Siga-Nos!


Assine a nossa

newsletter

5 dicas para sua ONG começar a gerar receita com a venda de produtos

mar. 31, 2022

Todos que trabalham em ONGs sabem que a captação de recursos é fundamental para garantir a  sustentabilidade das atividades. Quem participa dos Programas de Aceleração da Phomenta conhece metodologias que fortalecem os processos e permitem que ações estratégicas e táticas sejam colocadas em prática, visando ampliar as formas de levar recursos para dentro das organizações. Em nossos módulos, convidamos  gestores a pensar, exercitar e prototipar ideias viáveis nas buscas por capital, promovendo uma importante reflexão. A diversificação das fontes de renda amplia as entradas e fortalece o impacto das organizações.

 

Essa é uma das atividades mais dinâmicas de nossos cursos, pois as ideias fluem e as provocações estimuladas fora do ambiente cotidiano geram muitas propostas inovadoras. Nem sempre todos os resultados são viáveis; entretanto, o estímulo resulta em atitude, e o exercício torna-se ponto de partida para que os gestores e suas diretorias se mobilizem para colocar em prática projetos anteriormente engavetados – seja por falta de estímulo ou pelas urgências diárias que acabam consumindo mais tempo.

 

Não raro surgem ideias associadas à comercialização de recursos ou prestação de serviços. A boa notícia é que vender produtos e prestar serviços são, sim, boas formas de captar recursos para ONGs. Desde que realizadas de forma planejada, baseadas em metas e com recursos humanos dedicados a essas atividades, a comercialização de produtos e a prestação de serviços podem ser um divisor de águas dentro de uma ONG.


Posso afirmar isso de forma categórica, pois sou diretor de uma ONG que se financia em grande parte por meio dessas ações. Desde 2003, acompanho a Associação Cornelia Vlieg, que, em parceria com o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, realiza um importante trabalho de inclusão social e geração de renda em Campinas, interior de São Paulo. Promovemos impacto na vida de 300 pessoas com algum tipo de transtorno mental ou dependência química que, por conta disso, têm dificuldades em encontrar vagas no mercado formal de trabalho.


A Associação, que tem na marca Armazém das Oficinas¹ sua identidade comercial, hoje conta com 12 oficinas de trabalho e geração de renda. São oficinas artesanais em sua maioria, mas também há uma horta orgânica (com cerca de 10 hectares de hortifrútis cultivados sem defensivos químicos, adubos industrializados ou sementes transgênicas), um restaurante aberto ao público e um buffet que atende a eventos corporativos.

 

As artesanais são compostas por uma oficina de papel reciclado, uma oficina de mosaico, uma marcenaria, uma serralheria, uma oficina de vitral religioso e outra de vitral artesanal, uma oficina de costura e uma oficina de ladrilhos hidráulicos. Todas essas oficinas trabalham sob moldes da economia solidária e do cooperativismo, modelos participativos na gestão financeira e administrativa. A atividade artesanal associada à terapia e ao tratamento com medicamentos promove equilíbrio, resultando em qualidade de vida aos beneficiários das instituições, além de renda para pessoas que muitas vezes são oriundas de situações de vulnerabilidade social.

 

O Armazém das Oficinas tem uma loja física em Campinas, comercializa seus produtos para revendedores que atuam no mercado de decoração e também produz brindes personalizados para clientes de grande porte, como Instituto Arcor, Barry Callebaut, Sebrae, EMS, entre outros.


Se você está se questionando como eles conseguem promover tamanho impacto ou o segredo do sucesso comercial, saiba que eles começaram de forma tímida. Com muito trabalho, erros e acertos, chegaram ao modelo atual.


Como disse anteriormente, acompanho seu trabalho desde 2003 e, desde 2015, me tornei diretor voluntário da Associação. Já prestei consultoria em marketing e cito abaixo 5 dicas para as ONGs que querem começar a gerar receita, produzindo e vendendo produtos ou prestando serviços.


 

Dica #1 – Qualidade determina a decisão de compra tanto para clientes como para empresas 

Com a internet bem estabelecida e as redes sociais consolidadas como canais de informação, o consumidor ganhou muitas ferramentas de comparação. Segundo Philip Kotler (um dos principais estudiosos de marketing do mundo), as decisões de consumo estão ocorrendo por meio de muitas pesquisas nos meios virtuais, associadas à busca de opiniões junto aos círculos mais próximos, combinadas com visitas em ambientes físicos a fim de comprovar se o conjunto de informações reflete a realidade.

