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Jornada do usuário: saiba o que é e como pode apoiar a sua OSC a conseguir mais resultados

mai. 20, 2021

Jornada do usuário

A jornada do usuário é uma ferramenta que pode se tornar sua melhor amiga em fazer sua organização funcionar bem e ter resultados positivos em praticamente toda interação com pessoas e organizações. Apesar de ser simples, esse papo é complexo. Então prepara seu papel e seu lápis, pega um copo de água, e leia esse texto sem pressa.


O primeiro passo é entender do que a gente está falando. Para isso vamos definir de forma bem clara o que consideramos a “jornada do usuário”.

Usuário: qualquer pessoa ou organização que interage com sua organização. Quando falamos “qualquer”, é qualquer mesmo. Usuário não é só seu beneficiário, mas também voluntários, colaboradores, parceiros, doadores, enfim, se tem algum contato com sua organização, é um usuário.


Jornada: as interações com seus usuários não são um momento único, e sim um conjunto de interações que levam o seu usuário num caminho que vai desde quando a pessoa pensa em interagir com a sua OSC ou começa a estabelecer contato (site, telefone, contatos) até o momento que o resultado da interação acontece (compra um produto, faz uma doação, recebe um serviço, se torna voluntário). É esse caminho que chamamos de jornada.


Ainda está um pouco confuso? Não se preocupe, o exemplo a seguir vai te ajudar na compreensão. Faz assim, imagina um jogo de tabuleiro, tipo aquele de escadas e escorregadores (também conhecido como Sobe ou Desce, ou Escadas e Serpentes). O jogo tem um ponto de início e um ponto de chegada, e várias casinhas entre eles que você vai caminhando em ordem até sair do começo e chegar no final. Imaginou? Pronto!
O tabuleiro é a jornada e os pinos são os usuários.


Exercício inicial: momento atual


Agora que você já sabe do que estamos falando, vamos para o nosso primeiro exercício. Pega aquele papel e aquela caneta que falamos no começo (aproveita e toma um gole de água) e anota no começo da página qual é o ponto inicial do seu usuário. Sugerimos começar com o usuário “doador”, mas você pode fazer com o que preferir (voluntário, funcionário, atendido). Como ele fica sabendo da sua organização? Como nasce na cabeça dele a ideia de doar? Agora, do outro lado do papel, anota o ponto final do seu usuário. O que acontece quando ele doa? Ele recebe um agradecimento ou confirmação? O momento que ele te dá o dinheiro é o ponto final dessa jornada? Como você marca que essa jornada foi concluída?


Agora que você sabe onde o tabuleiro começa e onde termina, escreva todas as “casinhas” que seu usuário tem que passar para chegar no final. No caso do doador, por exemplo, o que ele faz depois de pensar em doar? Vai no site ou nas redes sociais? O que ele encontra? Tem um botão “doe aqui”? Como ele efetua essa doação? Anote tudo que você lembrar! E vale super a pena se colocar no papel do usuário e efetuar esses passos como se você quisesse interagir. Vá testando e anotando o que acontece nesse caminho. O melhor disso tudo é que esse exercício pode ser utilizado para qualquer usuário da sua organização.


Nem toda jornada é igual


Como falamos anteriormente,
a jornada do usuário é o percurso de uma pessoa ou organização durante o relacionamento com a sua OSC. O que significa que cada usuário vai ter seu próprio caminho porque cada usuário tem um tipo de relacionamento e utiliza um tipo de solução.


A jornada do doador vai mostrar todas as ações e interações entre o doador e sua organização. A jornada do voluntário vai ser um tanto diferente porque os contatos que essa pessoa recebe e as ações que toma são diferentes da do doador. A mesma coisa para o beneficiário, e assim por diante. Mas entenda, todas essas jornadas seguem o mesmo princípio e podem ser desenhadas de forma similar. Bem naquele esquema de “se entendeu um, entendeu todos”.


jornada do usuário

E queremos deixar mais um ponto bem claro: a jornada do usuário vai acontecer se você se preocupar com ela ou não. A grande importância de realmente tirar um tempo para desenhar e refletir sobre essa jornada é para que você consiga ver especificamente onde, quando e como os usuários interagem com a sua organização e, com isso, possa planejar uma jornada que seja prazerosa e tenha um resultado positivo tanto para o usuário como para a organização.


