Como será o amanhã?

24 de novembro de 2022

Este conteúdo foi produzido por Susana Barbosa


“Como será o amanhã, responda quem puder, o que irá me acontecer, o meu destino será como Deus quiser...”. 


Certamente a geração dos anos 80 lembra-se desse trecho da música da cantora Simone de MPB e Pop. Sim, essa década nos lembra o auge na cultura, músicas e cantores, que, com letras que nos faziam e fazem pensar até hoje, traziam a realidade ou a expectativa para um mundo melhor. 


Hoje é o começo de uma nova fase na minha vida. Mensalmente vamos conversar sobre assuntos do terceiro setor no Brasil. Eu sou de Guarulhos – SP, 41 anos, filha de dois nordestinos com muito orgulho! (José Deon e Maria Alice), casada com Roberto Matos, empreendedor no Refúgio do Gibi. Atuo desde 2002 com projetos sociais e com ONGs, agora OSCs. Eu me lembro que, quando comecei, não tinha a menor ideia do que era o terceiro setor, mas sei que me identifiquei e me apaixonei pela proposta de trabalho (iniciei sendo voluntária com rodas de conversas com crianças de 06 a 16 anos no Projeto Crescendo em Guarulhos – SP). 


Eu nem sabia ao certo o que eram políticas públicas e que o que desenvolvíamos, estava dentro da proposta da assistência social. Então, o que eu fiz? Claro, assim como você provavelmente, fui buscar conhecimento. Ouvi profissionais da área, fiz cursos na área de gestão e visitei ONGs de Guarulhos e algumas em São Paulo. 


Nesses estudos, aprendi que, a primeira organização sem fins lucrativos no Brasil, foi a Santa Casa de Misericórdia de Santos, em 1543 (pesquisa na internet). Segundo o próprio portal que você lê, hoje somos aproximadamente mais de 800 mil ONGs no Brasil (Portal do Impacto) e vemos como o que iniciou-se com passos pequenos, agora se profissionalizou. Hoje temos gestores e líderes altamente capacitados à frente das OSCs, temos aceleradoras de OSCs, temos editais, financiamentos coletivos, leis de incentivo e verbas disponíveis para OSCs formalmente organizadas e qualificadas.


O discurso mudou, saiu a tempo do assistencialismo e a conversa agora é política pública. Depois da nossa carta magna, seguimos por ela as diretrizes para o bom funcionamento do trabalho do terceiro setor, assim como o MROSC – Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (Lei 13.019/2014-2015), para quem deseja obter verba pública. No século 20 houve um boom das OCs no Brasil! Muitos investimentos e aberturas de diversas organizações. As OCs especificamente mostraram que sabem fazer o seu papel, sabem fazer gestão. É claro que temos muito a melhorar, sempre. Crescemos tanto que, hoje temos avaliações e premiações das 100 melhores ONGs do ano, Selo de Gestão e Transparência e outros. Aprendemos a ler e interpretar a legislação, seja ela educacional, saúde, social, ambiental, cultural, esportiva etc. 


Porém, é claro que isso é resultado de muita luta, muito diálogo e muita persistência para que o primeiro e segundo setor, entendessem que também sem o terceiro setor, e sem atuação em rede, muita coisa seria impossível de acontecer, principalmente o alcance de crianças e adolescentes nas diversas periferias espalhadas no nosso Brasil, mulheres vítimas de violência e o combate contra o racismo em todas as esferas. Infelizmente as crises econômicas e políticas vividas em nosso país, afetam principalmente os mais pobres e claro que em consequência, as OSCs de pequeno e médio portes e até mesmo as de grande porte. Para quem atua na gestão de uma OSC ou na área de captação de recursos, sabe muito bem o que estou dizendo. A primeira coisa que, tanto as empresas como as pessoas físicas fazem é reduzir as despesas e talvez alguns investimentos e doações se percam, isso porque há uma readequação social, política e econômica que gera instabilidade para todos. E, aqui estamos nós novamente neste momento. 


Tem muita coisa boa acontecendo nas ONGs sim. Vimos no ápice da pandemia a FORÇA que nós temos! Eu faço parte da OSC Ação Vida em Guarulhos – SP e por aqui, somente em 2021, em um bairro com aproximadamente 100 mil habitantes, distribuímos com ajuda de parceiros, mais de 10 mil cestas básicas e mais de 5 mil EPIs! Somente as OSCs conseguiram e até porque já estão, chegar na ponta e atender quem passou fome, frio e medo. 


Porém, diante das incertezas políticas que temos vivido, surge no meu e provavelmente no seu coração a mesma pergunta que a cantora Simone fez: “...como será o amanhã?”. Sobrevivemos ao maior vendaval do nosso século – a pandemia, porém ainda temos desafios para enfrentarmos. Como será a execução das políticas públicas nos próximos anos? Quais os investimentos que serão de fato aprovado pelo Estado? Precisamos pensar, repensar e agir. Pensar como? Acompanhando o primeiro e segundo setores. Entendendo o que eles estão pensando neste momento sobre o terceiro setor e como querem apoiar e cobrar resultados. Agir como? Atuar em rede com as demais ONGs é fundamental e sempre é a melhor saída. Ninguém é bom sozinho o suficiente. Como será o amanhã? Precisamos de muito planejamento, rodas de conversas, fóruns de debates, ouvir a comunidade que atendemos e atuarmos em redes sempre, para, pensarmos em eventualidades possíveis, mas também um tempo de inovação na gestão! Vamos juntos?


Guarulhense, filha de dois baianos (José Deon e Maria Alice), casada com Roberto Matos, bacharel em Teologia (Universidade Metodista de São Paulo). Extensão em Projetos Sociais pela PUC-SP. Pós-graduação (gestão empresarial) e sociologia da educação. Gestora da Ação Vida desde 2012 e empreendedora social no Dicas3Setor. 



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