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Painel de Visualização de Dados (dashboard): Narrando o Impacto Social Positivo - Parte 2

nov. 16, 2023

No segundo artigo da série sobre visualização de dados vamos apresentar como a narrativa de dados pode auxiliar sua organização

No artigo anterior desta série foi abordado o que seriam painéis de visualização e qual a importância das visualizações para uma organização. Foi escolhido o Looker Studio para a criação de uma visualização de dados, pois ele é gratuito, é fácil de utilizar em comparação com outros softwares de visualização de dados e se conecta com diversos outros serviços da Google. 


Além disso, foi abordado como desenvolver um painel de visualização de dados no Looker Studio utilizando dados educacionais do INEP em um vídeo tutorial que será continuado nesta segunda parte do artigo. É recomendada a leitura do primeiro artigo da séria antes de ler essa segunda parte. Para acessá-lo entre
aqui.


Storytelling ou Narrativa de Dados


O Storytelling é a prática de contar histórias seguindo um caminho de início, meio e fim para levar seu público a entender ou concordar com algo. Essa prática é utilizada em diferentes áreas e por diferentes profissionais, por exemplo por Professores, Facilitadores e Advogados. Porém essa prática não se restringe a profissões que utilizam a comunicação verbal como principal ferramenta de trabalho. Assim, o Storytelling, ou  seja, a contação de histórias é importante para qualquer profissional, por exemplo um médico precisa saber como comunicar a família de um paciente de uma possível mudança em um tratamento, pois se ele não tiver cuidado ele pode ser mal interpretado e assustar a família do paciente sem necessidade.


O mesmo acontece na área de dados, o Storytelling de dados, ou seja, a narrativa dos dados, é tão importante quanto os dados, análises e estáticas de fato, pois no mundo de hoje do que adianta você ter uma informação e não ser capaz de passá-la para frente? Então, é nesse contexto que a narrativa de dados se faz tão necessária, pois com ela se torna possível passar adiante o que os dados estão dizendo e de maneira que faça o público alvo se envolver.


Nesse momento é bem importante definir qual é o seu público alvo, ou seja, quem são as pessoas que vão ter acesso a sua apresentação ou visualização, pois dependendo desse público você deve mudar o seu comportamento, os símbolos e representações que serão utilizadas. 


Narrativa de Dados Impulsionando as Organizações


Agora que você já tem bem definido o que é a narrativa de dados,  você sabe como uma visualização de dados com uma boa narrativa  pode impulsionar a sua organização? 


A resposta para essa pergunta pode levar para diferentes caminhos, mas é possível pensar que a narrativa de dados ajuda a influenciar as pessoas. E não se assuste com essa palavra “influenciar”, não quer dizer que você vai influenciar as pessoas com informações falsas ou enviesadas e sim que você será capaz de passar os dados de maneira mais convincente e indicar seus resultados de modo mais claro. Isso pode impulsionar a sua organização de forma a mostrar o impacto positivo que vocês fazem. Por que  como foi discutido acima é muito importante divulgar os dados e resultados das organizações. Pois gera uma cadeia de amplificação do impacto social produzido. Isso inspira pessoas, organizações e fomenta ideias para inovações.


Para montar uma narrativa que influencie pessoas é preciso pensar no seu público, pois isso ditará a duração da sua apresentação, a temática, a linguagem utilizada e até as cores que serão utilizadas nos materiais de apoio a sua apresentação.


Depois disso, foque em como influenciar o seu público a entender e seguir a história que você está contando. Atenção, é muito importante manter a veracidade das informações que estão sendo passadas, então não enviese nada para fazer com que “caiba” dentro da sua apresentação. Isso vale no sentido de omitir informações que possam “destruir” a história que você está construindo. Lembre-se que a história que está sendo contada precisa apontar para a realidade.


Assim, quando se pensa em visualizações de dados é muito relevante pensar no design que será utilizado, pois ele deve estar de acordo com a sua narrativa.



Design de dados, como eles podem auxiliar a sua organização?


O termo Design vem do latim “Designare”, que significa desenhar, projetar, indicar e simbolizar. Assim, esse termo é bem amplo, mas  é possível resumi-lo no processo de conceber, planejar e criar projetos que tenham estética e sejam funcionais.


Entre as diversas áreas do design existe a área do UX e  UI Design que vem dos termos em inglês User Experience (UX) e User Interface (UI). O UI é pensar na criação de interfaces voltadas para o usuário, ou seja, pensar em formas de deixar as interfaces mais fáceis de serem interpretadas e utilizadas pelos usuários. 


Nesse contexto, os painéis de visualização também se enquadram como interfaces, então é possível pensar em criar painéis de visualização pensados na experiência do usuário. Assim, é muito comum profissionais da área de design utilizarem conceitos da percepção visual do ser humano para pensar em possíveis técnicas e normas para construírem um bom design para seus projetos. 


Princípios de Gestalt e a percepção visual do ser humano


Gestalt ou Psicologia da Forma, é uma área da psicologia que trata da percepção visual dos seres humanos. Assim, existem 7 princípios de Gestalt que explicam essa forma com que os seres humanos percebem o mundo ao seu redor. Por essa razão, são princípios muito utilizados na área de UX Design.


