Autocuidado: a história do termo no campo social e da saúde

25 de abril de 2024

Saiba como o conceito de autocuidado nasceu numa perspectiva individual na área da saúde e se transformou na área social como prática de cuidado coletivo.

Trabalho no Terceiro Setor desde 2006 e foi só na pandemia do Covid19, em 2020, que conheci o termo Autocuidado.


Na verdade, foi só nestes últimos anos que consegui rever minha relação com o trabalho, e passei a refletir que não parecia certo que eu usasse meus finais de semana e tempos livres apenas para descansar da exaustão física e mental inerente das 40 horas semanais trabalhadas dentro de Oscs, no trabalho com crianças e adolescentes em vulnerabilidade social, durante mais de 15 anos.


Havia mais vida para viver fora da causa que escolhi. Haviam outros sonhos e planos que não poderiam ser realizados se eu não reavaliasse a forma com que eu lidava com as minhas prioridades, sem aprender a dizer não. E tudo isso também era autocuidado.



A história do autocuidado



Ao contrário do que é prioritariamente veiculado, o autocuidado, ou a ideia de que a pessoa deveria dar atenção a si mesma, sua saúde, suas emoções e seus desejos, não saiu das revistas de modas e das propagandas para vender maquiagem. Esse é um termo que tem sua origem na área da assistência à saúde e à justiça social.


A psiquiatra e escritora indiana Pooja Lakshmin, autora do livro “Autocuidado de verdade” (2023) descreve a construção deste conceito através das décadas, a partir dos anos de 1950, explicando porque o sentido desta palavra tem mudado tanto com o passar dos anos. Pooja relata:


  • Na década de 1950, a psiquiatria usava o termo “autocuidado” para descrever o modo como os pacientes institucionalizados podiam afirmar sua independência, assumindo o controle de sua alimentação e praticando atividade física. 

  • Nos anos de 1960, profissionais de enfermagem e medicina falavam de sua própria necessidade de autocuidado em resposta ao estresse traumático secundário.

  • Nos anos de 1970, o movimento do autocuidado passou da comunidade da saúde aos círculos ativistas quando o partido dos Panteras Negras começou a promover o autocuidado como uma maneira das pessoas negras preservarem sua humanidade diante do racismo sistêmico nos Estados Unidos. Foram as mulheres negras que atualizaram o conceito no discurso público.


Audre Lorde, escritora americana, ativista dos direitos civis e homossexuais, desenvolveu essa ideia conceituando o autocuidado como um ato poderoso para reivindicar espaço em uma sociedade que exigia que minorias e grupos oprimidos se mantivessem pequenos ou invisíveis. 


“Cuidar de mim mesma não é autoindulgência, é autopreservação, e isso sim é um ato de político” (Audre Lorde, 1988)


  • Nos anos 1990, pesquisadores descobriram que o autocuidado na forma de atividade física, alimentação saudável e controle de estresse estava associado à melhora na saúde.

  • Nos anos 2010, o termo explodiu nas redes sociais e se inseriu na vida cotidiana das mulheres, mostrando o que Pooja chama de falso autocuidado. Quanto mais disfuncionais e fora do controle as estruturas sociais se mostravam, mais as redes sociais se enchiam de fotos de mulheres aparentemente levando uma vida maravilhosa em algum lugar paradisíaco, onde as soluções para saúde mental parecem simples e atrativas.


A autora afirma: “Chegou a hora de uma nova evolução da definição do termo, com um olhar mais profundo, voltado para dentro e o desenvolvimento de um método interno confiável e consciente, algo que vem de dentro de você”.



UM AUTOCUIDADO SEM CULPA


O conceito de autocuidado, como é vendido na mídia hoje, não está a serviço do bem-estar do indivíduo, mas sim, está em favor da venda de produtos e procedimentos que reforçam a comparação e a busca pela perfeição. Dessa forma, ele se torna difícil de se manter a longo prazo, gera frustração e culpa em quem não alcança as metas de beleza impostas.


“O autocuidado acaba sendo um fardo, só um item a mais na lista de coisas pelas quais as mulheres se sentem culpadas por não ter direito. Chamo isso de tirania do autocuidado”, diz Pooja, sugerindo que ampliemos nossa percepção de cuidado interno para aspectos que vão além da estética, observando dessa forma:


. Estabelecer limites com os outros: 

Equilibrando as necessidades das pessoas próximas a você e as suas próprias necessidades, aprendendo a dizer não e definir os seus limites sem culpa.


