Carta aberta de apelo à ação das ONGs

2 de junho de 2022

Por Catalyst 2030 Brasil


Um Convite Urgente para Mudar as Práticas de Financiamento


Estamos agora numa fase da nossa viagem civilizacional onde o nosso mundo enfrenta um conjunto de desafios globais em cascata e interrelacionados que ameaçam o futuro das pessoas e do planeta.  Desde a pobreza endêmica, a desigualdade racial e de gênero, a extinção de espécies, e o desmatamento, até o fascismo crescente, e a crise climática, a combinação destes desafios concorrentes e sobrepostos sinaliza a necessidade urgente de transformar fundamentalmente os sistemas entrincheirados subjacentes a estes grandes problemas.


Para termos alguma esperança de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e inverter a trajetória destrutiva que as pessoas e o planeta enfrentam, temos de abordar com mais eficácia as causas profundas de problemas complexos, em vez de tratar os sintomas.  Isto é possível se transformarmos políticas, práticas, costumes, mentalidades, dinâmicas de poder e fluxos de recursos para alcançar um impacto duradouro ao nível local, nacional, e global.  Este é o trabalho conhecido como mudança de sistemas.  É uma perspectiva abrangente à mudança social que procura abordar as características complexas, em grande escala e profundas, das questões sociais. 


Um aspecto chave da mudança de sistemas é a colaboração sustentada.  A verdadeira mudança de sistemas ocorre quando múltiplos atores entre setores, disciplinas e grupos sociais - incluindo financiadores e líderes de movimento - trabalham em conjunto para objetivos comuns ao longo de prazos prolongados.


Embora encorajemos os financiadores a explorar diferentes oportunidades de financiamento de projetos que possam conduzir ao bem social, incluindo os que oferecem algum retorno financeiro aos investidores, a realização de mudanças eficazes nos sistemas, em particular os muitos aspectos que necessitam de financiamento de doações, exigirá uma poderosa mudança em relação às abordagens filantrópicas tradicionais onde: 


1 - os financiadores tendem a confiar nos conhecimentos empresariais e acadêmicos para compreender o impacto social em vez de centrarem a liderança e a experiência vivida daqueles que estão mais próximos das questões que procuramos abordar;


2 - a maior parte do financiamento é direcionado para aliviar os sintomas de sistemas falidos e não para o trabalho a longo prazo de compreensão, abordagem e mobilização da mudança para abordar as causas profundas;


3 - o financiamento específico do projeto é concedido em loteamentos de curto prazo, o que também envolve frequentemente papelada excessiva, dinâmica de poder transacional, e uma dependência excessiva em métricas com curto espaço de tempo para avaliar o sucesso; e


4 - processos e critérios de candidatura podem levar a uma concorrência inútil entre organizações em vez de incentivar os tipos de colaborações necessárias para mudar os sistemas.


Um número crescente de financiadores e organizações estão descobrindo que existe uma oportunidade em tempo real para avançar no progresso global e modelar novas formas de apoiar a mudança através da transformação das atuais práticas de financiamento do setor social.  Estas mudanças necessárias abrangem múltiplos tipos de financiadores, incluindo financiamento de filantropia privada, governos, e organismos multilaterais. 


Os seguintes princípios descrevem o que nós, um grande grupo de organizações da sociedade civil e inovadores para a mudança de sistema, bem como muitos líderes do pensamento filantrópico, acreditamos ser as práticas mais críticas e eficazes que os financiadores precisar adotar à medida em que lidamos com os problemas complexos que o nosso mundo enfrenta atualmente. 


Convidamo-los a considerar a adoção das práticas transformadoras de financiamento abaixo indicadas.  Dado o poderoso papel dos financiadores e doadores em influenciar o trabalho e o âmbito das organizações que trabalham com questões sistêmicas, estas mudanças permitirão e capacitarão melhor o sector social e fomentarão colaborações multisetoriais que trabalham para os tipos de mudanças de sistemas que são urgentemente necessárias. 


