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Avaliação no terceiro setor: o que organizações think-tanks dos EUA e Reino Unido me ensinaram?

jan. 26, 2023

Este conteúdo foi produzido por Maria Cecília Prates


Também nos Estados Unidos e no Reino Unido, países com uma prática do terceiro setor bem mais avançada do que no Brasil, a avaliação dos projetos sociais segue sendo um desafio muito presente. Lá o que se observa é que as organizações filantrópicas estão se sentindo asfixiadas pela compulsão em medir impacto social e avaliar o retorno econômico de suas ações. Anseiam, e já estão trabalhando por uma metodologia de avaliação coerente com o contexto da quase totalidade dessas instituições. 


A título de contribuir para essa reflexão, apresento a seguir os posicionamentos-chave de alguns especialistas de organizações think-tanks nesses países, como a NPC (New Philanthropy Capital);  Giving Evidence; e FSG (Foundation Strategy Group). Para isso, sistematizei os seguintes artigos, buscando padronizar termos e integrar as partes. 


 

  

1. O que a avaliação deveria ser? (Gopal) 


Com todo este entusiasmo por medir, documentar, provar e financiar o impacto, será que não estaríamos perdendo o barco da avaliação


É hora de parar de (apenas) medir o impacto, e começar a avaliar


A avaliação deveria ser entendida com o sentido de ajudar a: 

  • Capturar “o que” está acontecendo, e “porque” está acontecendo; 
  • Entender o que funciona em um determinado contexto, e não no abstrato; 
  • Compreender que fatores estão ajudando e dificultando o sucesso; 

  

2. Impacto do projeto social =  Avaliar a teoria da mudança + Avaliar a execução  (Fiennes) 


O impacto (ou efeito) do trabalho de uma organização filantrópica depende da qualidade da teoria da mudança (ou da ideia) que a organização utiliza, e quão bem ela implementa essa teoria da mudança. Tanto a teoria da mudança como a sua execução precisam ser boas, para que o impacto seja elevado; e se qualquer uma delas, a teoria da mudança ou a execução, não for boa, o impacto será baixo. 


A grande maioria das organizações sociais não deveria avaliar o impacto do seu trabalho. Isto porque deve ser atribuição dos pesquisadores acadêmicos a avaliação do impacto da teoria da mudança que a organização decide utilizar;  já a organização filantrópica deve se ocupar da avaliação de processo, isto é, o monitoramento da execução de suas ações. 


O exemplo dado: considere um clube de café da manhã em uma escola para crianças com deficiência. A teoria da mudança (ou ideia / estratégia considerada)  é a de que um bom café da manhã contribui para o aprendizado, evitando as distrações causadas pela fome. Já a execução envolve ter os alimentos que as crianças vão comer, comprá-los a um bom preço, trazer as crianças, e assim por diante. 


A avaliação da qualidade da execução envolve verificar se as crianças estão vindo de fato para o clube, qual é a opinião delas sobre o clube de café da manhã, quanto dos alimentos é desperdiçado, etc. Isto é o monitoramento ou avaliação de processo. É relativamente simples, e é de extrema importância porque fornece feedback no prazo adequado para a equipe do projeto, e permite que a organização melhore os seus processos e os aprimore significativamente. Esse monitoramento deve ocorrer com regularidade, e a organização pode fazê-lo por si mesma. 


Já avaliar a qualidade da estratégia (ou da teoria da mudança) é bem mais complexo. Envolve investigar se, no caso, um café da manhã decente contribui realmente para a aprendizagem. E isso exige isolar o efeito da intervenção de outros fatores externos e simultâneos. Esta é a avaliação de impacto


No exemplo dado, nós não podemos olhar simplesmente se as crianças que frequentam o clube estão agora aprendendo melhor do que antes. Isto porque talvez o início do clube possa ter coincidido com outros fatores, tais como a chegada de um novo professor; ou com a chegada de novos livros; ou se as crianças passaram a assistir algum programa educativo na tv, que antes não assistiam.  Também não podemos olhar se as crianças do clube aprendem mais rápido do que aqueles que não frequentam o clube, porque é altamente provável que haverá grandes diferenças entre quem vai e quem não vai ao clube. Talvez só os “piores” alunos  estejam participando do clube. Para contornar todas essas questões, teríamos que fazer um experimento com controle aleatorizado. Isso levanta questões complicadas tais como se devemos “randomizar” crianças, ou escolas, ou cidades; e qual deve ser o tamanho da amostra.  Estas e muitas outras são questões normais de serem investigadas em tais pesquisas de impacto. 


