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Turismo Sustentável: tendências e oportunidades para organizações sociais

nov. 16, 2023

Por Leandra Santos


Através da própria experiência com a temática, o Insituto Bancorbrás trás dicas de como o turismo pode ser uma oportunidade para organizações sociais. Vale a pena conferir:

Quando falamos de turismo vem em mente férias, visitas em locais turísticos e culturais, eventos ou até mesmo realizar viagens de negócios, ou esportivas. Neste artigo, abordaremos como o turismo pode ser um importante aliado ao propósito de geração de impacto positivo na sociedade.


Entre os diversos benefícios proporcionados por meio do turismo, cabe destacar a contribuição direta à economia. Conforme divulgado pela Organização Mundial do Turismo - OMT, em 2019, foi registrado o recorde de 1,4 bilhão de viagens internacionais e a estimativa é que esse número chegue a 1,8 bilhão em 2030. Já os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, indicam que o turismo no Brasil contribui, diretamente, para cerca de 3,7% do PIB nacional e 3% do total de empregos no país.


Percebe-se o quanto o turismo é relevante na geração de renda e, consequentemente, no desenvolvimento social e econômico do país. Mas, é importante indicar que a exploração turística também pode desencadear impactos negativos como, por exemplo, a degradação do meio ambiente e a descaracterização da cultura do local visitado.


Diante de tantos desafios é necessário repensar o modelo de negócio e investir ainda mais na busca por meios mais sustentáveis, além disso, observou-se que devido à pandemia da COVID-19, houve o crescimento por parte dos turistas na procura de experiências que consideram esses aspectos, como o Turismo Sustentável, que abordaremos logo a seguir o conceito e os benefícios. 


O que é Turismo Sustentável? 


O Turismo Sustentável, também conhecido como turismo responsável ou eco consciente, é uma abordagem que busca minimizar os impactos negativos no meio ambiente, na cultura local e na economia, ao mesmo tempo, em que promove benefícios positivos para todas essas áreas. Segundo a OMT é o “turismo que considera plenamente seus atuais e futuros impactos econômicos, sociais e ambientais, abordando as necessidades dos visitantes, da indústria, do meio ambiente e das comunidades locais”.


Já o Conselho Global de Turismo Sustentável - GSTC complementa o conceito da OMT afirmando que:


“Turismo sustentável deve fazer uso otimizado dos recursos ambientais que constituem um elemento-chave no desenvolvimento do turismo, mantendo processos ecológicos essenciais e ajudando a conservar o patrimônio natural e a biodiversidade; respeitar a autenticidade sociocultural das comunidades anfitriãs; conservar seu patrimônio cultural, seus valores tradicionais e contribuir para a compreensão e tolerância interculturais; garantir operações econômicas viáveis e de longo prazo, fornecendo benefícios socioeconômicos a todas as partes interessadas que sejam distribuídas de maneira justa, incluindo oportunidades estáveis de geração de emprego, renda e serviços sociais para as comunidades anfitriãs, contribuindo para o alívio da pobreza”.


Abaixo, seguem os principais benefícios gerados por esse modelo:


  • Conservação Ambiental e o Respeito à Cultura: visa proteger a natureza e os ecossistemas. Envolve a minimização da poluição, a conservação da biodiversidade, o uso responsável de recursos naturais e a promoção de práticas amigas do ambiente. Outra premissa é a de respeitar e promover a cultura, tradições e patrimônio local, envolvendo as comunidades no planejamento e no benefício do turismo, em vez de explorá-las.
  • Benefícios Econômicos Equitativos: procura distribuir os benefícios econômicos de forma justa, contribuindo com o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. Isso pode ser alcançado por meio da criação de empregos na região, do estímulo ao empreendedorismo local e do apoio a pequenos negócios.
  • Educação e Conscientização: os turistas e os envolvidos na cadeia produtiva do turismo são incentivados a adotar práticas sustentáveis e a compreender o impacto de suas ações, sendo a educação uma parte importante.
  • Planejamento e Gestão Responsável: os destinos turísticos são incentivados a realizar um planejamento adequado e a implementar regulamentações que promovam o turismo sustentável, entre eles: incluir limites à capacidade de visitação e diretrizes para o desenvolvimento de infraestrutura.



Case Instituto Bancorbrás


Antes de indicarmos as oportunidades às organizações sociais, é importante relatarmos brevemente nossa experiência até aqui, porque estamos em processo constante de aprendizado e trocas de experiências. 


