Pesquisa Doação Brasil 2020 - Confira os principais resultados

9 de setembro de 2021

Os resultados da segunda edição da Pesquisa Doação Brasil, coordenada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e realizada pelo instituto de pesquisas Ipsos, revelam o impacto da longa crise econômica e da pandemia sobre a doação dos brasileiros. Ao comparar os dados de 2015 com os de 2020, vemos que a doação encolheu no Brasil em todas as suas formas: desde a doação em dinheiro até a doação de bens e de tempo (trabalho voluntário).


Em 2020, menos brasileiros doaram para organizações da sociedade civil, e o valor doado caiu. Em comparação com 2015, ano em que 77% da população havia feito algum tipo de doação, em 2020 este percentual ficou em 66%. Quando se trata de doação em dinheiro, a proporção caiu de 52% para 41%. No caso de doações para organizações e iniciativas socioambientais, a redução foi de 46% para 37%.


Sobre os resultados da Pesquisa, Paula Fabiani, CEO do IDIS, comenta: “apesar da queda das doações, a cultura de doação se fortaleceu nos últimos cinco anos. A sociedade está mais consciente da importância da doação e tem uma visão muito mais positiva das organizações da sociedade civil e de seu trabalho. As classes mais privilegiadas demonstraram maior grau de solidariedade e responderam à crise de 2020 doando mais.”

 

INFLUÊNCIA DA RENDA


Ao analisar a composição dos dados, fica claro que as alterações se deram por conta da prolongada crise econômica dos últimos anos, agravada pela pandemia e pelo cenário de incerteza em relação ao futuro. Observamos que a doação de dinheiro para organizações e iniciativas socioambientais encolheu muito entre as classes menos favorecidas (de 32% para 25% entre 2015 e 2020, na faixa com renda familiar até 2 salários mínimos) e cresceu significativamente entre as classes com renda mais alta (de 51% para 58%, nas classes com renda familiar entre 6 e 8 salários mínimos; e de 55% para 59% entre as classes com renda familiar acima de 8 salários mínimos). Essas classes doaram mais em 2020 do que em 2015.


VALOR DA DOAÇÃO


Em 2020, menos brasileiros doaram a organizações da sociedade civil, e o valor doado também caiu. Em 2015, a mediana* do valor anual doado por pessoa era de R$ 240. Em 2020, esse número caiu para R$200.


A redução teve forte impacto sobre o montante total das doações. Em 2015, o valor total doado pelos indivíduos foi de R$13,7 bilhões, o que correspondia a 0,23% do PIB. Em 2020, somou R$10,3 bilhões, equivalentes a 0,14% do PIB.


(*) A mediana é preterida para estimar o valor total doado porque considera os valores mais praticados pela sociedade e despreza os valores extremos, ou seja, as doações muito altas ou muito baixas que deturpam a média.

 

CAUSAS MAIS SENSIBILIZADORAS


O efeito da pandemia mudou as prioridades dos brasileiros em relação às causas das organizações. Em 2015, as causas relacionadas à saúde e à infância ocupavam os primeiros lugares na preferência dos brasileiros. Já em 2020, o combate à fome e à pobreza foi citado por 43% da população como a causa mais sensibilizadora, seguida por infância, saúde e proteção a idosos. 


Duas outras causas também ganharam muitos adeptos nos últimos cinco anos: o combate ao abandono e maus-tratos de animais e a proteção às pessoas em situação de rua. Ambas haviam pontuado muito pouco em 2015, mas aparecem no ranking de 2020 em quinto e sexto lugar, respectivamente.

 

PERCEPÇÃO SOBRE A DOAÇÃO


Apesar do encolhimento na prática, a população brasileira vê de forma cada vez mais positiva a doação. Mais de 80% da sociedade acredita que o ato de doar faz diferença. Entre os não doadores, essa concordância atinge 75%.


A ideia de que a doação faz bem para o doador cresceu significativamente ー de 81% para 91% da população, atingindo uma maioria quase absoluta.


