5 dicas para sua ONG começar a gerar receita com a venda de produtos

31 de março de 2022

Todos que trabalham em ONGs sabem que a captação de recursos é fundamental para garantir a  sustentabilidade das atividades. Quem participa dos Programas de Aceleração da Phomenta conhece metodologias que fortalecem os processos e permitem que ações estratégicas e táticas sejam colocadas em prática, visando ampliar as formas de levar recursos para dentro das organizações. Em nossos módulos, convidamos  gestores a pensar, exercitar e prototipar ideias viáveis nas buscas por capital, promovendo uma importante reflexão. A diversificação das fontes de renda amplia as entradas e fortalece o impacto das organizações.

 

Essa é uma das atividades mais dinâmicas de nossos cursos, pois as ideias fluem e as provocações estimuladas fora do ambiente cotidiano geram muitas propostas inovadoras. Nem sempre todos os resultados são viáveis; entretanto, o estímulo resulta em atitude, e o exercício torna-se ponto de partida para que os gestores e suas diretorias se mobilizem para colocar em prática projetos anteriormente engavetados – seja por falta de estímulo ou pelas urgências diárias que acabam consumindo mais tempo.

 

Não raro surgem ideias associadas à comercialização de recursos ou prestação de serviços. A boa notícia é que vender produtos e prestar serviços são, sim, boas formas de captar recursos para ONGs. Desde que realizadas de forma planejada, baseadas em metas e com recursos humanos dedicados a essas atividades, a comercialização de produtos e a prestação de serviços podem ser um divisor de águas dentro de uma ONG.


Posso afirmar isso de forma categórica, pois sou diretor de uma ONG que se financia em grande parte por meio dessas ações. Desde 2003, acompanho a Associação Cornelia Vlieg, que, em parceria com o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, realiza um importante trabalho de inclusão social e geração de renda em Campinas, interior de São Paulo. Promovemos impacto na vida de 300 pessoas com algum tipo de transtorno mental ou dependência química que, por conta disso, têm dificuldades em encontrar vagas no mercado formal de trabalho.


A Associação, que tem na marca Armazém das Oficinas¹ sua identidade comercial, hoje conta com 12 oficinas de trabalho e geração de renda. São oficinas artesanais em sua maioria, mas também há uma horta orgânica (com cerca de 10 hectares de hortifrútis cultivados sem defensivos químicos, adubos industrializados ou sementes transgênicas), um restaurante aberto ao público e um buffet que atende a eventos corporativos.

 

As artesanais são compostas por uma oficina de papel reciclado, uma oficina de mosaico, uma marcenaria, uma serralheria, uma oficina de vitral religioso e outra de vitral artesanal, uma oficina de costura e uma oficina de ladrilhos hidráulicos. Todas essas oficinas trabalham sob moldes da economia solidária e do cooperativismo, modelos participativos na gestão financeira e administrativa. A atividade artesanal associada à terapia e ao tratamento com medicamentos promove equilíbrio, resultando em qualidade de vida aos beneficiários das instituições, além de renda para pessoas que muitas vezes são oriundas de situações de vulnerabilidade social.

 

O Armazém das Oficinas tem uma loja física em Campinas, comercializa seus produtos para revendedores que atuam no mercado de decoração e também produz brindes personalizados para clientes de grande porte, como Instituto Arcor, Barry Callebaut, Sebrae, EMS, entre outros.


Se você está se questionando como eles conseguem promover tamanho impacto ou o segredo do sucesso comercial, saiba que eles começaram de forma tímida. Com muito trabalho, erros e acertos, chegaram ao modelo atual.


Como disse anteriormente, acompanho seu trabalho desde 2003 e, desde 2015, me tornei diretor voluntário da Associação. Já prestei consultoria em marketing e cito abaixo 5 dicas para as ONGs que querem começar a gerar receita, produzindo e vendendo produtos ou prestando serviços.


 

Dica #1 – Qualidade determina a decisão de compra tanto para clientes como para empresas 

Com a internet bem estabelecida e as redes sociais consolidadas como canais de informação, o consumidor ganhou muitas ferramentas de comparação. Segundo Philip Kotler (um dos principais estudiosos de marketing do mundo), as decisões de consumo estão ocorrendo por meio de muitas pesquisas nos meios virtuais, associadas à busca de opiniões junto aos círculos mais próximos, combinadas com visitas em ambientes físicos a fim de comprovar se o conjunto de informações reflete a realidade.