Princípios

     

1. Dê Financiamento Plurianual e Irrestrito: Abordar as causas profundas dos problemas sistêmicos interligados requer uma adaptação e aprendizagem contínuas a longo prazo. Contar com organizações que tem fundos operacionais gerais durante vários anos (pelo menos três a cinco anos, e de preferência mais tempo) permitem-lhes a flexibilidade necessária para adotarem a abordagem iterativa e a longo prazo para enfrentar grandes problemas sistêmicos, complexos e de longo prazo.  Este tipo de investimento flexível liberta as organizações para se adaptarem às mudanças nas condições e permite que as organizações sem fins lucrativos se concentrem no seu trabalho de missão crítica em vez de se concentrarem na origem das doações do próximo ano.  Se um financiador só pode oferecer doações restritas a projetos, torná-las plurianuais e garantir que cobrem os custos reais diretos (incluindo salários do pessoal) e indiretos da entrega do impacto (tais como alugueis de escritórios e equipamento).  Considerar providenciar mais do que o suficiente para que estes custos permitam que as organizações sem fins lucrativos aumentem um excedente e reservas.


2. Investir na Capacitação:
  Boas ideias não são suficientes.  Ajude os seus parceiros de programa a construir a capacidade organizacional central e a responder ao que eles dizem que mais precisam.  As organizações sem fins lucrativos precisam construir um conjunto diversificado de capacidades, seja na sua organização ou através dos seus parceiros, para trazer força coletiva e sustentabilidade ao seu trabalho ao longo do tempo.  Os financiadores que impõem restrições aos custos gerais limitam a capacidade das organizações para alcançar um impacto social ótimo. 


3. Redes de Fundos: As redes são ferramentas nas nossas caixas de equipamentos de mudança social que apoiam as partes interessadas a tomar medidas de colaboração e a desenvolver iniciativas estratégicas que incluem múltiplos atores que fazem parte da solução.  As redes são também uma excelente fonte de capacitação para os participantes, incentivando a colaboração, experimentando novas abordagens, e permitindo que as correções de curso aconteçam de forma mais rápida e eficiente.  Investir em infraestrutura e capacidade de coordenação das organizações para colaborar, construir redes, e trabalhar em conjunto de forma mais eficiente e eficaz. 


4. Criar Relações Transformativas ao invés de Transacionais: Precisamos evoluir a partir das relações de poder corrosivo que têm caracterizado muitas interações entre financiadores e beneficiários até hoje. Para alcançar a mudança transformacional, precisamos praticar um modelo de parceria em que todos nós trazemos ativos e doações para a mudança em questão. O dinheiro é um desses ativos, tal como o conhecimento da comunidade, o poder das pessoas, as relações, os conhecimentos, o poder econômico e o poder político. O trabalho eficaz de mudança dos sistemas depende de todos estes trunfos.  Requer também sensibilidade partilhada para ouvir, aprender, humildade, e colaboração. Os financiadores podem abdicar de parte do seu poder para construir o nosso poder coletivo para o impacto.


5. Construir e Partilhar Poder: Os líderes sem fins lucrativos e de movimento não têm estado tradicionalmente presentes em salas onde governos e empresas tomam grandes decisões estruturais. Isto é especialmente verdade para organizações lideradas por pessoas negras, indígenas e de outras etnias, bem como para as lideradas por mulheres, jovens e pessoas com deficiência.  Os financiadores podem ajudar a reequilibrar estas injustiças. Podem consegui-lo através da partilha do poder com e da construção de poder para o setor social, dando mais recursos diretamente a nível local à organizações com liderança local e propriedade local, e fazendo investimentos mais robustos em organizações conduzidas por líderes de cor próximos.  É necessário conceber estruturas e espaços mais inclusivos para a tomada de decisões. Estes espaços devem encorajar o apoio geral ao funcionamento e ao desenvolvimento de capacidades para ajudar os líderes a ganhar políticas e práticas que façam avançar os ODS na sua arena de influência.  É também importante que os financiadores estejam abertos ao financiamento de novos empresários sociais e jovens empresários em início de carreira.


