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Série Indicadores - Planejamento e Construção

nov. 04, 2022

Este conteúdo foi produzido por Catherine Jimenez


Vamos relembrar?


No último artigo, destaquei a ferramenta comum entre as atuais metodologias para a mensuração de resultados: os indicadores.


Além disso, compreendemos que o uso de indicadores - em projetos sociais - não só apresentam números, como também, representam as transformações locais conquistadas.


Inclusive, este tipo de visão tem sido debatido em muitos eventos do terceiro setor. Algumas semanas atrás, participei do FiiS - Festival Internacional de Inovação Social, em São Paulo, onde especialistas trouxeram a necessidade das empresas financiadoras entenderem que seres humanos precisam ser vistos como seres humanos e não somente como números e metas. Levantando assim, a necessidade do nosso setor de apresentar metodologias específicas que representem todo o nosso trabalho e seu resultado.


E por falar em metodologias, no texto Série "Indicadores - Do Caos à Mensuração" - Apresentação, prometi que nesta série ensinaria um formato de desenvolvimento e controle de indicadores a partir de um fluxo que denominei como PCA (Planejamento, Construção e Acompanhamento), o qual é baseado no PDCA (Plan, Do, Check, Action), um método de gestão que contribui para o controle e melhoria contínua dos projetos de forma cíclica.


Hoje, focaremos nas etapas de: Planejamento e Construção. 


Reflexão inicial


Antes de aprofundarmos, vamos conversar sobre implementação de metodologias?


Tenho recebido dores de algumas organizações que alegam que a utilização de metodologias e padronizações não estão sendo efetivas. Em meio aos desabafos, percebo um padrão nas queixas, que incluem frases como: “a implementação nem sempre é bem aceita”, “não consigo ensinar a minha equipe”, “a metodologia não é 100% adaptável ao nosso cenário”, etc.


Meus amigos, uma novidade! Isso acontece com todos nós! 


E é por este motivo que gosto do conceito de “mosaico da gestão”.


O mosaico de gestão nada mais é do que você absorver o melhor de cada metodologia, escolher as ferramentas mais assertivas, adaptar para o seu contexto e, consequentemente, obter melhores resultados!


Este movimento acontece até mesmo no setor comercial. Acreditem, as empresas não conseguem implementar 100% do PMBok (guia Project Management Body of Knowledge é um conjunto de práticas na gestão de projetos organizado pelo Project Management Institute (PMI), sendo considerado a base do conhecimento sobre gestão de projetos por profissionais da área).


Neste artigo, apresentarei a vocês um mosaico, onde peguei o melhor do PDCA e do Project DPRO, Guia de Gerenciamento de Projetos para Profissionais de Desenvolvimento (saiba mais), para conseguirmos trabalhar com indicadores no dia a dia.


Não sofra, adapte e continue em constante desenvolvimento!


Introdução


Vamos lá! Abaixo apresento as duas primeiras etapas do PCA: planejamento e construção dos indicadores. 


Lembrando que este é um passo a passo para coordenadores e gestores que estão iniciando neste processo de desenvolvimento de um plano de monitoramento e avaliação (espero que seja um conteúdo que contribua com o sumiço do “monstro do monitoramento” da vida de vocês).


O Planejamento


Na etapa de planejamento, realizaremos uma análise do escopo do projeto. Para isso, recomendo que abram a teoria da mudança (TM). Caso vocês ainda não tenham, recomendo que verifiquem o artigo  da Luiza Campos aqui do Portal.


Ler agora: Por dentro da Teoria da Mudança


Na TM, você encontrará 4 níveis, sendo eles: Atividade, Resultado, Objetivo e Impacto. Os níveis de ATIVIDADE e RESULTADO fazem parte do MONITORAMENTO, enquanto o OBJETIVO e IMPACTO serão a AVALIAÇÃO:



Considerando estas informações, leia a teoria da mudança e siga as etapas abaixo para realizar o PLANEJAMENTO da construção dos indicadores:


  1. Olhando para a sua teoria da mudança, quais seriam as ações do projeto? (oficinas, distribuição de materiais, aulas teóricas, etc.).

  2. Escreva estas ações determinando as informações que você necessita em relação a elas.


Exemplo:

Na teoria da mudança podemos ter: “Realização de encontros com as famílias sobre a temática de sustentabilidade e realização de oficinas, na mesma temática, com jovens do ensino médio”

Como iremos escrever:


  1. Quantidade de oficinas aplicadas;
  2. Quantidade de materiais distribuídos aos estudantes;
  3. Quantidade de jovens cadastrados nas oficinas;
  4. Quantidade de encontros com os familiares.


3. Subindo para o nível de resultados, iremos compreender quais informações devemos obter para comprovar que as ações foram efetivas:


Exemplo:


  1. Quantos certificados foram emitidos
  2. Nível de satisfação dos estudantes perante cada oficina e materiais
  3. Nível de satisfação dos familiares em relação à rodas e materiais
  4. % de pessoas presentes em relação às cadastradas 


A partir daqui, entramos para o grupo de AVALIAÇÃO e seguiremos na mesma linha, contudo, precisaremos realizar uma análise um pouco mais profunda. Por exemplo:

Caso o seu objetivo, com base em nosso case, seja “Aumentar o número de famílias que passaram a praticar a reciclagem na comunidade X na Zona Leste de SP e se tornaram multiplicadoras do tema sustentabilidade”, você precisará escrever, quais informações você considera como essenciais para a comprovação deste objetivo. Exemplo:


a. Quantidade de famílias que passaram a realizar reciclagem em suas casas.

b. Quantidade de jovens que hoje participam do grupo de multiplicadores do conhecimento verde pelo projeto.

c. % de pais que hoje apoiam os filhos em ações de reciclagem.

d. % de família que passaram a ganhar um dinheiro extra realizando reciclagem. 


Já ao nível de IMPACTO, precisamos, primeiramente, lembrar que é algo MUITO maior, algo que sozinho a organização não conquistará. Desta forma, olhando para o impacto planejado em sua teoria da mudança, quais informações precisamos ter para comprovar que contribuímos com o impacto?

Continuando o nosso case, considere que o nosso impacto seja “Contribuir com o aumento da conscientização ambiental na zona leste de SP”

Para realizar esta comprovação, você poderia obter informações como:


a. % de família que passaram a realizar não só a reciclagem como outras ações dentro de casa que contribuem com a temática ambiental. Exemplo: economia de água, de luz, etc.

b. % de jovens que seguem sendo multiplicadores verdes no projeto e construíram hábitos em suas comunidades.

c. % de lixo gerado em relação ao ano de implementação do projeto x atualmente (que será alguns anos após).

d. Número de novas ações que a comunidade tem realizado para além do que foi proposto no projeto. 


Ao fechar esta etapa, você saberá, de forma clara, quais informações você precisará obter e estará apto para a construção dos indicadores.

A Construção


Agora que você já identificou quais serão os pontos dos projetos que serão monitorados e avaliados, precisamos aprender a CONSTRUIR um indicador, e muito provavelmente você já ouviu falar dos indicadores SMART. 


O indicador SMART é COMPLETO, ele apresentará todas as informações necessárias para uma futura pesquisa. Gosto de pensar que o acrônimo SMART é um check list para nunca esquecermos o que precisa ter no indicador. Veja a imagem da MEREO que explica o que é cada área:



Note que podemos dividir o SMART em 2 categorias: Temático x Numérico.

No temático, temos que o indicador precisa ser: específico (falar sobre algo específico) e relevante (é algo de fato relevante para a minha pesquisa?)

No numérico falamos sobre ser: mensurável (apresenta algum número ou % sobre o que você está avaliando?), alcançável (a meta colocada faz sentido com o cenário atual para ser batida?) e temporal (quando ela deverá ser alcançada?).

Geralmente, quando vemos as metodologias atuais de construção de indicador, nós construímos a teoria da mudança e logo já passamos para o desenvolvimento dos indicadores. Desta forma, o que apresento na etapa de PLANEJAMENTO do PCA, geralmente, é algo que os coordenadores e gerentes fazem mentalmente, contudo, quem está começando acaba se perdendo, sendo assim, o nosso planejamento vem como um NORTE para quem está iniciando nesta vida de uso do plano de monitoramento e avaliação.


Com isso, como uniremos o planejamento e a construção?


1. Resgate as informações que você anotou de cada nível. Exemplo: Ao nível de atividades nós tínhamos:

a. Quantidade de oficinas aplicadas.

b. Quantidade de materiais distribuídos aos estudantes.

c. Quantidade de jovens cadastrados nas oficinas.

d. Quantidade de encontros com os familiares.


Você irá olhar para esta anotação, realizará um check list do SMART e incluirá as informações que faltam. Veja:

a. Número de oficinas de sustentabilidade aplicados aos jovens de ensino médio até o final dos 8 meses de projeto. 

b. Número de kits de estudo entregues aos estudantes do ensino médio até maio de 2022. 

c. Número de estudantes cadastrados e aptos para participarem do projeto até o fim do ciclo de inscrições. 

d. Número de rodas de conversa realizados com os familiares até o final dos 8 meses de projeto.


Note que nós já sabíamos o que precisamos obter, contudo, era necessário completar estas informações para que ele ficasse mais claro, tornando-se um INDICADOR SMART.

Este movimento deverá ser realizado com todos os níveis seguintes: Resultado, Objetivo e Impacto. Abaixo deixo 1 exemplo de cada nível:

Resultado:


a. Quantos certificados foram emitidos
- Número de certificados emitidos para os estudantes de ensino médio até o final dos 8 meses de projeto.


Objetivo:


b. Quantidade de jovens que hoje participam do grupo de multiplicadores do conhecimento verde pelo projeto
- Número de jovens que fazem parte do grupo de multiplicadores verdes construído pelo projeto e que seguem disseminando o conhecimento após 1 ano de projeto implementado.


Impacto:


c. Número de novas ações que a comunidade tem realizado para além do que foi proposto no projeto.
- Número de novas ações de sustentabilidade identificadas na comunidade x da Zona Leste consideradas frutos do projeto e lideradas por ex-participantes após 2 anos de projeto implementado.


Para facilitar este processo, deixarei para download um canvas para realizarem a construção dos indicadores e um check list das características de um indicador SMART!


Baixar Canvas Indicadores


No próximo artigo, retomaremos este tema e iremos para a última etapa: ACOMPANHAMENTO!





Coordenadora de Projetos Sociais, formada em Gestão Ambiental pela USP, MBA em Comunicação e Marketing pela USP, Certificada em Project Dpro e Gestora e Mentora na GPS Social. 


Contato: catherinejimenez.jz@gmail.com


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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