 

Essa forma de tomada de decisão torna o consumidor mais crítico, e nem as mais intensas campanhas publicitárias o fazem mudar de opinião após uma experiência de consumo negativa.  Assim, antes de iniciar a produção em série de qualquer produto, invista em qualidade, faça protótipos e envolva o consumidor desde o início, pedindo sua opinião sobre o produto.

 

Ofereça produtos confiáveis e ganhe uma legião de consumidores apóstolos, aqueles que fazem a propaganda de sua empresa sem você pedir. Isso fará com que você ganhe notoriedade em seu mercado de atuação. Não pense que seu produto será escolhido exclusivamente por ser produzido por uma ONG e não caia na tentação de apelar para o “compre para ajudar”.

 

Os consumidores vão escolher seus produtos ou optar por seus serviços porque são de qualidade, mas também porque existe uma causa associada a eles. Monte um comitê interno de qualidade para determinar o que ou não ser comercializado. Estabeleça processos que garantam a qualidade, torne isso público para seus clientes e ganhe sua confiança.

 

Seu cliente até topará pagar um pouco mais caro se comparar o seu produto com o de uma empresa da iniciativa privada, mas, se a experiência não for positiva, ele não voltará a comprar. A fidelização é muito importante em tempos de concorrência acirrada.

 

Dica #2 – Precificação e Valor podem ditar o sucesso ou o fracasso em sua estratégia comercial

Precificar um produto ou serviço não é tarefa fácil, principalmente em períodos de instabilidade como o que vivemos atualmente. Cálculo de quantidade de matéria-prima, tempo de mão de obra, custos diretos e indiretos, impostos e margem de lucro são variáveis que precisam entrar no cálculo para a composição do preço final de cada produto ou serviço. Se a palavra prejuízo é proibida para a iniciativa privada, para ONGs é impensável.


Assim, recomendo fortemente que, antes de colocar o produto em confecção, a ONG estabeleça uma estratégia de preços que seja aceitável pelo mercado e viável aos clientes e que ainda gere lucro para a organização. 


Não é tarefa fácil: leva tempo e dedicação, mas se a primeira fórmula for bem estabelecida, a aplicação para demais produtos é mais simples.


Ainda segundo Philip Kotler, o Preço é a variável mais complexa dentro do composto de marketing (formado por produto, preço, distribuição e comunicação) e, por isso, políticas de desconto podem arruinar uma organização quando não se tem claro como cada item influencia o preço final de um produto. O SEBRAE tem cursos e consultorias de formação de preços e foi grande influência para o modelo adotado pelo Armazém das Oficinas. 


Por meio de consultorias, aprendemos que cada produto precisa ter uma ficha técnica com detalhes de todos os itens que compõem a produção. A ficha também estabelece o melhor preço a ser praticado. Assim, procure o escritório do SEBRAE de sua cidade para aprender sobre esse assunto. Outra possibilidade para estabelecer uma boa ficha técnica é buscar uma assessoria Pro Bono que ensine a confeccioná-la. Empresas de sua região podem ajudar. Procure um empresário local e peça ajuda. 


Por outro lado, o valor de um produto é composto por elementos intangíveis, e a confecção por uma ONG é um diferencial muito reconhecido nos dias atuais. Aqui, a força da comunicação contribui muito para formar uma identidade e posicionar seu produto como diferenciado para seu público. Mas essa também não é uma tarefa fácil. Ainda hoje, a produção de uma ONG pode ser enxergada com desconfiança por pessoas desinformadas e preconceituosas. Se por um lado temos consumidores ávidos por produtos sustentáveis e que promovem impacto social, por outro, temos desavisados que querem levar vantagem em qualquer transação. Pode ter a certeza de que pessoas tentarão diminuir seu produto, justamente por ser feito por uma ONG. Por vezes, testemunhei apelos por desconto com a justificativa (sem fundamento) de se tratar de um produto confeccionado por pessoas que não eram “normais”, desconfiando da qualidade. A qualidade associada a uma boa comunicação (que demonstre o valor agregado a cada peça produzida dentro da ONG) forma uma boa opinião junto a clientes e consumidores. Leva tempo e dedicação, mas gera resultados traduzidos em vendas.


