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Golpes de doação online: como eles acontecem e quais são os danos para as organizações sérias

out. 13, 2022

Este conteúdo foi produzido por Larissa Dutra

No final do mês de setembro um termo se tornou amplamente discutido nas redes sociais, especialmente no Twitter: o "marmita gate". Isso porque ele se refere especialmente a um golpe de doações para a fabricação de marmitas, supostamente efetuado por uma estudante chamada Duda Poleza em Blumenau, SC. 


Mas, não é de hoje que os golpes relacionados à vulnerabilidade alimentar acontecem. É comum vermos diariamente nas redes sociais relatos de pessoas que precisam de ajuda, e também de pessoas que sofreram algum tipo de golpe doando para uma organização que não existia, ou não executava de fato o que era prometido. 


Em decorrência disso, as organizações do terceiro setor precisam não só continuar a execução do seu trabalho, como também se blindar contra ataques que são amplamente difundidos. 


Analisar o caso "marmita gate" é uma oportunidade de entender como os golpes de doação acontecem, e quais os danos que eles podem gerar para as organizações sérias, além de mostrar quais são os passos necessários para demonstrar confiabilidade para o público.


Como os golpes acontecem


Os estelionatários que atuam em golpes de doação sempre surfam na crista da onda, onde é mais difícil ser questionado. Em um cenário de volta ao mapa da fome, em que mais de 30 milhões de brasileiros estão em insegurança alimentar, ou seja, não sabem se vão conseguir realizar a próxima refeição, existem mil possibilidades de golpes. Isso porque é mais fácil sensibilizar e não ser questionado quando esses problemas estão nítidos. 


As causas costumam ser sempre as mais urgentes, que são resolvidas em poucos dias e podem ser repetidas, como a fome. A distribuição de marmitas é uma atividade comum de quem procura atender a uma demanda social urgente. 


E enquanto muitas pessoas se mobilizam de fato, outras aproveitam a “oportunidade” para aplicarem esse tipo de golpe. 


Caso marmita gate 


Em 26 de setembro de 2022 uma série de postagens colocando em dúvida a distribuição de marmitas de uma organização chamada Alimentando Necessidades tomou conta do Twitter, subindo a hashtag #marmitagate para os trends topics da plataforma. 


Isso aconteceu porque internautas começaram a desconfiar do modus operandi das duas coordenadoras do projeto, Duda Poleza e Taynara Motta. As fotos das entregas pareciam sempre próximas ao restaurante do padrasto de Duda, e a Taynara nunca apareceu de fato em nenhuma rede social. 


A forma de atuação também era sempre a mesma. Fazer um post polêmico, que viralizasse, como o que a Taynara contava de uma vizinha que queria doar carne estragada para o projeto, como o de outro post que dava relatos do dia a dia das entregas, em que Duda contava como era abordada pelos moradores de rua, com assédios e outras situações. 


Ao final do post, sempre a mesma mensagem: a chave pix de Duda e a descrição do projeto Alimentando Necessidades. 


As postagens viralizam porque mexem de alguma forma com quem está lendo. Provoca sentimentos de revolta, engaja o público, e fazer um post viral é uma receita de bolo. Então, centenas de pessoas doavam para o projeto. 


Depois de toda confusão, Duda Poleza apareceu em live e começou a responder o público e também disse que o projeto se encerraria por conta de toda polêmica. Ela garantiu a existência da sua sócia Taynara Motta, que logo em seguida teria aparecido em live. O que gerou ainda mais desconfiança, uma vez que um filtro foi aplicado e os internautas encontraram muitas semelhanças entre as duas.


Na quarta-feira, dia 12 de outubro, a Polícia Civil de Blumenau confirmou que Taynara Motta não existe, e que muitos boletins de ocorrência foram abertos pelos doadores. O caso segue sendo investigado. 


Como afeta as ONGs


Além de tratarem os problemas sociais mais complexos, as ONGs também expõem muitas falhas do Estado perante a sociedade. Com isso, inúmeros ataques acontecem, em tentativas desmedidas de descredibilizar as organizações do terceiro setor. E essa é uma prática antiga, que se intensificou nos últimos anos no Brasil. 


Em junho de 2022, um vídeo de supostos colaboradores de ONGs retirando ouro da roda de carros na Amazônia viralizou. As mensagens que vinham com ele eram sempre de ataques às organizações que atuam pelo meio ambiente. Foram necessárias investigações e o Portal G1 publicou um artigo mostrando que o vídeo não passava de uma fake news. 


Casos como esse e o "marmita gate" dá mais insumos para que pessoas mal intencionadas distribuam mensagens que colocam em dúvida todas as organizações do terceiro setor, e prejudiquem, sobretudo, a captação de recursos.


Em julho de 2022, a criminalização das ONGs no Brasil foi denunciada no fórum da ONU. E além dos danos diretos com agentes doadores, as ONGs também podem ficar à mercê de passivos fiscais e administrativos, processos burocráticos que podem impedir o funcionamento delas. 


Como as ONGs podem se blindar contra os danos causados pelos golpes


Aqui no Portal do Impacto, você encontrará artigos que falam sobre comunicação. E se blindar contra os danos causados pelos golpes de doação, é também atuar com uma comunicação eficiente. 


Isso porque é por meio dela que a organização vai demonstrar a sua atuação diária, dar nomes aos integrantes do projeto e trazer mais segurança e proximidade não só para os doadores, mas para qualquer tipo de fiscalização. 


Na série Governança de A a Z, a especialista Karen Lassner fala sobre responsabilização e prestação de contas. Ela diz assim: “Uma pergunta que surge é “por que a responsabilização e a prestação de contas é importante para o Terceiro Setor?” As ONGs se fundam sob o princípio de que os cidadãos têm o direito de se associarem livremente. O Brasil reconhece esse direito em sua Constituição, através da legislação. Confirma-o ao estender o apoio financeiro direto ou indireto às ONGs, por meio da isenção total ou parcial dos impostos. Em troca desse apoio, as ONGs se comprometem a empreender atividades que atendam às necessidades comunitárias ou públicas, em vez dos interesses privados de lucros dos proprietários ou acionistas. Uma vez que se beneficiam direta ou indiretamente do apoio público, as ONGs terão que demonstrar alto grau de responsabilidade pelos seus atos e na prestação de contas, às suas comunidades de interesse.”



Então, outro ponto importante é criar formas de prestar contas para a sociedade, como a construção de um relatório de atividades. Entender que essa é uma obrigação dos atuantes em organizações do terceiro setor. 

Evitar danos nesse sentido é se antecipar e demonstrar publicamente a sua causa e a sua atuação frente a ela.





Larissa Dutra é jornalista da Phomenta 



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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
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