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Elaboração de projetos sociais com foco em captação de recursos

jul. 06, 2023

Este conteúdo foi produzido por Catherine Jimenez

A elaboração de projetos sociais com foco em captação de recursos é um processo complexo que envolve: identificação de um problema social, definição de objetivos, estratégias e metas, a alocação de recursos adequados, apresentação de uma implementação de ações que promovam a inclusão, a igualdade e o desenvolvimento humano, tudo com uma escrita clara e uma apresentação envolvente que conecte com a missão da possível empresa patrocinadora e da sua organização.

Para alguns parece ser fácil, para outros um bicho de 7 cabeças, porém, a verdade é que independente do nível de dificuldade, é necessária muita dedicação, atenção e cuidado! Afinal, apresentar uma lógica de implementação de projetos sociais clara, alinhada à missão da organização e dentro das exigências e perfis das empresas patrocinadoras é uma missão difícil e necessita atenção. 


Este artigo terá como missão
trazer uma lista de boas práticas na elaboração de projetos sociais a partir dos meus conhecimentos e experiências. Além disso, pretendo de tempos em tempos realizar uma atualização de forma que consigamos trazer a vocês informações novas e qualificadas.


Acesse os outros textos de Catherine Jimenez


Desta forma, eu me proponho a:


a. Apresentar um processo seguro para identificação da linha lógica de implementação de um projeto social

b. Apresentar quais são as informações que são geralmente pedidas em propostas técnicas com empresas 

c. Listar quais são os tópicos que você precisa ter para que depois só se adapte conforme os seus objetivos (como, por exemplo: envio para editais, adaptação para leis de incentivo etc.).

Vamos lá?

Para começar a linha lógica de implementação:

1. Pesquise a região que gostaria de implementar o projeto, compreenda a cultura local, o dia a dia, as pessoas, a comunidade, identifique as necessidades (Você pode escolher 2 das 4 necessidades de Bradshaw para te ajudar nessa missão), verifique se já houve estudos sobre o local, colete o máximo possível de informações.

2. Identifique o problema que gostaria de contribuir na resolução, ele precisa fazer sentido com o que você estudou sobre a região e a comunidade. Você pode utilizar a árvore de problemas para fazer essa identificação.

3. Identifique o recorte de atuação, ou seja, onde você gostaria de chegar com o seu projeto. Você pode utilizar a árvore de objetivos neste processo.

Para os pontos 2 e 3 recomendo que verifique o artigo de Alan Ribeiro aqui no Portal do Impacto:


Ler agora 


4. Defina muito bem o seu Objetivo Geral e o seu Objetivo Específico. Lembre-se que o Objetivo Geral precisa fazer sentido com a missão da organização e o Objetivo Específico precisa fazer sentido com as ações do projeto.

5. Agora precisamos compreender a linha de intervenção do projeto, podemos utilizar a Teoria da Mudança para nos auxiliar. Construa colocando no papel as atividades, os resultados, os objetivos e o impacto esperado para o seu projeto.  Verifique este artigo feito pela Luiza Campos aqui no Portal: 


Por dentro da teoria da mudança


6. Recomendo que desenvolva o marco lógico do seu projeto, mesmo que não inclua na proposta, ele irá te ajudar a ter um norte quanto aos indicadores e validação da lógica de implementação. Algumas empresas estão pedindo essas informações em editais e é importante que já tenha no seu radar. Para maior aprofundamento recomendo  a minha série sobre indicadores aqui do Portal:


Série indicadores

7. Uma tendência muito forte nos editais tem sido o pedido de inclusão de informações sobre o plano de monitoramento do projeto. Uma vez que o seu marco lógico está montado, realizar o plano de monitoramento e avaliação será muito mais fácil. Recomendo o artigo da Ana Carolina aqui no Portal sobre monitoramento: 


Dicas sobre monitoramento e avaliação

e as dicas do Vitor Freitas

6 dicas para monitorar e controlar projetos ágeis


Até aqui apresentei dicas para compreensão e desenho da linha lógica de implementação do projeto, agora vamos falar da escrita em formato de proposta técnica,
abaixo listei pontos que vocês poderão já deixar escrito e adaptar de acordo com a empresa que estiver negociando, participando de edital, etc. 