6. Sejam transparentes e reativos: Traga humildade à sua concessão e reconheça os desequilíbrios de poder nas suas relações com os parceiros do programa. Comunique a sua viagem de equidade com os seus beneficiários. Seja absolutamente claro quanto às suas prioridades e expectativas.  Seja rápido a dizer não, se não for um bom ajuste, e responda em tempo hábil. A urgência dos nossos desafios não exige menos de todos nós.


7. Simplificar e agilizar a papelada: As organizações sem fins lucrativos passam muito tempo redigindo propostas de doações, relatórios para satisfazer os requisitos dos financiadores, ao mesmo tempo que realizam o difícil trabalho de alteração dos sistemas e cumprem as condições regulamentares. Os financiadores podem ajudar a devolver tempo, simplificando os processos de candidatura, coordenando com outros doadores a due diligence e relatórios, e alinhando os relatórios com uma mentalidade de mudança de sistemas.  A elaboração de relatórios sobre o trabalho de mudança de sistemas é muitas vezes mais complexa e matizada do que a listagem de resultados a curto prazo ligados a projetos individuais. Como métodos adicionais de avaliação do impacto, os financiadores podem estar mais abertos a histórias como exemplos de progresso. Podem perguntar aos beneficiários quais as mudanças no sistema veem ao longo do tempo, e podem falar com os beneficiários sobre o que está funcionando nos seus esforços e o que não está. 


8. Oferecer apoio para além do cheque: Os financiadores têm mais para oferecer do que apenas dinheiro. Seja um conector.  Faça ligações úteis para os parceiros beneficiários a outros possíveis financiadores e organizações de pares, seja curioso e atento às suas necessidades, e crie oportunidades para os mostra-los e mostrar seu trabalho em canais a que tenha acesso.  Apoie redes que construam ligações fortes e forneçam plataformas de colaboração em vez de competição. 


9. Colaborar com outros financiadores: Tal como as organizações sem fins lucrativos precisam tecer redes para alcançar escala, os financiadores precisam construir ecossistemas de investidores no trabalho de mudança de sistemas. Partilhar conhecimentos, conexões e expertise com outros doadores; aumentar a eficiência através de ações coordenadas; abrir portas para os seus beneficiários e caminhar juntos como parceiros.  Ligue-se aos financiadores que estão investindo em áreas semelhantes e responsabilizem-se uns aos outros por pensarem amplamente sobre o seu ecossistema de financiamento e por terem a intenção de incluir líderes e organizações que, histórica e sistemicamente, têm tido dificuldades em acessar os fundos dos doadores. 


10. Adote uma Mentalidade Sistêmica em suas Doações: Os financiadores devem abraçar uma mudança de mentalidade dos sistemas com os seus beneficiários para abordar o(s) problema(s) prioritário(s) escolhido(s).  O objetivo geral é mudar significativamente as condições que mantêm o problema no lugar.  Isto implica identificar, compreender, e abordar as causas profundas do(s) problema(s) que está(ão) a abordando.  Esta mentalidade estende-se também a pensar de forma diferente sobre a avaliação e compreensão do impacto num horizonte a mais longo prazo. 


Muitos financiadores podem apontar para alguns destes princípios onde estão liderando ou fazendo progressos.  No entanto, um progresso parcial, embora valha a pena, não será suficiente se quisermos responder à urgência das complexas necessidades às quais nos deparamos.  Apelamos aos líderes do setor filantrópico e aos diferentes tipos de financiadores para que se comprometam a adotar todos estes princípios de forma significativa dentro das suas organizações, de modo que o nosso compromisso partilhado e a nossa capacidade de alcançar uma mudança social duradoura seja acelerada.


