Do não governamental ao impacto: as múltiplas faces das OSCs

14 de abril de 2023

Este conteúdo foi produzido por Fábio Deboni


O foco deste artigo é construir um retrospecto analítico da trajetória das Organizações da Sociedade Civil (OSC), de modo a termos uma visão mais ampla e contextualizada que nos tragam luzes no momento complexo em que vivemos.


Ato 1 – Anos 70-80



O centro de gravidade das então ONGs e movimentos sociais/ambientais era a negação (ou contraposição):


  • não somos governo (não-governamental)
  • não visamos lucro (sem fins lucrativos)


Vale lembrar que o advento da sociedade civil no Brasil se dá em tempos de ditadura política, sendo necessário atuar (muitas vezes clandestinamente) para contrapor um Estado autoritário, torturador e sem visão socioambiental. 


Deste contexto interno e inspirado no que acontecia fora do país (a partir do 'maio de 1968' e outros movimentos da contra-cultura) emergem com força agendas ambientais, sociais, defesa de direitos, fruto do esforço de movimentos sociais (e ambientalista) que ali lutavam por direitos civis.

A outra negação passava por evitar proximidade com o capital, com empresas, com lucro, enfim, com a dimensão econômico-financeira. 


Essa trincheira ideológica, como sabemos, tem reflexos até hoje na crônica dificuldade de muitas ONGs em lidar com a dimensão econômico financeira e daí, certa trava em se relacionar com o setor privado e com o campo emergente dos negócios de impacto social (saltando para os dias atuais).


Mas neste momento histórico (anos 70 - 80) era o voluntarismo e a mobilização social e política as formas de atuar. A militância era a tônica mais forte e tempos depois que a agenda da profissionalização do setor ganharia terreno. 


Ato 2 – Final anos 80 – anos 90



Com o processo de abertura democrática e a Constituição de 1988 (além da Eco-92, do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, e outros marcos civis importantes) a sociedade civil começa a perceber que esses dois setores até então rechaçados (o Estado e as empresas) passam a ser peças indispensáveis nas engrenagens democráticas socioambientais e de conquista/implementação de direitos, ainda que com divergências entre esses atores.


O Estado precisava assumir seu papel e assegurar/implementar na prática sua função democrática e de bem estar social. Alocar orçamento em políticas públicas, assumir seu papel de fiscalização, esboçar caminhos de participação social, etc.

Na outra ponta, as empresas passavam a encampar a tal multissetorialidade da agenda socioambiental. Em outra palavras, o que antes era uma agenda restrita a um único setor (a sociedade civil) passa ser assumida por outros setores (Estado, empresas, etc), além de começarem e perceber que isso também se constituiria em diferencial competitivo. A criação do Ethos e do GIFE são exemplos desta questão (meados dos anos 90). Uma década depois esse debate desaguou na agenda da sustentabilidade e mais recentemente na agenda do ESG.


Ato 3 – Final anos 90 – anos 2000


De meados dos anos 90 pra cá como o então campo das ONGs acompanhou e atuou neste sentido? 

Viu, de um lado, o Estado (a partir dos seus vários entes e poderes e de maneiras diferentes) assumir bem ou mal seu papel nesta agenda, além de mecanismos de fiscalização e controle que também emergirem com força.

Aqui cabe destacar o papel que o Ministério Público teve nesta jornada em prol da proteção ambiental, e também durante os governos Lula (1 e 2 - 2003-2010) de parte importante desta sociedade civil ser criticada por ter sido 'cooptada' pelo governo e de haver certo esvaziamento de movimentos sociais.

Do outro lado, o campo das ONGs viu o setor privado ganhar protagonismo neste terreno, saindo de uma posição de negação da agenda pra perceber diferencial competitivo com pitadas de maquiagem verde ou social (os conhecidos 'washings'), engajamento este que desaguou na agenda do ESG, com sua potência e dilemas.


Ato 4 – Dilemas recentes


A grosso modo, vejo 4 dilemas que o campo da sociedade civil se deparou a partir da diluição do seu protagonismo na agenda socioambiental:


  1. Ideológico
  2. Relacional
  3. Modus operandi
  4. Financiamento


Ideológico


Se parecia ficar cada vez mais claro que era necessário estabelecer relações com governos e empresas para um maior avanço destas agendas, como fazê-lo sem desconsiderar todo o histórico de lutas até aqui travado entre eles? 


A depender da opção tomada, isso poderia soar como se a organização estivesse se ‘vendendo’ ou sendo ‘capacho’ daquela empresa, ou como ‘correia de transmissão deste ou governo’? Esse dilema ideológico traz à tona a necessidade premente de revisão da própria missão da organização. 

