Quando falamos de turismo vem em mente férias, visitas em locais turísticos e culturais, eventos ou até mesmo realizar viagens de negócios, ou esportivas. Neste artigo, abordaremos como o turismo pode ser um importante aliado ao propósito de geração de impacto positivo na sociedade.
Entre os diversos benefícios proporcionados por meio do turismo, cabe destacar a contribuição direta à economia. Conforme divulgado pela Organização Mundial do Turismo - OMT, em 2019, foi registrado o recorde de 1,4 bilhão de viagens internacionais e a estimativa é que esse número chegue a 1,8 bilhão em 2030. Já os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, indicam que o turismo no Brasil contribui, diretamente, para cerca de 3,7% do PIB nacional e 3% do total de empregos no país.
Percebe-se o quanto o turismo é relevante na geração de renda e, consequentemente, no desenvolvimento social e econômico do país. Mas, é importante indicar que a exploração turística também pode desencadear impactos negativos como, por exemplo, a degradação do meio ambiente e a descaracterização da cultura do local visitado.
Diante de tantos desafios é necessário repensar o modelo de negócio e investir ainda mais na busca por meios mais sustentáveis, além disso, observou-se que devido à pandemia da COVID-19, houve o crescimento por parte dos turistas na procura de experiências que consideram esses aspectos, como o Turismo Sustentável, que abordaremos logo a seguir o conceito e os benefícios.
O Turismo Sustentável, também conhecido como turismo responsável ou eco consciente, é uma abordagem que busca minimizar os impactos negativos no meio ambiente, na cultura local e na economia, ao mesmo tempo, em que promove benefícios positivos para todas essas áreas. Segundo a OMT é o “turismo que considera plenamente seus atuais e futuros impactos econômicos, sociais e ambientais, abordando as necessidades dos visitantes, da indústria, do meio ambiente e das comunidades locais”.
Já o Conselho Global de Turismo Sustentável - GSTC complementa o conceito da OMT afirmando que:
“Turismo sustentável deve fazer uso otimizado dos recursos ambientais que constituem um elemento-chave no desenvolvimento do turismo, mantendo processos ecológicos essenciais e ajudando a conservar o patrimônio natural e a biodiversidade; respeitar a autenticidade sociocultural das comunidades anfitriãs; conservar seu patrimônio cultural, seus valores tradicionais e contribuir para a compreensão e tolerância interculturais; garantir operações econômicas viáveis e de longo prazo, fornecendo benefícios socioeconômicos a todas as partes interessadas que sejam distribuídas de maneira justa, incluindo oportunidades estáveis de geração de emprego, renda e serviços sociais para as comunidades anfitriãs, contribuindo para o alívio da pobreza”.
Abaixo, seguem os principais benefícios gerados por esse modelo:
Antes de indicarmos as oportunidades às organizações sociais, é importante relatarmos brevemente nossa experiência até aqui, porque estamos em processo constante de aprendizado e trocas de experiências.
Quando nós, do Instituto Bancorbrás, uma Organização da Sociedade Civil-OSC que empreende ações sociais por meio de Investimento Social Privado, iniciamos os estudos de viabilidade de implementação de alguma iniciativa que pudesse nos aproximar do principal negócio da mantenedora, que é o turismo, também nos perguntamos como que esse modelo de negócio poderia unir o social e, consequentemente, a geração de diferencial competitivo para as empresas Bancorbrás.
Após o brainstorming¹ com a equipe e, também, com as áreas de negócios das empresas Bancorbrás, a resposta encontrada foi o Turismo Sustentável, conforme conceito abordado no tópico acima podemos resumir que a comunidade é a protagonista no desenvolvimento de experiências² aos turistas, ou seja, a população local são os responsáveis pelo planejamento, execução e o gerenciamento das atividades turísticas, com o devido cuidado de preservar o meio ambiente e a cultura local.
Nesses quase três anos, mergulhamos nesta agenda³ sustentável voltada ao Turismo. A primeira experimentação foi o lançamento de um edital diretivo para identificarmos quais eram as iniciativas já existentes junto às organizações parceiras, situadas em regiões turísticas do país, e a nossa surpresa foi que não recebemos nenhuma inscrição voltada a essa categoria e quando perguntamos o motivo nos indicaram a falta de conhecimento da temática.
Diante dos resultados alcançados, a próxima estratégia implementada foi o mapeamento no território nacional, para tanto, lançamos o banco de projetos para compreendermos na íntegra qual a relevância da iniciativa na comunidade em que se pretendia e/ou eram realizadas as ações de Turismo Sustentável, ou seja, sem qualquer interferência ou indicativo de critérios como previsto em um edital, por exemplo. Neste processo tivemos em média 16 propostas cadastradas e no funil de seleção contamos com 5 etapas: pré-análise das propostas, entrevistas com os proponentes, visitas in loco, análise de viabilidade de investimento das três finalistas e a seleção da proposta. Na etapa de visitas in loco estivemos nas regiões do Ceará, Bahia, São Paulo e Amazonas.
Entre as experiências marcantes neste período, tivemos a expedição Rio Negro, na floresta Amazônica-AM, no formato do Turismo de Base Comunitária - TBC. Esse formato envolve ativamente os membros da comunidade no planejamento, desenvolvimento e operação das atividades turísticas, desde a oferta de serviços de acomodação, guias turísticos, experiências culturais e outras atividades relacionadas ao turismo.
