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Voluntariado Remoto: O que você e sua ONG precisam saber

set. 16, 2021

Desde o início da pandemia do coronavírus, tanto as relações pessoais como a relação com o próprio trabalho foram se transformando à medida em que o isolamento social se fez cada vez mais necessário (você pode acessar aqui um artigo da Agência Brasil sobre o tema). Termos como Ensino à Distância (EAD) e Home Office ficaram cada vez mais em alta, e com o voluntariado remoto não foi diferente. 


A prática do voluntariado online (ou remoto) não é algo recente: desde os anos 2000 a Organização das Nações Unidas (ONU) sustenta uma plataforma de voluntariado global 100% remoto (
https://www.onlinevolunteering.org/en). Atualmente, essa prática está cada vez mais presente no terceiro setor e representa uma importante solução para inúmeros desafios que as organizações sociais estão enfrentando. 


Essa modalidade de trabalho voluntário surgiu para encurtar as distâncias entre pessoas engajadas com uma causa e organizações/comunidades que precisam de apoio, de modo que a tecnologia seja parte central dessa dinâmica. 


A ideia é que uma pessoa consegue gerar impacto positivo sem sair de casa, o que desmistifica a ideia que muitos têm sobre voluntariado: a de que exigiria muitas horas de comprometimento e que, portanto, não seria possível encaixar o trabalho voluntário em uma rotina agitada. 


Por onde começar? 


O primeiro passo segue a mesma lógica do voluntariado presencial: entender se a organização está pronta para receber voluntários(as). Nós falamos um pouco sobre isso em um outro artigo do Portal do Impacto, que pode te ajudar a entender melhor o momento da sua ONG. 


Depois que a organização compreender que está pronta para receber novos(as) voluntários(as),  é importante que os representantes da ONG avaliem as demandas que possuem e em quais áreas gostariam de ter voluntários ativos. O ideal é que o voluntariado remoto envolva atividades digitais, como gerenciamento de redes sociais, captação de recursos, apoio administrativo, projetos específicos etc.


Em seguida, é necessário elaborar uma vaga detalhada sobre o que a ONG busca e oferece e divulgá-la de maneira online, igual a uma vaga de emprego. 


Onde divulgar minhas vagas?


A divulgação pode ser feita diretamente pela ONG, por meio de suas redes sociais e de contatos, ou também por plataformas especializadas e gratuitas. Um exemplo é o Atados, uma organização da sociedade civil que vem crescendo e se tornando uma das maiores e mais conhecidas plataformas de voluntariado do país. 


Aqui, sugerimos algumas outras plataformas nas quais você pode divulgar suas vagas:


Encontrei meu voluntário. E agora?


Depois que o candidato se aplicar para a vaga, ser selecionado e assinar o Termo de Voluntariado, a organização é que vai determinar como será a dinâmica do trabalho. O voluntário terá um horário fixo para cumprir ou o trabalho será mensurado por entregas em um determinado prazo? Uma das vantagens do voluntariado remoto é justamente essa flexibilidade, não só para o indivíduo mas também para a própria organização. Confira alguns exemplos:


  • Voluntariado com horários fixos: uma vaga para professor de inglês, em que a organização combina com o voluntário quantas aulas serão necessárias e em quais períodos, criando um horário fixo para o voluntário atuar. 


  • Voluntariado por entregas: uma vaga de designer para redes sociais, em que a organização combina que sejam produzidas duas artes por semana a serem entregues às sextas-feiras. Nesse caso, o profissional pode produzi-las quando quiser, desde que as entregue na data combinada. 


Ponto de atenção


Agora, um ponto que sempre deve ser mencionado quando falamos sobre voluntariado remoto: a comunicação. Essa é a verdadeira chave para o voluntariado dar certo. 


Quantas vezes você soube, só de olhar para a pessoa, que ela estava tendo um dia difícil? Ou entendeu que ela estava cansada pelo tom da voz? Pois é, agora imagine isso por um e-mail curto ou apenas mensagens no celular. De fato, não é tão fácil assim. 


O voluntário precisa sentir-se pertencente à organização, como se estivesse trabalhando presencialmente. Além disso, ele deve ter suas atividades bem definidas e fazer parte de um canal de comunicação claro com as pessoas que possam tirar suas dúvidas. Para isso, há inúmeros canais que podem ser utilizados, desde e-mails e grupos no WhatsApp até sistemas mais completos e pagos, como o
Slack


O importante é que as pessoas da ONG, responsáveis por receber e gerir os voluntários e voluntárias, estejam sempre abertas para trocas e conversas e acompanhem o desenvolvimento desses profissionais durante toda a sua jornada na organização. 