Especificamente, pedimos aos financiadores que se comprometam com os seguintes passos concretos e práticos para mostrar o seu apoio a estes princípios:


1. Tomemos o Diagnóstico do Financiador/Doador sobre a mudança dos sistemas de financiamento, encontrado aqui
https://bit.ly/3qLJTt1. Esta é uma ferramenta abrangente concebida para apoiar e informar a trajetória de mudança para mais filantropia baseada em mudanças de sistemas.  Desenvolva ações concretas que tomarão como base as recomendações da ferramenta, trabalhe para melhorar a sua pontuação durante o próximo ano ou dois, e comprometa-se a retomar o Diagnóstico de Financiador/Doador para avaliar o seu progresso. 


2. Faça mudanças para os elementos-chave da mudança dos sistemas de financiamento, tais como o aumento do financiamento concedido a grupos que utilizam abordagens de mudança de sistemas, o aumento do percentual das suas doações que fornecem apoio central sem restrições, e o aumento do percentual das suas doações que são compromissos de financiamento plurianuais. 


3. Revisite e racionalize os seus processos de concessão de doações.  Identifique pelo menos uma forma de incorporar mais perspectivas ou informações de líderes próximos para ajudar a moldar as suas decisões de doações. 


4. Responsabilize-se por estes princípios, convidando regularmente os seus beneficiários a darem o seu feedback, quer seja através de uma pesquisa anônima aos beneficiários que desenvolve, um Relatório de Percepção do Beneficiário, uma pesquisa aos funcionários, ou outros mecanismos de feedback que crie para convidar a participação. 


*Muitos dos princípios desta carta são derivados de três fontes: Embracing Complexity, um relatório colaborativo da Catalyst 2030, Ashoka e McKinsey & Company que refletiu as perspectivas de muitos empresários sociais em todo o mundo; The Trust Based Philanthropy Project; e os princípios da Filantropia Baseada na Equidade Racial.


Estamos ansiosos para trabalhar com você em nossa jornada compartilhada para criar soluções duradouras para muitos dos maiores problemas que as pessoas e o planeta enfrentam hoje.



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Catalyst 2030 é uma coalização global que buscar criar ambiente e condições de acelerar a implantação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Saiba mais sobre o capítulo brasileiro aqui.