De volta pro tabuleiro


Se você já jogou Sobe ou Desce, você vai perceber que não escolhemos esse exemplo por acaso. Se você não jogou, te explicamos: algumas casinhas desse jogo tem um escorregador que te leva de volta no caminho que você já percorreu e você fica mais longe de onde estava antes. Outras tem uma escada, que te levam mais para perto do final.


No contexto da jornada do usuário, tem alguns passos que vão atrasar ou até impedir a jornada. Por exemplo, se o botão de “doe aqui” estiver muito escondido ou não estiver funcionando, muitos potenciais doadores vão simplesmente desistir de completar a jornada. Ou vão tentar entrar em contato para resolver ou doar diretamente, o que gasta mais tempo e paciência.


Aproveite esse momento e finja que você caiu numa casinha com um escorregador: volte para o seu papel e faça anotações de tudo que não está funcionando ou pode ser melhorado. Também coloque estrelas em casinhas que estão funcionando super bem.


Jogada de mestre


Quando você começar a criar a jornada de cada usuário, vai perceber que nem todo usuário é igual e nem percorre exatamente a mesma jornada. Ou seja, até dentro de cada tipo de usuário existem subcategorias que têm características mais parecidas ainda. Por exemplo, para a categoria “doadores”, você pode ter diversas subcategorias como “doadores mensais”, “doadores com menos de 30 anos”, "doadores com mais de 50 anos”, etc. Para representar essas subcategorias, você pode criar uma espécie de personagem que representa esse grupo.

Se utiliza o termo “persona” para representar cada um dos seus personagens, e a ferramenta mais usada para criar personas é chamada de Mapa da Empatia. Quanto mais detalhada e “real” essa persona for, mais perto da realidade vai estar a jornada que ela vai realizar junto com a sua organização. Por isso, vale a pena fazer uma pesquisa com seus usuários reais para aprender mais sobre eles e até verificar que as informações que você está colocando no mapa de empatia são realidade. Muitas vezes achamos que sabemos o que se passa na cabeça das pessoas com quem nos relacionamos na vida profissional e pessoal, mas nem sempre nossa imagem está bem ajustada à realidade.


Ao mesmo tempo, não tente ser perfeito e esperar ter todas as informações antes de começar, pois nem sempre isso é possível. Se você puder fazer uma pesquisa, ótimo! Prepare a pesquisa para que te dê as informações que você precisa, envie para seus usuários, e dê um prazo para que eles respondam. Se não puder, tudo bem também. Siga com as informações que você e seu time já possuem. Dica: às vezes, é mais fácil marcar um café (virtual) e fazer algumas perguntas simples, como “por que se interessou em fazer o nosso voluntariado?" ou “o que te levou a se interessar pelo terceiro setor?”. 


Você com certeza pensa em uma pessoa bem específica quando pensa em determinada solução da sua OSC. Por exemplo, quem é aquele voluntário que chegou com muita vontade de colaborar, super engajado e veio por meio de uma indicação? Pense nele, e converse se possível, quando for construir a persona e a jornada do seu voluntariado.


Virando o jogo


Não caia na armadilha de querer fazer jornada para todos os usuários de uma vez. Quando a gente aprende uma ferramenta nova, dá mesmo uma vontade de usar pra tudo. Mas como toda ferramenta, a jornada do usuário é apenas o começo. Desenhar a jornada e colocar o desenho numa gaveta não vai trazer nenhuma mudança, por outro lado, tentar desenhar todas as jornadas ao mesmo tempo e trazê-las para a realidade pode ser paralisante e te deixar com a sensação de sobrecarga. Então, comece aos poucos: escolha 1 usuário, ou até mesmo 1 persona. E o próximo passo deve ser bem pequeno também: quando sua jornada estiver definida, aplique uma mudança de cada vez e vá testando se funcionou como você esperava.


Para finalizar a sua jornada nesse texto, pegue o seu papel (agora cheio de anotações) e traga para a sua equipe. Juntos, criem o tabuleiro da jornada do usuário “doador” e comecem a testar e implementar mudanças, casinha por casinha.


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Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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