Vantagens do voluntariado remoto 


1 - Novas atuações 

Como já descrevemos em outro artigo aqui do Portal, há inúmeros papéis, projetos e ações que um voluntário pode realizar pela organização. E, quando falamos da modalidade remota, esse leque de possibilidades fica ainda maior.


É possível pensar em diversas ações: criação de mídias sociais, planejamento de marketing, apoio jurídico, contabilidade, ensino remoto… as opções são inúmeras!

Na esfera online, você encontrará facilmente profissionais para realizarem uma entrega ou encabeçar um processo da organização, permitindo uma dinâmica muito mais flexível e pontual em comparação àquelas com as quais estamos acostumados no âmbito presencial. 


2 - Novos talentos

Com as barreiras físicas removidas, a organização pode se relacionar com pessoas de diferentes partes do país. O profissional não precisa mais estar no local físico da instituição para fazer o trabalho; basta um aparelho que lhe permita conectar-se com a equipe da ONG. 


Assim, a organização consegue atrair talentos que, na modalidade presencial, não seriam acessados.


Por exemplo: imagine que uma organização do sul do país está em uma cidade na qual há pouquíssimos profissionais que saibam como atuar com crianças do espectro autista. Com o voluntariado online, é possível conectar-se com um profissional do nordeste que tem experiência e paixão pela causa para apoiar e treinar a equipe da organização, de forma 100% online. 


3 - Diversidade

Além de novos talentos, a diversidade de pessoas na equipe é outra grande vantagem. Com pessoas de diferentes contextos, regiões, contatos e histórias, a organização terá novos olhares para a tomada de decisão e criação de projetos. 


Uma equipe mais diversa é mais criativa, e a criatividade está intimamente ligada com a inovação. Se no segundo setor a inovação é apontada como responsável pelo aumento do lucro, no terceiro setor ela consegue transformar vidas e aumentar o impacto! 


Para saber mais sobre a importância da diversidade, acesse o relatório da
Exame Research sobre o tema.


4 - Disponibilidade de tempo 

Graças à flexibilidade do voluntariado online, as pessoas conseguem inserir facilmente esse compromisso dentro de suas rotinas. Isso minimiza o gasto de tempo e dinheiro com o deslocamento até a instituição.


Imagine uma psicóloga que mora no centro de São Paulo e que sonha em ser voluntária de uma organização em um dos bairros que fazem o limite da cidade. Apenas com o deslocamento, ela gastaria horas e não conseguiria realizar parte do atendimento. Com o voluntariado remoto, a voluntária poderia usar o mesmo tempo disponível e atender mais pessoas por meio de sessões online.


Aqui vale uma observação: um trabalho flexível não significa falta de compromisso e seriedade. O voluntário assina um Termo de Voluntariado e, assim, tem uma série de responsabilidades com as quais precisa se comprometer. Isso deve estar sempre claro tanto para o indivíduo como para organização. 



5 - Aumento do alcance da ONG

Graças à conexão digital com diferentes partes do país, o alcance da sua ONG pode crescer muito.


Essa é uma das muitas trocas que o voluntariado online permite, pois essa prática conecta uma pessoa que tem paixão por uma casa com organizações que precisam de apoio para maximizar seu impacto social. O compartilhamento das ações e experiências pelos próprios voluntários aumenta a visibilidade da organização em novas regiões do país de forma simples e orgânica. 


Nesse artigo, listamos cinco vantagens do voluntariado remoto, mas muitos outros benefícios podem aparecer nos diferentes contextos de cada organização. O fato é que a transformação digital no terceiro setor está cada vez mais acelerada e reserva possibilidades que vão muito além da simples automação de processos. 


Olhe para o momento de sua organização, converse com os(as) voluntários(as) que já trabalham com vocês, entenda o que eles(as) pensam sobre essa dinâmica e tente abrir vagas remotas. Uma vez que a organização decida utilizar o universo digital para atrair mais pessoas apaixonadas pela causa, o céu é o limite para o que vocês são capazes de fazer!



Vitor Freitas, do time de Aceleração Social da Phomenta.


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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