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Como definir os conteúdos, as atividades e as metodologias educacionais para um projeto social de educação?

nov. 04, 2021

Este conteúdo foi produzido por Partilha

Projeto elaborado e aprovado, recursos na conta, time de educadores recrutados, beneficiários na “sala de aula”. Agora é só começar, certo? Errado! Como dissemos no primeiro texto desta série, nosso foco aqui é falar sobre os bastidores dos projetos sociais de educação, e ainda tem muita água para rolar antes de colocarmos a mão na massa.


Nossa prosa de hoje é, na verdade, uma continuidade e ampliação da conversa que tivemos sobre a primeira etapa de um projeto social de educação: a
elaboração. Pensar em processos formativos vai além das macro escolhas feitas na definição inicial do projeto. Depois disso, é preciso definir um planejamento pedagógico, que implica em muito mais do que selecionar “atividades legais”.


Se você é um gestor e está quase desistindo de ler esse texto porque acredita que essa parte não te compete, espere um pouco! Você não vai se arrepender. Definir metodologias, conteúdos e atividades tem tudo a ver com seu trabalho, sim!


Quando conversamos sobre elaboração de projetos, uma das dicas que dei e que considero uma das mais relevantes é conversar. Aqui talvez esteja a raiz da maior parte dos fracassos de projetos sociais de educação. Se na elaboração de projetos você precisa conversar com todas as pessoas envolvidas, essa conversa tem que continuar existindo quando a ideia for colocada em prática.


É claro que os papéis são diferentes e que gestores e educadores têm conhecimentos e vivências específicas, mas é fundamental ー atenção para a
primeira dica ー que o trabalho seja feito de maneira conjunta. As decisões pedagógicas serão tomadas pela equipe técnica competente; no entanto, para que elas sejam mais assertivas, essa equipe precisa ter sido envolvida lá no processo de elaboração.


Uma vez que todas as pessoas estiverem alinhadas e a elaboração tiver sido feita de modo conjunto e integrado, o que devemos fazer agora? Nossa
segunda dica é considerar quatro fatores para definir qual metodologia educacional será adotada: público, objetivos do projeto, missão da instituição e contexto. Uma metodologia educacional é muito mais do que um jeito de fazer um projeto acontecer: é um método embasado em uma concepção de mundo, de ser humano e de educação. Sendo assim, essa concepção precisa fazer sentido para sua organização e para a proposta do projeto, não é?


Escolhida a metodologia, a
terceira dica é construir materiais e atividades que se adequem à sua realidade. Há muitos materiais prontos de excelente qualidade que podem inspirar seu time de educadores, mas é preciso ter flexibilidade e consciência sobre as escolhas que estão sendo feitas de acordo com o projeto, o público e o contexto. É isso que eu chamo de intencionalidade pedagógica. Não é porque a atividade é boa que ela serve ao seu propósito, certo?


A
quarta dica é sobre escolher essas atividades: comece a partir do macro. Qual é o objetivo do projeto? Quais são as fases do processo de formação previstas no projeto? Quais são as características do seu público que podem potencializar ou dificultar o atingimento dos resultados? Como as atividades colaboram para que eu atinja os resultados do projeto? Depois disso, fica mais fácil selecionar ideias e exemplos para colocar em prática.


Falando em prática, a
quinta dica refere-se à aplicabilidade das atividades. Muitas vezes, temos ideias mirabolantes que não cabem no nosso espaço, no nosso tempo e nos nossos recursos. Isso não significa que você vá abandonar as ideias, mas que a adaptação sempre é necessária. Por outro lado, já observou quais recursos você tem? Como potencializar o que está à disposição? Muitas vezes, não percebemos que o próprio espaço da organização e da comunidade é riquíssimo para promover processos de formação e desenvolvimento. 


A
sexta dica é sobre a essência do projeto. Para escolher as atividades que serão colocadas em prática, é preciso refletir se a forma como essa atividade é pensada e conduzida demonstra a essência de sua organização. Essa reflexão vale mais do que ter um leque infinito de possibilidades. 


Mesmo considerando contexto, público, objetivos do projeto e missão da instituição, pode ser que novos projetos e/ou novos conteúdos sejam muito desafiadores para sua equipe. Quando for assim, não tenha medo!
Sétima dica: busque ajuda especializada. Isso pode ser previsto lá na elaboração do projeto para dar mais segurança e consistência ao seu time técnico.


Oitava e última dica: não basta envolver os educadores, é preciso incluir os educandos. Observar se as atividades fazem sentido, pedir feedbacks e fazer ajustes de modo coletivo com certeza geram mais efeito do que a atividade em si. A formação e o desenvolvimento são processos vivos, contínuos e coletivos.


Executar projetos sociais de educação é apostar na transformação social que ocorre com o desenvolvimento das pessoas, das instituições e das comunidades. É acreditar e trabalhar com técnicas, ferramentas e métodos por impactos efetivos. Esse é um trabalho processual que requer investimento. Para que o projeto seja colocado em prática e tenha resultados significativos, deve ser construído a muitas mãos ー com muita consciência e clareza das escolhas. 


Mais uma vez, foi um prazer compartilhar aprendizados acumulados executando, elaborando e gerindo projetos sociais de educação durante anos. Que possamos cada vez mais fortalecer essa rede que trabalha pelo Desenvolvimento Social a partir da Educação.


Este conteúdo foi produzido por Partilha

Ana Carolina Ferreira, apaixonada por educação e terceiro setor, graduada em Letras, especialista em Gestão de Projetos e graduanda em Psicologia. Fundadora da Partilha, dedica-se ao desenvolvimento de pessoas, empresas e instituições sociais, assessorando programas educacionais.


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
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