  1. Informações cadastrais: Geralmente é solicitado alguns dados cadastrais da organização. É importante que você já tenha em mãos todos os dados e documentações solicitadas. 
  2. Histórico da organização: Apresente de forma resumida o histórico da organização, principalmente, no que tange a implementação de projetos semelhantes. 
  3. Certificados e Premiações: Se a sua organização é certificada ou já recebeu alguma premiação importante para o setor, deixe isso registrado. 
  4. Parceiros: Temos parceiros importantes e que brilhariam os olhos? Então, apresente-os!
  5. Justificativa: Dê um panorama sobre o projeto e a importância dele para aquela região.
  6. Implementação e poder de transformação: Apresente o escopo do seu projeto e destaque os diferenciais do seu desenho, principalmente em pontos-chave que podem influenciar e/ou potencializar a transformação social. Aproveite o momento para colocar ferramentas estratégicas.
    Caso ainda esteja com dúvida do que colocar aqui, recomendo que conheça o Canva de Projetos Sociais da Daiany França Saldanha que temos aqui no Portal:
    Canvas de projetos sociais
  7. O diferencial: Inclua no escopo pontos que podem chamar a atenção da empresa patrocinadora, principalmente, que faça sentido com a missão da mesma. Isso ajudará no processo que eu gosto de chamar de “match estratégico”, ou seja, conexão de missões, estratégias, objetivos etc. 
  8. Defina o perfil da equipe que trabalhará neste projeto: Entenda quais os profissionais que estarão envolvidos. Não necessariamente precisa ter o nome, mas sim, o perfil. Caso seja pedido os currículos, coloque em anexo. 
  9. Caso peçam uma análise de riscos do projeto, é preferível fazerem de forma um pouco mais geral e mostrando que para todos eles temos uma resposta e um acompanhamento! Isso trará maior credibilidade! Cuidado para não assustar o patrocinador!
  10. Realize um estudo para definição do orçamento do projeto: É muito importante que você coloque números realistas e que sejam o ideal para uma implementação de qualidade. Reduzir o valor total apenas para ganhar um edital/concorrência, pode ser um tiro no pé! Afinal, a qualidade de implementação será reduzida! Compreenda as suas margens! Vale entender um pouco mais sobre o triângulo da gestão.
  11. Cuidado com as propostas longas: Textos muito complexos, cheios de tecnicismos nem sempre são bem vindos. Quem está lendo precisa entender o seu escopo e seu potencial de transformação sem grandes problemas. Cuidado!
  12. Adapte todas estas informações de acordo com quem irá receber: Editais nacionais, são diferentes das internacionais e diferentes das leis de incentivo!


Para finalizar, deixo aqui uma dica dada pelo Ricardo Falcão em seu curso de Elaboração de Projetos: “
Planejamento é uma atividade coletiva, sendo a elaboração de projetos um planejamento, ela também é coletiva”. Ou seja, não tente desenhar um projeto sozinho! Aproveite o conhecimento da sua equipe, troque, faça um intercâmbio de ideias! Isso irá facilitar e enriquecer o processo!


Por hoje, é o que temos! Porém, em breve, estarei de volta com atualizações! Enquanto isso, super recomendo aproveitarem os conteúdos do Portal, como puderam ver, temos diversos artigos que contribuem nesse processo de elaboração de projetos!


Ah! E se você se interessa por essa temática de elaboração de projetos e captação de recursos, te convido a participar da minha pesquisa: https://lnkd.in/dZvD--Ud, ao utilizar o “código de participação”: PORTALDOIMPACTO, você receberá um documento norteador com dicas de técnicas de comunicação e marketing para projetos sociais!




Coordenadora de Projetos Sociais, formada em Gestão Ambiental pela USP, MBA em Comunicação e Marketing pela USP, Especialização em Gestão de Projetos pela DNC, Certificada em Project Dpro e Fundadora e Gestora de Projetos na GPS Social. Contato: catherinejimenez.jz@gmail.com