Dica #3 – Networking é muito importante para vendas de grande porte

As vendas contribuem para a geração de receita, e as grandes vendas geram um fundo de caixa que proporciona um importante fôlego para as ONGs. Uma boa forma de alavancar vendas maiores é consolidar relações com empresas. Para se estabelecer essas alianças, é preciso networking, processo que envolve dedicação, mas gera resultados. Quando esses resultados se concretizam em vendas, uau! Tornar-se conhecido é um trabalho contínuo, e por esse motivo deve ter o apoio e adesão da diretoria da ONG.

 

Assim, é de fundamental importância que os diretores sejam presentes nas associações comerciais de suas cidades e que participem dos eventos representando a ONG. Além de possibilitar a entrada recursos via doações, esses eventos podem proporcionar importantes conexões comerciais que resultem na venda de produtos ou na prestação de um serviço pela ONG.

Dica#4 – Estar presente nas redes sociais é fator fundamental para tornar-se relevante para seu público

Vários artigos aqui no Portal do Impacto já citaram a importância das redes sociais para as ONGs. Nos programas da Phomenta, também exploramos o quanto as redes sociais podem ser influenciadoras para a formação de opinião sobre o trabalho da organização. O apoio das redes sociais é fundamental para adquirir novos seguidores que podem se transformar em novos clientes. A gestão de uma rede social dá trabalho, mas é impensável nos dias atuais uma ação comercial sem apoio do Instagram, por exemplo.

 

O ganho de notoriedade e de boa performance no Instagram está na constância das postagens. Seu público quer conhecer a história da ONG ou a história dos produtos. Organização é fundamental para formar a constância. Assim, busque montar um calendário de postagens, conte histórias, mostre os bastidores, estabeleça um vínculo com seu público. Todas essas ações contribuem para persuadir o seu público a comprar seu produto.


Leia mais em: Comunicação e Marketing


Dica#5 – ONGs podem ter imunidade tributária

Imunidade tributária permite maior margem de lucro. O processo para ter imunidade é complexo e longo, mas é um importante diferencial que contribui para seu produto ou serviço ser mais competitivo. Para se obter a imunidade tributária é necessário o acompanhamento de um advogado especializado em causas tributárias, além de toda a documentação que comprove a atividade sem fins lucrativos da ONG. Após todo o processo, as ONGs podem ter a isenção de tributos como ICMS, ISS, IPTU, IPVA e IPI. A regularização da ONG é imprescindível, e há a obrigatoriedade de se ter o CEBAS.


O Armazém das Oficinas levou cinco anos para conseguir imunidade tributária, e isso é um bom diferencial para a composição do preço final. 


Lei também: Imunidade e Isenção de tributos das Organizações da Sociedade Civil


Comece dando o primeiro passo

Tudo o que foi mencionado no texto é fruto de três décadas de experiência, mas começou com uma dor da ONG em proporcionar atividades aos beneficiários. A geração de renda foi um (importante) passo secundário que se revelou fundamental para a melhoria da qualidade de vida dos atendidos.

 

Muitas outras variáveis fazem parte dessa bela história, e contarei tudo isso para vocês em futuros artigos aqui no Portal do Impacto.

 

Se você está pensando em começar a produzir e vender algum produto para gerar renda para sua ONG, parabéns! Será um desafio gratificante quando as primeiras vendas começarem a acontecer!



Carlos Barbosa é publicitário e atua junto ao terceiro setor desde 2003. 



