Como fazer projetos sociais de educação verdadeiramente potentes e transformadores?

22 de setembro de 2022

Este conteúdo foi produzido por Ana Carolina Ferreira (Partilha)

Apesar de estar defendendo aqui nessa série de 2022 em meus dois primeiros textos a indissociabilidade entre Educação e Desenvolvimento Social e a potência dos projetos sociais de educação na promoção do desenvolvimento, acho importante pontuar que não basta “juntar” crianças e adolescentes em uma sala para promover processos de desenvolvimento. Só podemos considerar que um processo é educativo, de fato, quando há intencionalidade pedagógica e, para isso, uma concepção clara de educação, de ser humano e, no nosso caso, de sociedade.


Em primeiro lugar, é preciso acreditar que as pessoas se desenvolvem. Se não houver essa perspectiva, as ações sociais voltadas para a infância e adolescência podem ser apenas recreativas ou, no máximo, preventivas à exposição a situações de vulnerabilidade e violência. Veja bem, não estou dizendo que esses aspectos não são importantes, mas pretendo, com esse texto de hoje, provocar uma ampliação de olhar para os processos educacionais promovidos no contexto do terceiro setor.


O paradigma do Desenvolvimento Humano da ONU, cunhado no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com grande colaboração de Amartya Sen, diz que “ o que uma pessoa se torna ao longo da vida depende de duas coisas: das oportunidades que teve e das escolhas que fez. Além do acesso às oportunidades, as pessoas precisam ser preparadas para fazer escolhas. (...) Desenvolvimento humano, no sentido mais amplo, pode ser definido como o processo que assegura a ampliação do leque de opções e oportunidades das pessoas”. Por tanto, a partir dessa concepção, acredita-se que o ser humano tem potencial para o desenvolvimento e é nosso papel ofertar deliberadamente oportunidades para que esse processo ocorra.


Outro aspecto importante sobre a concepção de ser humano que aqui defendemos — e que pode ser percebida ao longo dos textos — é que ele é multidimensional, ou seja, é composto por diversas dimensões que se interrelacionam e, por isso, todas elas podem e devem ser desenvolvidas. Essa é uma concepção que tem raízes históricas e também diversos pensadores atuais que a reforçam e ampliam como a própria proposta de Educação Integral defendida na Base Nacional Curricular que se baseou nessa perspectiva.


Podemos pensar no “homem grego”: eros, pathos, ludos e logos; na antroposofia que menciona dimensões como pensar, sentir e querer atuando concomitantemente; nas inteligências múltiplas de Gardner; na teoria de Vygotsky que aponta que entre o desenvolvimento atual e o potencial devem ser mediadas ações que ajudem a pessoa a atingir esse potencial; nas próprias metodologias da Educação Corporativa; enfim, olhar para esse ser humano em desenvolvimento por diversas vias é fundamental para fazer um processo eficaz e eficiente de educação no terceiro setor. Assim, um bom caminho metodológico para as organizações é identificar e definir qual ou quais vias de desenvolvimento os projetos sociais que propõem se aplicam e como é possível, por meio de cada uma dessas dimensões, potencializar as pessoas e os grupos que estão participando dos processos.


Considerando, portanto, o indivíduo como um ser multidimensional e com potencial de desenvolvimento, podemos agora falar um pouco sobre nossa concepção de educação. Já dissemos aqui que, para nós, a educação é um processo, baseado em uma oferta diversificada de oportunidades, que visa à integração social e à formação para a cidadania. É também uma forma de contribuir para a transformação social a partir do desenvolvimento dos indivíduos. E, parafraseando Rubem Alves, a educação serve não para ensinar as respostas que nos permitem andar sobre terra firme, mas para ensinar as perguntas, que nos permitem andar pelo desconhecido.


E nossa concepção de sociedade é também uma utopia, daquela do Eduardo Galeano, que nos faz caminhar. Uma sociedade forte é composta por pessoas que conseguem integrar o eu & o outro. Pessoas que sabem dizer de seus direitos e de seus deveres, de seus sonhos e também que assumem suas responsabilidades. Pessoas que se relacionam de forma saudável com o outro, numa construção constante da própria com-unidade.


Para nós, organizações sociais que ofertam projetos educativos são potentes quando compõem uma rede de transformação a partir de uma educação que fornece oportunidades também potentes de desenvolvimento. Os projetos sociais de educação, devidamente construídos a partir das demandas e das potencialidades de desenvolvimento dos indivíduos e das comunidades, podem, sim, gerar impacto social quando acreditam e trabalham conscientemente para isso!




Ana Carolina Ferreira, apaixonada por educação e terceiro setor, graduada em Letras, especialista em Gestão de Projetos e graduanda em Psicologia. Fundadora da Partilha, dedica-se ao desenvolvimento de pessoas, empresas e instituições sociais, assessorando programas educacionais. Contato: anacarolina@partilha.udi.br


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