No universo do Terceiro Setor os termos "negócio social" e "negócio de impacto" são frequentemente utilizados, por vezes, de forma intercambiável. Embora compartilhem o propósito central de gerar um impacto positivo na sociedade, existem nuances importantes que os distinguem.
Negócio Social: O propósito acima do lucro financeiro
O conceito de Negócio Social foi popularizado pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus. A premissa fundamental é que a empresa seja criada para resolver um problema social específico e que todo o lucro gerado seja reinvestido integralmente na própria organização para expandir e aprimorar suas operações e, consequentemente, seu impacto.
Características principais de um Negócio Social (segundo Yunus):
- Objetivo social: o propósito principal é resolver um problema social, e não maximizar o lucro.
- Sustentabilidade financeira: deve ser economicamente viável e gerar receita suficiente para cobrir seus custos operacionais, não dependendo de doações.
- Reinvestimento total do lucro: qualquer lucro é reinvestido no negócio para ampliar seu alcance e impacto.
- Retorno do investimento: iInvestidores recebem de volta apenas o valor originalmente investido, sem juros ou lucros adicionais.
- Condições de trabalho digna:
oferece salários justos e boas condições de trabalho para seus funcionários.
- Consciência ambiental: prioriza práticas ambientalmente responsáveis.
Negócio de impacto: sustentabilidade e retorno financeiro lado a lado
O termo Negócio de Impacto é mais abrangente e, segundo a Aliança pelo Impacto, “… são empreendimentos que têm a intenção clara de endereçar um problema socioambiental por meio de sua atividade principal (seja seu produto/serviço e/ou sua forma de operação). Ou seja, atuam de acordo com a lógica de mercado, com um modelo de negócio que busca retornos financeiros, e se comprometem a medir o impacto que geram”. Diferentemente do negócio social puro de Yunus, um negócio de impacto pode, e geralmente busca, distribuir lucros para seus investidores.
Características principais de um Negócio de Impacto:
- Intencionalidade do impacto:
a geração de impacto socioambiental positivo é a missão explícita e central do negócio, não uma ação pontual de responsabilidade social.
- Lógica de mercado e retorno financeiro:
opera como uma empresa tradicional, buscando gerar receita própria pela venda de produtos ou serviços e almejando um retorno financeiro positivo e sustentável.
- Mensuração de impacto: compromete-se a monitorar, medir e reportar o impacto socioambiental que gera.
- Inovação e escalabilidade:
frequentemente desenvolve soluções inovadoras para problemas sociais e ambientais, com potencial de escala.
- Diversidade de formatos:
pode assumir diferentes formatos jurídicos (associações, cooperativas, empresas).
Semelhanças essenciais
Apesar das distinções, Negócios Sociais e Negócios de Impacto compartilham bases sólidas que os conectam ao propósito do Terceiro Setor:
- Foco na resolução de problemas socioambientais: ambos são criados com o objetivo primordial de endereçar desafios da sociedade e do meio ambiente.
- Sustentabilidade financeira: buscam gerar receita própria para serem financeiramente autossuficientes e não dependerem exclusivamente de doações.
- Geração de valor: tanto o produto quanto o serviço oferecido geram valor e benefícios diretos para o público-alvo ou a comunidade.
- Promoção de oportunidades:
contribuem para o desenvolvimento social, fortalecem a cidadania e os direitos individuais.
- Compromisso com boas práticas:
podem envolver trabalho em rede, cuidado com a cadeia produtiva, articulação com políticas públicas e combate a práticas antiéticas como trabalho escravo ou infantil.
A principal diferença: o destino do lucro
A distinção mais marcante reside no tratamento do lucro:
- Negócio Social (Yunus):
Prioriza o reinvestimento total do lucro no próprio negócio para maximizar o impacto social, sem retorno financeiro adicional para os investidores além do capital inicial.
- Negócio de Impacto:
Busca um modelo de negócio que gera tanto impacto socioambiental quanto retorno financeiro. E que pode, ou não ter a distribuição de lucros aos investidores, o que pode atrair mais capital e escalar as soluções de forma mais rápida.
Conclusão
Ambos os modelos representam uma poderosa forma de unir a lógica de mercado com a missão social, impulsionando a inovação e a sustentabilidade no combate aos problemas sociais. Dessa forma, aescolha entre um "negócio social" e um "negócio de impacto" muitas vezes depende da visão do empreendedor e da estratégia de captação de recursos, mas o compromisso com a transformação positiva da sociedade permanece como a espinha dorsal de ambos.