 

Essa forma de tomada de decisão torna o consumidor mais crítico, e nem as mais intensas campanhas publicitárias o fazem mudar de opinião após uma experiência de consumo negativa.  Assim, antes de iniciar a produção em série de qualquer produto, invista em qualidade, faça protótipos e envolva o consumidor desde o início, pedindo sua opinião sobre o produto.

 

Ofereça produtos confiáveis e ganhe uma legião de consumidores apóstolos, aqueles que fazem a propaganda de sua empresa sem você pedir. Isso fará com que você ganhe notoriedade em seu mercado de atuação. Não pense que seu produto será escolhido exclusivamente por ser produzido por uma ONG e não caia na tentação de apelar para o “compre para ajudar”.

 

Os consumidores vão escolher seus produtos ou optar por seus serviços porque são de qualidade, mas também porque existe uma causa associada a eles. Monte um comitê interno de qualidade para determinar o que ou não ser comercializado. Estabeleça processos que garantam a qualidade, torne isso público para seus clientes e ganhe sua confiança.

 

Seu cliente até topará pagar um pouco mais caro se comparar o seu produto com o de uma empresa da iniciativa privada, mas, se a experiência não for positiva, ele não voltará a comprar. A fidelização é muito importante em tempos de concorrência acirrada.

 

Dica #2 – Precificação e Valor podem ditar o sucesso ou o fracasso em sua estratégia comercial

Precificar um produto ou serviço não é tarefa fácil, principalmente em períodos de instabilidade como o que vivemos atualmente. Cálculo de quantidade de matéria-prima, tempo de mão de obra, custos diretos e indiretos, impostos e margem de lucro são variáveis que precisam entrar no cálculo para a composição do preço final de cada produto ou serviço. Se a palavra prejuízo é proibida para a iniciativa privada, para ONGs é impensável.


Assim, recomendo fortemente que, antes de colocar o produto em confecção, a ONG estabeleça uma estratégia de preços que seja aceitável pelo mercado e viável aos clientes e que ainda gere lucro para a organização. 


Não é tarefa fácil: leva tempo e dedicação, mas se a primeira fórmula for bem estabelecida, a aplicação para demais produtos é mais simples.


Ainda segundo Philip Kotler, o Preço é a variável mais complexa dentro do composto de marketing (formado por produto, preço, distribuição e comunicação) e, por isso, políticas de desconto podem arruinar uma organização quando não se tem claro como cada item influencia o preço final de um produto. O SEBRAE tem cursos e consultorias de formação de preços e foi grande influência para o modelo adotado pelo Armazém das Oficinas. 


Por meio de consultorias, aprendemos que cada produto precisa ter uma ficha técnica com detalhes de todos os itens que compõem a produção. A ficha também estabelece o melhor preço a ser praticado. Assim, procure o escritório do SEBRAE de sua cidade para aprender sobre esse assunto. Outra possibilidade para estabelecer uma boa ficha técnica é buscar uma assessoria Pro Bono que ensine a confeccioná-la. Empresas de sua região podem ajudar. Procure um empresário local e peça ajuda. 


Por outro lado, o valor de um produto é composto por elementos intangíveis, e a confecção por uma ONG é um diferencial muito reconhecido nos dias atuais. Aqui, a força da comunicação contribui muito para formar uma identidade e posicionar seu produto como diferenciado para seu público. Mas essa também não é uma tarefa fácil. Ainda hoje, a produção de uma ONG pode ser enxergada com desconfiança por pessoas desinformadas e preconceituosas. Se por um lado temos consumidores ávidos por produtos sustentáveis e que promovem impacto social, por outro, temos desavisados que querem levar vantagem em qualquer transação. Pode ter a certeza de que pessoas tentarão diminuir seu produto, justamente por ser feito por uma ONG. Por vezes, testemunhei apelos por desconto com a justificativa (sem fundamento) de se tratar de um produto confeccionado por pessoas que não eram “normais”, desconfiando da qualidade. A qualidade associada a uma boa comunicação (que demonstre o valor agregado a cada peça produzida dentro da ONG) forma uma boa opinião junto a clientes e consumidores. Leva tempo e dedicação, mas gera resultados traduzidos em vendas.


