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Papo de impacto - A jornada de impacto social de Fernando Alves

ago. 10, 2023

Este conteúdo foi produzido por Diego Borges Ferreira


Entrevistado: Fernando Alves, Diretor-executivo da Rede Cidadã


Uma das principais etapas do processo de crescimento e aprendizado de uma iniciativa de impacto social é como ela pode aprender com as experiências de pessoas e iniciativas que fazem parte desse ambiente repleto de oportunidades e desafios. Atualmente vivemos em um ambiente no qual conexões construtivas são uma grande ferramenta de crescimento que pode ajudar a abrir portas e experimentar novas ideias e soluções.


Pensando em levar essas experiências para o público do Portal do Impacto e para aqueles que acompanham a minha coluna, eu realizei uma entrevista com um profissional que tem muito para compartilhar com iniciativas sociais no Brasil e exterior, o Diretor Executivo da
Rede CidadãFernando Alves.


Ele é um dos fundadores da Rede Cidadã, graduado em Ciências Sociais e pós-graduado em Gestão de Pessoas pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Foi professor de História, Sociologia, Ciência Política, Antropologia e Cidadania Empresarial.


Foi também Diretor de Recursos Humanos, Secretário de Administração e Secretário dos Direitos de Cidadania na Prefeitura de Belo Horizonte, na gestão do prefeito Célio de Castro. É Terapeuta Sistêmico, coautor da metodologia para Expansão da Consciência, que já foi aplicada para mais de 26.000 pessoas. Fernando também é Diretor Executivo da Rede Cidadã e do Mandala Instituto e liderou a inclusão social de mais de 116.000 pessoas no mundo do trabalho.


A  Rede Cidadã é uma Entidade de Assistência Social (empresa social), que desenvolve programas e projetos de forma continuada, permanente e planejada. É uma das primeiras organizações a investir no trabalho social em rede e desde 2002  reúne sociedade civil, empresas, órgãos públicos, organizações sociais e voluntários, para trazer soluções em geração de trabalho e renda.


Em 2023 pelo oitavo ano consecutivo a Rede Cidadã ficou entre as 200 melhores organizações sociais do mundo! Está no 74º lugar do ranking internacional thedotgood. e em 4º do nacional. Também está entre as 20 melhores ONGs do Brasil segundo Prêmio iBest 2023, os iBest 20+ na categoria Ações Sociais!


Sou responsável pela gestão das atividades da Rede Cidadã  no LinkedIn há três anos e atualmente, a entidade é a iniciativa de impacto social no Brasil e América Latina com mais presença na plataforma. Utilizamos o Linkedin como ferramenta de crescimento e geração de impacto social com o trabalho realizado pela Rede Cidadã.


Nessa entrevista o Fernando fala sobre sua jornada, conquista, desafios e dicas que podem apoiar profissionais, empresas, startups e organizações que acompanham o Portal do Impacto e entendem a importância dessa iniciativa. Confira!


01 - Como começou seu interesse em impacto social e como isso levou sua jornada profissional à rede cidadã? Aproveite e conte mais sobre o trabalho que a Rede Cidadã realiza. 


Minha visão de impacto social surgiu quando descobri a relevância da gestão profissional trazida para o campo social. No mundo privado, ou diria mesmo, no campo do econômico, ninguém tem dúvidas da importância das ferramentas da gestão moderna. Coisas como metas, prazos, indicadores e metodologias de trabalho.


Então, descobri que projetos de impacto social exigiriam uma boa gestão e ações destinadas para impactos de transformação da realidade social. Nesse sentido, desde a primeira hora, resolvemos fundar a Rede Cidadã voltada para a preparação de jovens para o mundo do trabalho. Na época de fundação da Rede Cidadã, as pesquisas mostravam que 2/3 da população economicamente ativa e desempregada era constituída por jovens de 18 a 25 anos, e isso comprometeria a vida destas novas gerações. Com isso, a juventude se tornou o foco da Rede Cidadã e, hoje ampliando para a família, preparar pessoas para a vida e o trabalho continua sendo o campo de toda a nossa atuação.


No entanto, escolhemos como nosso principal indicador o número de jovens inseridos no mercado de trabalho, e não apenas capacitados. Afinal, apenas capacitar não gera impacto social, decidimos assumir que a inclusão formal no mundo do trabalho deveria ser o nosso principal impacto, levando renda efetiva para o jovem e sua família. 