. Tratar a si mesma com compaixão:

Olhando com firmeza e sinceridade para o que você precisa e deseja e te dar a permissão de obter isso, se permitindo ser suficientemente boa.


. Aproximar-se de si mesma:

Fortalecendo sua versão mais autêntica e o que você é de verdade, incluindo seus principais valores, crenças e desejos.


. Utilizar seu poder para o bem:

Olhando para dentro de si e tomando decisões baseadas nisso. Envolve dizer o que funciona e o que não funciona para você, encarando e contrapondo a toxicidade que a nossa cultura impõe. Esse autocuidado é uma afirmação de poder.


PRÁTICAS DE AUTOCUIDADO NO TERCEIRO SETOR


Ao relacionar o autocuidado dentro do trabalho, e no Terceiro Setor, percebemos que o autocuidado individual é útil, mas ele se torna mais efetivo e com melhores resultados, se forem institucionalizados, tomando caráter de cuidado coletivo.


A Profª Mestre em Direito, Lisa Chamberlain, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, explorou essa relação em seu artigo “Do autocuidado ao cuidado coletivo”, de 2020, onde elenca pontos a serem observados no que ela chamada de “cultura do ativismo”.


A autora afirma que, em trabalhos como a defesa dos direitos humanos, o autossacrifício é uma norma cultural, onde a defensora ou o defensor pode esperar, e até enaltecer, o colocar-se em risco. “Essas pessoas trabalham longas horas, raramente tiram folga e ignoram a necessidade de cuidar de sua saúde e bem-estar [...] elas acreditam que o trauma real é aquele vivenciado por aqueles que são beneficiários de seu trabalho e, portanto se perguntam: Quem somos nós para nos darmos ao luxo de fazer algo tão indulgente como ir ao cinema ou fazer uma aula de yoga”.


Citando também a ativista Audre Lorde, Lisa defende que o Autocuidado não é apenas um cuidado consigo mesmo, mas sim um ato político: “O autocuidado não é um complemento ao trabalho de um defensor de direitos humanos, a ser exercido apenas quando houver tempo ou recursos, mas é considerado parte fundamental de seu próprio trabalho”.


Complementando e ampliando o aspecto do cuidado individual, a autora expõe como isso pode ser feito de forma coletiva pelas organizações sociais:


  • Incentivo ao autocuidado: Esse é uma tema que precisa ser abordado e dialogado dentro das organizações, pensando que eles trás benefícios não só para a pessoa como para a organização como um todo. Uma pessoa atenta aos seus limites, que estabelece equilíbrio entre seu trabalho e a vida pessoal pode ser mais colaborativa, oferecer uma entrega mais qualitativa aos atendidos e potencializar a inovação.


“Uma abordagem centrada no autocuidado convida agentes de mudança a refletirem se é verdade que o que precisa ser feito não pode esperar que se alimentem, durmam, descansem e se divirtam um pouco” (Lisa Chamberlain, 2020)


  • Exemplo da liderança: Gestores que estão propondo ações de cuidado para com sua equipe, devem estar atentos ao exemplo. “Se a diretora ou o diretor de uma ONG prega o autocuidado, mas trabalha até a exaustão, a culpa associada ao autocuidado permanecerá, e a cultura institucional prejudicial sobre a ética do trabalho não mudará”.


  • Adesão do âmbito diretivo: O envolvimento dos membros da diretoria nessas ações são fundamentais, já que muitas vezes é necessário que se avalie a estrutura organizacional, para se realizar as mudanças necessárias. Questões como carga horária, análise orçamentária e reavaliação do modelo de trabalho são imprescindíveis para que as práticas de cuidado coletivo sejam efetivas e que deixem de ser apenas retórica para se transformar em ação concreta.


  • Práticas adequadas a cada organização e equipe: Quando falamos em autocuidado e cuidado coletivo não há um único caminho ou uma receita de bolo. Portanto, a escuta atenta e ativa dos membros de cada organização ou equipe, contribuirá com a construção de políticas de cuidado influenciadas, inclusive, pelo porte, orçamento e cultura de cada ambiente.


