Frases como essas nos impactam! Ainda mais quando sabemos que vem de uma mulher negra, pobre, mas que revolucionou a história, superando e vencendo todas as adversidades que a impediriam de ser quem foi e é Carolina Maria de Jesus. Carolina Maria de Jesus, foi uma das primeiras escritoras negras no Brasil, nascida em 14 de março de 1914 em Sacramento, Minas Gerais. A escritora viveu boa parte da sua vida na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos. Carolina era também cantora, poetisa e compositora. Sua maior obra é QUARTO DE DESPEJOS (1958), se você ainda não leu, eu recomendo a leitura. Não dá para atuar no terceiro setor, sem ter lido uma obra sequer de Carolina Maria de Jesus. Dentre suas obras, a frase que inicia vem do livro DIÁRIO DE BITITA (1986), onde Carolina Maria de Jesus documenta todo o seu esforço para sobreviver ainda quando criança encontrar trabalho, garantir a sobrevivência material e manter a dignidade em uma sociedade injusta e preconceituosa.
Muito familiar este retrato não? Vemos isso diariamente nas comunidades periféricas onde atuamos. Mesmo após 45 anos da sua morte, este cenário social ainda se faz presente em nosso país. A população autodeclarada preta ou parda, faz parte de mais de 50% da população brasileira(2021, IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mas nós a encontramos sempre em lugares periféricos e com poucas alternativas de vida. Eu, atuando desde 2002 com projetos sociais, comprovo isso diariamente. Ouvir e ler frases como a de Carolina, nos impulsiona a lutarmos, para mudarmos a realidade social do nosso entorno. Do entorno onde a OSC (Organização da Sociedade Civil) está localizada.
Vivemos em um celeiro de sonhos, sabia? Sim, a comunidade onde atuamos também sonha. Uma das dificuldades é que nem sempre tem opções de irem em busca dos seus sonhos, pois precisam sair da escola cedo e como Carolina, garantir o pão à sua mesa. Esses dias, em Guarulhos, SP, fomos a um evento com nosso grupo de educadores da Associação Ação Vida, e tivemos uma roda de conversa onde falamos sobre vida e morte. O mediador da roda de conversa, nos fez imaginar duas colunas e pensar o que seria vida e o que seria morte. Foi assustador o que foi relatado: morte(violência, fome, guerra, preconceito, injustiça, etc), vida(pão, generosidade, oportunidade, aprendizado, educação, saúde etc). Um dos educadores da Ação Vida, ao final da roda de conversa, veio falar comigo sobre a nossa responsabilidade diante das OSCs e os atendimentos que oferecemos às crianças, adolescentes e famílias. Eu também saí dali pensando e repensando em minhas ações como gestora de uma OSC.
Precisamos cooperar para que o sonho dos nossos atendidos não morra! Como fazemos isso? Creio que não temos respostas fechadas, mas podemos começar com a escuta. Ouça os atendidos. Ouça os seus sonhos e tentemos juntos e em rede, cooperar para que o sonho não morra, afinal, devemos defender a vida e sonhos são vidas! Carolina de Jesus teve um sonho: mudar o mundo. E aqui estamos hoje citando-a em nosso texto. As suas letras ecoam no mundo. Da favela para o mundo. Um sonho, uma força, luta e conquistas!
O que fazer nas nossas comunidades? Contar histórias como a de Carolina de Jesus. Histórias que nos identificam e que podemos, sim, acreditar e incentivar os nossos atendidos, que, o mundo pode, sim, ser melhor e não estamos satisfeitos do jeito que ele está! Vamos juntos em 2023 despertar e incentivar sonhos e concretização deles!