Dica #3 – Networking é muito importante para vendas de grande porte

As vendas contribuem para a geração de receita, e as grandes vendas geram um fundo de caixa que proporciona um importante fôlego para as ONGs. Uma boa forma de alavancar vendas maiores é consolidar relações com empresas. Para se estabelecer essas alianças, é preciso networking, processo que envolve dedicação, mas gera resultados. Quando esses resultados se concretizam em vendas, uau! Tornar-se conhecido é um trabalho contínuo, e por esse motivo deve ter o apoio e adesão da diretoria da ONG.

 

Assim, é de fundamental importância que os diretores sejam presentes nas associações comerciais de suas cidades e que participem dos eventos representando a ONG. Além de possibilitar a entrada recursos via doações, esses eventos podem proporcionar importantes conexões comerciais que resultem na venda de produtos ou na prestação de um serviço pela ONG.

Dica#4 – Estar presente nas redes sociais é fator fundamental para tornar-se relevante para seu público

Vários artigos aqui no Portal do Impacto já citaram a importância das redes sociais para as ONGs. Nos programas da Phomenta, também exploramos o quanto as redes sociais podem ser influenciadoras para a formação de opinião sobre o trabalho da organização. O apoio das redes sociais é fundamental para adquirir novos seguidores que podem se transformar em novos clientes. A gestão de uma rede social dá trabalho, mas é impensável nos dias atuais uma ação comercial sem apoio do Instagram, por exemplo.

 

O ganho de notoriedade e de boa performance no Instagram está na constância das postagens. Seu público quer conhecer a história da ONG ou a história dos produtos. Organização é fundamental para formar a constância. Assim, busque montar um calendário de postagens, conte histórias, mostre os bastidores, estabeleça um vínculo com seu público. Todas essas ações contribuem para persuadir o seu público a comprar seu produto.


Leia mais em: Comunicação e Marketing


Dica#5 – ONGs podem ter imunidade tributária

Imunidade tributária permite maior margem de lucro. O processo para ter imunidade é complexo e longo, mas é um importante diferencial que contribui para seu produto ou serviço ser mais competitivo. Para se obter a imunidade tributária é necessário o acompanhamento de um advogado especializado em causas tributárias, além de toda a documentação que comprove a atividade sem fins lucrativos da ONG. Após todo o processo, as ONGs podem ter a isenção de tributos como ICMS, ISS, IPTU, IPVA e IPI. A regularização da ONG é imprescindível, e há a obrigatoriedade de se ter o CEBAS.


O Armazém das Oficinas levou cinco anos para conseguir imunidade tributária, e isso é um bom diferencial para a composição do preço final. 


Lei também: Imunidade e Isenção de tributos das Organizações da Sociedade Civil


Comece dando o primeiro passo

Tudo o que foi mencionado no texto é fruto de três décadas de experiência, mas começou com uma dor da ONG em proporcionar atividades aos beneficiários. A geração de renda foi um (importante) passo secundário que se revelou fundamental para a melhoria da qualidade de vida dos atendidos.

 

Muitas outras variáveis fazem parte dessa bela história, e contarei tudo isso para vocês em futuros artigos aqui no Portal do Impacto.

 

Se você está pensando em começar a produzir e vender algum produto para gerar renda para sua ONG, parabéns! Será um desafio gratificante quando as primeiras vendas começarem a acontecer! Desejo boa sorte e ótimas vendas.


Gostou do conteúdo do Carlos e quer interagir com ele? Escreva para carlos@phomenta.com.br.



Carlos Barbosa é publicitário e atua junto ao terceiro setor desde 2003. É diretor de uma OSC de Campinas(SP) e desde Novembro de 2021 atua como Líder de Marketing da Phomenta.



