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Diversidade, Equidade e Inclusão no terceiro setor

jul. 01, 2021

Este conteúdo foi produzido por Anna Tulie Araújo e Wanda Marques


É fundamental que as organizações, em todas as áreas, atuem para fortalecer a diversidade, equidade e inclusão no terceiro setor.

Junho mal acabou e já deixou reflexões. Com ele, além da enorme vontade de comer canjica e tomar quentão, veio também a avalanche de logos modificadas com as cores do arco-íris, em razão do mês do Orgulho LGBTI+. Essa ação cinicamente despretensiosa já se tornou um clássico do calendário de tretas perenes da internet: quem não viu um meme (ou um textão) falando sobre a apropriação feita pelo mercado (segundo setor) sobre a pauta LGBTI+?

  

A movimentação de um mercado cada vez mais amplo e difuso é uma grande motivação para acenar ao público externo. Essa motivação torna-se cada ano mais explícita com o aumento das ações fundadas na representação publicitária como estratégia de realizar esse aceno ao público.

  

No terceiro setor, porém, acenar a essa pauta representa um grande desafio em termos de informação e recursos disponíveis, além de não gerar uma “resposta” objetiva, mensurável e relevante. No entanto, esta perspectiva funda-se em uma visão limitada e superficial de ações para a diversidade.


Para contextualizar as formas de ação, abordar a correlação de estética e ética auxilia na ampliação das possibilidades existentes a partir da realidade das organizações, para que se engajem ativa e efetivamente em qualquer causa social.

 
A
estética é a parte mais visível e, não raro, superficial dessa correlação. Isto porque, em geral, se trata de uma abordagem mais imediatista, que ganha corpo na produção e veiculação de mensagens ou discursos em detrimento de ações. É importante ressaltar que a estética é fundamental para a promoção da diversidade, equidade e inclusão, mas sozinha ela tem grande potencial de instrumentalizar pautas sociais e reduzir demandas políticas de grande relevância à mera representação imagética.

A ética, por sua vez, representa um compromisso sistêmico com as pautas sociais abordadas. A partir dela é que podemos aprofundar no que de fato pode e deve ser feito para que a vida de pessoas minorizadas seja protegida e respeitada. Afinal, apenas a presença estética, cada vez mais ampla, de pessoas trans e travestis, por exemplo, não muda o fato de que ano após ano o Brasil bate recordes por manter-se no primeiro lugar dentre os países que mais matam essa população. 


Desta forma, a ação ética, que já é ferramenta central no trabalho de qualquer organização do terceiro setor, é a estratégia ideal para amplificar o compromisso com as transformações sociais, baseada em uma visão sistêmica, humana e interseccional.


Abaixo, sugerimos 5 pontos de reflexão para identificar em que ponto sua organização se encontra e, assim, saber quais iniciativas precisam ser tomadas para engajar ou ampliar o apoio à diversidade.

1. Visão sistêmica:


Entender a organização, a complexidade de suas unidades e procedimentos para, enfim, compreender a integração dos setores e desenvolver uma estratégia direcionada às mudanças que precisam ser geradas. A partir desta abordagem, é possível identificar os principais desafios e promover ações mais robustas.



2. Interseccionalidade:

Uma ferramenta teórica e metodológica que expõe o quanto as estruturas sociais que geram diferentes formas de opressão são inseparáveis. Assim, o racismo, o machismo, a discriminação e violência baseada em identidade de gênero, características sexuais e orientação sexual não apenas se somam, mas cocriam novas formas de violência que afetam mais violentamente determinadas populações.


3. Sensibilização:


Para agir, é fundamental preparar todas as pessoas envolvidas. Portanto, promover informação acessível e de qualidade proporciona a compreensão de realidades diversas e o diálogo das relações entre o que é singular e o que é coletivo, a fim de fortalecer o sentimento de pertencimento, escuta e empatia.


4. Política de ação afirmativa:


Mais do que simplesmente dizer que as vagas de processos seletivos se destinam “a todas as pessoas sem distinção”, é preciso tomar ação efetiva para combater as discriminações e desfazer o complexo sistema que as mantém. Assim, mais do que mudar o público direcionado às vagas, é preciso mudar a forma como os pretendentes às vagas são selecionadas, definindo uma estratégia interseccional.


5. Acolhimento:


Criação, a partir de estratégias diversificadas e adaptadas, de um ambiente onde as pessoas pretas, LGBTI+, periféricas etc. sejam recebidas em sua integralidade. Dessa forma, é importante que todos sejam fortalecidos e compreendidos nas suas diferenças, o que fortalece a inclusão e a tolerância com as multiplicidades culturais.


 Por último, te convidamos a conhecer sobre a história do movimento LGBTI+, os conceitos e siglas e organizações que atuam em defesa dos direitos dessa população. Acesse o eBook: “Não existe orgulho sem luta: LGBTI+ e o mundo corporativo”.


Este conteúdo foi produzido por Anna Tulie Araújo e Wanda Marques



Anna Tulie

Anna Tulie Araújo é assistente de estratégia na consultoria de inovação social Think Eva e na organização da sociedade civil Think Olga.

Linkedin: Anna Tulie

Instagram: travapolitica, think.eva e think_olga


Wanda Marques

Wanda Marques é diretora da União Libertária de Pessoas Trans e Travestis.

Linkedin: Wanda Marques

Instagram: wandamarques_illa e ultrabr.trans 



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Por Sara Dias 21 mar., 2024
Praticar atividades físicas, investir em hobbies, conversar com amigos ou buscar ajuda terapêutica. Esses são apenas alguns dos exemplos que se enquadram no que podemos chamar de “estratégias para se atravessar um período de estresse ou momento difícil”, mais conhecido como Coping . O termo inglês Coping , traduzido para o português como Estratégias de Enfrentamento em saúde mental, é uma teoria que estuda o estresse psicológico e as diversas formas com que uma pessoa pode avaliar e agir frente a uma situação estressora, a fim de minimizar, controlar ou tolerar seus efeitos a curto e médio prazo. Criado e desenvolvido pelos psicólogos americanos Richard Lazarus e Suzan Folkman, na década de 1980, o coping tem como características a tomada de decisão consciente e intencional, orientada para o futuro, que leva em consideração aspectos individuais como traços de personalidade, e aspectos temporais como seus objetivos, resultados almejados, e preocupações, durante o período estressante. De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». 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