Esses são princípios muito interessantes para a criação de painéis de visualização de dados, pois com eles você pode facilitar o entendimento visual do seu público ao construir um dashboard que respeite esses princípios de visualização, os principais são:


  1. Proximidade


A Proximidade diz que elementos que estão próximos são interpretados como sendo do mesmo grupo. Como na imagem abaixo:

Pensando nesse princípio, você pode ordenar os elementos do seu painel de forma a deixar as visualizações que trazem a mesma informação juntos. Por exemplo, gráficos sobre localização geográfica mais próximos uns dos outros e distantes de gráficos que possuem um tema diferente. 


2. Similaridade

Esse princípio diz sobre como os seres humanos assimilam que elementos que são visualmente semelhantes fazem parte do mesmo grupo, como no exemplo abaixo:

Você pode pensar em deixar elementos do seu painel de visualização que trazem informações relacionadas com o mesmo estilo. Assim, junto com o princípio de proximidade, a dica principal seria juntar e deixar com o mesmo estilo (cores, fontes e etc) elementos visuais que possuem informações bastante relacionadas. 


3. Ponto Focal

O ponto focal significa que qualquer elemento que for diferente dos outros elementos que estiverem na tela vai ter o maior destaque. Isso é muito importante para você não acabar destacando algo indesejado em seu painel. 


Incorporando a Narrativa de Dados com o Design em suas visualizações


A narrativa de dados é a arte de contar histórias com dados de maneira que envolva o seu público a interpretar os seus dados para onde eles apontam realmente. Nesse contexto, esse é um aspecto muito relevante para você deixar os seus painéis de dados mais avançados. Assim, criar uma visualização de dados pensando na narrativa dos dados é pensar em “Como eu posso facilitar e envolver o meu público na leitura e apresentação desse painel?”. É importante se questionar isso, pois nem sempre você apresentará a sua visualização, então ela por si mesma precisará deixar claro qual é a história que está sendo contada.


Algumas dicas de design para deixar a narrativa dos seus dados mais explícita no seu painel são:


  1. Padrão de leitura em “Z”

Em culturas e países que leem da esquerda para a direita a leitura de interfaces é feita da mesma forma. Por isso é interessante dispor as informações em seu painel  priorizando a seguinte forma:

  1. Informações em uma tela


É interessante deixar todas as informações necessárias para narrar um resultado ou um conjunto de informações. Ou seja, que cada página do seu painel tenha início, meio e fim. E caso seja necessário criar outras páginas para o seu relatório que todas elas tenham início, meio e fim. De maneira prática isso é pensar que todas as páginas devem ter título, informações principais e secundárias.

No contexto da construção de visualizações de dados, você pode utilizar estruturas padronizadas para facilitar a construção da sua narrativa de dados. Abaixo tem-se um canvas feito por Stéfano Carnevalli sobre quais etapas você pode utilizar para montar a sua narrativa de dados:

Seguindo as etapas desse Canvas você pode pensar em primeiro explorar os seus dados que seria organizar o seu conjunto de dados e suas fontes para tirar informações e insights através da análise dos seus dados. Nesse contexto, insights são descobertas que você faz de informações ou tendências que os dados estavam “guardando”.


Em seguida você deve construir a história que será contada e isso é organizar o tema, sua argumentação e os personagens dessa história. Nessa etapa de construção da história, esse Canvas fala sobre a Jornada do Herói que é composta por mais etapas e você pode conferi-la aqui.


E para montar a apresentação dos seus dados pense no seu público-alvo, defina muito bem os seus objetivos e use as dicas abordadas nesse artigo. Utilizar essa metodologia é um ótimo caminho para começar a  construir narrativas com dados para sua organização.

Que tal aprimorar o seu design fazendo um painel de Visualização de Dados no Looker Studio? Se surgiu interesse assista o vídeo abaixo.


REFERÊNCIAS
Aela. Os 7 Princípios de Gestalt e Como Utilizá-los em Projetos de UI Design. 2020. Disponível em: <https://medium.com/aela/os-7-princ%C3%ADpios-de-gestalt-e-como-utiliz%C3%A1-los-em-projetos-de-ui-design-46d6d832abf6>. Acesso em: 17 de out. 2023


CARNEVALLI, Stéfano. Data Storytelling Canvas. 2023. Disponível em: <
http://datastorytelling.com.br/data-storytelling/>. Acesso em: 17 de out. de 2023

Dashboard Design. A importância de um bom design para a criação de dashboards eficientes no Excel. 2019. Disponível em: <https://www.dashboarddesign.com.br/a-importancia-de-um-bom-design-para-a-criacao-de-dashboards-eficientes-no-excel/#:~:text=Nesse%20contexto%2C%20os%20dashboards%20s%C3%A3o,que%20esses%20objetivos%20sejam%20alcan%C3%A7ados>. Acesso em: 27 de out. 2023

KNAFLIC, Cole Nussbaumer. Storytelling com Dados: Um Guia Sobre Visualização de Dados para Profissionais de Negócios. [S.l.]: Alta Books, 2015. ISBN 978-85-508-1638-8.

Joana Martins é uma estudante de graduação em Bacharel em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC, atualmente também bolsista no curso de Engenharia de Software na UNINTER. Sua paixão pela tecnologia e pelos dados a impulsiona constantemente em busca de sua verdadeira motivação no campo. Joana é uma entusiasta que acredita no poder da inovação e da colaboração em equipe para encontrar melhores soluções.


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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