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Na Harvard Business Review (HBR) de jan-fev de 2019, fui atraída pelo título de um dos artigos sobre uma maneira para se calcular o valor dos investimentos de impacto, com base em evidências . Comecei a ler o texto entusiasmada pela possibilidade de encontrar uma contribuição pragmática no campo da avaliação social, mas confesso que fiquei decepcionada. O trabalho foi escrito por sócios e gestores da Rise Fund (um fundo de US$2 bilhões para investimentos de impacto) e da Bridgespan Group (uma consultoria global para impacto social). A partir da experiência deles, propõem uma metodologia para estimar o retorno financeiro do investimento social e ambiental. Batizaram a “nova” métrica por IMM ( Impact Multiple of Money) , porque, com base nela, se tornaria possível prever o múltiplo em benefício social e ambiental que seria gerado a partir de $ 1 investido – assim, se o IMM for 5X (5 vezes), significa que cada $1 investido vai gerar $5 em benefícios. Rise Fund só investe em projeto quando o IMM dele for no mínimo de 2,5X. A intenção dos autores é que, a partir da comparação dos valores de IMM estimados, se consiga dar mais rigor ao processo de seleção dos investimentos sociais, como já é usual no mundo dos negócios, através do uso de metodologias financeiras amplamente aceitas. Com isso, segundo eles, se poderia avançar sobremaneira na análise dos investimentos de impacto, que ainda se encontra atualmente, em grande medida, baseada na “adivinhação”, em informações restritas a processo, ou em intenções de comprometimento. Os seis passos do método proposto (IMM) Avaliar a relevância e a escala do projeto, para se decidir sobre se vale a pena (ou não) o esforço de aplicar o método, pois “estimar o IMM não é tarefa trivial”. Então, segundo os autores, o projeto a ser avaliado deve ter um propósito e escala potencialmente relevantes, o que não quer dizer número grande de pessoas beneficiadas. Há projetos com um pequeno número previsto de beneficiados, porém com grande potencial de transformação, que podem ser muito mais relevantes do que outros com grande número de beneficiados. Estimar os resultados sociais ou ambientais esperados. Nessa etapa é importante verificar se os resultados previstos são atingíveis e mensuráveis. “Felizmente” hoje os investidores já podem contar com muitas pesquisas nas Ciências Sociais (as evidências) que lhes permitem estimar o potencial do impacto social da empresa ou organização. E tal se deve ao movimento sobre “ o que funciona ” dos programas sociais, que propiciou um grande impulso ao desenvolvimento da “indústria de medição de resultados sociais” nessa última década. Estimar o valor econômico desses resultados para a sociedade. Para traduzir os resultados identificados (acima) em termos monetários, é preciso também recorrer a um “estudo-âncora” robusto (ou a evidências ou referências já existentes) e, na ausência desse, à orientação de um especialista da área. A escolha do estudo-âncora deve levar em conta o rigor da estimação dos resultados (preferência por pesquisa experimental, ao invés de pesquisa observacional ou estudo de caso), contexto similar ao do projeto em questão, e/ou o estudo deve ser o mais recente possível. Ajustar o risco advindo do uso de estudos-âncora. Embora os autores considerem ser satisfatório o uso de estudos-âncora (ou das evidências) já existentes para preverem a monetização dos resultados sociais e ambientais, eles admitem o risco de aplicarem tais achados não diretamente associados às oportunidades do investimento em questão. Propõem, então, que seja incluída nos cálculos a estimativa do risco, baseada em uma escala de probabilidade de 0 a 100%, definida segundo 6 categorias, que são: qualidade do estudo-âncora, pressupostos adotados, contexto, grupo de renda, similaridade do produto ou serviço, e a possibilidade do uso previsto (para o produto/serviço social) não se verificar. Estimar o valor terminal do investimento. No caso de determinados tipos de projetos sociais e/ou ambientais, pode fazer sentido incluir também na estimativa do valor monetário do impacto o período depois que o projeto ou investimento social tiver finalizado. Calcular o retorno social por cada dólar investido. Finalmente é calculado o valor do IMM. Assim, segundo os autores, “ em um mundo em que os CEOs estão cada vez mais falando em lucro e propósito, o IMM oferece uma metodologia rigorosa para se avançar na arte de alocação do capital para gerar benefício social ”. Pois quanto maior o valor do IMM estimado, maior o potencial de impacto do investimento social e/ou ambiental, permitindo a comparabilidade entre projetos de natureza distinta, como é comum no campo social. Por que a decepção com o método IMM? 1.IMM não é um método inovador
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Praticar atividades físicas, investir em hobbies, conversar com amigos ou buscar ajuda terapêutica. Esses são apenas alguns dos exemplos que se enquadram no que podemos chamar de “estratégias para se atravessar um período de estresse ou momento difícil”, mais conhecido como Coping . O termo inglês Coping , traduzido para o português como Estratégias de Enfrentamento em saúde mental, é uma teoria que estuda o estresse psicológico e as diversas formas com que uma pessoa pode avaliar e agir frente a uma situação estressora, a fim de minimizar, controlar ou tolerar seus efeitos a curto e médio prazo. Criado e desenvolvido pelos psicólogos americanos Richard Lazarus e Suzan Folkman, na década de 1980, o coping tem como características a tomada de decisão consciente e intencional, orientada para o futuro, que leva em consideração aspectos individuais como traços de personalidade, e aspectos temporais como seus objetivos, resultados almejados, e preocupações, durante o período estressante. De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
Avaliação de impacto serve para todos os casos? Confira as situações onde a avaliação não se aplica e como resolver essa questão.
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