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Transparência: por que é importante?

fev. 03, 2021

Por: Agnes Santos e Dominic Biffi

Você tem dúvidas sobre como deixar sua organização mais transparente?
Ou porque sua organização deve dar atenção a esse tema?

Nesse artigo, iremos apresentar informações gerais e dicas de como tornar sua organização mais transparente de forma rápida e eficaz.


Mas afinal, o que é transparência?


Transparência é um termo utilizado para se referir a visibilidade do trabalho da organização por pessoas internas e externas, a fim de que as pessoas conheçam as ações, a equipe, a gestão dos recursos, participem e se engajem com a causa e seus resultados.


Por envolver diversas partes interessadas, a transparência é um dos temas que mais preocupa as organizações, já que prestam um serviço para a sociedade, utilizando muitas vezes, doações de pessoa física e da iniciativa privada.
Além disso, quando em parcerias com o poder público, se torna um requisito legal (
Lei 13019 - Marco Regulatório¹). 


Sabemos que no cotidiano, as responsabilidades se acumulam e, por vezes, a transparência pode ficar em segundo plano, mas pode ser um fator fundamental para o engajamento do público e para manter ou aumentar a captação de recursos da organização.

Segundo a pesquisa
Brasil Giving Report 2020²,  os fatores que mais incentivariam a doação ao longo do próximo ano,  seriam: “saber com certeza como o dinheiro é gasto” (43%) e “mais transparência no terceiro setor/organizações sociais” (36%)”.



E como posso deixar minha organização mais transparente?


Separamos algumas dicas que podem contribuir para as melhorias da transparência na sua organização. Entendemos que cada ONG possui uma maturidade e as dicas abaixo podem ser adaptadas de acordo com a realidade de cada uma.

Vamos lá:

1. Utilize um site para concentrar as informações!


O site é uma das formas mais claras de divulgação e concentração das informações da ONG. O ideal é criar uma página/aba para a transparência para facilitar o encontro dos documentos.

Pense como os potenciais doadores: quando eles ficam sabendo de uma ação da sua ONG, e procuram no google, ter um site claro com todas as informações lá, dá confiança ao doador para acompanhar e doar para sua organização.


Hoje é possível criar sites por meio de uma conta Google de forma gratuita, é acessível e fácil de editar. Neste vídeo você encontra uma explicação geral sobre a criação de um site google e as principais ferramentas que você pode utilizar.


Caso a organização queira, também é possível comprar o domínio do site por um valor acessível - o domínio é o termo que se usa para o nome do site, a forma que ele aparece no link.


Exemplo: sites.google.com/phomenta.com.br
Personalizado: www.phomenta.com.br

Neste link você encontra o passo a passo de como editar e comprar um domínio personalizado.

Página de Transparência da organização Unibes - Certificada pela Phomenta em 2019³

Página de Transparência da organização Minha Campinas - Certificada pela Phomenta em 2017⁴

2. Mantenha o site atualizado!

 
Quando uma pessoa se interessa pela ONG e acessa o site, ela espera encontrar informações e documentos atualizados. Informações desatualizadas podem gerar uma desconfiança ou uma impressão de que a organização não está em funcionamento. Os principais documentos da aba transparência que devem ser atualizadas são:


  • Estatuto;
  • Relatório de Atividades; 
  • Documentos contábeis oficiais.

Além dos documentos, outras informações precisam estar atualizadas e presentes no site da organização:

  • Missão e atividades: descrever brevemente as atividades que realizam e o público de interesse de cada uma delas.
    Deixar a Missão descrita de forma clara, preferencialmente na primeira página do site, sempre alinhada com as atividades que vocês realizam.
  • Equipe: como conhecer a organização sem conhecer o time que faz as atividades acontecerem?  Aqui incluímos colaboradores, voluntários e membros da Diretoria e Conselho - adicionar o tempo de vigência do mandato.
  • Parceiros: divulgar os parceiros no site, além de ser uma forma de divulgar o trabalho deles, abre espaço para que outras empresas/institutos se interessem por possíveis parcerias.
  • Formas de contato: e-mail (que seja visto regularmente) e telefone.