Daí, estabelecer atribuição (ou causalidade)  — que é essencial para avaliar impacto — é um campo de pesquisa em ciências sociais. No entanto,  sabe-se que a quase totalidade das instituições filantrópicas não é constituída por cientistas sociais. Ou seja, elas não são capazes de executar avaliações de impacto que sejam confiáveis, porque não têm essas habilidades in-house


A boa notícia é que a maioria das instituições do terceiro setor não precisa das habilidades de pesquisa para avaliação de impacto. No exemplo dado, uma vez que já sabemos se e quando a teoria da mudança relacionada aos clubes de café da manhã funciona — pois ela já teria tido o seu impacto rigorosamente avaliado antes — não precisaremos avaliar o seu impacto novamente na organização, a menos que o contexto seja muito diferente 

Assim, as organizações filantrópicas e os seus financiadores deveriam usar as avaliações de impacto já existentes para fazerem as escolhas de intervenções eficazes que decidem adotar / financiar. E, nesse caso, tudo o que as organizações filantrópicas precisariam fazer seria executar bem os seus programas sociais, e fazerem o seu monitoramento (ou avaliação de processo). 

 

3. Os quatro pilares básicos da avaliação (Boswell e Kazimirski) 


A quase totalidade do terceiro setor é constituída por instituições pequenas e, para estas, é muito difícil fazer avaliação, porque elas têm menos recursos disponíveis do que as grandes organizações. Por isso, torna-se fundamental para essas organizações menores saberem onde concentrar os seus esforços de avaliação e como mantê-los em proporção com a escala do trabalho social que fazem


Nesse sentido, são quatro os pilares básicos da avaliação a serem seguidos, nessa ordem: 


  • Mapear a teoria da mudança a ser adotada – Uma teoria da mudança estabelece as relações causais entre as atividades realizadas e o objetivo final (de impacto). Não há uma abordagem certa ou errada, mas a teoria da mudança deve mostrar clareza sobre o impacto que queremos atingir e como pretendemos alcançá-lo. A teoria da mudança deve propiciar um referencial coerente para embasar, depois, os esforços de avaliação. 
  • Escolher o nível adequado das evidências – Ir além dos estudos de caso, porém se reconhece que há muitos obstáculos para que as organizações filantrópicas façam avaliação (de impacto) com base em pesquisa experimental, em razão dos custos elevados, questões éticas e metodologia complicada. 


Como abordagem mais acessível para as instituições filantrópicas, os autores sugerem as pesquisas antes e depois com os usuários dos serviços sociais (ou participantes do projeto), pois essas pesquisas são capazes de fornecer, baseadas em auto-relato, uma visão relativamente objetiva de como as coisas mudaram na vida dos participantes, como efeito do trabalho da organização.  Para tratar a causalidade, podem ser feitas perguntas diretas aos usuários para saber se eles consideram, ou não, que foram os serviços da organização que fizeram determinada diferença em suas vidas. 


  • Priorizar o que se vai medir – Priorizar os resultados que (i)  sejam diretamente influenciados pelo trabalho da organização; (ii) representam a base para a missão da organização; (iii) não sejam muito caros para serem avaliados; e  que (iv) vão produzir dados confiáveis. 
  • Selecionar as fontes de dados (de quem coletar os dados) e desenvolver as ferramentas adequadas – Antes da organização desenvolver a sua própria ferramenta de avaliação, ela deveria considerar quais as ferramentas (operacionalização de conceitos, questionários, softwares, etc…) já existem disponíveis em outras organizações que já realizam trabalhos semelhantes. Sempre que for adequado e possível, toda instituição do terceiro setor deveria colaborar com as outras organizações e compartilhar ferramentas de avaliação, de modo a economizar tempo e recursos. 


4. Não ao “desfile da beleza”: menos avaliação, porém com qualidade superior e mais compartilhamento (Noble) 


O autor parte do incômodo de que as instituições filantrópicas coletam tantos dados para mostrar que elas fazem a diferença e, no entanto, fica claro que elas falham em acumular e compartilhar esse conhecimento. Diferente do que fazem os profissionais da área médica,  que compartilham entre si o que funciona e o que não funciona, com bem mais transparência. 


A explicação seria que os estímulos no setor social estão errados. As organizações filantrópicas se sentem compelidas a avaliarem para validarem o seu próprio trabalho, e a convencerem os seus financiadores a continuarem a lhes dar dinheiro. Com isto, elas acabam ficando presas em um ciclo de auto-justificativa e de coleta de dados sem sentido, que pode ser chamado “desfile de beleza’.




Maria Cecília Prates é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV, e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado. 



Contato: mcecilia@estrategiasocial.com.br


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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