O que fazia sentido anos ou décadas atrás seguia fazendo sentido no novo contexto?

Até que ponto a organização (e sua governança) está realmente aberta a repensar sua ideologia?


Relacional


Decorre do dilema anterior o desdobramento do arco de relações institucionais e de parcerias que a organização tem ou deseja construir considerando seu passado de posturas mais combativas e críticas face ao Estado e às empresas.


Como incorporar esses 2 setores na sua atuação? Confiar desconfiando? Ou seria o caso de seguir atuando apenas entre pares, ou seja, apenas entre ONGs camaradas?


O dilema relacional traz a tona cenários muito mais complexos (o que hoje costumamos chamar de 'muitos tons de cinza') que passam a exigir das ONGs mais profissionalismos e maior repertório ferramental.


De modus operandi


Daí emerge esse dilema do modo de atuar em prol do alcance da missão institucional. Ocorre que com novos setores entrando no tabuleiro e ganhando protagonismo na agenda socioambiental emergia a necessidade de lidar com novas linguagens, novas ferramentas, novas possibilidades, novas narrativas.


Como as ONGs poderiam lidar com tudo isso?


Parte deste pacote de novidades já fazia emergir em muitas destas organizações reflexões difíceis: 


  • Ser fornecedor de uma grande empresa? Até mesmo de alguma das quais a organização criticava num passado recente
  • Associar-se a marcas implicava em plena concordância de posicionamentos?
  • Receber recursos públicos de governos não-progressistas?


De financiamento


Finalmente o dilema de financiamento que segue sendo possivelmente o principal desafio para as ONGs na atualidade.


O que antes era feito de forma meio artesanal e bastante voluntária (militante), ganha contornos mais complexos e novos olhares e alcances. 


Sim, o tal fenômeno da profissionalização do setor. Já ouvir falar, certo?


Ele traz consigo uma conversa chata sobre orçamento, compliance, organogramas, etc. Afinal, deveria (ou deve) ser o Estado o maior responsável por financiar a atuação das ONGs? Esse tema rende uma ótima discussão...

Afinal as ONGs atuavam (atuam) onde o Estado não dava (dá) conta de atuar, mas isso não aumentaria a dependência e possível perda de autonomia destas ONGs? Elas não ficariam mais amarradas ao seu financiador? Mas esse financiador é um certo governo ou o erário público?


Notem que uma década depois o cenário que vemos é que muitas ONGs seguem altamente dependentes de fontes públicas de recursos para manterem sua atuação, a despeito do quadro muito complicado de crise fiscal que os governos atravessam no Brasil e fora também.


Hoje se escuta com certa facilidade que esse processo de profissionalização do terceiro setor já está finalizado, o que não é bem verdade.


Ato 5 – Pósfacio – tempos atuais


No contexto atual - de profissionalização em marcha de um lado, de crise de financiamento crônica do setor, de boom dos negócios de impacto social, de narrativas contrárias a atuação do setor (as ‘ONGs só atrapalham’), de empresas (via institutos, fundações ou não) jogando esse jogo sem ‘precisar tanto assim’ das ONGs, de maior competição entre ONGs, etc, nota-se um quadro muito mais diverso, complexo e de múltiplos desafios com múltiplas possibilidades pela frente.


Como ser uma ONG (OSC) nos tempos atuais?


Mesmo já vivendo tempos de pós-pandemia, ainda nos deparamos com muitas ONGs tentando ‘vender o almoço para pagar a janta’, embora já saibamos o potencial econômico que o setor gera ao país.

Enquanto algumas OSCs crescem e assumem um porte que as assemelham a grandes corporações, outras penam pra se profissionalizar, para conquistar um lugar ao sol e pra manter-se vivas. 


A mesma onda de profissionalização que alguns afirmam já ter sido concluída se apresenta como obra ainda inacabada em boa parte do setor. 


O fato é que ser uma ONG nos tempos atuais é muito mais desafiador e adquire muitas camadas de complexidade do que em décadas anteriores. O mundo é mais complexo. O campo socioambiental é mais diverso e complexo. Ser uma Organização da sociedade civil é mais complexo, embora também tenhamos, como setor, muito mais clareza da nossa capacidade de atuar em prol de transformações socioambientais efetivas em nossa sociedade. 


Pra fechar, convido-o(a) caro(a) leitor(a) a conhecer mais a fundo nossa história como setor – da sociedade civil, me contrapondo a um certo bordão que circula no setor de que ‘não importa de onde viemos, mas sim para onde vamos’. Importa muito de onde viemos, o que aprendemos, as batalhas vencidas e perdidas, as principais lideranças que atuaram para fortalecer esse setor, etc. Isso é parte constituinte da nossa história e não deveria ser esquecida ou apagada.