  • Pequenos cuidados: A atenção a essa temática pode se iniciar com pequenas ações como observar a quantidade real de tempo de trabalho de cada pessoa, percebendo se é comum que elas sejam excedidas nas rotinas diárias. Cuidar para que o intervalo para o almoço seja realizado de forma tranquila e que seja evitado o envio de mensagens em grupos de whatsapp ou email fora do horário de trabalho.


  • Flexibilidade na criação dos filhos: Compreender e proporcionar a flexibilidade de horários principalmente para profissionais que têm a responsabilidade primária na criação dos filhos, inclusive garantindo o mesmo direito aos homens nessa função.


  • Compreensão da causa: Reconhecer a complexidade e o caráter árduo deste trabalho, de forma que ele não seja agravado pela exploração do trabalhador, aproveitando-se de sua motivação.


Um exemplo inovador de organizações que entenderam e aderiram a este conceito de cuidado coletivo, diz Lisa, é o “Dia do Travesseiro”. Uma ocasião usada para contemplar aquele dia em que a pessoa não consegue se levantar da cama e ir trabalhar devido à exaustão intensa, a uma crise de ansiedade, depressão ou outras razões possíveis. A autora sugere que as organizações podem permitir que toda a equipe tenha um número definido de dias do travesseiro por ano.


SE ESTAMOS FORTALECIDOS INDIVIDUALMENTE NOSSA CAUSA TAMBÉM ESTÁ


Falar em autocuidado, primeiramente, é falar da valorização da vida. Da sua vida antes da vida do outro.


Aprender e reconhecer que fora dos padrões estéticos estamos falando de autoconhecimento, autopercepção e definição de limites, nos direciona para um cuidado que vai além de uma lista de tarefas e que se projeta para uma ação a longo prazo. Dessa forma, afirmamos que a solução para outra pessoa, não necessariamente é a sua.


Perceba, neste momento como esse assunto chega para você:


  • Individualmente, como você tem percebido suas ações de autocuidado? 


  • Tem sido possível estabelecer limites no trabalho, nos relacionamentos e nos seus hábitos? 


  • E de maneira institucional, você acredita que na organização em que você trabalha há espaço para se falar sobre isso?


Para se aprofundar no tema de estratégias em saúde mental para períodos estressantes, em nível pessoal e organizacional, te indico o texto no link abaixo:

clique aqui

De uma forma mais abrangente, quando investimos em atitudes que nos fortalecem e nos deixam mais saudáveis, estamos influenciando uma mudança sistêmica que fortalece também o nosso setor e as pessoas que fazem parte dele.


No entanto, este também é um chamado para uma política de cuidado coletivo, que perpassa as esferas organizacionais e as políticas públicas, principalmente abraçadas pelas pessoas que mais influenciam as dinâmicas sociais, ou seja, suas lideranças.



Referências:

  1. CHAMBERLAIN, Lisa. Do autocuidado ao cuidado coletivo. Sur - Revista Internacional de Direitos Humanos, v. 17 n.  30 . 223 - 234. São Paulo, Agosto de 2020. Disponível em: https://sur.conectas.org/wp-content/uploads/2020/08/sur-30-portugues-lisa-chamberlain.pdf

  2. LAKSHMIN, Pooja. Autocuidado de verdade: Um programa transformador para redefinir o bem-estar (sem cristais, purificações ou banhos de espuma). Tradução de Lígia Azevedo. Editora Fontanar, 2023.

  3. LORDE, Audre. A Burst of Light. Firebrand Books, 1984.



Sara Dias é pesquisadora e facilitadora do movimento e do bem-estar. 

Profª Mestra em Artes da Cena pela UNICAMP,  pós-graduanda em Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional e instrutora de Yoga. Possui experiência como educadora social desde 2006 e desenvolve projetos relacionados à Saúde Mental e Bem-Estar no Terceiro Setor. 


