como um sistema estático de indicadores, não raras vezes com a exigência de métodos complexos para a sua estimativa.
Por Pollyana Bonvecchi 27 de março de 2025
Recentemente, montei uma estrutura para conduzir um processo seletivo de voluntárias aqui na Phomenta. Algumas pessoas me perguntaram por que eu estava desenvolvendo etapas que deixariam o processo mais complexo e se eu não tinha receio de que as pessoas desistissem devido à complexidade. Vou compartilhar o que respondi, explicar a importância dessa estrutura e como conseguimos atrair e manter perto de nós as pessoas que realmente querem contribuir. Por que desenhar um processo seletivo estruturado para voluntárias? Desenhar um processo seletivo com etapas claras e bem definidas é essencial para assegurar que as candidatas se comprometam verdadeiramente com cada fase e reflitam se o voluntariado faz sentido para elas. Esse tipo de processo não é apenas uma forma de selecionar os melhores talentos, mas também de verificar se aquelas que se juntam a nós compartilham dos nossos valores e estão alinhadas com o nosso propósito. Um processo seletivo mais detalhado permite identificar quem está realmente disposta a se envolver e quem está apenas explorando uma oportunidade. Divulgação da vaga Para começar, definimos claramente os papéis e responsabilidades, além do tempo de dedicação esperado para as voluntárias. Tudo isso foi explicitado na divulgação da vaga, para que, desde o início, as expectativas estivessem claras para as interessadas. Primeira etapa - triagem de candidatas Após receber as inscrições, realizamos uma triagem criteriosa, avaliando as competências e habilidades das candidatas. Selecionamos aquelas que mais se alinhavam com o perfil que buscávamos e enviamos um e-mail informando sobre as próximas etapas do processo. Segunda etapa - entrega e dinâmica de grupo Nesta etapa, solicitamos uma tarefa prática e informamos que haveria uma dinâmica em grupo. Esse momento foi crucial para observar o comprometimento das candidatas e, como esperado, algumas pessoas desistiram. Isso, no entanto, deixou apenas aquelas que estavam realmente interessadas em seguir adiante e que tinham um verdadeiro desejo de contribuir. Terceira etapa - Seleção final Com base nas etapas anteriores, escolhemos as candidatas que melhor atenderam aos critérios e que demonstraram maior afinidade com a cultura da Phomenta. Em seguida, comunicamos as selecionadas e agendamos da integração para integrar aquelas que iriam começar conosco. Integração A integração na Phomenta é muito mais do que uma simples introdução. É o momento propositivo para apresentarmos o propósito da nossa organização e garantir que todas estejam na mesma sintonia, super motivadas a alcançar os nossos objetivos. Quando nossas voluntárias entendem o impacto social que o seu trabalho pode gerar, o engajamento cresce e o compromisso fica mais forte. Assim como toda nova integrante de um time, as voluntárias precisam mergulhar na nossa cultura organizacional. A integração é uma oportunidade para elas se familiarizarem com características fundamentais da nossa cultura dentro da Phomenta: como nos comunicamos, como trabalhamos, e quais comportamentos valorizamos. Isso facilita a adaptação e ajuda as voluntárias a se sentirem parte do nosso grupo desde o primeiro dia! Durante a integração, é essencial esclarecer o que esperamos de cada uma, desde funções e responsabilidades específicas até o impacto que seu trabalho terá. Essa clareza evita confusões e permite que as voluntárias saibam exatamente como podem brilhar e fazer a diferença. Uma integração bem-planejada faz toda a diferença! Ela aumenta o comprometimento das voluntárias e ajuda a reduzir a rotatividade. Quando elas se sentem acolhidas, bem-informadas e preparadas, é muito provável que continuem engajadas e contribuam com a gente por um bom tempo. Além disso, a integração é a chance perfeita para construir conexões genuínas entre voluntárias e phomenters. Ela cria aquele sentimento gostoso de comunidade e pertencimento, que é essencial para manter a motivação em alta. E tem mais: durante a integração, incentivamos as voluntárias a darem seu feedback sobre a experiência. Isso nos ajuda a fazer ajustes e melhorias, garantindo que todas se sintam apoiadas e que nossa abordagem esteja sempre alinhada com as expectativas. A seguir alguns comentários sobre o processo:
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