Artigo publicado originalmente em maio de 2020: https://www.linkedin.com/pulse/do-n%C3%A3o-governamental-ao-impacto-m%C3%BAltiplas-faces-das-oscs-f%C3%A1bio-deboni/   Essa versão para o Portal do Impacto foi devidamente editada e atualizada.


Trazido à tona recentemente por este belo estudo: https://info.sitawi.net/terceiro-setor-pib-brasil 




Fábio Deboni - Agrônomo não praticante, escritor, produtor de conteúdo, xereta da inovação social, palmeirense (ninguém é perfeito) e um monte de outras coisas. 


Publica diariamente textos e artigos em seu blog:  https://fabiodeboni.com.br/ 



Linkedin: www.linkedin.com/in/fabiodeboni


Lançou em 2022 seu quinto livro: Inovação Social em tempos de soluções de mercado (aqui: https://www.pacolivros.com.br/inovacao-social-em-tempos-de-solucoes-de-mercado e aqui: https://amzn.to/3UiIp5o). 


Contato: fabio.deboni@gmail.com.


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Por Pamela Lima 10 de abril de 2025
Inicialmente, vamos entender melhor o que são métricas? Métricas são números e dados que as redes sociais fornecem para mostrar o desempenho das publicações feitas por você ou pela sua ONG. Quando você publica algo no Facebook ou Instagram, essas redes sociais mostram quantas pessoas visualizaram, curtiram, comentaram ou compartilharam seu conteúdo. Saber interpretar essas informações é muito importante porque ajuda a sua OSC a entender o que está dando certo e o que pode melhorar na comunicação com o público. Ao entender melhor essas informações, você pode criar conteúdos que alcançam mais pessoas e ajudam sua organização a ter um impacto maior. Quais são as métricas mais importantes? Entender as principais métricas pode parecer difícil no começo, mas conhecendo cada uma delas fica muito mais fácil saber se sua comunicação está indo bem. Cada uma dessas métricas traz informações cruciais que ajudam a entender o comportamento do seu público e como melhorar as publicações da sua organização. Desvendando as siglas e abreviações das métricas CTR (Click Through Rate): porcentagem de pessoas que clicaram em um link após visualizá-lo. CPM (Custo por Mil Impressões): quanto custa mostrar seu conteúdo para mil pessoas. CPC (Custo por Clique): quanto você paga por cada clique no seu conteúdo. CPA (Custo por Aquisição): custo médio para que uma pessoa realize uma ação específica, como fazer uma doação. ROI (Return on Investment): retorno financeiro obtido em relação ao dinheiro investido em publicidade ou campanhas. KPI (Indicador-Chave de Desempenho): métricas específicas escolhidas para medir o sucesso das suas ações. Alcance e Impressões O alcance é o número de pessoas diferentes que viram sua publicação pelo menos uma vez. Quanto maior o alcance, mais pessoas diferentes foram alcançadas pelo seu conteúdo. Já as impressões mostram quantas vezes sua publicação apareceu nas telas das pessoas, contando inclusive aquelas que viram mais de uma vez (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Engajamento Engajamento é uma das métricas mais importantes porque mostra como as pessoas estão interagindo com seu conteúdo. Essas interações incluem curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos. Um alto engajamento significa que as pessoas realmente gostaram do seu conteúdo e tiveram vontade de interagir com ele. Quanto mais engajamento, melhor você está se comunicando com o seu público (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Cliques Cliques mostram quantas pessoas clicaram no seu conteúdo ou nos links que você compartilhou. Essa métrica é especialmente importante quando você quer direcionar as pessoas para seu site ou para alguma ação específica, como um evento ou uma campanha de doação (COSTA, 2020). Crescimento de seguidores Essa métrica mostra quantas pessoas novas começaram a seguir sua ONG depois de ver suas publicações. Um crescimento constante de seguidores significa que você está conseguindo chamar a atenção e conquistar novas pessoas para sua causa (COSTA, 2020). Mas afinal, como essas métricas se relacionam? É muito importante não olhar apenas para uma métrica isoladamente. Por exemplo, se muitas pessoas veem sua publicação (alto alcance), mas poucas interagem com ela (baixo engajamento), pode ser que o conteúdo não esteja interessante o suficiente. Para entender se sua estratégia está funcionando, você precisa analisar diferentes métricas juntas, como alcance, engajamento e cliques. Isso ajuda a ter uma visão mais completa do desempenho das publicações (GOMES, 2018). Tipos de análises que você pode fazer Para usar bem as métricas, você pode fazer vários tipos diferentes de análises. Cada tipo serve para algo específico e ajuda você a entender melhor o desempenho das suas redes sociais, mostrando caminhos