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O Movimento Bem Maior (MBM) acaba de disponibilizar o Case Institucional do Futuro Bem Maior, publicação que reúne dados, aprendizados e histórias de impacto das três primeiras edições do programa, realizado desde 2019 em parceria com o Instituto Phi e o Instituto Phomenta. Criado para fortalecer iniciativas sociais em territórios com alto índice de vulnerabilidade social, o Futuro Bem Maior já apoiou 166 organizações de 72 municípios com recursos flexíveis, capacitação e acompanhamento técnico. O case traz uma análise dos efeitos do programa em três níveis: nas organizações apoiadas, público atendido e comunidades. Entre os principais achados, destaca-se que 77% das organizações relataram fortalecimento da autoestima institucional; 73,8% aprimoraram suas capacidades técnicas; 76,1% melhoraram o atendimento ao público; 83,5% conseguiram dar continuidade aos projetos após o ciclo de apoio; 80% ganharam visibilidade em suas comunidades. “Confiar em quem vive os desafios de perto muda tudo. Nosso compromisso é impulsionar quem já transforma a realidade nas pontas. Este case mostra que a confiança, aliada a investimento estratégico, gera resultados reais e duradouros”, afirma Carola Matarazzo, diretora executiva do MBM. A publicação reforça a abordagem do MBM ao apostar em uma filantropia baseada em confiança, que descentraliza recursos e fortalece organizações sociais como motor de transformação social. O documento está disponível gratuitamente. Clique no botão abaixo para ter acesso! 
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Em projetos sociais os resultados estão quase sempre associados a resultados intangíveis, subjetivos e abstratos, como por exemplo: crianças saudáveis, adolescentes com autoconfiança, autoestima de idosos, jovens capacitados para o mercado de trabalho, comunidade engajada, famílias ajustadas, empreendedores bem-sucedidos, e por aí vai… Alcançar esses resultados intermediários são etapas necessárias e imprescindíveis que vão contribuir para o alcance do impacto final pretendido de transformação na vida das pessoas atendidas. O problema é que até hoje no Brasil ainda não se tem clareza metodológica sobre como medir esses conceitos tão amplamente adotados na área social, que seja confiável e capaz de captar (ser sensível a) os avanços conseguidos . Então, se não há essa clareza – e aqui me refiro sobretudo à grande maioria das organizações do terceiro setor – como conseguir PLANEJAR bem os projetos sociais? Ou seja, como explicitar O QUE queremos mudar? E como saber depois se o que fizemos conseguiu, de fato, chegar AONDE queríamos, ou seja, AVALIAR se as iniciativas conduzidas foram válidas, eficazes e eficientes? Medição compartilhada: uma prática que deveria ganhar força no Brasil No Reino Unido e EUA desde 2003 – No Reino Unido vêm sendo envidados esforços por organizações think-tanks (como a New Philanthropy Capital – NPC , ou a Triangle /Outcomes Star ) e nos Estados Unidos ( FSG) para construírem sistemas de indicadores “de prateleira” (do inglês, off-the-shelf tools ) que possam ser compartilhados por organizações do terceiro setor ( charities or NGOs – Non-Governmaental Organisations ). No Reino Unido, organizações sociais trabalhando em uma mesma área-fim (por exemplo, educação de adolescentes em situação de vulnerabilidade) foram se unindo, capitaneadas por alguma organização think-tank como a NPC, para desenvolverem um sistema comum de avaliação de resultados. Nesse sentido, os conceitos abstratos relacionados a objetivos de resultados (por exemplo: autoestima), adotados por organizações trabalhando com públicos semelhantes, foram sendo operacionalizados nos mesmos indicadores ou escalas. Feita a operacionalização dos conceitos, as demais ferramentas para medição também começaram a ser desenvolvidas em comum, através do apoio de uma equipe especializada, tais como a construção dos questionários, a estratégia para a sua aplicação, o sistema de base de dados (que pode ser online ) e o referencial para análise dos dados coletados. No Brasil, no período em que atuei (2011 – 2016) no Programa da POS (Parceria com Organizações Sociais) da Fundação Dom Cabral – FDC (hoje denominado Pilaris ), quis começar a difundir essa ideia das ferramentas de prateleira ( Avaliação de projetos sociais no terceiro setor: uma agenda em construção , seção IV), mas percebi que o terreno precisava antes ser melhor trabalhado. 