Revisão: Flávia D'Angelo (Phomenta)


Referências:
¹
www.armazemoficinas.com.br

Administração de Marketing – Philip Kotler, Gary Armstrong. Editora Pearson

Marketing 4.0 – Philip Kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan. Editora Sextante





Inscreva-se na nossa Newsletter

Últimas publicações

Uma mulher negra se alongando em um tapete de yoga no gramado
Por Sara Dias 25 abr., 2024
Saiba como o conceito de autocuidado nasceu numa perspectiva individual na área da saúde e se transformou na área social como prática de cuidado coletivo.
Uma pessoa usando a calculadora e escrevendo em um papel
Por Maria Cecília Prates Rodrigues 18 abr., 2024
Na Harvard Business Review (HBR) de jan-fev de 2019, fui atraída pelo título de um dos artigos sobre uma maneira para se calcular o valor dos investimentos de impacto, com base em evidências . Comecei a ler o texto entusiasmada pela possibilidade de encontrar uma contribuição pragmática no campo da avaliação social, mas confesso que fiquei decepcionada. O trabalho foi escrito por sócios e gestores da Rise Fund (um fundo de US$2 bilhões para investimentos de impacto) e da Bridgespan Group (uma consultoria global para impacto social). A partir da experiência deles, propõem uma metodologia para estimar o retorno financeiro do investimento social e ambiental. Batizaram a “nova” métrica por IMM ( Impact Multiple of Money) , porque, com base nela, se tornaria possível prever o múltiplo em benefício social e ambiental que seria gerado a partir de $ 1 investido – assim, se o IMM for 5X (5 vezes), significa que cada $1 investido vai gerar $5 em benefícios. Rise Fund só investe em projeto quando o IMM dele for no mínimo de 2,5X. A intenção dos autores é que, a partir da comparação dos valores de IMM estimados, se consiga dar mais rigor ao processo de seleção dos investimentos sociais, como já é usual no mundo dos negócios, através do uso de metodologias financeiras amplamente aceitas. Com isso, segundo eles, se poderia avançar sobremaneira na análise dos investimentos de impacto, que ainda se encontra atualmente, em grande medida, baseada na “adivinhação”, em informações restritas a processo, ou em intenções de comprometimento. Os seis passos do método proposto (IMM) Avaliar a relevância e a escala do projeto, para se decidir sobre se vale a pena (ou não) o esforço de aplicar o método, pois “estimar o IMM não é tarefa trivial”. Então, segundo os autores, o projeto a ser avaliado deve ter um propósito e escala potencialmente relevantes, o que não quer dizer número grande de pessoas beneficiadas. Há projetos com um pequeno número previsto de beneficiados, porém com grande potencial de transformação, que podem ser muito mais relevantes do que outros com grande número de beneficiados. Estimar os resultados sociais ou ambientais esperados. Nessa etapa é importante verificar se os resultados previstos são atingíveis e mensuráveis. “Felizmente” hoje os investidores já podem contar com muitas pesquisas nas Ciências Sociais (as evidências) que lhes permitem estimar o potencial do impacto social da empresa ou organização. E tal se deve ao movimento sobre “ o que funciona ” dos programas sociais, que propiciou um grande impulso ao desenvolvimento da “indústria de medição de resultados sociais” nessa última década. Estimar o valor econômico desses resultados para a sociedade. Para traduzir os resultados identificados (acima) em termos monetários, é preciso também recorrer a um “estudo-âncora” robusto (ou a evidências ou referências já existentes) e, na ausência desse, à orientação de um especialista da área. A escolha do estudo-âncora deve levar em conta o rigor da estimação dos resultados (preferência por pesquisa experimental, ao invés de pesquisa observacional ou estudo de caso), contexto similar ao do projeto em questão, e/ou o estudo deve ser o mais recente possível. Ajustar o risco advindo do uso de estudos-âncora. Embora os autores considerem ser satisfatório o uso de estudos-âncora (ou das evidências) já existentes para preverem a monetização dos resultados sociais e ambientais, eles admitem o risco de aplicarem tais achados não diretamente associados às oportunidades do investimento em questão. Propõem, então, que seja incluída nos cálculos a estimativa do risco, baseada em uma escala de probabilidade de 0 a 100%, definida segundo 6 categorias, que são: qualidade do estudo-âncora, pressupostos adotados, contexto, grupo de renda, similaridade do produto ou serviço, e a possibilidade