O que coletivização tem a ver com comunicação mobilizadora?

20 de janeiro de 2022

Este conteúdo foi produzido por Nuclear.HUB

Para começar essa leitura precisamos estar quites em relação ao que se busca entender por comunicação mobilizadora. Aqui vai: promover a comunicação de causa vai muito além da simples divulgação de informação e fatos em determinados canais. Na verdade, é um processo com foco em gerar vínculos e mobilizar em prol de uma causa. Vamos entender como isso pode acontecer?

 

Ao pensar a causa de determinado processo mobilizador, seja um projeto de uma organização ou movimento de um grupo de pessoas, é importante basear-se no que o grupo percebe e também no que é atingido pela situação-problema, além das pessoas que, de certa forma, terão contato com a situação apresentada.


O que é coletivização?


Levando isso em consideração, é preciso atentar-se à maneira como as causas se formam. Assim, podemos compreender como um problema que pode afetar apenas um grupo ou uma pessoa torna-se um elemento de interesse coletivo e público. O movimento que passa da esfera individual à coletiva é chamado de coletivização.

 

O mestre Márcio Simeone Henriques, quem me inspirou muito no processo da minha pesquisa de mestrado, demonstra que:

 

“a coletivização é o sentimento e a certeza de que

aquilo que eu faço, no meu campo de atuação,

está sendo feito por outros, da minha mesma categoria,

com os mesmos propósitos e sentidos”.

 

O processo de coletivização acontece quando as percepções e ações se deslocam do interesse individual para o coletivo, quando os problemas são percebidos e tratados como se fossem de todos e quando se permite visualizar um entendimento comum desses problemas.

 

Para o autor, é a coletivização que dá estabilidade a um processo de mobilização social, princípio tão necessário para a manutenção dos vínculos criados com o projeto.


O que isso tem a ver com comunicação?


Para Toro e Werneck (2004), o que distingue a coletivização da simples divulgação é seu compromisso com os resultados. A divulgação, muitas vezes, possui caráter promocional ou simplesmente informativo. O resultado esperado com essa ação é que as pessoas tenham conhecimento de determinada informação. Já na coletivização, o foco principal é no compartilhamento da informação, não somente na sua circulação por si só, e o resultado que se deseja é que o público forme diferentes opiniões, que sejam próprias de cada indivíduo, e se disponham a agir diante da causa divulgada. 

 

Para que qualquer projeto de mobilização se consolide, o processo de coletivização é considerado o alicerce, pois é justamente neste processo que os públicos conhecerão de forma mais clara e profunda a causa proposta.

 

Condições para a coletivização


A seguir, é possível compreender as principais condições de coletivização, de acordo com Henriques. O autor considera a formação e a manutenção de um grupo que atua em prol de uma causa específica. As causas sociais necessitam de sujeitos que as defendam e contribuam para a sustentação daquilo que é proposto. Sendo assim, tais condições essenciais são:

 

  1. Concretude: O problema percebido pelo movimento ou organização precisa se apresentar como algo concreto. As pessoas, que possuem diferentes repertórios e vivências, devem ser capazes de reconhecer a situação como problemática;
  2. Caráter público: Reconhecer o problema por si só não é condição suficiente para que ele seja compreendido em sua dimensão coletiva e pública. Mesmo que determinados sujeitos não estejam inseridos na situação-problema, é necessário que estejam convencidos do caráter coletivo da causa defendida. Essa é a essência do processo de coletivização: temos de ver as temáticas das causas como possíveis pontos de partida para a formulação de políticas públicas e como algo que contempla a união de esforços de um grupo;
  3. Viabilidade: Após tornar pública a situação-problema, é necessária a geração de argumentos que elucidem a viabilidade de se lutar pela solução. Trata-se de um convencimento dos sujeitos de que é possível alcançar alguma mudança, apesar das dificuldades, e que agir em conjunto é compensador;
  4. Sentido amplo: Uma determinada causa não pode ser apresentada somente com as particularidades imediatas do problema a ser tratado. Ao pensar na construção de um problema coletivo e de um processo mobilizador, é preciso inserir o objeto principal de trabalho em relação à causa em um quadro de valores mais amplo. Assim, facilita-se o compartilhamento de ideais, além de aumentar a compreensão do impacto global que ações mais específicas podem alcançar.


Muitas vezes, nos questionamos sobre a razão de as pessoas não darem atenção para a nossa causa. Será que elas visualizam o problema que você tenta combater como algo concreto? Como você tem oferecido informações para que elas possam reconhecer isso? Lembre-se: esse é só o primeiro item dos quatro listados acima. 

 

A mobilização não acontece do dia para a noite, e é muito importante que você busque a participação e colaboração de diferentes pessoas para que elas construam essas estratégias junto com você. Se quiser encontrar conteúdos e pessoas para aprender e conversar sobre esse tema, o Social.LAB pode ser um espaço para potencializar seu desenvolvimento. 


Este conteúdo foi produzido por Nuclear.HUB


Natália Gonzales: Cofundadora da Nuclear.HUB, cujo propósito é conectar pessoas, causas e marcas por meio de estratégias de comunicação. Bacharel em Relações Públicas e mestra em comunicação pela Unesp, possui mais de 10 anos de experiência em comunicação, em organizações como Amcham, Mondelez International, Fundação Abrinq e Oracle. É mentora de comunicação no Distrito e ImpactHUB, além de ser co-líder de comunicação do Instituto Capitalismo Consciente da Filial de Campinas.



REFERÊNCIAS


HENRIQUES, Márcio Simeone. Comunicação e mobilização social na prática da polícia comunitária. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

TORO, Jose Bernardo & WERNECK, Nisia Maria Duarte. Mobilização social: um modo de construir a democracia e a participação. Imprenta: Belo Horizonte, Autêntica, 2004.



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