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Inicialmente, vamos entender melhor o que são métricas? Métricas são números e dados que as redes sociais fornecem para mostrar o desempenho das publicações feitas por você ou pela sua ONG. Quando você publica algo no Facebook ou Instagram, essas redes sociais mostram quantas pessoas visualizaram, curtiram, comentaram ou compartilharam seu conteúdo. Saber interpretar essas informações é muito importante porque ajuda a sua OSC a entender o que está dando certo e o que pode melhorar na comunicação com o público. Ao entender melhor essas informações, você pode criar conteúdos que alcançam mais pessoas e ajudam sua organização a ter um impacto maior. Quais são as métricas mais importantes? Entender as principais métricas pode parecer difícil no começo, mas conhecendo cada uma delas fica muito mais fácil saber se sua comunicação está indo bem. Cada uma dessas métricas traz informações cruciais que ajudam a entender o comportamento do seu público e como melhorar as publicações da sua organização. Desvendando as siglas e abreviações das métricas CTR (Click Through Rate): porcentagem de pessoas que clicaram em um link após visualizá-lo. CPM (Custo por Mil Impressões): quanto custa mostrar seu conteúdo para mil pessoas. CPC (Custo por Clique): quanto você paga por cada clique no seu conteúdo. CPA (Custo por Aquisição): custo médio para que uma pessoa realize uma ação específica, como fazer uma doação. ROI (Return on Investment): retorno financeiro obtido em relação ao dinheiro investido em publicidade ou campanhas. KPI (Indicador-Chave de Desempenho): métricas específicas escolhidas para medir o sucesso das suas ações. Alcance e Impressões O alcance é o número de pessoas diferentes que viram sua publicação pelo menos uma vez. Quanto maior o alcance, mais pessoas diferentes foram alcançadas pelo seu conteúdo. Já as impressões mostram quantas vezes sua publicação apareceu nas telas das pessoas, contando inclusive aquelas que viram mais de uma vez (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Engajamento Engajamento é uma das métricas mais importantes porque mostra como as pessoas estão interagindo com seu conteúdo. Essas interações incluem curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos. Um alto engajamento significa que as pessoas realmente gostaram do seu conteúdo e tiveram vontade de interagir com ele. Quanto mais engajamento, melhor você está se comunicando com o seu público (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Cliques Cliques mostram quantas pessoas clicaram no seu conteúdo ou nos links que você compartilhou. Essa métrica é especialmente importante quando você quer direcionar as pessoas para seu site ou para alguma ação específica, como um evento ou uma campanha de doação (COSTA, 2020). Crescimento de seguidores Essa métrica mostra quantas pessoas novas começaram a seguir sua ONG depois de ver suas publicações. Um crescimento constante de seguidores significa que você está conseguindo chamar a atenção e conquistar novas pessoas para sua causa (COSTA, 2020). Mas afinal, como essas métricas se relacionam? É muito importante não olhar apenas para uma métrica isoladamente. Por exemplo, se muitas pessoas veem sua publicação (alto alcance), mas poucas interagem com ela (baixo engajamento), pode ser que o conteúdo não esteja interessante o suficiente. Para entender se sua estratégia está funcionando, você precisa analisar diferentes métricas juntas, como alcance, engajamento e cliques. Isso ajuda a ter uma visão mais completa do desempenho das publicações (GOMES, 2018). Tipos de análises que você pode fazer Para usar bem as métricas, você pode fazer vários tipos diferentes de análises. Cada tipo serve para algo específico e ajuda você a entender melhor o desempenho das suas redes sociais, mostrando caminhos para melhorar sua comunicação. Análise simples A análise simples é a mais básica e mostra diretamente quantas pessoas viram ou interagiram com seu conteúdo (RECUERO, 2014). Comparação A análise comparativa é quando você compara resultados de diferentes publicações ou períodos. Por exemplo, você pode comparar o desempenho das publicações deste mês com as do mês passado para entender o que funcionou melhor e planejar conteúdos futuros (RECUERO, 2014). Previsão A análise preditiva usa dados antigos para tentar prever resultados futuros (RECUERO, 2014). Um exemplo é que se sabemos que entre novembro e dezembro há um aumento nas curtidas em posts relacionados a doações, construir conteúdo que fale sobre isso antecipadamente é uma forma de “prever” a