Anna Tulie Araújo é assistente de estratégia na consultoria de inovação social Think Eva e na organização da sociedade civil Think Olga.
Linkedin: Anna Tulie
Instagram: travapolitica, think.eva e think_olga
Este conteúdo foi produzido por Anna Tulie Araújo e Wanda Marques
Junho mal acabou e já deixou reflexões. Com ele, além da enorme vontade de comer canjica e tomar quentão, veio também a avalanche de logos modificadas com as cores do arco-íris, em razão do mês do Orgulho LGBTI+. Essa ação cinicamente despretensiosa já se tornou um clássico do calendário de tretas perenes da internet: quem não viu um meme (ou um textão) falando sobre a apropriação feita pelo mercado (segundo setor) sobre a pauta LGBTI+?
A movimentação de um mercado cada vez mais amplo e difuso é uma grande motivação para acenar ao público externo. Essa motivação torna-se cada ano mais explícita com o aumento das ações fundadas na representação publicitária como estratégia de realizar esse aceno ao público.
No terceiro setor, porém, acenar a essa pauta representa um grande desafio em termos de informação e recursos disponíveis, além de não gerar uma “resposta” objetiva, mensurável e relevante. No entanto, esta perspectiva funda-se em uma visão limitada e superficial de ações para a diversidade.
Para contextualizar as formas de ação, abordar a correlação de
estética
e
ética
auxilia na ampliação das possibilidades existentes a partir da realidade das organizações, para que se engajem ativa e efetivamente em qualquer causa social.
A
estética
é a parte mais visível e, não raro, superficial dessa correlação. Isto porque, em geral, se trata de uma abordagem mais imediatista, que ganha corpo na produção e veiculação de mensagens ou discursos em detrimento de ações. É importante ressaltar que a estética é fundamental para a promoção da diversidade, equidade e inclusão, mas sozinha ela tem grande potencial de instrumentalizar pautas sociais e reduzir demandas políticas de grande relevância à mera representação imagética.
A ética, por sua vez, representa um compromisso sistêmico com as pautas sociais abordadas. A partir dela é que podemos aprofundar no que de fato pode e deve ser feito para que a vida de pessoas minorizadas seja protegida e respeitada. Afinal, apenas a presença estética, cada vez mais ampla, de pessoas trans e travestis, por exemplo, não muda o fato de que ano após ano o Brasil bate recordes por manter-se no primeiro lugar dentre os países que mais matam essa população.
Desta forma, a ação ética, que já é ferramenta central no trabalho de qualquer organização do terceiro setor, é a estratégia ideal para amplificar o compromisso com as transformações sociais, baseada em uma visão sistêmica, humana e interseccional.
Abaixo, sugerimos 5 pontos de reflexão para identificar em que ponto sua organização se encontra e, assim, saber quais iniciativas precisam ser tomadas para engajar ou ampliar o apoio à diversidade.
1. Visão sistêmica:
Entender a organização, a complexidade de suas unidades e procedimentos para, enfim, compreender a integração dos setores e desenvolver uma estratégia direcionada às mudanças que precisam ser geradas. A partir desta abordagem, é possível identificar os principais desafios e promover ações mais robustas.
2. Interseccionalidade:
Uma ferramenta teórica e metodológica que expõe o quanto as estruturas sociais que geram diferentes formas de opressão são inseparáveis. Assim, o racismo, o machismo, a discriminação e violência baseada em identidade de gênero, características sexuais e orientação sexual não apenas se somam, mas cocriam novas formas de violência que afetam mais violentamente determinadas populações.
3. Sensibilização:
Para agir, é fundamental preparar todas as pessoas envolvidas. Portanto, promover informação acessível e de qualidade proporciona a compreensão de realidades diversas e o diálogo das relações entre o que é singular e o que é coletivo, a fim de fortalecer o sentimento de pertencimento, escuta e empatia.
4. Política de ação afirmativa:
Mais do que simplesmente dizer que as vagas de processos seletivos se destinam “a todas as pessoas sem distinção”, é preciso tomar ação efetiva para combater as discriminações e desfazer o complexo sistema que as mantém. Assim, mais do que mudar o público direcionado às vagas, é preciso mudar a forma como os pretendentes às vagas são selecionadas, definindo uma estratégia interseccional.
5. Acolhimento:
Criação, a partir de estratégias diversificadas e adaptadas, de um ambiente onde as pessoas pretas, LGBTI+, periféricas etc. sejam recebidas em sua integralidade. Dessa forma, é importante que todos sejam fortalecidos e compreendidos nas suas diferenças, o que fortalece a inclusão e a tolerância com as multiplicidades culturais.
Por último, te convidamos a conhecer sobre a história do movimento LGBTI+, os conceitos e siglas e organizações que atuam em defesa dos direitos dessa população. Acesse o eBook: “Não existe orgulho sem luta: LGBTI+ e o mundo corporativo”.
Este conteúdo foi produzido por Anna Tulie Araújo e Wanda Marques
Anna Tulie Araújo é assistente de estratégia na consultoria de inovação social Think Eva e na organização da sociedade civil Think Olga.
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Wanda Marques é diretora da União Libertária de Pessoas Trans e Travestis.
Linkedin: Wanda Marques
Instagram: wandamarques_illa e ultrabr.trans
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