Quando nós, do Instituto Bancorbrás, uma Organização da Sociedade Civil-OSC que empreende ações sociais por meio de Investimento Social Privado, iniciamos os estudos de viabilidade de implementação de alguma iniciativa que pudesse nos aproximar do principal negócio da mantenedora, que é o turismo, também nos perguntamos como que esse modelo de negócio poderia unir o social e, consequentemente, a geração de diferencial competitivo para as empresas Bancorbrás. 


Após o brainstorming¹ com a equipe e, também, com as áreas de negócios das empresas Bancorbrás, a resposta encontrada foi o Turismo Sustentável, conforme conceito abordado no tópico acima podemos resumir que a comunidade é a protagonista no desenvolvimento de experiências² aos turistas, ou seja, a população local são os responsáveis pelo planejamento, execução e o gerenciamento das atividades turísticas, com o devido cuidado de preservar o meio ambiente e a cultura local. 


Nesses quase três anos, mergulhamos nesta agenda³ sustentável voltada ao Turismo. A primeira experimentação foi o lançamento de um edital diretivo para identificarmos quais eram as iniciativas já existentes junto às organizações parceiras, situadas em regiões turísticas do país, e a nossa surpresa foi que não recebemos nenhuma inscrição voltada a essa categoria e quando perguntamos o motivo nos indicaram a falta de conhecimento da temática.

Diante dos resultados alcançados, a próxima estratégia implementada foi o mapeamento no território nacional, para tanto, lançamos o banco de projetos para compreendermos na íntegra qual a relevância da iniciativa na comunidade em que se pretendia e/ou eram realizadas as ações de Turismo Sustentável, ou seja, sem qualquer interferência ou indicativo de critérios como previsto em um edital, por exemplo. Neste processo tivemos em média 16 propostas cadastradas e no funil de seleção contamos com 5 etapas: pré-análise das propostas, entrevistas com os proponentes, visitas in loco, análise de viabilidade de investimento das três finalistas e a seleção da proposta. Na etapa de visitas in loco estivemos nas regiões do Ceará, Bahia, São Paulo e Amazonas.


Entre as experiências marcantes neste período, tivemos a expedição Rio Negro, na floresta Amazônica-AM, no formato do Turismo de Base Comunitária - TBC. Esse formato envolve ativamente os membros da comunidade no planejamento, desenvolvimento e operação das atividades turísticas, desde a oferta de serviços de acomodação, guias turísticos, experiências culturais e outras atividades relacionadas ao turismo.


Foram 5 dias imersivos na comunidade de Acajatuba, em que tivemos a oportunidade de conhecer a culinária local, os atrativos culturais como o artesanato e a dança carimbó, mas, o principal, foi o de se conectar e trocar experiências, além de aprender com pessoas incríveis e inspiradoras daquela região. Em todo esse processo, conseguimos constatar o quanto o turismo de forma sustentável pode transformar positivamente a realidade de uma comunidade inteira. Conforme também afirmado pelo relato da Horenilde Gomes, proprietária da pousada Caboclo's Ecolodge, roteiro Expedição Amazônia Rio Negro (AM):  “Estamos com o nosso negócio bem divulgado, fomos fortalecidos e muito bem preparados. Já tive melhorias como o aumento da capacidade da pousada, que tem gerado renda para a comunidade. O nosso maior orgulho é falar de transformação, o mundo precisa desse fortalecimento sustentável.”


Após adquirirmos o nível de conhecimento necessário e de realizarmos uma análise criteriosa de viabilidade de investimento, o próximo passo foi a de firmarmos parceria com a proposta selecionada, a Vivalá, que é uma organização especialista em Turismo Sustentável em unidades de conservação ambiental para o TBC, TBC de Aventura e Volunturismo, em comunidades tradicionais4. Para conhecer mais dessa parceria acesse o link a seguir: https://unbouncepages.com/ib-vivala/.


Até o momento, por meio da parceria, foram criados 9 destinos em comunidades tradicionais nas regiões de Kariri-Xocó - SE, Juatinga - RJ, Chapada Diamantina-BA, Jalapão-TO, Foz do Iguaçu-PR, Chapada dos Guimarães-MT, Petar e Tenodé Porã-SP. Para viabilizar a idealização de novos destinos, é necessário realizar visitas técnicas que envolvem pesquisas naturais, logísticas e comerciais para avaliar o potencial da região. Além disso, é feito o mapeamento dos atores locais5, a fim de criar experiências e oferecer roteiros seguros aos turistas, mobilizando toda a cadeia produtiva. Em outubro, embarcamos para o Rio de Janeiro para realizar uma visita técnica à Ilha Grande-RJ, considerada a maior ilha do estado e a sexta maior ilha marítima do Brasil.