Outro aspecto positivo é que vem perdendo força a ideia de que o doador não deve falar que fez doações. Em 2015, essa visão contava com a concordância de 84% da população e, em 2020, o percentual caiu para 69%. Este é um ponto especialmente importante, porque falar sobre a doação estimula sua prática, gera inspiração, esclarece temores e desperta o interesse de outras pessoas.


PERCEPÇÃO SOBRE AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL


A opinião dos brasileiros sobre as organizações da sociedade civil evoluiu muito nos últimos cinco anos.


A noção de que as ONGs são necessárias no combate aos problemas socioambientais recebeu a adesão de 74% da população. Em 2015, essa concordância estava em 57%.


A afirmação ‘percebo que a ação das ONGs leva benefícios a quem realmente precisa’ recebeu a concordância de 67% da população, índice que estava em 47% em 2015.


O reconhecimento de que as ONGs fazem um trabalho competente foi indicado por 60% da população. Apenas 44% pensavam desse modo em 2015.


O maior destaque, porém, refere-se ao crescimento da confiança nas ONGs. 45% da população concorda que as ONGs deixam claro o que fazem com os recursos que aplicam. Em 2015, apenas 28% estavam de acordo com a afirmação.


DESTAQUES


  • A longa crise econômica que o país atravessa afetou muito as doações;
  • Parte da população mais pobre, que doava em 2015, deixou de doar e passou a precisar de doações;
  • Em compensação, as classes de maior renda doaram mais em 2020 do que em 2015;
  • A doação é vista de forma muito positiva pela população como um todo, e diminuiu-se a percepção de que as pessoas não devem falar que fazem doação;
  • A imagem das ONGs melhorou muito junto à sociedade brasileira.

 

METODOLOGIA


A Pesquisa Doação Brasil 2020 foi realizada em duas etapas.


Etapa 1: Qualitativa


Realizada entre os dias 18 e 21 de janeiro de 2021, com 8 grupos focais de 8 participantes cada, todos moradores da região metropolitana de São Paulo.


Os grupos focais foram conduzidos de maneira online em razão da pandemia de Covid-19 e do necessário isolamento social.


Perfil dos participantes:

  • Homens e mulheres
  • Classe: ABC
  • Idade: 25 a 60 anos
  • Doadores
  • Não Doadores

 

Etapa 2: Quantitativa


Período de realização: 16 de março a 22 maio de 2021.


Conversas realizadas via Entrevista Telefônica Assistida por Computador (CATI), em que o entrevistador segue o questionário por meio de um programa, minimizando desvios na aplicação. A margem de erro é de ±2 pontos percentuais.


Total da amostra: 2.103 entrevistados.


Recorte: população maior de 18 anos com renda familiar superior a 1 salário mínimo.


A amostra foi composta de acordo com a distribuição real da população brasileira segundo o PNAD 2019, ou seja, as cotas de idade, sexo e região têm a mesma proporção encontrada na população brasileira.


REALIZADORES E APOIADORES


A Pesquisa Doação Brasil é uma iniciativa coordenada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e realizada pela Ipsos e conta com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, da Fundação Tide Setúbal, do Instituto ACP, do Instituto Galo da Manhã, do Instituto Mol, do Instituto Unibanco, do Itaú Social, do Mercado Pago e do Santander.



Confira a apresentação dos resultados na íntegra:


Daiany França

Daiany França Saldanha é responsável pelo editorial do Portal do Impacto.


