Como promover ambientes saudáveis e acolhedores para gerar inclusão de fato?

11 de março de 2021

As políticas de inclusão nas organizações devem ser concretas e amplas para gerarem mudanças reais na sociedade e na vida das pessoas.

É importante que a organização - aqui vista como organismo vivo feito por pessoas e que está em constante transformação - se questione: como promover ambientes saudáveis e acolhedores para gerar inclusão de fato? 

Essa é uma pergunta que parte da Abong - Associação Brasileira de ONGs na sua frente #SomosTodasAntiracistas¹. Começo retomando um conceito fundamental: lugar de fala. “É preciso compreender que a relevância do Lugar de Fala é compreender sua posição social e discutir/agir de acordo com ela”². Eu, mulher, branca, gestora de projetos sociais e educacionais, não devo me ausentar da luta, mas sim reconhecer minha posição social e privilégios e lutar a partir daí. 


É muito importante destacar que o que eu trarei não é novidade, nem segredo e nem de autoria própria. Há milhares de estudiosas(os) negras falando sobre o assunto, trabalhando muito e criando iniciativas. Já deixo meu primeiro ponto: leia, estude e ouça intelectuais negras. A minha tentativa aqui é de compartilhar o que eu aprendi lendo e ouvindo dessas mulheres e das experiências que vivenciei estando à frente de um projeto de educação em Uganda, na África. A discussão é muito mais ampla e profunda, mas trarei alguns pontos que vi na prática suas transformações.


Então, para promover ambientes saudáveis e acolhedores que geram inclusão de fato, o primeiro questionamento é: o quanto você e a sua organização estão de fato dispostos a mudar e se abrir? Não há mais espaço para nós brancos fazermos as coisas como fazíamos antes, é necessário sair da zona de conforto e aceitar que é urgente uma mudança radical. E que ninguém vai perder espaço ou posição. Estamos falando sobre agregar. Estude sobre racismo estrutural, formação da população brasileira, história a partir da visão afrocentrada.   


Segundo ponto: é fundamental praticar a escuta profunda e estabelecer uma relação de confiança dentro da sua organização. Ouça a experiência e valorize aquela(e) profissional. Ela(e) está falando do seu lugar de fala e isso não deve ser questionado. Não crie resistências internas e racistas às novas ideias trazidas. Dê autonomia, suporte e confiança para a realização. Ouça de verdade. 


Terceiro ponto: busque conhecer mais a realidade da pessoa, sem estigmatizá-la. É fundamental entender as raízes históricas do racismo e ver como ele mantém a população branca no poder e a população negra na exclusão e violência. Mas não caia em estereótipos e reproduções racistas. A população negra, assim como a branca e qualquer outra, é plural e diferente. Cada pessoa tem a sua subjetividade e a sua história. Respeite, não exija posições forçadas, não exponha ou constranja a pessoa. 


Pesquise sobre a branquitude. A origem do racismo veio dos brancos com a - péssima - ideia de raças superiores e inferiores e foi articulada com os poderes políticos, a mídia e as instituições (racismo estrutural). Vivemos as consequências até hoje: nós, brancos, nos beneficiamos e os negros são prejudicados. Entenda profundamente isso para agir para uma mudança. Devemos nos responsabilizar. Nos omitir é continuar apoiando o racismo.   


Enxergar o tema da igualdade e inclusão como questões básicas e urgentes e agir para isso é promover a mudança e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade. Como pessoa branca, devemos sair da posição de defesa e justificativas quando se discute racismo. Dessa forma, poderemos agir no âmbito pessoal e coletivo para uma transformação.


Promova a igualdade na ocupação de cargos e salários na sua organização: pessoas negras devem ser contratadas para todas as funções, incluindo falar ou trabalhar com aspectos étnicos-raciais. Mas não somente. Assim como existe a contratação de brancos em todas as funções, isso não deveria ser diferente para os negros. 


Além disso, é fundamental criar espaços educativos e comitês anti racistas que possam ser usados como espaços de debates e reflexões, como também de locais seguros de denúncia. Qualquer fala e ato racista deve ser repreendido e reeducado. E isso exige uma posição firme, responsável e cuidadosa da organização.


É importante rever nossas posturas e atuar na luta anti racista diariamente. Organizações são moldadas por pessoas e a forma que pensamos influencia diretamente o ambiente. Continue estudando, leia mulheres negras, ofereça oportunidades, exija mudanças. A discussão é mais ampla e profunda, mas é possível criar espaços saudáveis e de acolhimento para gerar inclusão de fato. Basta querer e agir. Seguimos juntas e juntos nessa luta. 



Elisa Pires - Escola Unganda

Elisa Pires é psicóloga comunitária e educacional, trabalha na gestão de projetos sociais e com mentoria e consultoria. É fundadora da Escola em Uganda. Atualmente, oferece cursos online na área de educação, psicologia comunitária, trabalho com grupos e outros. Saiba mais. Pós-graduanda em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global na PUCRS. E-mail para contato: epmartins91@gmail.com


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