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Para ilustrar melhor a ideia, aqui estão alguns exemplos de instrumentos incluídos no Manual: Conceito: autoestima (escala de Rosenberg), pág. 40-42 do Manual Conceito: impulsividade de adolescentes (escala de Barrat), p.66 Conceito: ser cuidadoso com o meio-ambiente / Avaliação de projeto de apicultura (pág. 67-68) Conceito: bem-estar de crianças e adolescentes, entre 11-16 anos (NPC), Pág. 197-205 Marco lógico: projeto de qualificação digital, Instituto Ramacrisna (pág. 207-210) Questionário: Preparação de jovens (16-18 anos) para inserção no mercado de trabalho, Associação Projeto Providência (pág. 226 – 230) A intenção de compartilhar esses instrumentos no Manual foi oferecer inspiração e facilitar o trabalho de planejamento e avaliação em organizações que atuam com projetos sociais semelhantes, ajudando, assim, a “queimar etapas” e avançar com mais agilidade nesse processo. Medição compartilhada: o caso da ferramenta Outcomes Star Como surgiu? 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Uma boa gestão de conflitos transforma positivamente o ambiente organizacional ao aplicar princípios de comunicação eficaz. Neste artigo, abordaremos o livro “Conversas Difíceis: Como Discutir o Que Mais Importa”, resultado de 15 anos de pesquisa do Projeto de Negociação de Harvard, que oferece ferramentas para gerenciar relacionamentos e solucionar conflitos em diversas situações. Queremos te ajudar a organizar seus pensamentos antes de começar uma conversa difícil assim como o livro sugere. O primeiro passo é entender os três tipos de conversa. Ao final, sugerimos práticas a serem seguidas. Boa leitura! As Três Conversas Centrais e a Ação da Boa Gestão O livro revela que toda conversa difícil é composta por três "conversas" subjacentes: a Conversa "O que aconteceu?", a Conversa das Emoções e a Conversa da Identidade. A boa gestão age diretamente sobre cada uma delas para transformar desafios em oportunidades: Na conversa do tipo “O que aconteceu?”, os participantes focam em quem está certo ou errado, partindo de suposições que levam ao ciclo de acusações e impedem a solução. Conforme o autor: “quando algo desagradável acontece, o foco da conversa gira em torno de quem está certo, quem está errado, quem disse o quê, quem deve assumir a responsabilidade e assim por diante. Passamos a discutir quase todos os detalhes.”. Exemplo de conflito – Projeto atrasado e disputa de culpa: ao desenhar a festa junina da organização, ficou faltando definir quem compraria e arrecadaria as prendas das barracas, gerando muito estresse no dia da festa. Logo, membros começaram a atribuir culpa uns aos outros: “Foi o time das coordenadoras”; “Não, foram vocês que não passaram direitos”; “Não me envolvam, eu fiz minha parte”. Esse cenário ilustra como a suposição de que “a culpa é sempre do outro” gera impasse, pois cada parte adota a mentalidade “eu estou certo, você está errado”. Já quando falamos no tipo das Conversa das Emoções : as emoções negativas, se não forem gerenciadas, podem transformar uma conversa em confronto, pois a adrenalina liberada pode "deixar o cérebro em branco". Uma boa gestão ajuda a conhecer e expressar sentimentos adequadamente, e a mudar a percepção para alterar a maneira como os sentimentos são experimentados. Isso alivia a ansiedade e permite foco na resolução do problema. Exemplo de conflito – Projeto atrasado e disputa de culpa: imagine que um gestor solicite a um colaborador que faça ajustes em um relatório até o final do dia. O funcionário pode entender esse pedido como “falta de confiança na minha competência” e reagir com irritação ou resistência, mesmo que a intenção do gestor não seja punir, mas sim assegurar a qualidade. Essa interpretação precipitada de “más intenções” gera tensão e impede que ambos discutam a real necessidade de melhoria de conteúdo. Por fim, quando falamos da Conversa da Identidade: é quando uma conversa difícil ameaça a auto-identidade de alguém (questões como "sou competente?", "sou uma boa pessoa?"), e as pessoas podem reagir defensivamente. A boa gestão auxilia a fundamentar a identidade dos colaboradores, focando no valor próprio e na capacidade de examinar-se objetivamente e admitir falhas sem medo. Além disso, a gestão eficaz desiste de tentar controlar as reações dos outros, focando em influenciar e adaptar a própria autopercepção. Exemplo de conflito – Avaliação de desempenho e abalo de autoestima: durante uma avaliação de desempenho, é comum um superior dizer: “seu desempenho no trabalho é tão ruim; você acha que pode competir pela promoção?”