Outras informações podem ser customizadas de acordo com o trabalho de cada organização. Voluntariado e doação podem ser temas que chamam atenção das pessoas para acessar o site.
Essas informações devem estar claras - vagas de voluntariado, atividades do voluntário, e-mail para contato e dados bancários para doação.


3. Mantenha as redes sociais atualizadas!


As redes sociais são uma forma de manter contato com o público, divulgar ações e manter as pessoas engajadas no trabalho desempenhado pela organização. E para que o contato com o público possa ser contínuo, a atualização das redes é extremamente necessária. 

Redes desatualizadas podem dar a impressão de que a OSC deixou de funcionar, ou que está com suas ações em pausa. Para que seu público saiba que vocês seguem em funcionamento e ativos, é importante que as redes sociais mostrem essas atividades. 


O
Instagram e Facebook permitem que os chamados “seguidores” compartilhem e divulguem com mais facilidade fotos, publicações e campanhas realizadas pela ONG, seja sobre as atividades ou alguma forma de captar recursos (sorteios, eventos, bazar). Além de poder ser usado como uma forma de prestar contas. Por exemplo, compartilhar uma foto da chegada de uma nova doação de algum parceiro, ou até mesmo mostrar o andamento daquela reforma que foi custeada pelo apoio dos doadores. 

Já o
Linkedin é uma rede social voltada para relacionamentos profissionais e permite que a organização esteja em contato direto com empresas, facilitando possíveis parcerias e pro bono (profissional que coloca o conhecimento profissional a serviço da organização, sem cobrar por isso).


Quanto mais as redes estiverem atualizadas, com publicações frequentes e troca entre organização e público, maior a probabilidade de divulgação e alcance de novos seguidores e possíveis parceiros.   


Uma das plataformas que pode ser utilizada para montar imagens e publicações de forma rápida e gratuita (possuem uma versão paga com mais opções) para as redes sociais é o
Canva, um editor que possui modelos específicos para publicações, além de opções para pôsteres, gráficos e ilustrações. 


4. Benefícios de manter a “casa em ordem!”


Manter o site e as redes sociais atualizadas é uma forma de estimular que os processos e documentos se mantenham organizados. Isso auxilia na organização interna, e faz com que as informações estejam à mão caso precisem para inscrição em algum edital ou em alguma certificação. Com um fluxo estabelecido para as atualizações das redes e os conteúdos preparados para tal, é possível ter maior gestão do trabalho, permitindo, inclusive, que a OSC tenha um arquivo das ações realizadas, o que sempre ajuda naquele momento em que é preciso elaborar relatórios ou levar resultados para as reuniões com Conselhos, parceiros e doadores. 


Agora você já sabe as
principais etapas para deixar a transparência da sua organização ainda melhor e mais atualizada, gerando confiança e vínculo com quem acessa seu site e redes sociais.


Lembre-se também que é importante conhecer o público que acessa suas redes e seu site, para que vocês consigam definir o público alvo. Por exemplo: as informações para o Instagram podem ser diferentes das informações que vão para o Linkedin. Assim, fica mais fácil entender quais informações precisam ser divulgadas e como desenvolver uma comunicação mais estratégica com características distintas. 

A Transparência é um dos princípios avaliados na
Certificação da Phomenta, que tem como objetivo acompanhar a organização em uma Jornada de aprendizado,  avaliando processos internos e contribuindo com recomendações de boas práticas, para uma gestão mais moderna e eficiente.



Confira no site da Phomenta mais informações da nossa Certificação, os princípios avaliados e os critérios de avaliação!

Quero saber mais sobre a Certificação

Referências:
¹Lei Nº 13.019/2014. Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13019.htm. Acesso em: 2 nov. 2020.

²IDIS. Brasil Giving Report 2020. Disponível em: https://www.idis.org.br/brasil-giving-report-2020/. Acesso em: 2 nov. 2020.

³UNIBES. Transparência. Disponível em: https://unibes.org.br/transparencia/. Acesso em: 3 nov. 2020.

⁴MINHA CAMPINAS. Transparência. Disponível em: https://www.minhacampinas.org.br/#block-12307. Acesso em: 3 nov. 2020.


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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