para melhorar sua comunicação. Análise simples A análise simples é a mais básica e mostra diretamente quantas pessoas viram ou interagiram com seu conteúdo (RECUERO, 2014). Comparação A análise comparativa é quando você compara resultados de diferentes publicações ou períodos. Por exemplo, você pode comparar o desempenho das publicações deste mês com as do mês passado para entender o que funcionou melhor e planejar conteúdos futuros (RECUERO, 2014). Previsão A análise preditiva usa dados antigos para tentar prever resultados futuros (RECUERO, 2014). Um exemplo é que se sabemos que entre novembro e dezembro há um aumento nas curtidas em posts relacionados a doações, construir conteúdo que fale sobre isso antecipadamente é uma forma de “prever” a procura e antecipar-se ao aumento de demanda. Redes sociais Analisar as redes sociais significa entender como as pessoas interagem umas com as outras no seu perfil ou página. Você pode descobrir quem são os principais seguidores, quais conteúdos são mais compartilhados e como essas conexões ajudam a espalhar sua mensagem para mais pessoas (GOMES, 2018). O que ter cuidado ao analisar os números? Ao analisar as métricas, você precisa levar em conta fatores externos que podem influenciar os resultados. Datas especiais, feriados ou eventos importantes podem aumentar ou diminuir a interação com suas publicações (as chamadas datas sazonais). Por isso, sempre olhe com cuidado e verifique se os dados são realmente representativos do desempenho geral (KAHNEMAN, 2012), todo o contexto deve ser levado em conta. Cuidado com erros ao analisar Existem alguns erros comuns ao analisar as métricas. Um deles é o viés de confirmação, que acontece quando você só presta atenção nos números que reforçam o que você já acredita. Outro erro é o viés de recência, que acontece quando você só leva em conta os resultados mais recentes, esquecendo resultados passados (KAHNEMAN, 2012). Como já dito. Recomendações O conteúdo do artigo foi baseado no conhecimento da autora e com referências de base científica. Caso você deseje ampliar o conhecimento acerca da temática, recomenda-se a leitura das fontes a seguir: COSTA, Felipe. Aplicação estratégica de métricas digitais. Panorama, Goiânia, v. 9, n. 2, p. 45-60, 2020. FERREIRA, Mariana; OLIVEIRA, Ana. Produção textual e interações sociais em plataformas digitais. Revista Comunicando, Lisboa, v. 5, n. 1, p. 10-23, 2015. GOMES, André. Dinâmicas de interações nas redes sociais digitais. Salvador: UFBA, 2018. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2014. 
Por Maria Cecília Prates 4 de abril de 2025
Uma boa pergunta é sempre um motivo para reflexão. Como a pergunta que me foi feita uma certa vez pela diretora de uma ONG: “ na sua opinião, o que caracteriza um bom processo de Monitoramento & Avaliação (M&A) de projetos sociais? ” Ela me pediu para responder em poucas palavras.  Tomando por base o referencial da Teoria da Mudança ou do Marco Lógico , somos tentados a dar a resposta tradicional: um bom M & A é aquele que nos permite verificar se o que foi planejado, tanto em termos de processo e resultado, está ocorrendo e/ou ocorreu de fato. E, com isto, nos permite fazer as correções de rota necessárias, tanto “durante” quanto “depois” da iniciativa social. Mas, um bom M & A deve ir além, de modo a evitar o sério risco de cair na armadilha do planejamento . A ´ armadilha do planejamento ` é quando o plano inicial é visto como a situação ideal a ser atingida. Decorrem, daí, as definições para sucesso e fracasso. Sucesso é quando são alcançadas boa parte das metas previamente traçadas; já o fracasso é quando boa parte delas não são alcançadas. E se o plano inicial não se mostrar correto, mesmo tendo sido construído de forma participativa, com objetivos claros, bons indicadores e análise consistente do contexto social? Ou ainda, se com o desenrolar da intervenção, aquele plano for se tornando inadequado frente às novas circunstâncias que forem surgindo? Aliás, situação bem plausível, tendo em vista a realidade tão dinâmica em que vivemos atualmente. O plano não pode acabar funcionando como uma camisa de força para o projeto. Me fez lembrar a frase dita pelo ex-presidente americano Dwight Eisenhower, quando comandou o ´Dia D` da Segunda Guerra Mundial, “ Antes da batalha, o planejamento é tudo. Assim que começa o tiroteio, planos são inúteis ”. O ponto central é que planejar é fundamental, mas não podemos ficar prisioneiros do plano. Então, voltando aqui à pergunta inicial: O que caracteriza um bom processo de Monitoramento & Avaliação? Em poucas palavras: Um bom processo de M&A é aquele que serve como uma bússola para guiar os gestores do projeto. Sem dúvida, o pressuposto é o de que o planejamento tenha sido bem-feito, e