. Ao ouvir isso, o colaborador sente sua autoestima ameaçada e parte para uma reação defensiva (“Vou provar que sou competente”), gerando um impasse. Ao invés de entrar nesse ciclo, o texto sugere que o profissional reflita sobre a crítica, aceite falhas e mantenha a “identidade fundamentada” para permitir um diálogo construtivo. Passos Práticos para uma Gestão de Conversas Eficaz Além de abordar as três conversas, o livro oferece passos práticos que uma boa gestão pode seguir para lidar com conversas difíceis de forma mais eficaz: Esclarecer o propósito da conversa: antes de iniciar, o gestor deve ter clareza sobre o objetivo. Para isso, pergunte-se "o que eu preciso?" e "qual é meu objetivo?", assim é mais fácil manter a conversa no rumo certo e evitar desvios. Começar com uma abertura neutra: abordar a questão imparcialmente, como um observador ajuda a reduzir a defensividade e abrir caminho para um diálogo mais construtivo. Ouvir com atenção e expressar pensamentos claramente: estabelecer uma comunicação de mão dupla, onde o gestor pratica a escuta ativa para entender a perspectiva do outro e expressa suas próprias ideias de forma concisa e compreensível. Reformular a conversa quando ela chega a um impasse: ter a habilidade de trazer a discussão de volta ao foco quando ela se desvia ou estagna, garantindo que o problema seja resolvido. Isso exige a capacidade de "romper padrões de pensamento enraizados", ou seja, conseguir mediar e interferir nas falas para voltar ao objetivo inicial da conversa O Impacto Positivo Geral da Boa Gestão Ao aplicar esses princípios, uma boa gestão de conflitos transforma o ambiente organizacional. A capacidade de gerenciar bem os relacionamentos em diferentes situações, seja pessoal, profissional ou em negociações, é ampliada. Ao promover a compreensão mútua, o compartilhamento de responsabilidades e a resolução construtiva de conflitos, a gestão não apenas soluciona problemas de forma mais eficaz, mas também fortalece mais as equipes, aumenta a produtividade e cultiva uma cultura de confiança e resiliência. Dessa forma, as conversas difíceis se tornam oportunidades para aprendizado e crescimento, em vez de fontes de conflito e estagnação. Gostou do conteúdo? A Phomenta está realizando um mapeamento e quer saber como o terceiro setor está gerindo pessoas e conflitos em suas organizações. Compartilhe sua experiência e contribua com este estudo acessando: [link] Artigo realizado com apoio da ferramenta de IA Notebooklm e do livro Conversas difíceis - Douglas Stone, Bruce Patton e Sheila Heen 
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Guia prático que ensina como estruturar uma página de captação de doações para ONGs: mensagem clara, métricas de impacto, transparência financeira e CTA que converte. Saiba mais!
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Inicialmente, vamos entender melhor o que são métricas? Métricas são números e dados que as redes sociais fornecem para mostrar o desempenho das publicações feitas por você ou pela sua ONG. Quando você publica algo no Facebook ou Instagram, essas redes sociais mostram quantas pessoas visualizaram, curtiram, comentaram ou compartilharam seu conteúdo. Saber interpretar essas informações é muito importante porque ajuda a sua OSC a entender o que está dando certo e o que pode melhorar na comunicação com o público. Ao entender melhor essas informações, você pode criar conteúdos que alcançam mais pessoas e ajudam sua organização a ter um impacto maior. Quais são as métricas mais importantes? Entender as principais métricas pode parecer difícil no começo, mas conhecendo cada uma delas fica muito mais fácil saber se sua comunicação está indo bem. Cada uma dessas métricas traz informações cruciais que ajudam a entender o comportamento do seu público e como melhorar as publicações da sua organização. Desvendando as siglas e abreviações das métricas CTR (Click Through Rate): porcentagem de pessoas que clicaram em um link após visualizá-lo. CPM (Custo por Mil Impressões): quanto custa mostrar seu conteúdo para mil pessoas. CPC (Custo por Clique): quanto você paga por cada clique no seu conteúdo. CPA (Custo por Aquisição): custo médio para que uma pessoa realize uma ação específica, como fazer uma doação. ROI (Return on Investment): retorno financeiro obtido em relação ao dinheiro investido em publicidade ou campanhas. KPI (Indicador-Chave de Desempenho): métricas específicas escolhidas para medir o sucesso das suas ações. Alcance e Impressões O alcance é o número de pessoas diferentes que viram sua publicação pelo menos uma vez. Quanto maior o alcance, mais pessoas diferentes foram alcançadas pelo seu