procura e antecipar-se ao aumento de demanda. Redes sociais Analisar as redes sociais significa entender como as pessoas interagem umas com as outras no seu perfil ou página. Você pode descobrir quem são os principais seguidores, quais conteúdos são mais compartilhados e como essas conexões ajudam a espalhar sua mensagem para mais pessoas (GOMES, 2018). O que ter cuidado ao analisar os números? Ao analisar as métricas, você precisa levar em conta fatores externos que podem influenciar os resultados. Datas especiais, feriados ou eventos importantes podem aumentar ou diminuir a interação com suas publicações (as chamadas datas sazonais). Por isso, sempre olhe com cuidado e verifique se os dados são realmente representativos do desempenho geral (KAHNEMAN, 2012), todo o contexto deve ser levado em conta. Cuidado com erros ao analisar Existem alguns erros comuns ao analisar as métricas. Um deles é o viés de confirmação, que acontece quando você só presta atenção nos números que reforçam o que você já acredita. Outro erro é o viés de recência, que acontece quando você só leva em conta os resultados mais recentes, esquecendo resultados passados (KAHNEMAN, 2012). Como já dito. Recomendações O conteúdo do artigo foi baseado no conhecimento da autora e com referências de base científica. Caso você deseje ampliar o conhecimento acerca da temática, recomenda-se a leitura das fontes a seguir: COSTA, Felipe. Aplicação estratégica de métricas digitais. Panorama, Goiânia, v. 9, n. 2, p. 45-60, 2020. FERREIRA, Mariana; OLIVEIRA, Ana. Produção textual e interações sociais em plataformas digitais. Revista Comunicando, Lisboa, v. 5, n. 1, p. 10-23, 2015. GOMES, André. Dinâmicas de interações nas redes sociais digitais. Salvador: UFBA, 2018. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2014. 
Por Maria Cecília Prates 4 de abril de 2025
Uma boa pergunta é sempre um motivo para reflexão. Como a pergunta que me foi feita uma certa vez pela diretora de uma ONG: “ na sua opinião, o que caracteriza um bom processo de Monitoramento & Avaliação (M&A) de projetos sociais? ” Ela me pediu para responder em poucas palavras.  Tomando por base o referencial da Teoria da Mudança ou do Marco Lógico , somos tentados a dar a resposta tradicional: um bom M & A é aquele que nos permite verificar se o que foi planejado, tanto em termos de processo e resultado, está ocorrendo e/ou ocorreu de fato. E, com isto, nos permite fazer as correções de rota necessárias, tanto “durante” quanto “depois” da iniciativa social. Mas, um bom M & A deve ir além, de modo a evitar o sério risco de cair na armadilha do planejamento . A ´ armadilha do planejamento ` é quando o plano inicial é visto como a situação ideal a ser atingida. Decorrem, daí, as definições para sucesso e fracasso. Sucesso é quando são alcançadas boa parte das metas previamente traçadas; já o fracasso é quando boa parte delas não são alcançadas. E se o plano inicial não se mostrar correto, mesmo tendo sido construído de forma participativa, com objetivos claros, bons indicadores e análise consistente do contexto social? Ou ainda, se com o desenrolar da intervenção, aquele plano for se tornando inadequado frente às novas circunstâncias que forem surgindo? Aliás, situação bem plausível, tendo em vista a realidade tão dinâmica em que vivemos atualmente. O plano não pode acabar funcionando como uma camisa de força para o projeto. Me fez lembrar a frase dita pelo ex-presidente americano Dwight Eisenhower, quando comandou o ´Dia D` da Segunda Guerra Mundial, “ Antes da batalha, o planejamento é tudo. Assim que começa o tiroteio, planos são inúteis ”. O ponto central é que planejar é fundamental, mas não podemos ficar prisioneiros do plano. Então, voltando aqui à pergunta inicial: O que caracteriza um bom processo de Monitoramento & Avaliação? Em poucas palavras: Um bom processo de M&A é aquele que serve como uma bússola para guiar os gestores do projeto. Sem dúvida, o pressuposto é o de que o planejamento tenha sido bem-feito, e há clareza de onde se quer chegar. E por que a comparação com a bússola? O processo de monitoramento e avaliação deve funcionar como uma bússola (para guiar o avião) no sentido de ser útil para orientar os gestores de uma dada intervenção se eles estão indo na direção correta. Então, o M & A vai indicar se estamos fazendo / fizemos a coisa certa, da maneira certa, de modo a potencializar os resultados pretendidos, tendo em vista os recursos disponíveis (financeiros, humanos, experiências, aprendizados e parcerias). O interessante da bússola é justamente a sua capacidade em ir se adaptando ao percurso, até chegarmos ao destino final. Tal como a bússola, também um bom Monitoramento & Avaliação deve ser percebido como um processo dinâmico, e não como um sistema estático de indicadores, não raras vezes com a exigência de métodos complexos para a sua estimativa.