há clareza de onde se quer chegar. E por que a comparação com a bússola? O processo de monitoramento e avaliação deve funcionar como uma bússola (para guiar o avião) no sentido de ser útil para orientar os gestores de uma dada intervenção se eles estão indo na direção correta. Então, o M & A vai indicar se estamos fazendo / fizemos a coisa certa, da maneira certa, de modo a potencializar os resultados pretendidos, tendo em vista os recursos disponíveis (financeiros, humanos, experiências, aprendizados e parcerias). O interessante da bússola é justamente a sua capacidade em ir se adaptando ao percurso, até chegarmos ao destino final. Tal como a bússola, também um bom Monitoramento & Avaliação deve ser percebido como um processo dinâmico, e não como um sistema estático de indicadores, não raras vezes com a exigência de métodos complexos para a sua estimativa.
Por Pollyana Bonvecchi 27 de março de 2025
Recentemente, montei uma estrutura para conduzir um processo seletivo de voluntárias aqui na Phomenta. Algumas pessoas me perguntaram por que eu estava desenvolvendo etapas que deixariam o processo mais complexo e se eu não tinha receio de que as pessoas desistissem devido à complexidade. Vou compartilhar o que respondi, explicar a importância dessa estrutura e como conseguimos atrair e manter perto de nós as pessoas que realmente querem contribuir. Por que desenhar um processo seletivo estruturado para voluntárias? Desenhar um processo seletivo com etapas claras e bem definidas é essencial para assegurar que as candidatas se comprometam verdadeiramente com cada fase e reflitam se o voluntariado faz sentido para elas. Esse tipo de processo não é apenas uma forma de selecionar os melhores talentos, mas também de verificar se aquelas que se juntam a nós compartilham dos nossos valores e estão alinhadas com o nosso propósito. Um processo seletivo mais detalhado permite identificar quem está realmente disposta a se envolver e quem está apenas explorando uma oportunidade. Divulgação da vaga Para começar, definimos claramente os papéis e responsabilidades, além do tempo de dedicação esperado para as voluntárias. Tudo isso foi explicitado na divulgação da vaga, para que, desde o início, as expectativas estivessem claras para as interessadas. Primeira etapa - triagem de candidatas Após receber as inscrições, realizamos uma triagem criteriosa, avaliando as competências e habilidades das candidatas. Selecionamos aquelas que mais se alinhavam com o perfil que buscávamos e enviamos um e-mail informando sobre as próximas etapas do processo. Segunda etapa - entrega e dinâmica de grupo Nesta etapa, solicitamos uma tarefa prática e informamos que haveria uma dinâmica em grupo. Esse momento foi crucial para observar o comprometimento das candidatas e, como esperado, algumas pessoas desistiram. Isso, no entanto, deixou apenas aquelas que estavam realmente interessadas em seguir adiante e que tinham um verdadeiro desejo de contribuir. Terceira etapa - Seleção final Com base nas etapas anteriores, escolhemos as candidatas que melhor atenderam aos critérios e que demonstraram maior afinidade com a cultura da Phomenta. Em seguida, comunicamos as selecionadas e agendamos da integração para integrar aquelas que iriam começar conosco. Integração A integração na Phomenta é muito mais do que uma simples introdução. É o momento propositivo para apresentarmos o propósito da nossa organização e garantir que todas estejam na mesma sintonia, super motivadas a alcançar os nossos objetivos. Quando nossas voluntárias entendem o impacto social que o seu trabalho pode gerar, o engajamento cresce e o compromisso fica mais forte. Assim como toda nova integrante de um time, as voluntárias precisam mergulhar na nossa cultura organizacional. A integração é uma oportunidade para elas se familiarizarem com características fundamentais da nossa cultura dentro da Phomenta: como nos comunicamos, como trabalhamos, e quais comportamentos valorizamos. Isso facilita a adaptação e ajuda as voluntárias a se sentirem parte do nosso grupo desde o primeiro dia! Durante a integração, é essencial esclarecer o que esperamos de cada uma, desde funções e responsabilidades específicas até o impacto que seu trabalho terá. Essa clareza evita confusões e permite que as voluntárias saibam exatamente como podem brilhar e fazer a diferença. Uma integração bem-planejada faz toda a diferença! Ela aumenta o comprometimento das voluntárias e ajuda a reduzir a rotatividade. Quando elas se sentem acolhidas, bem-informadas e preparadas, é muito provável que continuem engajadas e contribuam com a gente por um bom tempo. Além disso, a integração é a chance perfeita para construir conexões genuínas entre voluntárias e phomenters. Ela cria aquele sentimento gostoso de comunidade e pertencimento, que é essencial para manter a motivação em alta. E tem mais: durante a integração, incentivamos as voluntárias a darem seu feedback sobre a experiência. Isso nos ajuda a fazer ajustes e melhorias, garantindo que todas se sintam apoiadas e que nossa abordagem esteja sempre alinhada com as expectativas. A seguir alguns comentários sobre o processo:
Por Pamela Lima 20 de março de 2025
Você sabia que o marketing no ambiente digital (ou marketing digital como popularmente ficou conhecido) é uma ferramenta importante para divulgação de serviços, produtos e, também, para a promoção do impacto social? Isso mesmo que você leu! Organizações do Terceiro Setor que investem em uma comunicação eficaz conseguem ampliar a visibilidade de suas ações e engajar o território em suas causas. Deixe a gente explicar melhor. Neste artigo queremos apresentar algumas estratégias práticas e exercícios para auxiliar ONGs, coletivos e projetos sociais na criação de conteúdos assertivos, utilizando algumas práticas de produção de conteúdo, visando garantir maior alcance do público nas mídias sociais. Por que o marketing digital para causas? – Comece pelo porquê Compreender o “porquê” por trás da causa é o primeiro passo para uma comunicação eficiente. Para as organizações do Terceiro Setor, transmitir claramente seus valores e objetivos fortalece a identificação do público com a causa de atuação e gera confiança. Então, vamos ao exercício de reflexão Pergunta: "qual é o propósito principal da nossa organização e como podemos transmiti-lo de forma clara?" Atividade: reúna a equipe para listar os valores e objetivos essenciais de sua causa e definição, em uma frase simples, o “porquê” de sua organização existir. Exemplo prático para uma ONG na área da saúde: Possível resposta: "Nosso propósito é garantir acesso a serviços de saúde de qualidade, promovendo a prevenção e o cuidado contínuo." Forma de transmissão: crie uma frase curta e de efeito, como: "Cuidamos da saúde para transformar vidas”. Sugestões de conteúdos e formatos para o Instagram: Posts no Feed Imagens informativas: use gráficos ou ilustrações que destaquem dados importantes sobre a necessidade de acesso à saúde no território. Exemplo: infográficos com estatísticas sobre a falta de atendimento médico em regiões vulneráveis. Depoimentos de beneficiários: publique fotos e relatos de pessoas que receberam atendimento ou tiveram suas vidas transformadas pelo trabalho da ONG. Exemplo: "Conheça a história da Maria, que encontrou saúde e qualidade de vida através de nossas campanhas contra a hipertensão." Segundo estudos na área, a comunicação dos valores fortalece o engajamento e potencializa o impacto social das iniciativas (ACEVEDO et al. 2020). Como o marketing digital impulsiona a divulgação das ações sociais da sua ONG? Bom, não existe uma resposta certa, mas um primeiro passo importante é “inspirar para transformar”. A presença nas redes sociais permite que as ONGs contem suas histórias de maneira autêntica e humanizada. O uso de conteúdos visuais, vídeos e depoimentos reais torna a mensagem mais próxima e tem o potencial de criar uma conexão genuína com o leitor. Perguntas práticas que podemos fazer para começar a produção de conteúdo: "Que histórias reais podemos contar para demonstrar nossa atuação e os benefícios gerados?" "Como podemos incluir depoimentos dos beneficiários para criar uma conexão emocional?" Exemplo prático para uma ONG na área da saúde: Possível resposta 1: "Podemos contar a história de crianças que, após participarem de nossos programas de educação, demonstram maior interesse pelos estudos e melhor desempenho escolar”. Possível resposta 2: "Podemos incluir depoimentos de pais e educadores que evidenciem a importância dos nossos programas na formação das crianças e na promoção de um ambiente de aprendizado mais inclusivo”. Possibilidade de Post no feed: use imagens que mostrem as crianças em atividades educativas, com legendas que explicam os benefícios dos projetos. Exemplo: uma imagem de uma sala de aula interativa com a legenda: "Descubra como nossas atividades lúdicas despertam o amor pelo aprendizado e transformam o futuro dos pequenos." Essa abordagem, fundamentada na transparência, potencializa a mobilização de seguidores e contribui para a ampliação do alcance das ações (GALLEGO; GALINDO, 2007). O que se espera do marketing digital na divulgação de ações de impacto? É importante sabermos que quando falamos sobre marketing digital e, principalmente, de redes sociais, que o que gera conexão sempre será um bom caminho. E, é preciso lembrar que uma boa estratégia digital é medida pela capacidade de transformar visualizações em engajamento efetivo. Para tanto, é fundamental criar