02 - Quais foram os principais desafios que a Rede Cidadã enfrentou nos primeiros anos de atividade? Com a sua experiência é possível compartilhar com a gente os principais desafios que iniciativas sociais enfrentam atualmente? 


Numa economia como a nossa, o principal desafio sempre é o investimento financeiro inicial. Na criação da Rede Cidadã, a falta absoluta deste tipo de recurso foi substituída pela construção de parcerias que nos levaram a ter profissionais remunerados pela Prefeitura de BH, pela Fiat, e pela FIEMG, e ocupar espaços e infraestrutura cedidos pela FIEMG, pela Sociedade Mineira dos Engenheiros e pelo Instituto Florestam Fernandes.


Curiosamente, a Rede Cidadã em seu primeiro ano de existência chegou a articular, gerenciar e executar 12 projetos, sem ter conta em banco, tudo acontecendo por meio de parcerias. A Rede Cidadã, literalmente, veio ao mundo sem depender de captação de recursos financeiros. Fomos capazes de articular ativos existentes e integrar em rede esforços colaborativos gerando impacto social.


Atualmente, o desafio para o Terceiro Setor, além da permanente busca de investimentos financeiros, está o desafio da gestão profissional, do foco no que é relevante, e na capacidade de utilizar indicadores capazes de assegurar a efetividade dos resultados, o que significa medir os impactos sociais.


03 - Quais são os principais programas e projetos atualmente em andamento na organização? Poderia compartilhar algumas dicas para organizações com dificuldades em tirar seus projetos do papel?


A Rede Cidadã tem foco em projetos de Empregabilidade e de Aprendizagem, este último com base na Lei do Jovem Aprendiz. Nos últimos 20 anos, esses projetos inseriram 113 mil jovens no mundo do trabalho.


Atualmente, criamos a Trilha de Desenvolvimento do Usuário e da Família, visando atender a todos os públicos mobilizados pelas políticas públicas da Assistência Social, sobretudo, jovens de vilas e comunidades de baixa renda, jovens em situação de medidas socioeducativas, comunidade LGBTQIPN+, adultos, idosos, podendo ser ou não familiares. Assim, como integrar os diferentes públicos, a Trilha tem o objetivo de integrar os diferentes projetos e integrar diferentes fontes de investimento financeiro.


Só existe um jeito das organizações sociais tirarem projetos do papel: muito trabalho. O que significa criar projetos que sejam soluções demandadas pela comunidade e não pelo interesse da organização, articular a convergência de parceiros, garantir a execução do planejamento com clareza de metas, prazos e custos.


04 - O ambiente de iniciativas sociais é muito conectado! Poderia falar mais sobre como a Rede Cidadã se relaciona com outras organizações sociais e com isso amplia o impacto do trabalho realizado? 


A articulação de parceiros, a formação de sinergias, a construção de um trabalho em rede, sempre foram aspectos do que podemos chamar de DNA da nossa Organização. Se de um lado temos mais de 3 mil empresas que contratam os projetos da Organização, temos um leque de mais de 600 ongs parceiras, além de mais de 100 órgãos públicos, criando uma ampla rede de aliados que colaboram para nossos resultados. Sem as parcerias em formato e trabalho de complementaridade em rede, a Organização jamais teria conquistado os resultados aqui comentados.

A conexão de parceiros se tornou um elemento chave para o sucesso dos indicadores de resultados da nossa organização. Sem os parceiros, jamais em tão pouco tempo, 20 anos, a Rede Cidadã conseguiria o volume de resultados.


05 - A Rede Cidadã é uma iniciativa que desenvolve muitas parcerias! Poderia falar mais sobre as parcerias com o setor público e privado? Aproveite e compartilhe alguma dica para organizações que têm dificuldade em se relacionar com esses setores. 


Toda parceria é resultado da convergência de interesses. Nesse sentido, o Terceiro Setor precisa evoluir cada vez mais do lugar de que recebe doações para o parceiro capaz de vender serviços, capaz de entregar resultados para os investidores em projetos sociais e ambientais. Isso significa aprender a ser um ator na lógica do mercado privado. As empresas já romperam com o velho paradigma de filantropia, elas querem organizações profissionais, contratos com foco em resultados. E por sua vez, as organizações precisam aprender a disputar licitações públicas, a ter ofertas de soluções para políticas públicas e com isso disputar os recursos públicos destinados para ações complementares ao inerente trabalho do Estado em suas dimensões sociais ou ambientais.


06 - Quais são os principais aprendizados e realizações que alcançou como diretor-executivo da rede cidadã nos últimos anos? 


Os aprendizados de todo esse período foram sobre a importância de inovar em nossa metodologia de trabalho, no desenho dos projetos sociais e mesmo na capacidade de incorporar novas estratégias na busca de novos parceiros e investidores.


Creio que a principal realização foi desenvolver a metodologia socioemocional para ser aplicada na base da pirâmide social. Reunir vivências de elevado impacto de autoconhecimento permitiu oferecer aos segmentos sociais de baixa renda o acesso a recursos capazes de desenvolver em nossos públicos a inteligência emocional, cada vez mais reconhecida como fundamental para o mundo do trabalho.


Essa metodologia ganhou o Prêmio Ser Humano da ABRH/MG, e mostrou ser capaz de reduzir turnover e aumentar o tempo de permanência no trabalho de públicos desafiadores para o mercado de trabalho, como jovens em medidas socioeducativas e pessoas em situação de rua.

07 - Como as equipes da Rede Cidadã enfrentam crises ou situações de emergência? Consegue compartilhar algumas dicas para organizações que precisam lidar com situações complicadas? 


Não vejo diferenças das equipes da Rede Cidadã para qualquer outra organização empresarial quando o tema é o enfrentamento de crises. Talvez o melhor testemunho de um bom momento de aprendizado em lidar com crises, tenha ocorrido na pandemia.

Neste período, conseguimos criar um grande campo de união interna, de presença viva e constante entre as equipes e os dirigentes da organização, apesar dos laços de relacionamentos terem sido predominantemente virtuais, foram constantes e estimuladores da confiança necessária para todos juntos superarmos os desafios que toda a humanidade passava. 


08 - O Porta do Impacto tem como objetivo levar conteúdo para iniciativas de impacto social de diversos setores. Poderia deixar um recado final para as organizações que frequentam o portal e estão procurando crescer suas atividades? 


Acredito que as respostas anteriores também respondam esta última questão. Talvez, aqui pudesse acrescentar e destacar sobre a relevância de se tratar o campo social como aquele onde se encontram as pessoas, e elas possuem nome, CPF e endereço. Isto significa retirar o social da mera linguagem da estatística, das diretrizes genéricas das políticas públicas, e trazer para o centro do trabalho social cada pessoa, cada sujeito de direitos de cidadania.


Somente isso, poderá oferecer a prática efetiva do conceito de impacto social, posto que a verdade do resultado de um projeto precisa expressar que é o portador de direitos restaurados.



A importância de compartilhar experiências e ideias que ajudem a comunidade de iniciativas sociais


Sempre bom destacar que o Portal do Impacto tem o objetivo de compartilhar conteúdos gratuitos para as Organizações da Sociedade Civil (OSCs ou ONGs) e seus empreendedores nos temas de gestão, captação de recursos, tecnologia, comunicação e outros temas relevantes para o Terceiro Setor. Sempre tento trazer na minha coluna o melhor conteúdo envolvendo o Linkedin como ferramenta de trabalho e crescimento para essas iniciativas e seus colaboradores.



Minha rotina de trabalho como gestor das atividades da Rede Cidadã no Linkedin.


O LinkedIn é minha principal ferramenta de trabalho na Rede Cidadã e também a que mais utilizo quando apoio empresas, startups e organizações sociais no Brasil e exterior. Com ela já apoiei a Rede Cidadã a alcançar ótimos resultados em atividades que envolvem, por exemplo, comunicação, parcerias, comerciais e prospecção de talento. Essa experiência enriquecedora de crescimento também envolve a gestão do Fernando e as equipes que fazem parte da Rede Cidadã em diversos setores. Com isso tenho certeza que essa entrevista pode levar um conteúdo muito útil para iniciativas sociais que atuam em diversas causas e tem seus objetivos e desafios.


Boa Leitura, pessoal!






Diego Borges Ferreira: Profissional com experiência em comunicação no LinkedIn, networking, gestão de comunidade e treinamento de equipes em empresas, startups e organizações que desejam aprender a utilizar a plataforma. Principalmente com iniciativas que tem foco em impacto social e nas quais já apoiou diversas no Brasil e exterior. 

E-mail: liondiegos@gmail.com


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
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