conteúdo. Já as impressões mostram quantas vezes sua publicação apareceu nas telas das pessoas, contando inclusive aquelas que viram mais de uma vez (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Engajamento Engajamento é uma das métricas mais importantes porque mostra como as pessoas estão interagindo com seu conteúdo. Essas interações incluem curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos. Um alto engajamento significa que as pessoas realmente gostaram do seu conteúdo e tiveram vontade de interagir com ele. Quanto mais engajamento, melhor você está se comunicando com o seu público (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Cliques Cliques mostram quantas pessoas clicaram no seu conteúdo ou nos links que você compartilhou. Essa métrica é especialmente importante quando você quer direcionar as pessoas para seu site ou para alguma ação específica, como um evento ou uma campanha de doação (COSTA, 2020). Crescimento de seguidores Essa métrica mostra quantas pessoas novas começaram a seguir sua ONG depois de ver suas publicações. Um crescimento constante de seguidores significa que você está conseguindo chamar a atenção e conquistar novas pessoas para sua causa (COSTA, 2020). Mas afinal, como essas métricas se relacionam? É muito importante não olhar apenas para uma métrica isoladamente. Por exemplo, se muitas pessoas veem sua publicação (alto alcance), mas poucas interagem com ela (baixo engajamento), pode ser que o conteúdo não esteja interessante o suficiente. Para entender se sua estratégia está funcionando, você precisa analisar diferentes métricas juntas, como alcance, engajamento e cliques. Isso ajuda a ter uma visão mais completa do desempenho das publicações (GOMES, 2018). Tipos de análises que você pode fazer Para usar bem as métricas, você pode fazer vários tipos diferentes de análises. Cada tipo serve para algo específico e ajuda você a entender melhor o desempenho das suas redes sociais, mostrando caminhos para melhorar sua comunicação. Análise simples A análise simples é a mais básica e mostra diretamente quantas pessoas viram ou interagiram com seu conteúdo (RECUERO, 2014). Comparação A análise comparativa é quando você compara resultados de diferentes publicações ou períodos. Por exemplo, você pode comparar o desempenho das publicações deste mês com as do mês passado para entender o que funcionou melhor e planejar conteúdos futuros (RECUERO, 2014). Previsão A análise preditiva usa dados antigos para tentar prever resultados futuros (RECUERO, 2014). Um exemplo é que se sabemos que entre novembro e dezembro há um aumento nas curtidas em posts relacionados a doações, construir conteúdo que fale sobre isso antecipadamente é uma forma de “prever” a procura e antecipar-se ao aumento de demanda. Redes sociais Analisar as redes sociais significa entender como as pessoas interagem umas com as outras no seu perfil ou página. Você pode descobrir quem são os principais seguidores, quais conteúdos são mais compartilhados e como essas conexões ajudam a espalhar sua mensagem para mais pessoas (GOMES, 2018). O que ter cuidado ao analisar os números? Ao analisar as métricas, você precisa levar em conta fatores externos que podem influenciar os resultados. Datas especiais, feriados ou eventos importantes podem aumentar ou diminuir a interação com suas publicações (as chamadas datas sazonais). Por isso, sempre olhe com cuidado e verifique se os dados são realmente representativos do desempenho geral (KAHNEMAN, 2012), todo o contexto deve ser levado em conta. Cuidado com erros ao analisar Existem alguns erros comuns ao analisar as métricas. Um deles é o viés de confirmação, que acontece quando você só presta atenção nos números que reforçam o que você já acredita. Outro erro é o viés de recência, que acontece quando você só leva em conta os resultados mais recentes, esquecendo resultados passados (KAHNEMAN, 2012). Como já dito. Recomendações O conteúdo do artigo foi baseado no conhecimento da autora e com referências de base científica. Caso você deseje ampliar o conhecimento acerca da temática, recomenda-se a leitura das fontes a seguir: COSTA, Felipe. Aplicação estratégica de métricas digitais. Panorama, Goiânia, v. 9, n. 2, p. 45-60, 2020. FERREIRA, Mariana; OLIVEIRA, Ana. Produção textual e interações sociais em plataformas digitais. Revista Comunicando, Lisboa, v. 5, n. 1, p. 10-23, 2015. GOMES, André. Dinâmicas de interações nas redes sociais digitais. Salvador: UFBA, 2018. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2014. 
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