conteúdos que falem diretamente ao público-alvo, evitando jargões e termos técnicos que possam dificultar a compreensão. Mas, afinal, como saber o interesse do público da organização? Exercício de Planejamento de Conteúdo Pergunta: "Quais dúvidas e interesses do nosso público podemos responder em nossos conteúdos?" Atividade: realizar uma pesquisa interna ou consultar as redes sociais para identificar as principais perguntas dos seguidores e, em seguida, criar conteúdos sobre temas relevantes e acessíveis. Exemplo para uma ONG Ambiental: Possíveis resposta em relação às dúvidas: "Como a poluição afeta a biodiversidade local?" "Quais são as melhores práticas de reciclagem para reduzir o impacto ambiental?" "Como posso contribuir para a preservação das matas e florestas em meu território?" O que pode ser relevante a partir da resposta: Dicas práticas para reduzir o consumo de plástico. Informações sobre projetos locais de reflorestamento. Estudos de caso que mostram o impacto positivo de ações de conservação. Sugestões de conteúdos e formatos para Instagram: Posts no feed: crie gráficos simples que explicam, por exemplo, como a reciclagem contribui para a diminuição da poluição e a preservação dos recursos naturais. Estudos indicam que uma linguagem simples e direta amplia o alcance e facilita o engajamento, transformando a comunicação em uma ferramenta de mobilização (SILVA et al., 2017). Exercícios e perguntas adicionais para a produção de conteúdo Para aprofundar a estratégia de comunicação, as ONGs podem utilizar os seguintes questionamentos: Identificação da causa "Quais desafios nossa causa enfrenta e como nossas ações podem contribuir para superá-los?" Engajamento do público "Qual formato de conteúdo (texto, imagem, vídeo) gera mais interação com nosso público?" Resultados e impacto "Como podemos medir o sucesso de nossas campanhas? Quais indicadores refletem o engajamento e a mobilização da comunidade nas redes?" Autenticidade da comunicação "Estamos comunicando nossa mensagem de maneira clara e verdadeira? Como podemos simplificar ainda mais nosso discurso?" A realização de sessões de brainstorming e feedback com a equipe contribui para responder essas questões e aprimorar a estratégia de comunicação. Conclusão: conectando causas e pessoas com marketing digital O marketing digital, quando bem aplicado, tem um potencial muito grande de transformar a divulgação das ações de ONGs nas redes sociais. Essa transformação pode ter objetivos diversos para a organização, como atrair novos doadores, demonstrar ao território a ação ou ganhar mais espaço e reconhecimento pelo trabalho realizado. A combinação de uma comunicação clara, conteúdos de interesse do público e estratégias que conectam gera um ambiente favorável para o engajamento e a mobilização social. E tem pergunta adicional logo abaixo: Pergunta final para reflexão "De que forma nossa comunicação pode evoluir para inspirar e engajar ainda mais pessoas com a nossa causa?" Como vimos, o alinhamento entre estratégia digital para redes sociais e missão social é crucial para a promoção de imagem, engajamento e divulgação de causas em ações de impacto. Referências: As referências que você verá a seguir serviram de inspiração para a criação do conteúdo, e não para a transcrição literal de citações. Ou seja, o texto foi elaborado com base no contexto geral e nas ideias presentes nos artigos, mas não são citações diretas, transcritas na íntegra: SILVA, Vanessa Oliveira da; ALBINO, Andréia Aparecida; DUQUE, Luciano Polisseni; CALDEIRA, Tharcisio Alexandrino. Análise da literatura publicada no Brasil sobre marketing social e marketing de causas sociais. Revista Acadêmica de Administração , v. 10, n. 155-165, 2017. Disponível em:<[ https://www.viannasapiens.com.br/revista/article/view/97/83 ]>. Acesso em: 30 jan. 2025. GALLEGO, Angélica Helena Santini Montes; GALINDO, Daniel dos Santos. Criança Esperança: exemplo do marketing de causas sociais, articulado pelas relações públicas. In: V CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA, 2007, São Paulo. Anais... São Paulo: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2007. Disponível em: <[ http://www.intercom.org.br/papers/outros/hmidia2007/resumos/R0193-1.pdf] >. Acesso em: 30 jan. 2025. ACEVEDO, Claudia Rosa; OLIVEIRA, Leonardo Domingues de; SILVA, Rafael Mendes; CATÃO, Bruno Alves. Percepção de consumidores sobre ações de marketing de causa de empresas privadas . South American Development Society Journal , São Paulo, v. 6, n. 17, p. 40-58, 2020. Disponível em: https://www.sadsj.org/index.php/revista/article/view/300 . Acesso em: 3 fev. 2025.
Por Rodrigo Cavalcante 13 de março de 2025