Inscreva-se na nossa Newsletter

Últimas publicações

Por Maria Cecilia Prates 28 de outubro de 2025
Nem tudo que é medido gera impacto real. Este artigo reflete sobre os riscos da obsessão por métricas no Terceiro Setor e como o foco excessivo em números pode distorcer o verdadeiro propósito social das organizações.
Por Rosana Meneses 16 de outubro de 2025
Entre metas, editais e sobrecarga, muitas gestoras do Terceiro Setor vivem o desafio de fazer tudo sozinhas. Neste relato,você verá lições práticas sobre como equilibrar a gestão de projetos e a captação de recursos sem perder a saúde, nem o propósito.
Por Fernando Porto 13 de outubro de 2025
Aprenda como usar o storytelling para engajar e inspirar. Descubra como ONGs podem criar narrativas autênticas que despertam empatia, fortalecem vínculos e mobilizam doadores.
Por Kamilly Oliveira 7 de outubro de 2025
Descubra como definir a missão e a visão da sua organização de forma prática e inspiradora. Um exercício essencial para alinhar propósito, estratégia e impacto social.
Por Ci Freitas 30 de setembro de 2025
O que realmente é turismo regenerativo? Vá além do sustentável e aprenda a sobre turismo sustentável e regeneração. Confira o artigo.
Por Instituto Phomenta 17 de setembro de 2025
Segundo o Governo Federal, para cada R$ 1 aplicado em projetos culturais, até R$ 1,60 volta para a economia. Esse movimento gera emprego e renda, amplia o acesso à arte e à educação e cria novas oportunidades de desenvolvimento. Apesar desse potencial, muitas organizações culturais atuam com orçamentos reduzidos e equipe limitada. Um levantamento da Iniciativa Pipa e do Instituto Nu aponta que 31% das organizações periféricas de cultura e educação têm orçamento anual de até R$ 5 mil, e 58% funcionam de forma totalmente voluntária, sem equipe remunerada. São iniciativas que já promovem impacto real, mas enfrentam dificuldades para acessar leis de incentivo, conquistar patrocínios e participar de editais. Porém, com apoio direcionado, podem fortalecer sua atuação e alcançar mais pessoas. Fortalecimento e oportunidade de crescimento O Programa de Aceleração Cultural é uma iniciativa do Instituto Phomenta, em parceria com o Ministério da Cultura e patrocínio do Grupo Ultra e suas unidades de negócio: Ultragaz, Ultracargo, ICONIC, Ultra e Instituto Ultra e Ipiranga. A proposta é apoiar organizações que atuam com cultura e educação, oferecendo formações e acompanhamento para melhorar a gestão, ampliar as estratégias de captação e facilitar o acesso a Leis de Incentivo à Cultura. O programa é gratuito, online, acessível para pessoas com deficiência e acontecerá no 2º semestre de 2025, com 40 horas de duração entre encontros ao vivo, atividades práticas e mentorias individuais. Além do conteúdo, as organizações participantes receberão bolsa auxílio de até R$ 2.000, como incentivo para participação ativa. Quem pode participar Organizações localizadas em São Paulo (SP), Campinas (SP), Santos (SP) e Duque de Caxias (RJ) que: Tenham pelo menos 1 ano de existência e CNPJ ativo Desenvolvam atividades culturais com caráter educativo, como oficinas, cursos, programas de formação, acompanhamento pedagógico e ações culturais que visem ensino e transformação social Possuam canais de comunicação ativos (site e/ou redes sociais) Não promovam partidos políticos, religiões específicas, violência ou criminalidade Será necessário comprovar experiência mínima de 1 ano em ações culturais educativas durante a etapa de envio de documentos. O que será oferecido O Programa de Aceleração Cultural inclui mentorias personalizadas, formações em gestão, sustentabilidade financeira e captação de recursos, apoio para acessar Leis de Incentivo à Cultura e rodas de conversa para troca de experiências entre organizações participantes. Como incentivo à participação, cada organização poderá receber até R$ 2.000 em bolsa auxílio, considerando presença mínima de 75% nos módulos e participação nas atividades previstas. Por que participar Esta é uma oportunidade para fortalecer a atuação, ampliar a visibilidade e criar condições para que projetos culturais educativos se mantenham e cresçam. Além do conteúdo prático, o incentivo financeiro ajuda a garantir a presença de quem já enfrenta restrições orçamentárias. E a rede formada entre as organizações participantes favorece trocas e colaborações que podem gerar impacto duradouro. Como participar As inscrições para o processo seletivo estão abertas até 01 de outubro de 2025. Após o cadastro, haverá uma sessão explicativa para apresentar o programa e tirar dúvidas, seguida do envio de documentação para análise. As organizações aprovadas participarão dos dois módulos e das mentorias individuais. Mais informações sobre o Programa de Aceleração Cultural estão disponíveis no botão abaixo!
mostrar mais

Participe do nosso grupo no WhatsApp para receber nossos conteúdos em primeira mão

Entrar para o grupo