do uso previsto (para o produto/serviço social) não se verificar. Estimar o valor terminal do investimento. No caso de determinados tipos de projetos sociais e/ou ambientais, pode fazer sentido incluir também na estimativa do valor monetário do impacto o período depois que o projeto ou investimento social tiver finalizado. Calcular o retorno social por cada dólar investido. Finalmente é calculado o valor do IMM. Assim, segundo os autores, “ em um mundo em que os CEOs estão cada vez mais falando em lucro e propósito, o IMM oferece uma metodologia rigorosa para se avançar na arte de alocação do capital para gerar benefício social ”. Pois quanto maior o valor do IMM estimado, maior o potencial de impacto do investimento social e/ou ambiental, permitindo a comparabilidade entre projetos de natureza distinta, como é comum no campo social. Por que a decepção com o método IMM? 1.IMM não é um método inovador
Por Pollyana Bonvecchi 04 abr., 2024
Você já ouviu falar em autogestão? Compreende seu funcionamento? É surpreendente a forma com que o cenário global passa por mudanças, exigindo, portanto, adaptações nos âmbitos ambientais, administrativos e organizacionais. Diante disso, é anti produtivo permanecer com mentalidades ancoradas no século passado e almejar inovação, sendo que este paradigma se aplica também à governança organizacional. Neste sentido, como nós, do terceiro setor, então, podemos adotar metodologias e mecanismos, gerando impacto de uma forma mais inovadora e transparente? Siga conosco e leia o conteúdo na íntegra!  Gestão tradicional e autogestão: entenda as diferenças chave! Na gestão tradicional, é comum que as preocupações dos colaboradores sejam encaminhadas aos superiores ou a chefia imediata, para que as repassem a níveis mais elevados de comando. Desse modo, tal processo resulta em tomadas de decisões centralizadas no topo da hierarquia, desconectadas das realidades das bases. Em contrapartida, a autogestão propõe a descentralização das responsabilidades organizacionais. Ou seja, isso significa que os indivíduos ou equipes têm maior autonomia para gerenciar suas tarefas, projetos e até mesmo definir suas diretrizes de trabalho. Sob a perspectiva sociocrática, holocrática, ou nos moldes da organização orgânica (O²) , a estrutura se fundamenta em círculos e papéis, onde cada indivíduo detém autoridade para deliberar sobre assuntos relacionados ao seu papel ou ao propósito do círculo que faz parte. Neste contexto, os colaboradores identificam discrepâncias entre a situação atual e a ideal, denominadas "tensões". Tais tensões são compartilhadas nos círculos, que desenvolvem estratégias para sua resolução. Dessa forma, os círculos se alinham e se complementam, formando uma estrutura organizacional dinâmica, saudável e segura. O poder não é dado às pessoas ou cargos, mas aos papéis e círculos (via “O que é autogestão”, Sociocracia Brasil no YouTube).
foto preto em branco, pessoa com uma xícara branca na mão olhando para a tela do computador
Por Instituto Phomenta 01 abr., 2024
O Google Ad Grants oferece o valor de US$ 10 mil por mês em anúncios para ONGs e é tema do guia desenvolvido pela BC Marketing
Por Sara Dias 21 mar., 2024
Praticar atividades físicas, investir em hobbies, conversar com amigos ou buscar ajuda terapêutica. Esses são apenas alguns dos exemplos que se enquadram no que podemos chamar de “estratégias para se atravessar um período de estresse ou momento difícil”, mais conhecido como Coping . O termo inglês Coping , traduzido para o português como Estratégias de Enfrentamento em saúde mental, é uma teoria que estuda o estresse psicológico e as diversas formas com que uma pessoa pode avaliar e agir frente a uma situação estressora, a fim de minimizar, controlar ou tolerar seus efeitos a curto e médio prazo. Criado e desenvolvido pelos psicólogos americanos Richard Lazarus e Suzan Folkman, na década de 1980, o coping tem como características a tomada de decisão consciente e intencional, orientada para o futuro, que leva em consideração aspectos individuais como traços de personalidade, e aspectos temporais como seus objetivos, resultados almejados, e preocupações, durante o período estressante. De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
Avaliação de impacto serve para todos os casos? Confira as situações onde a avaliação não se aplica e como resolver essa questão.
mostrar mais

Participe do nosso grupo no WhatsApp para receber nossos conteúdos em primeira mão

Entrar para o grupo
Share by: