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Advocacy: o que é e como construir uma estratégia de impacto?

jun. 09, 2022

Este conteúdo foi produzido por Vitor Freitas


Cada vez mais, vemos o termo “advocacy” ganhando espaço – sobretudo no terceiro setor. Mas o que é e de onde vem essa prática? 


O que é


O termo “advocacy” é derivado do verbo em inglês “advocate”, que significa "advogar", defender ou argumentar em prol de algo. Essa prática, a qual tem ganhado cada vez mais atenção nos últimos anos, pode ser definida como um conjunto de estratégias, ações e ferramentas para reivindicar direitos, elaborar e implementar políticas públicas e causar transformações positivas na sociedade. 


No terceiro setor, esse tipo de prática é comum há muito tempo: organizações e grupos da sociedade civil, por exemplo, pautam mudanças frente ao poder público e exigem transformações e novas políticas que funcionem para o benefício da sociedade. Hoje, essa prática ganhou um nome específico: o advocacy. 


Advocacy e o 3º Setor


Toda organização do terceiro setor atua dentro de uma causa, e toda causa influencia e é influenciada por um conjunto de comportamentos coletivos, de sistemas e de políticas públicas. Quando se criam estratégias e ações para atuar em um desses grandes fatores, é possível multiplicar o impacto que a organização consegue causar. 


Fazer advocacy é uma forma de gerar mudanças capazes de transformar a vida de inúmeros indivíduos e comunidades. Grandes transformações que ocorreram na sociedade não caíram do céu, mas foram frutos de um conjunto de ações de organizações sociais e demais grupos organizados da sociedade civil. 


Advocacy X lobby 


Quando se fala de advocacy, é muito comum igualar esse termo com o lobby. Embora em alguns lugares seja conhecido como o “lobby do bem”, o advocacy tem algumas diferenças importantes em relação a essa prática. 
O lobby também envolve o interesse de grupos em transformar a política vigente, a alocação de recursos e criação de políticas públicas, mas isso geralmente é feito a partir de um interesse individual que pode ou não ser de interesse público. Geralmente, é realizado por meio do contato direto, com foco nos tomadores de decisão.


Já o advocacy parte de interesses amplos e coletivos, que busquem gerar transformação social a partir de políticas públicas. Pode ser feito por meio de diferentes estratégias de conscientização e mobilização da sociedade para defender uma causa e/ou grupos marginalizados. 


Um exemplo prático sobre a diferença entre lobby e advocacy é a luta contra as mudanças climáticas. De um lado, observamos as empresas de combustíveis fósseis, que buscam influenciar a agenda pública para benefício próprio. De outro, temos organizações da sociedade civil, as quais mobilizam parcelas da sociedade para lutar contra a crise climática e geram informações científicas e dados sobre o tema, além de realizar pressão para a mudança de políticas públicas.


8 passos para construir uma estratégia de advocacy


Uma vez esclarecida a importância desse tema, podemos partir para a mão na massa. Para construir uma boa estratégia de advocacy, é importante seguir alguns passos para se ter certeza de que todos os processos, recursos, riscos e oportunidades estejam mapeados pela organização.


1º Passo: Delimite o problema 


É importante que esteja claro qual é o problema que se deseja atingir e quais tipos de mudanças a organização deseja causar. Algumas perguntas podem ajudar nesse processo, tais como: “o que pretendo resolver?”, “quais as causas dessa situação?” e “qual mudança quero gerar?”.


2º Passo: Defina seus objetivos


Depois de entender qual o problema central, é importante definir objetivos claros – sempre tendo em mente que não conseguimos abraçar o mundo todo. Por isso, precisamos quebrar um grande problema em pequenos pedaços para trabalhar. Procure elencar até três objetivos para não perder o foco.


Por exemplo, se a sua causa for o acesso à educação e o seu problema central, a falta de escolas em bairros periféricos, um objetivo poderia ser a criação de escolas públicas na periferia que consigam atender à demanda de alunos. 


3º Passo: Conheça o processo


Antes de começar a colocar a mão na massa, é importante conhecer o processo que a ONG deseja influenciar. Também será necessário conhecer sobre as etapas, as regras, os procedimentos existentes e as pessoas com poder de decisão e seus interesses.


Advocacy é uma estratégia para influenciar políticas públicas, então é fundamental saber em qual política e contexto você deseja incidir. Ter clareza sobre o processo permite criar uma estratégia focada e muito mais assertiva para atingir seus objetivos. 


4º Passo: Mapeie seus parceiros e adversários


Além de conhecer os tomadores de decisão do processo, devemos conhecer quais pessoas ou grupos estão jogando contra e a favor da organização, quais são os obstáculos que existem no caminho e quais são as partes interessadas que podem ajudar.


Nesse passo, é importante considerar não apenas pessoas físicas, mas também elementos estruturais e conjunturais e vontades políticas – os quais podem influenciar sua estratégia de luta por direitos. Reflita sobre os opositores e sobre as ameaças e os riscos que sua estratégia pode apresentar.


5º Passo: Aprofunde-se no tema 


Conheça o que outras organizações, coletivos e pessoas estão fazendo pela causa. Esse tipo de conhecimento pode ajudar tanto na geração de ideias para seu plano de ação, como também para expandir a rede de contatos e possíveis parceiros. 


6º Passo: Entenda quais recursos você tem e de quais precisa


Neste passo, é importante olhar para dentro da organização e entender quais são os recursos que você possui, seus pontos fortes e também as lacunas que você precisa preencher. Aqui, é essencial que estejam mapeadas as parcerias que você tem e também aquelas que você precisa construir para atuar de forma estratégica.
Algumas perguntas que podem ajudar nesse passo são: “quanto tempo disponível você possui?”, “quanto dinheiro disponível você tem e como poderia arrecadar mais?” e “você possui parcerias engajadas?”.


7º Passo: Monte uma estratégia 


Uma estratégia de advocacy geralmente possui quatro eixos principais, e você pode desenvolver todos eles ou apenas alguns. São os seguintes: 


  • Produção de conhecimento: construção de estudos, pesquisas e geração de dados que busquem explicar o problema e a necessidade de solucioná-lo;


  • Comunicação: desenvolvimento de mensagens claras, que comuniquem sobre o problema e sobre sua importância. Uma dica é focar a mensagem na possibilidade de solução, e nunca no problema em si;


  • Mobilização: esse é o eixo focado em atrair outras pessoas e organizações a atuarem na causa e somarem à sua estratégia. A ideia, aqui, é trabalhar para aumentar o alcance e a força dessa luta;


  • Influência nos tomadores de decisão: agir diretamente com as pessoas que têm poder de decidir sobre o tema; conversar e articular-se com o poder público para tentar mudar diretamente o cenário.


Defina em qual(is) eixo(s) você desenvolverá suas ações e comece a estruturar um plano de ação com base nos recursos disponíveis. Tenha em mente que o advocacy é uma estratégia que pode utilizar muitos caminhos diferentes para atingir seu objetivo.


8º Passo: Acompanhe e avalie os resultados


Por fim, depois de ter definido seu problema, objetivos e estratégias, é importante acompanhar os resultados da sua atuação. Defina as metas que deseja alcançar, monitore os resultados, verifique se as ações que realizou estão acontecendo dentro do prazo etc. 


Monitorar sua estratégia é importante para saber a hora de recalcular a rota quando necessário e de buscar novas parcerias para atingir a transformação desejada.


Esses oito passos servem para te apoiar na construção de uma boa estratégia de advocacy e podem ser utilizados independentemente do tamanho de sua organização. É possível adaptá-los para cada contexto a partir dos recursos disponíveis e de seus objetivos. 


O advocacy é uma das formas de exercer o nosso direito democrático, de gerar transformações positivas na sociedade e de defender as causas e lutas nas quais acreditamos. É um processo de construção, que deve ser celebrado a cada passo dado em direção à mudança. 



Revisão: Flávia D'Angelo (Phomenta).



Vitor Freitas, do time de Aceleração Social da Phomenta.


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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