Este é o último artigo da série “Decisões no Terceiro Setor”. Após discutir sobre as decisões no Terceiro Setor e apresentar um modelo para estruturar as decisões, chegou a hora de apresentar diferentes modelos para a etapa de decisão.
Por Rodrigo Cavalcante 6 de março de 2025
No artigo anterior , discuti sobre algumas das características que diferenciam o Terceiro Setor, além de decisões difíceis que toda liderança de uma ONG enfrenta em sua rotina. E, seguindo a sequência de conteúdos, aaixo compartilharei sobre as etapas de uma decisão com base na literatura do tema. Na liderança de uma organização e na correria do dia a dia, um dos maiores erros que podemos cometer é não estruturar as informações para tomar uma decisão difícil ou importante. O cansaço e/ou a falta de tempo acabam nos levando para um caminho de escolher uma opção pela intuição ou a que soa mais razoável, sem de fato entender nosso verdadeiro objetivo ou explorar e esgotar todas as alternativas possíveis. Uma coisa que aprendi liderando equipes, áreas e uma organização é que nem toda decisão precisa ser tomada no momento em que uma decisão é demandada de você ou de um grupo do qual você faz parte. Com exceção de emergências, quando cada segundo é valioso, podemos pedir mais tempo para refletir melhor sobre as opções levantadas, conversar com outras pessoas e pensar em novas opções. As etapas da tomada e decisão John Hammond, Ralph Keeney e Howard Raiffa apresentam em seu livro “Decisões Inteligentes” um modelo formado por cinco etapas: Problema Qual problema estamos tentando resolver? Muitas vezes partimos para a solução sem delimitar o problema que buscamos solucionar. Objetivo Qual o objetivo principal ao se tomar essa decisão? Alternativas Criação de alternativas viáveis para avaliação posterior Consequências Quais as consequências de cada alternativa? Ao escolher uma alternativa, o que ela gera além de tentar resolver o problema? Concessões (tradeoffs) Dificilmente uma alternativa atenderá todos os objetivos e resolverá completamente um problema difícil e complexo. Ao escolher uma alternativa, do que estou abrindo mão? Decisão Após avaliar e comparar as alternativas, chegou a hora de decidir. Estruturar a decisão seguindo as etapas com certeza ajudará a refletir para uma decisão mais consciente e melhor. Porém, isso não significa um resultado melhor. Aprendemos na prática em nossa vivência nas organizações que não é possível controlar todos os resultados após a tomada de uma decisão. Ou seja, diversos fatores externos influenciarão no resultado final (fenômeno este muito presente na avaliação de impacto, na qual se discute como isolar os fatores externos), seja porque a equipe não executou como o planejado ou porque alguma nova informação (que surgiu após a decisão) evidenciou que a alternativa escolhida não era a melhor. “Uma boa decisão pode gerar um resultado negativo, assim como uma má decisão pode gerar um resultado considerado negativo” Afinal de contas, o que é uma boa decisão? Para Spetzler, Winter e Meyer, uma boa decisão deve atender a seis critérios: Abordagem apropriada para o problema - responde à pergunta ‘o que desejamos resolver?’. Alternativas criativas - o famoso pensar “fora da caixa”. Às vezes, estamos presos nas opções iniciais disponíveis, quando há uma alternativa melhor que ainda não emergiu. Informações relevantes e confiáveis - as informações coletadas apoiam na tomada de decisão e os dados e indicadores utilizados são confiáveis. Raciocínio lógico - é possível demonstrar a lógica da decisão na escolha da alternativa. Valores e concessões delimitados - os valores que embasam a decisão são explícitos e há consciência do que se está abrindo mão ao escolher uma alternativa em detrimento da(s) outra(s). Compromisso com a ação - a decisão direciona para um caminho. Sem ação, não há resultado na maioria das vezes (como quase tudo tem exceção, em algumas decisões há a alternativa de não fazer nada). Portanto, sabendo que não conseguimos controlar 100% dos resultados, nosso foco deve ser em estruturar melhor a decisão para, a partir das informações disponíveis, escolhermos a melhor alternativa. Quando for avaliar uma decisão meses ou anos depois, lembre-se, foi a melhor decisão com as informações disponíveis naquele momento. Não adianta avaliar uma decisão como ruim considerando informações coletadas posteriormente. No próximo artigo e último da série “Decisões no Terceiro Setor” apresentarei alguns modelos de decisão, explorando os contextos em que cada modelo faz mais sentido. Enquanto isso faça a pré-inscrição da sua organização em nosso programas, clicando no link a seguir: https://www.phomenta.com.br/programas-ongs-pre-inscricao Fontes: Decision Quality: Value Creation from Better Business Decisions Smart Choices
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