Siga-Nos!


Assine a nossa

newsletter

Governança de A a Z - As 10 responsabilidade do(a) Diretor(a) Executivo de uma ONG

fev. 24, 2023

Este conteúdo foi produzido por Karen Lassner


Para que haja uma boa governança, uma ONG precisa de um Conselho de Administração ativo e de uma Direção Executiva dedicada. Agora, o que faz o Conselho de Administração comparado com a Direção Executiva? Um dos meus artigos recentes descreveu as 10 responsabilidades do conselho de administração de uma ONG. Neste artigo, gostaria de destacar as 10 responsabilidades do Diretor Executivo de uma ONG e assinalar as diferenças entre os dois.


A função do Diretor Executivo tem múltiplos enfoques. As seguintes dez responsabilidades do diretor executivo buscam demonstrar o alcance e a complexidade do papel de Diretor: 


1- Dedicar-se à missão e o propósito. 


O Diretor Executivo deve compreender e incorporar à fundo a missão e o propósito da organização e seus programas. O empenho do Diretor Executivo quanto à missão inspira e mobiliza as pessoas a trabalharem para que a missão seja concretizada. 


Uma das responsabilidades do Conselho, por sua vez, é definir a missão e a visão da organização. O Diretor Executivo, portanto,
trabalha para desenvolver essa missão


O Diretor Executivo fia-se na missão para planejar e tomar decisões sobre as prioridades da organização, a utilização dos recursos e a direção a tomar no futuro. 


Os Diretores Executivos também cuidam para que não haja nenhum “desvio da missão”. Isto ocorre quando as organizações começam a implementar atividades que não apoiam diretamente a missão, ou porque surgiram novas oportunidades de financiamento que não estão alinhadas com a missão.


2- Ser o líder da equipe e o gestor da organização. 


Liderar a equipe e gerir a organização constituem a essência das responsabilidades do Diretor Executivo. 


Enquanto o Conselho é responsável por contratar o Diretor Executivo e avaliar o desempenho deste, o Diretor Executivo é responsável por
contratar toda a equipe e administrar seu desempenho, além de procurar garantir que haja uma estrutura de gestão em funcionamento


Em geral, as responsabilidades de liderança e gestão do Diretor Executivo incluem:


  • Inspirar e motivar a equipe 
  • Promover uma cultura que reflita os valores da organização, estimule o bom desempenho e recompense a produtividade 
  • Criar uma estrutura de pessoal que apoie as metas, objetivos e prioridades da organização 
  • Garantir que os colaboradores tenham um ambiente de trabalho agradável e os suprimentos e o equipamentos necessários para fazer seu trabalho com eficiência 
  • Oferecer salários e benefícios que sejam atraentes e retenham profissionais qualificados 
  • Apoiar o crescimento e desenvolvimento da equipe 
  • Garantir a qualidade, eficácia e eficiência dos programas e serviços
  • Liderar pelo exemplo 


3- Exercer uma direção financeira responsável.


O Diretor Executivo é responsável pela
gestão financeira diária da organização dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Conselho. Mesmo que a organização tenha um gestor financeiro e/ou contador, o Diretor Executivo deve poder explicar o orçamento da organização e interpretar suas demonstrações financeiras. Ele deve ainda entender as demonstrações financeiras da organização suficientemente bem para poder identificar inconsistências ou erros antes de serem apresentadas ao Conselho ou a outros de fora da organização. 


Os Diretores Executivos devem usar as informações financeiras da organização para a tomada de decisões, e precisam prestar particular atenção à
monitoria do fluxo de caixa da organização e à percepção das tendências de receitas e despesas ao longo do tempo. 


Os Diretores Executivos também necessitam se responsabilizar pela
gestão financeira dentro de uma visão de longo prazo. O desenvolvimento de reservas operacionais, a constituição de um fundo patrimonial (endowment, em inglês,) e a manutenção e operação de uma instalação são todas atividades que exigem um horizonte de planificação mais alongado. 