Foram 5 dias imersivos na comunidade de Acajatuba, em que tivemos a oportunidade de conhecer a culinária local, os atrativos culturais como o artesanato e a dança carimbó, mas, o principal, foi o de se conectar e trocar experiências, além de aprender com pessoas incríveis e inspiradoras daquela região. Em todo esse processo, conseguimos constatar o quanto o turismo de forma sustentável pode transformar positivamente a realidade de uma comunidade inteira. Conforme também afirmado pelo relato da Horenilde Gomes, proprietária da pousada Caboclo's Ecolodge, roteiro Expedição Amazônia Rio Negro (AM): “Estamos com o nosso negócio bem divulgado, fomos fortalecidos e muito bem preparados. Já tive melhorias como o aumento da capacidade da pousada, que tem gerado renda para a comunidade. O nosso maior orgulho é falar de transformação, o mundo precisa desse fortalecimento sustentável.”
Após adquirirmos o nível de conhecimento necessário e de realizarmos uma análise criteriosa de viabilidade de investimento, o próximo passo foi a de firmarmos parceria com a proposta selecionada, a Vivalá, que é uma organização especialista em Turismo Sustentável em unidades de conservação ambiental para o TBC, TBC de Aventura e Volunturismo, em comunidades tradicionais4. Para conhecer mais dessa parceria acesse o link a seguir: https://unbouncepages.com/ib-vivala/.
Até o momento, por meio da parceria, foram criados 9 destinos em comunidades tradicionais nas regiões de Kariri-Xocó - SE, Juatinga - RJ, Chapada Diamantina-BA, Jalapão-TO, Foz do Iguaçu-PR, Chapada dos Guimarães-MT, Petar e Tenodé Porã-SP. Para viabilizar a idealização de novos destinos, é necessário realizar visitas técnicas que envolvem pesquisas naturais, logísticas e comerciais para avaliar o potencial da região. Além disso, é feito o mapeamento dos atores locais5, a fim de criar experiências e oferecer roteiros seguros aos turistas, mobilizando toda a cadeia produtiva. Em outubro, embarcamos para o Rio de Janeiro para realizar uma visita técnica à Ilha Grande-RJ, considerada a maior ilha do estado e a sexta maior ilha marítima do Brasil.
No período de três dias fizemos a travessia trekking6 com quase 40 km em meio a Mata Atlântica e também na costa litorânea. A região já possui um volume considerável de turistas e a intenção com a implementação do TBC de Aventura é que as pessoas possam ter a oportunidade de imergir na comunidade caiçara7 da região.
Por meio dessa iniciativa com a Vivalá, em média, mais de 2.000 pessoas de comunidades tradicionais serão beneficiadas com o desenvolvimento social e econômico dessas localidades. Para o ano de 2024, temos como propósito dar ainda mais visibilidade a essas comunidades e que elas sejam cada vez mais protagonistas.
Diante de tudo que compartilhamos até aqui, pode estar se perguntando: tá, mas e como essa iniciativa pode ser uma oportunidade para as ações desenvolvidas nas organizações sociais? De antemão, indicamos que são inúmeras possibilidades e abaixo, seguem algumas para inspiração:
Parcerias com iniciativas de turismo sustentável: iniciativas que se dedicam ao turismo sustentável podem colaborar com organizações sociais para desenvolver roteiros de viagem que apoiem causas específicas, tais como: visitas a projetos sociais, comunidades locais e ações de conservação.
O turismo, quando bem integrado com iniciativas sociais, pode ser uma fonte valiosa de recursos e uma maneira efetiva de geração de impacto positivo na sociedade. Então, já tinham pensado nessa possibilidade? Vamos inovar?
¹ Brainstorming: técnica utilizada para a geração e o debate de ideias, com objetivo de criar soluções para um desafio ou obter insights no desenvolvimento de algo novo. A palavra, traduzida do inglês, significa “tempestade de ideias”.
² Experiências turísticas: busca proporcionar ao turista momentos marcantes e únicos durante a viagem, através de ofertas inovadoras, diferenciadas e inesquecíveis.
³ Agenda 2030: é um compromisso assumido por todos os países que compuseram a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015 – os 193 Estados-membros da ONU, incluindo o Brasil – e tornou-se a principal referência na formulação e implementação de políticas públicas para governos em todo o mundo.
4Comunidades tradicionais: são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. Os mais conhecidos são: indígenas, quilombolas e ribeirinhos.
5Atores locais: são os agentes sociais e econômicos, indivíduos e instituições, que realizam ou desempenham atividades, ou, então, mantém relações num determinado território.
6Trekking: é uma caminhada mais longa, que pressupõe pernoite no meio natural, na maioria das vezes, acampando. Considerado um nível mais avançado,que exige mais esforço físico, habilidades, orientação pessoal e superação.
7Caiçara: comunidades em que, em sua maioria, vivem em pequenas vilas onde praticam a pesca, a agricultura e o artesanato de acordo com suas necessidades, dos estados de São Paulo, Paraná e sul do Rio de Janeiro.
Referências
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