Revisão: Flávia D'Angelo (Phomenta)


Referências:
¹
www.armazemoficinas.com.br

Administração de Marketing – Philip Kotler, Gary Armstrong. Editora Pearson

Marketing 4.0 – Philip Kotler, Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan. Editora Sextante





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O Movimento Bem Maior (MBM) acaba de disponibilizar o Case Institucional do Futuro Bem Maior, publicação que reúne dados, aprendizados e histórias de impacto das três primeiras edições do programa, realizado desde 2019 em parceria com o Instituto Phi e o Instituto Phomenta. Criado para fortalecer iniciativas sociais em territórios com alto índice de vulnerabilidade social, o Futuro Bem Maior já apoiou 166 organizações de 72 municípios com recursos flexíveis, capacitação e acompanhamento técnico. O case traz uma análise dos efeitos do programa em três níveis: nas organizações apoiadas, público atendido e comunidades. Entre os principais achados, destaca-se que 77% das organizações relataram fortalecimento da autoestima institucional; 73,8% aprimoraram suas capacidades técnicas; 76,1% melhoraram o atendimento ao público; 83,5% conseguiram dar continuidade aos projetos após o ciclo de apoio; 80% ganharam visibilidade em suas comunidades. “Confiar em quem vive os desafios de perto muda tudo. Nosso compromisso é impulsionar quem já transforma a realidade nas pontas. Este case mostra que a confiança, aliada a investimento estratégico, gera resultados reais e duradouros”, afirma Carola Matarazzo, diretora executiva do MBM. A publicação reforça a abordagem do MBM ao apostar em uma filantropia baseada em confiança, que descentraliza recursos e fortalece organizações sociais como motor de transformação social. O documento está disponível gratuitamente. Clique no botão abaixo para ter acesso! 
Por Maria Cecília Prates 14 de julho de 2025
Em projetos sociais os resultados estão quase sempre associados a resultados intangíveis, subjetivos e abstratos, como por exemplo: crianças saudáveis, adolescentes com autoconfiança, autoestima de idosos, jovens capacitados para o mercado de trabalho, comunidade engajada, famílias ajustadas, empreendedores bem-sucedidos, e por aí vai… Alcançar esses resultados intermediários são etapas necessárias e imprescindíveis que vão contribuir para o alcance do impacto final pretendido de transformação na vida das pessoas atendidas. O problema é que até hoje no Brasil ainda não se tem clareza metodológica sobre como medir esses conceitos tão amplamente adotados na área social, que seja confiável e capaz de captar (ser sensível a) os avanços conseguidos . Então, se não há essa clareza – e aqui me refiro sobretudo à grande maioria das organizações do terceiro setor – como conseguir PLANEJAR bem os projetos sociais? Ou seja, como explicitar O QUE queremos mudar? E como saber depois se o que fizemos conseguiu, de fato, chegar AONDE queríamos, ou seja, AVALIAR se as iniciativas conduzidas foram válidas, eficazes e eficientes? Medição compartilhada: uma prática que deveria ganhar força no Brasil No Reino Unido e EUA desde 2003 – No Reino Unido vêm sendo envidados esforços por organizações think-tanks (como a New Philanthropy Capital – NPC , ou a Triangle /Outcomes Star ) e nos Estados Unidos ( FSG) para construírem sistemas de indicadores “de prateleira” (do inglês, off-the-shelf tools ) que possam ser compartilhados por organizações do terceiro setor ( charities or NGOs – Non-Governmaental Organisations ). No Reino Unido, organizações sociais trabalhando em uma mesma área-fim (por exemplo, educação de adolescentes em situação de vulnerabilidade) foram se unindo, capitaneadas por alguma organização think-tank como a NPC, para desenvolverem um sistema comum de avaliação de resultados. Nesse sentido, os conceitos abstratos relacionados a objetivos de resultados (por exemplo: autoestima), adotados por organizações trabalhando com públicos semelhantes, foram sendo operacionalizados nos mesmos indicadores ou escalas. Feita a operacionalização dos conceitos, as demais ferramentas para medição também começaram a ser desenvolvidas em comum, através do apoio de uma equipe especializada, tais como a construção dos questionários, a estratégia para a sua aplicação, o sistema de base de dados (que pode ser online ) e o referencial para análise dos dados coletados. No Brasil, no período em que atuei (2011 – 2016) no Programa da POS (Parceria com Organizações Sociais) da Fundação Dom Cabral – FDC (hoje denominado Pilaris ), quis começar a difundir essa ideia das ferramentas de prateleira ( Avaliação de projetos sociais no terceiro setor: uma agenda em construção , seção IV), mas percebi que o terreno precisava antes ser melhor trabalhado. Por isso, no Manual que desenvolvi para apoiar o trabalho com as organizações participantes do Programa (Manual de Planejamento e Avaliação de Projetos Sociais para Organizações Sociais) , comecei a incluir alguns instrumentos que pudessem funcionar como “ferramentas de prateleira”. Esses instrumentos vinham de três fontes: conceitos abstratos que já tinham sido traduzidos para a prática e validados; experiências de monitoramento com algumas dessas organizações; ou ainda, foram criados durante as avaliações de projetos sociais que conduzi. Para ilustrar melhor a ideia, aqui estão alguns exemplos de instrumentos incluídos no Manual: Conceito: autoestima (escala de Rosenberg), pág. 40-42 do Manual Conceito: impulsividade de adolescentes (escala de Barrat), p.66 Conceito: ser cuidadoso com o meio-ambiente / Avaliação de projeto de apicultura (pág. 67-68) Conceito: bem-estar de crianças e adolescentes, entre 11-16 anos (NPC), Pág. 197-205 Marco lógico: projeto de qualificação digital, Instituto Ramacrisna (pág. 207-210) Questionário: Preparação de jovens (16-18 anos) para inserção no mercado de trabalho, Associação Projeto Providência (pág. 226 – 230) A intenção de compartilhar esses instrumentos no Manual foi oferecer inspiração e facilitar o trabalho de planejamento e avaliação em organizações que atuam com projetos sociais semelhantes, ajudando, assim, a “queimar etapas” e avançar com mais agilidade nesse processo. Medição compartilhada: o caso da ferramenta Outcomes Star Como surgiu? Outcomes Star (traduzido ao pé da letra: Estrela de Resultados) é uma ferramenta para medir e apoiar as mudanças / resultados, que foi criada e desenvolvida pela Triangle Consulting Social Enterprise do Reino Unido . A Triangle, fundada em 2003, se define como “ uma empresa inovadora, guiada por uma missão social que é a de apoiar os provedores de serviços sociais a transformarem vidas de pessoas vivendo em situação de vulnerabilidade social, traumas, deficiências ou doenças, por meio da criação e o uso correto de ferramentas que engajem e promovam abordagem facilitadoras ”. A primeira versão do Outcomes Star começou como uma demanda (em 2003) da St Mungo`s, uma organização social voltada para o atendimento de moradores de rua, que queria avaliar os resultados do seu trabalho. A ferramenta acabou ganhando tração a partir da constatação de sua aplicabilidade também junto a outras organizações do Reino Unido que atendiam moradores de rua. 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Uma boa gestão de conflitos transforma positivamente o ambiente organizacional ao aplicar princípios de comunicação eficaz. Neste artigo, abordaremos o livro “Conversas Difíceis: Como Discutir o Que Mais Importa”, resultado de 15 anos de pesquisa do Projeto de Negociação de Harvard, que oferece ferramentas para gerenciar relacionamentos e solucionar conflitos em diversas situações. Queremos te ajudar a organizar seus pensamentos antes de começar uma conversa difícil assim como o livro sugere. O primeiro passo é entender os três tipos de conversa. Ao final, sugerimos práticas a serem seguidas. Boa leitura! As Três Conversas Centrais e a Ação da Boa Gestão O livro revela que toda conversa difícil é composta por três "conversas" subjacentes: a Conversa "O que aconteceu?", a Conversa das Emoções e a Conversa da Identidade. A boa gestão age diretamente sobre cada uma delas para transformar desafios em oportunidades: Na conversa do tipo “O que aconteceu?”, os participantes focam em quem está certo ou errado, partindo de suposições que levam ao ciclo de acusações e impedem a solução. Conforme o autor: “quando algo desagradável acontece, o foco da conversa gira em torno de quem está certo, quem está errado, quem disse o quê, quem deve assumir a responsabilidade e assim por diante. Passamos a discutir quase todos os detalhes.”. Exemplo de conflito – Projeto atrasado e disputa de culpa: ao desenhar a festa junina da organização, ficou faltando definir quem compraria e arrecadaria as prendas das barracas, gerando muito estresse no dia da festa. Logo, membros começaram a atribuir culpa uns aos outros: “Foi o time das coordenadoras”; “Não, foram vocês que não passaram direitos”; “Não me envolvam, eu fiz minha parte”. 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Essa interpretação precipitada de “más intenções” gera tensão e impede que ambos discutam a real necessidade de melhoria de conteúdo. Por fim, quando falamos da Conversa da Identidade: é quando uma conversa difícil ameaça a auto-identidade de alguém (questões como "sou competente?", "sou uma boa pessoa?"), e as pessoas podem reagir defensivamente. A boa gestão auxilia a fundamentar a identidade dos colaboradores, focando no valor próprio e na capacidade de examinar-se objetivamente e admitir falhas sem medo. Além disso, a gestão eficaz desiste de tentar controlar as reações dos outros, focando em influenciar e adaptar a própria autopercepção. Exemplo de conflito – Avaliação de desempenho e abalo de autoestima: durante uma avaliação de desempenho, é comum um superior dizer: “seu desempenho no trabalho é tão ruim; você acha que pode competir pela promoção?”. 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Ao promover a compreensão mútua, o compartilhamento de responsabilidades e a resolução construtiva de conflitos, a gestão não apenas soluciona problemas de forma mais eficaz, mas também fortalece mais as equipes, aumenta a produtividade e cultiva uma cultura de confiança e resiliência. Dessa forma, as conversas difíceis se tornam oportunidades para aprendizado e crescimento, em vez de fontes de conflito e estagnação. Gostou do conteúdo? A Phomenta está realizando um mapeamento e quer saber como o terceiro setor está gerindo pessoas e conflitos em suas organizações. Compartilhe sua experiência e contribua com este estudo acessando: [link] Artigo realizado com apoio da ferramenta de IA Notebooklm e do livro Conversas difíceis - Douglas Stone, Bruce Patton e Sheila Heen 
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Guia prático que ensina como estruturar uma página de captação de doações para ONGs: mensagem clara, métricas de impacto, transparência financeira e CTA que converte. Saiba mais!
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Apoiar ONGs pequenas é uma escolha política e estratégica para ampliar o impacto social no Brasil. Entenda como essa decisão se conecta ao fortalecimento do terceiro setor, à transformação de territórios e à mudança de perspectiva no investimento social.
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Inicialmente, vamos entender melhor o que são métricas? Métricas são números e dados que as redes sociais fornecem para mostrar o desempenho das publicações feitas por você ou pela sua ONG. Quando você publica algo no Facebook ou Instagram, essas redes sociais mostram quantas pessoas visualizaram, curtiram, comentaram ou compartilharam seu conteúdo. Saber interpretar essas informações é muito importante porque ajuda a sua OSC a entender o que está dando certo e o que pode melhorar na comunicação com o público. Ao entender melhor essas informações, você pode criar conteúdos que alcançam mais pessoas e ajudam sua organização a ter um impacto maior. Quais são as métricas mais importantes? Entender as principais métricas pode parecer difícil no começo, mas conhecendo cada uma delas fica muito mais fácil saber se sua comunicação está indo bem. Cada uma dessas métricas traz informações cruciais que ajudam a entender o comportamento do seu público e como melhorar as publicações da sua organização. Desvendando as siglas e abreviações das métricas CTR (Click Through Rate): porcentagem de pessoas que clicaram em um link após visualizá-lo. CPM (Custo por Mil Impressões): quanto custa mostrar seu conteúdo para mil pessoas. CPC (Custo por Clique): quanto você paga por cada clique no seu conteúdo. CPA (Custo por Aquisição): custo médio para que uma pessoa realize uma ação específica, como fazer uma doação. ROI (Return on Investment): retorno financeiro obtido em relação ao dinheiro investido em publicidade ou campanhas. KPI (Indicador-Chave de Desempenho): métricas específicas escolhidas para medir o sucesso das suas ações. Alcance e Impressões O alcance é o número de pessoas diferentes que viram sua publicação pelo menos uma vez. Quanto maior o alcance, mais pessoas diferentes foram alcançadas pelo seu conteúdo. Já as impressões mostram quantas vezes sua publicação apareceu nas telas das pessoas, contando inclusive aquelas que viram mais de uma vez (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Engajamento Engajamento é uma das métricas mais importantes porque mostra como as pessoas estão interagindo com seu conteúdo. Essas interações incluem curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos. Um alto engajamento significa que as pessoas realmente gostaram do seu conteúdo e tiveram vontade de interagir com ele. Quanto mais engajamento, melhor você está se comunicando com o seu público (FERREIRA; OLIVEIRA, 2015). Cliques Cliques mostram quantas pessoas clicaram no seu conteúdo ou nos links que você compartilhou. Essa métrica é especialmente importante quando você quer direcionar as pessoas para seu site ou para alguma ação específica, como um evento ou uma campanha de doação (COSTA, 2020). Crescimento de seguidores Essa métrica mostra quantas pessoas novas começaram a seguir sua ONG depois de ver suas publicações. Um crescimento constante de seguidores significa que você está conseguindo chamar a atenção e conquistar novas pessoas para sua causa (COSTA, 2020). Mas afinal, como essas métricas se relacionam? É muito importante não olhar apenas para uma métrica isoladamente. Por exemplo, se muitas pessoas veem sua publicação (alto alcance), mas poucas interagem com ela (baixo engajamento), pode ser que o conteúdo não esteja interessante o suficiente. Para entender se sua estratégia está funcionando, você precisa analisar diferentes métricas juntas, como alcance, engajamento e cliques. Isso ajuda a ter uma visão mais completa do desempenho das publicações (GOMES, 2018). Tipos de análises que você pode fazer Para usar bem as métricas, você pode fazer vários tipos diferentes de análises. Cada tipo serve para algo específico e ajuda você a entender melhor o desempenho das suas redes sociais, mostrando caminhos para melhorar sua comunicação. Análise simples A análise simples é a mais básica e mostra diretamente quantas pessoas viram ou interagiram com seu conteúdo (RECUERO, 2014). Comparação A análise comparativa é quando você compara resultados de diferentes publicações ou períodos. Por exemplo, você pode comparar o desempenho das publicações deste mês com as do mês passado para entender o que funcionou melhor e planejar conteúdos futuros (RECUERO, 2014). Previsão A análise preditiva usa dados antigos para tentar prever resultados futuros (RECUERO, 2014). Um exemplo é que se sabemos que entre novembro e dezembro há um aumento nas curtidas em posts relacionados a doações, construir conteúdo que fale sobre isso antecipadamente é uma forma de “prever” a procura e antecipar-se ao aumento de demanda. Redes sociais Analisar as redes sociais significa entender como as pessoas interagem umas com as outras no seu perfil ou página. Você pode descobrir quem são os principais seguidores, quais conteúdos são mais compartilhados e como essas conexões ajudam a espalhar sua mensagem para mais pessoas (GOMES, 2018). O que ter cuidado ao analisar os números? Ao analisar as métricas, você precisa levar em conta fatores externos que podem influenciar os resultados. Datas especiais, feriados ou eventos importantes podem aumentar ou diminuir a interação com suas publicações (as chamadas datas sazonais). Por isso, sempre olhe com cuidado e verifique se os dados são realmente representativos do desempenho geral (KAHNEMAN, 2012), todo o contexto deve ser levado em conta. Cuidado com erros ao analisar Existem alguns erros comuns ao analisar as métricas. Um deles é o viés de confirmação, que acontece quando você só presta atenção nos números que reforçam o que você já acredita. Outro erro é o viés de recência, que acontece quando você só leva em conta os resultados mais recentes, esquecendo resultados passados (KAHNEMAN, 2012). Como já dito. Recomendações O conteúdo do artigo foi baseado no conhecimento da autora e com referências de base científica. Caso você deseje ampliar o conhecimento acerca da temática, recomenda-se a leitura das fontes a seguir: COSTA, Felipe. Aplicação estratégica de métricas digitais. Panorama, Goiânia, v. 9, n. 2, p. 45-60, 2020. FERREIRA, Mariana; OLIVEIRA, Ana. Produção textual e interações sociais em plataformas digitais. Revista Comunicando, Lisboa, v. 5, n. 1, p. 10-23, 2015. GOMES, André. Dinâmicas de interações nas redes sociais digitais. Salvador: UFBA, 2018. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2014. 
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