O Diretor Executivo
protege o património da organização contra fraudes ao monitorar o uso apropriado dos recursos e ao verificar a essencialidade das despesas. Ele deve também certificar-se de que a organização adota as políticas e procedimentos apropriados e que eles são seguidos. Ele também procura garantir que a organização tenha os controles financeiros internos, os seguros e as políticas de gestão de riscos que forem mais indicados, e que as recomendações feitas pelos auditores sejam implementadas.


4- Liderar e gerir o processo de captação de recursos


A diferença das responsabilidades de captação de recursos entre o Conselho e o Diretor Executivo varia de uma organização à outra. No entanto, uma coisa é certa: o Diretor Executivo deve se envolver profundamente nos esforços de captação de recursos. Ele é uma das pessoas mais importantes para
estabelecer e manter as relações com doadores individuais e empresas e para garantir um envolvimento efetivo do Conselho nas atividades de captação de recursos. 


O envolvimento substancial do Diretor Executivo com a captação de recursos tem a ver com o fato de que
os investidores institucionais tomam geralmente suas decisões de financiamento baseados em sua confiança na liderança do Diretor Executivo. Os financiadores também desejam ter contacto com a pessoa que tem o conhecimento mais amplo sobre a organização e querem ouvir do Diretor Executivo, em primeira mão, sobre os desafios e os novos programas da organização. 


5- Obedecer às mais elevadas normas éticas, garantir a responsabilização e prestação de contas financeira e programática (accountability) e cumprir a lei. 


O Diretor Executivo é responsável por
garantir que a organização cumpra com todos os requisitos reguladores e legais. Por exemplo, supervisionar a equipe (ou consultores) que prepara os documentos governamentais exigidos, implementa as políticas de recursos humanos, verifica se as contribuições sobre os salários foram pagas e retidas na fonte, segue os controles internos e prepara relatórios anuais, entre outras tarefas exigidas para uma organização bem administrada. 


Apesar de ser o Conselho o responsável por garantir a conduta ética e o cumprimento do dever da responsabilização e prestação de contas financeiras e programáticas (
accountability), é o Diretor Executivo que instrui o Conselho nessas áreas. 


O Conselho e o Diretor Executivo devem
elaborar políticas por escrito que esclareçam o que são comportamentos inaceitáveis e ofereçam ferramentas ou recursos a usar quando surgem os problemas, sendo ele, ainda, responsável por cumprir todas essas políticas. 


Os valores e o comportamento do Diretor Executivo dão o tom para toda a organização
. Como o Diretor Executivo funciona sem nenhum outro supervisor além do próprio Conselho e um reduzido sistema de pesos e contrapesos, o Conselho é responsável por garantir o comportamento ético e responsável do Diretor Executivo. 


6- Engajar o Conselho no planejamento e liderar a implementação. 


O
planejamento da ONG é uma das mais importantes responsabilidades de governança compartilhadas pelo Conselho e o Diretor Executivo. Isto envolve ocasionalmente reexaminar a visão e a missão da organização à luz das mudanças nos ambientes externo e interno, desenvolver estratégias para o futuro, garantir que os programas e atividades da organização estejam alinhados com a visão e, finalmente, entender as implicações financeiras do plano. 


O papel do Diretor Executivo no planejamento inclui: 



  • Reconhecer a necessidade do planejamento. 
  • Decidir de que forma o Conselho irá participar. 
  • Fazer do planejamento uma prioridade e distribuir os recursos adequadamente. 
  • Identificar as decisões que precisam de ser tomadas pelo Conselho. 
  • Implementar e monitorar os planos. 


7- Desenvolver a liderança futura. 


O Diretor Executivo é responsável por
desenvolver a liderança futura da organização. Para fazer isso, ele deve recrutar e contratar pessoas com o potencial para assumir posições de maior responsabilidade de gestão e liderança dentro da organização. Ele ou ela deve também se preocupar em oferecer salários competitivos de modo a atrair indivíduos de talento. Ele também necessita delegar responsabilidades para que os outros possam desenvolver suas habilidades de liderança e gestão. 


8- Expandir as relações externas e promover a organização e suas causas. 


O Diretor Executivo é o
principal porta-voz e representante da organização. Os líderes do Conselho e outros membros da equipe de nível sênior também representam a organização, mas é o Diretor Executivo quem tem mais visibilidade. Dado o papel do Diretor Executivo como o rosto público da organização, ele ou ela deve ter boas habilidades de comunicação e contacto social. 

9- Garantir a qualidade e eficácia dos programas. 


O monitoramento da qualidade e da eficácia da organização e de seus programas é quase totalmente a responsabilidade do Diretor Executivo, geralmente assistido por sua equipe e por consultores independentes. A maioria dos Conselhos não tem o conhecimento especializado para avaliar integralmente os resultados alcançados e o impacto dos programas ou das organizações e, por isso, necessitam do apoio do Diretor Executivo. 


10- Apoiar o Conselho de Administração. 


Os Conselhos são responsáveis pela sua própria organização. Mas o Conselho não pode fazer seu trabalho sem o apoio do Diretor Executivo. 


Para apoiar o Conselho, o Diretor Executivo deve: 


  • Executar as tarefas administrativas do Conselho 
  • Demonstrar consideração e respeito pelos membros do Conselho e facilitar a interação nas relações do Conselho. 
  • Fornecer informações úteis e relevantes ao Conselho. 


Próximos passos


Espero que tenha ajudado a esclarecer as responsabilidades do Diretor Executivo de uma ONG e as diferenças entre essas e as responsabilidades do Conselho de Administração. Então, quais os próximos passos?


  1. Se você é Diretor Executivo ou Presidente do Conselho de uma ONG: revise a descrição do trabalho do Diretor Executivo e certifique-se de que contemple as 10 responsabilidades. 
  2. Se você é Diretor Executivo ou Presidente do Conselho de uma ONG e não existe uma descrição do trabalho do Diretor Executivo: prepare a descrição de trabalho do Diretor Executivo com base nas 10 responsabilidades acima. 


Continue a me seguir aqui no Portal do Impacto e no
Instagram  e no LinkedIn para aprender mais sobre como fortalecer a governança da sua organização. 


Se quiser tirar uma dúvida, pode entrar em contato comigo por e-mail:
lassner.karen@gmail.com


Até o mês que vem!


Fonte: Moyers, Richard L.
The Nonprofit Executive Director´s Ten Basic Responsibilities. Washington, DC: BoardSource, 2006




Karen Lassner é mestre em saúde pública e estudos latinoamericanos pela Universidade da Califórnia, Los Angeles. Estadounidense, há mais de 35 anos dedica-se a fortalecer a governança e liderança de organizações dos setores público e sem fins lucrativos. É membro dos conselhos da BrazilFoundation, Abraço Campeão e MIUSA.

 

