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Governança de A a Z - O Primeiro Pilar da Governança: Transparência

ago. 18, 2022

Este conteúdo foi produzido por Karen Lassner


Uma ONG se sustenta a longo prazo por meio de boa governança, gestão e liderança. Todos sabemos o que é gestão e liderança, mas o que é a governança? Aqui no Portal do Impacto, estou numa missão de desmistificar o que é a governança das ONGs. Espero que tenham lido meu primeiro texto da coluna Governança de A a Z em julho, onde enfatizo a importância de um boa estrutura de governança, incluindo um conselho de administração. 


Neste mês e no mês que vem, vou explicar quais os dois pilares que sustentam a boa governança de uma ONG. O primeiro pilar é a transparência e o segundo é a responsabilização e prestação de contas, como vemos na figura abaixo.



Vamos começar com o primeiro pilar da governança: a transparência. As ONGs existem para trabalhar pelo interesse público. Quando uma ONG tem boa governança, a sociedade pode ter certeza de que ela trabalha em prol do interesse público. A sociedade pode confiar que os recursos estão sendo bem utilizados, e que a ONG está realizando a sua missão.  Mas, como o público, o governo e outros grupos de interesse fazem para saber se o interesse público está sendo servido? A resposta é a transparência


O público tem o direito de saber como a ONG utiliza seu dinheiro — sejam doações diretas ou por apoio indireto via parcerias públicas ou incentivos fiscais. O público tem o direito de saber se uma ONG tem boa governança, se tem gestão sólida, se suas finanças são seguras, se obedece as leis, se respeita a ética e os valores da sociedade, se utiliza seus recursos de maneira eficaz e, por fim, se gera impacto social. Quando uma ONG compartilha essas informações com o público, incluindo seus doadores e outras partes interessadas, evita obscuridades e mostra suas atividades de maneira transparente.


O Brasil é um país em que vemos forte presença de organizações do terceiro setor; mas também, que convive com uma cultura de desconfiança diante dos inúmeros escândalos de corrupção que marcam sua história. Portanto, para se conquistar a confiança da sociedade e garantir a sustentabilidade da ONG, é preciso assegurar a transparência de suas ações.


Há muitas formas de uma organização garantir a transparência. Ela pode assegurar que haja sempre informação suficiente disponível sobre si própria, seus programas e suas finanças e que as informações sejam claras, precisas e oportunas. Além disso, a organização pode se autoavaliar regularmente, examinando minuciosamente o seu trabalho e permitindo que os outros façam o mesmo. Quando o conselho e os líderes da organização permitem que outros tenham acesso às informações sobre os êxitos e o progresso, bem como os fracassos e os retrocessos da organização, o público adquire confiança na ONG. Geralmente, o apoio para a organização é mais forte depois da confiança adquirida.


A transparência é tanto externa como interna. A transparência externa significa sua capacidade e seriedade ao prestar contas ao público e aos grupos de interesse externos, entre eles os doadores, os usuários dos serviços da organização e o público em geral. Por exemplo, a ONG  deve divulgar no seu website informações gerais (incluindo informações financeiras) e relatórios anuais ao público e comunicar tanto as boas como as más notícias.


A transparência interna significa comunicação aberta entre os membros do conselho e entre o conselho e os colaboradores. Por exemplo, todos os membros do conselho devem ter acesso à mesma informação para tomar decisões, e os colaboradores devem ter acesso às informações sobre os negócios da organização, tais como atas de reuniões do conselho e orçamentos anuais, entre outros documentos.


Há muitas razões pelas quais os responsáveis pela governança de uma ONG devem adotar a filosofia da transparência. O primeiro beneficio da transparência é manter a confiança do público. Quando não há confiança, não há quem apoie a ONG, e sem apoio é impossível assegurar o cumprimento de sua missão. Além de ganhar a confiança do público, há outros benefícios da transparência. Quando uma ONG é transparente, os doadores, os membros do conselho e outros grupos de interesse podem se tornar parceiros ativos na solução de problemas e, assim, ajudar a fortalecer a organização. Também, é menor a surpresa quando se ouvem informações adversas. Quando os conselheiros, colaboradores e os doadores estão preparados para ouvir as notícias tanto boas como más, eles têm melhores condições de responder a eventuais informações adversas. Finalmente, o planejamento e o desenvolvimento de estratégias são mais fáceis e efetivos, e decisões mais acertadas são tomadas quando todos os fatos e vantagens e desvantagens estão “sobre a mesa”. 


Alcançar a transparência leva tempo, mas o esforço vale a pena. Quando os grupos de interesse estão melhor informados, isso enriquece e dinamiza o processo de captação de recursos, as parcerias e o empenho e dedicação tanto de colaboradores, como do conselho.


Talvez você esteja se perguntando se precisa disponibilizar absolutamente todas as informações da ONG para ser transparente.  A regra aqui é usar o bom senso. Não é preciso compartilhar documentos com estratégias ou orçamentos que possam afetar a competividade da ONG, nem aqueles que contêm informações confidenciais que danificariam a reputação ou integridade de uma pessoa. As atas de reuniões do conselho em que assuntos confidenciais sejam tratados também não precisam ser divulgadas. Os doadores tem o direto de serem anônimos. Se um(a) doador(a) pede para permanecer no anonimato, o nome dele/dela não deverá ser informado a ninguém, salvo aos membros do conselho e à equipe de gestão executiva. 


A maneira mais fácil de ganhar a confiança do público é mostrar informações sobre  como a ONG e seu conselho funcionam. A disseminação de auditorias e políticas do conselho sobre processos e procedimentos ajuda a eliminar dúvidas e perguntas. O website da ONG é o lugar mais apropriado para apresentar a organização às pessoas interessadas nas suas atividades.


Reflexão: Para aumentar a transparência externa da sua ONG, divulgue no website da organização: 


1. a missão da OSC 

2. o estatuto social 

3. a composição do conselho de administração e do conselho fiscal 

4. um resumo do histórico pessoal/profissional do(a) diretor(a) executivo(a)

4. as demonstrações contábeis (e relatórios dos auditores independentes, se houver) 

5. as descrições dos principais programas, projetos, ações e atividades e/ou relatórios anuais da organização 

6. as principais políticas de governança (código de ética, conflito de interesses, entre outras)


Espero que tenha ajudado a esclarecer a importância da transparência de uma ONG. Continue a me seguir aqui no Portal do Impacto, onde terá a oportunidade de aprender mais sobre como fortalecer cada vez mais a governança da sua organização. 


Pode também me seguir no Instagram https://www.instagram.com/karenlassner/ onde publico sobre temas relacionados à governança e liderança das ONGs.


Se quiser tirar uma dúvida, pode entrar em contato comigo por e-mail: lassner.karen@gmail.com

Até o mês que vem!

Karen Lassner



Fonte: https://boardsource.org/resources/transparency/ acesso em 08/08/22 e Anne Cohn Donnelly, “Through the Looking Glass”, Exceptional Board Practices: The Source in Action. Washington, DC, BoardSource, 2007.



Karen Lassner é mestre em saúde pública e estudos latinoamericanos pela Universidade da Califórnia, Los Angeles. Estadounidense, há mais de 35 anos dedica-se a fortalecer a governança e liderança de organizações dos setores público e sem fins lucrativos. É membro dos conselhos da BrazilFoundation, Abraço Campeão e MIUSA.

 

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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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