No período de três dias fizemos a travessia trekking6   com quase 40 km em meio a Mata Atlântica e também na costa litorânea. A região já possui um volume considerável de turistas e a intenção com a implementação do TBC de Aventura é que as pessoas possam ter a oportunidade de imergir na comunidade caiçara7 da região.


Por meio dessa iniciativa com a Vivalá, em média, mais de 2.000 pessoas de comunidades tradicionais serão beneficiadas com o desenvolvimento social e econômico dessas localidades. Para o ano de 2024, temos como propósito dar ainda mais visibilidade a essas comunidades e que elas sejam cada vez mais protagonistas.

Turismo como oportunidade para as organizações sociais


Diante de tudo que compartilhamos até aqui, pode estar se perguntando: tá, mas e como essa iniciativa pode ser uma oportunidade para as ações desenvolvidas nas organizações sociais? De antemão, indicamos que são inúmeras possibilidades e abaixo, seguem algumas para inspiração: 


  • Parcerias com o trade turístico: podem estabelecer parcerias com empresas do ramo do turismo, como hotéis, companhias aéreas, agências de viagens, restaurantes e atrações turísticas. Essas parcerias podem envolver doações, descontos em serviços ou colaborações em campanhas de responsabilidade social corporativa.
  • Sensibilização: o turismo pode ser usado como uma plataforma para aumentar a conscientização sobre questões sociais. Por exemplo, as organizações podem realizar passeios temáticos que abordam questões específicas, como conservação ambiental, justiça social ou direitos humanos. Isso ajudará na disseminação de uma consciência sobre as causas e a promoção de ações para fazer a diferença na organização ou comunidade atendida.
  • Voluntariado e engajamento comunitário: o volunturismo permite que pessoas se envolvam em projetos sociais enquanto viajam. Organizações sociais podem coordenar oportunidades de voluntariado em destinos turísticos, permitindo que os viajantes contribuam com seu tempo e habilidades para causas locais.
  • Programas de treinamento e capacitação: o turismo pode ser usado para fornecer treinamento e capacitação a comunidades locais, ajudando-as a desenvolver habilidades que lhes permitam participar do setor do turismo, gerar renda e na contribuição para a profissionalização da comunidade local.
  • Promoção do turismo sustentável: desempenhar o papel de promotores aos turistas da região das práticas sustentáveis, como a importância da conservação dos recursos naturais e o respeito às culturas locais.


Parcerias com iniciativas de turismo sustentável: iniciativas que se dedicam ao turismo sustentável podem colaborar com organizações sociais para desenvolver roteiros de viagem que apoiem causas específicas, tais como: visitas a projetos sociais, comunidades locais e ações de conservação.


O turismo, quando bem integrado com iniciativas sociais, pode ser uma fonte valiosa de recursos e uma maneira efetiva de geração de impacto positivo na sociedade. Então, já tinham pensado nessa possibilidade? Vamos inovar?



¹ Brainstorming:  técnica utilizada para a geração e o debate de ideias, com objetivo de criar soluções para um desafio ou obter insights no desenvolvimento de algo novo. A palavra, traduzida do inglês, significa “tempestade de ideias”.

² Experiências turísticas: busca proporcionar ao turista momentos marcantes e únicos durante a viagem, através de ofertas inovadoras, diferenciadas e inesquecíveis.

³ Agenda 2030: é um compromisso assumido por todos os países que compuseram a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015 – os 193 Estados-membros da ONU, incluindo o Brasil – e tornou-se a principal referência na formulação e implementação de políticas públicas para governos em todo o mundo.

4Comunidades tradicionais: são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. Os mais conhecidos são: indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

5Atores locais: são os agentes sociais e econômicos, indivíduos e instituições, que realizam ou desempenham atividades, ou, então, mantém relações num determinado território.

6Trekking: é uma caminhada mais longa, que pressupõe pernoite no meio natural, na maioria das vezes, acampando. Considerado um  nível mais avançado,que  exige mais esforço físico, habilidades, orientação pessoal e superação.

7Caiçara:  comunidades em que, em sua maioria, vivem em pequenas vilas onde praticam a pesca, a agricultura e o artesanato de acordo com suas necessidades, dos estados de São Paulo, Paraná e sul do Rio de Janeiro.


Referências



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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
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