LinkedIn

Instagram

Email



Inscreva-se na nossa Newsletter

Últimas publicações

Uma mulher negra se alongando em um tapete de yoga no gramado
Por Sara Dias 25 abr., 2024
Saiba como o conceito de autocuidado nasceu numa perspectiva individual na área da saúde e se transformou na área social como prática de cuidado coletivo.
Uma pessoa usando a calculadora e escrevendo em um papel
Por Maria Cecília Prates Rodrigues 18 abr., 2024
Na Harvard Business Review (HBR) de jan-fev de 2019, fui atraída pelo título de um dos artigos sobre uma maneira para se calcular o valor dos investimentos de impacto, com base em evidências . Comecei a ler o texto entusiasmada pela possibilidade de encontrar uma contribuição pragmática no campo da avaliação social, mas confesso que fiquei decepcionada. O trabalho foi escrito por sócios e gestores da Rise Fund (um fundo de US$2 bilhões para investimentos de impacto) e da Bridgespan Group (uma consultoria global para impacto social). A partir da experiência deles, propõem uma metodologia para estimar o retorno financeiro do investimento social e ambiental. Batizaram a “nova” métrica por IMM ( Impact Multiple of Money) , porque, com base nela, se tornaria possível prever o múltiplo em benefício social e ambiental que seria gerado a partir de $ 1 investido – assim, se o IMM for 5X (5 vezes), significa que cada $1 investido vai gerar $5 em benefícios. Rise Fund só investe em projeto quando o IMM dele for no mínimo de 2,5X. A intenção dos autores é que, a partir da comparação dos valores de IMM estimados, se consiga dar mais rigor ao processo de seleção dos investimentos sociais, como já é usual no mundo dos negócios, através do uso de metodologias financeiras amplamente aceitas. Com isso, segundo eles, se poderia avançar sobremaneira na análise dos investimentos de impacto, que ainda se encontra atualmente, em grande medida, baseada na “adivinhação”, em informações restritas a processo, ou em intenções de comprometimento. Os seis passos do método proposto (IMM) Avaliar a relevância e a escala do projeto, para se decidir sobre se vale a pena (ou não) o esforço de aplicar o método, pois “estimar o IMM não é tarefa trivial”. Então, segundo os autores, o projeto a ser avaliado deve ter um propósito e escala potencialmente relevantes, o que não quer dizer número grande de pessoas beneficiadas. Há projetos com um pequeno número previsto de beneficiados, porém com grande potencial de transformação, que podem ser muito mais relevantes do que outros com grande número de beneficiados. Estimar os resultados sociais ou ambientais esperados. Nessa etapa é importante verificar se os resultados previstos são atingíveis e mensuráveis. “Felizmente” hoje os investidores já podem contar com muitas pesquisas nas Ciências Sociais (as evidências) que lhes permitem estimar o potencial do impacto social da empresa ou organização. E tal se deve ao movimento sobre “ o que funciona ” dos programas sociais, que propiciou um grande impulso ao desenvolvimento da “indústria de medição de resultados sociais” nessa última década. Estimar o valor econômico desses resultados para a sociedade. Para traduzir os resultados identificados (acima) em termos monetários, é preciso também recorrer a um “estudo-âncora” robusto (ou a evidências ou referências já existentes) e, na ausência desse, à orientação de um especialista da área. A escolha do estudo-âncora deve levar em conta o rigor da estimação dos resultados (preferência por pesquisa experimental, ao invés de pesquisa observacional ou estudo de caso), contexto similar ao do projeto em questão, e/ou o estudo deve ser o mais recente possível. Ajustar o risco advindo do uso de estudos-âncora. Embora os autores considerem ser satisfatório o uso de estudos-âncora (ou das evidências) já existentes para preverem a monetização dos resultados sociais e ambientais, eles admitem o risco de aplicarem tais achados não diretamente associados às oportunidades do investimento em questão. Propõem, então, que seja incluída nos cálculos a estimativa do risco, baseada em uma escala de probabilidade de 0 a 100%, definida segundo 6 categorias, que são: qualidade do estudo-âncora, pressupostos adotados, contexto, grupo de renda, similaridade do produto ou serviço, e a possibilidade do uso previsto (para o produto/serviço social) não se verificar. Estimar o valor terminal do investimento. No caso