Por Pollyana Bonvecchi 27 de março de 2025
Recentemente, montei uma estrutura para conduzir um processo seletivo de voluntárias aqui na Phomenta. Algumas pessoas me perguntaram por que eu estava desenvolvendo etapas que deixariam o processo mais complexo e se eu não tinha receio de que as pessoas desistissem devido à complexidade. Vou compartilhar o que respondi, explicar a importância dessa estrutura e como conseguimos atrair e manter perto de nós as pessoas que realmente querem contribuir. Por que desenhar um processo seletivo estruturado para voluntárias? Desenhar um processo seletivo com etapas claras e bem definidas é essencial para assegurar que as candidatas se comprometam verdadeiramente com cada fase e reflitam se o voluntariado faz sentido para elas. Esse tipo de processo não é apenas uma forma de selecionar os melhores talentos, mas também de verificar se aquelas que se juntam a nós compartilham dos nossos valores e estão alinhadas com o nosso propósito. Um processo seletivo mais detalhado permite identificar quem está realmente disposta a se envolver e quem está apenas explorando uma oportunidade. Divulgação da vaga Para começar, definimos claramente os papéis e responsabilidades, além do tempo de dedicação esperado para as voluntárias. Tudo isso foi explicitado na divulgação da vaga, para que, desde o início, as expectativas estivessem claras para as interessadas. Primeira etapa - triagem de candidatas Após receber as inscrições, realizamos uma triagem criteriosa, avaliando as competências e habilidades das candidatas. Selecionamos aquelas que mais se alinhavam com o perfil que buscávamos e enviamos um e-mail informando sobre as próximas etapas do processo. Segunda etapa - entrega e dinâmica de grupo Nesta etapa, solicitamos uma tarefa prática e informamos que haveria uma dinâmica em grupo. Esse momento foi crucial para observar o comprometimento das candidatas e, como esperado, algumas pessoas desistiram. Isso, no entanto, deixou apenas aquelas que estavam realmente interessadas em seguir adiante e que tinham um verdadeiro desejo de contribuir. Terceira etapa - Seleção final Com base nas etapas anteriores, escolhemos as candidatas que melhor atenderam aos critérios e que demonstraram maior afinidade com a cultura da Phomenta. Em seguida, comunicamos as selecionadas e agendamos da integração para integrar aquelas que iriam começar conosco. Integração A integração na Phomenta é muito mais do que uma simples introdução. É o momento propositivo para apresentarmos o propósito da nossa organização e garantir que todas estejam na mesma sintonia, super motivadas a alcançar os nossos objetivos. Quando nossas voluntárias entendem o impacto social que o seu trabalho pode gerar, o engajamento cresce e o compromisso fica mais forte. Assim como toda nova integrante de um time, as voluntárias precisam mergulhar na nossa cultura organizacional. A integração é uma oportunidade para elas se familiarizarem com características fundamentais da nossa cultura dentro da Phomenta: como nos comunicamos, como trabalhamos, e quais comportamentos valorizamos. Isso facilita a adaptação e ajuda as voluntárias a se sentirem parte do nosso grupo desde o primeiro dia! Durante a integração, é essencial esclarecer o que esperamos de cada uma, desde funções e responsabilidades específicas até o impacto que seu trabalho terá. Essa clareza evita confusões e permite que as voluntárias saibam exatamente como podem brilhar e fazer a diferença. Uma integração bem-planejada faz toda a diferença! Ela aumenta o comprometimento das voluntárias e ajuda a reduzir a rotatividade. Quando elas se sentem acolhidas, bem-informadas e preparadas, é muito provável que continuem engajadas e contribuam com a gente por um bom tempo. Além disso, a integração é a chance perfeita para construir conexões genuínas entre voluntárias e phomenters. Ela cria aquele sentimento gostoso de comunidade e pertencimento, que é essencial para manter a motivação em alta. E tem mais: durante a integração, incentivamos as voluntárias a darem seu feedback sobre a experiência. Isso nos ajuda a fazer ajustes e melhorias, garantindo que todas se sintam apoiadas e que nossa abordagem esteja sempre alinhada com as expectativas. A seguir alguns comentários sobre o processo:
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