de determinados tipos de projetos sociais e/ou ambientais, pode fazer sentido incluir também na estimativa do valor monetário do impacto o período depois que o projeto ou investimento social tiver finalizado. Calcular o retorno social por cada dólar investido. Finalmente é calculado o valor do IMM. Assim, segundo os autores, “ em um mundo em que os CEOs estão cada vez mais falando em lucro e propósito, o IMM oferece uma metodologia rigorosa para se avançar na arte de alocação do capital para gerar benefício social ”. Pois quanto maior o valor do IMM estimado, maior o potencial de impacto do investimento social e/ou ambiental, permitindo a comparabilidade entre projetos de natureza distinta, como é comum no campo social. Por que a decepção com o método IMM? 1.IMM não é um método inovador
Por Pollyana Bonvecchi 04 abr., 2024
Você já ouviu falar em autogestão? Compreende seu funcionamento? É surpreendente a forma com que o cenário global passa por mudanças, exigindo, portanto, adaptações nos âmbitos ambientais, administrativos e organizacionais. Diante disso, é anti produtivo permanecer com mentalidades ancoradas no século passado e almejar inovação, sendo que este paradigma se aplica também à governança organizacional. Neste sentido, como nós, do terceiro setor, então, podemos adotar metodologias e mecanismos, gerando impacto de uma forma mais inovadora e transparente? Siga conosco e leia o conteúdo na íntegra!  Gestão tradicional e autogestão: entenda as diferenças chave! Na gestão tradicional, é comum que as preocupações dos colaboradores sejam encaminhadas aos superiores ou a chefia imediata, para que as repassem a níveis mais elevados de comando. Desse modo, tal processo resulta em tomadas de decisões centralizadas no topo da hierarquia, desconectadas das realidades das bases. Em contrapartida, a autogestão propõe a descentralização das responsabilidades organizacionais. Ou seja, isso significa que os indivíduos ou equipes têm maior autonomia para gerenciar suas tarefas, projetos e até mesmo definir suas diretrizes de trabalho. Sob a perspectiva sociocrática, holocrática, ou nos moldes da organização orgânica (O²) , a estrutura se fundamenta em círculos e papéis, onde cada indivíduo detém autoridade para deliberar sobre assuntos relacionados ao seu papel ou ao propósito do círculo que faz parte. Neste contexto, os colaboradores identificam discrepâncias entre a situação atual e a ideal, denominadas "tensões". Tais tensões são compartilhadas nos círculos, que desenvolvem estratégias para sua resolução. Dessa forma, os círculos se alinham e se complementam, formando uma estrutura organizacional dinâmica, saudável e segura. O poder não é dado às pessoas ou cargos, mas aos papéis e círculos (via “O que é autogestão”, Sociocracia Brasil no YouTube).
foto preto em branco, pessoa com uma xícara branca na mão olhando para a tela do computador
Por Instituto Phomenta 01 abr., 2024
O Google Ad Grants oferece o valor de US$ 10 mil por mês em anúncios para ONGs e é tema do guia desenvolvido pela BC Marketing
Por Sara Dias 21 mar., 2024
Praticar atividades físicas, investir em hobbies, conversar com amigos ou buscar ajuda terapêutica. Esses são apenas alguns dos exemplos que se enquadram no que podemos chamar de “estratégias para se atravessar um período de estresse ou momento difícil”, mais conhecido como Coping . O termo inglês Coping , traduzido para o português como Estratégias de Enfrentamento em saúde mental, é uma teoria que estuda o estresse psicológico e as diversas formas com que uma pessoa pode avaliar e agir frente a uma situação estressora, a fim de minimizar, controlar ou tolerar seus efeitos a curto e médio prazo. Criado e desenvolvido pelos psicólogos americanos Richard Lazarus e Suzan Folkman, na década de 1980, o coping tem como características a tomada de decisão consciente e intencional, orientada para o futuro, que leva em consideração aspectos individuais como traços de personalidade, e aspectos temporais como seus objetivos, resultados almejados, e preocupações, durante o período estressante. De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
Avaliação de impacto serve para todos os casos? Confira as situações onde a avaliação não se aplica e como resolver essa questão.
mostrar mais

Participe do nosso grupo no WhatsApp para receber nossos conteúdos em primeira mão

Entrar para o grupo
Share by: