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Tá chovendo edital

out. 14, 2021

Os editais referem-se a uma estratégia de captação de recursos públicos e privados muito conhecida entre a maioria dos empreendedores de OSCs. É difícil encontrar alguém do campo socioambiental que não tenha participado, ou pelo menos ouvido falar, de algum edital de seleção de projetos.


Uma pesquisa do Prosas sobre o tema, realizada em 2019 e publicada em 2020, avaliou 1.675 editais com foco nas áreas social, cultural e criativa, sendo 82,6% deles nacionais. Os resultados demonstraram que o valor mobilizado no período foi de pelo menos R$1,282 bilhão, o que não representa o valor total, uma vez que somente 628 editais divulgaram o montante total a ser investido. Em termos quantitativos, a maior parte dos editais foi realizada por órgãos governamentais — que também representam o maior montante investido —, seguido, com certa distância, por empresas e institutos empresariais e órgãos internacionais.


Na esfera pública, os editais, também conhecidos como chamamentos públicos, são um procedimento feito para executar atividades ou projetos que sejam de interesse público. Essa parceria é celebrada por meio de termos de colaboração, fomento ou acordos de cooperação. Para quem busca captar recursos por meio de editais públicos, a primeira lição é estudar o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), Lei n° 13.019/2014 e Decreto n° 8.726/16, que veio para garantir transparência nas atividades e na relação entre as organizações executantes e a Administração Pública. Alguns estados e municípios adequaram a lei às suas especificidades. A Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil é um bom local para se aprofundar no MROSC.


Na esfera privada, quase sempre, os editais servem às estratégias do Investimento Social Privado (ISP) de empresas, institutos e fundações, que realizam repasses voluntários de recursos privados de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais, culturais e científicos de interesse público — segundo definição do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE). O GIFE tem uma série bem interessante sobre O que o Investimento Social Privado pode fazer por...?, muito indicada, principalmente, para as OSCs que atuam nas áreas de Cidades Sustentáveis, Equidade Racial, Mudanças Climáticas, Água, Gestão Pública, Direitos das Mulheres, Migrações e Refugiados, Segurança Pública e Justiça Criminal, Democracia, Ciência e Informação e Amazônia.


Sobre os editais na esfera privada, há debates abrangentes que apresentam os prós e os contras que este texto não daria conta de discutir. Por isso, resolvemos focar em algo mais prático para o momento: tá chovendo edital! 


Na pesquisa do Prosas, citada anteriormente, o segundo semestre de 2019 concentrou o encerramento de 62,9% das inscrições dos editais, com destaque para o terceiro trimestre do ano (julho a setembro). Esse mesmo fenômeno pode ser sentido agora, em 2021.


Faça o teste, pesquise por editais no primeiro semestre e compare quantitativamente com a segunda parte do ano. Não vai ser difícil perceber uma “avalanche” de editais. Mas a pergunta que não quer calar é: como podemos aproveitar essa onda? Do lugar de quem participa de editais e já foi parecerista por anos, aqui vão algumas dicas, que podem ser aproveitadas imediatamente ou no futuro próximo:


1 - Desenhe a teoria da mudança da sua organização: isso vai te ajudar a escrever os projetos no momento em que aparecer o edital compatível com a sua causa, princípios e perfil.


2 - Estude editais passados: conheça o histórico e as linhas de atuação, entenda os critérios, pesquise os projetos que já foram selecionados por esse mesmo edital... Não apenas leia o edital, estude-o. Por exemplo, cada vez mais tem sido comum a realização de editais para a seleção de projetos aprovados em leis de incentivo do esporte e da cultura, o que exige que a organização já tenha projetos incentivados. Se esse for o caso, há um caminho que a OSC precisa percorrer antes de se inscrever no edital.


3 - Esteja sempre pronto: sobretudo sob o ponto de vista da documentação. Não espere um edital surgir para regularizar as Certidões Negativas de Débito, por exemplo; esteja atento aos prazos de vencimento e os atualize sempre que necessário. Estar com a comprovação de capacidade técnica sempre em dia também pode te ajudar na hora de submeter um projeto.


4 - Tenha bons elaboradores de projetos por perto: descubra quem gosta de escrever ou pode tornar-se uma pessoa elaboradora de projetos na sua organização, ainda que hoje esse trabalho seja feito por uma assessoria externa. Esse é o tipo de habilidade que vale a pena ter dentro de casa. 


5 - A parte orçamentária exige atenção: se tiver como, designe uma segunda pessoa para cuidar da parte orçamentária. Quem destina o dinheiro quer ter certeza de que quem vai recebê-lo terá toda condição de administrá-lo bem. E não se esqueça de incluir custos como os encargos e benefícios dos recursos humanos. Pode parecer estranho para quem já tem experiência, mas as OSCs iniciantes, em geral, esquecem de considerar esses valores. Quando conseguem aprovar o projeto, já começam o processo com um baita retrabalho para fazer.


6 - Evite escrever um projeto apenas para se encaixar no edital: se não está na teoria da mudança ou em outros planos táticos da sua organização, participar de um edital só para ganhar um “dinheiro carimbado” pode ser um tiro no pé da OSC. Isso pode fazer com que a organização perca sua identidade e passe a executar somente “projetos de prateleira”, como chamamos este tipo de projeto. Não perca de vista a causa da sua organização!


7 - Não aposte todas as fichas na estratégia de editais: nunca coloque todos os ovos na mesma cesta. Ao planejar a captação de recursos da sua OSC, considere ter diferentes fontes de receita e estratégias. Se uma falhar, nem tudo estará perdido, já que ainda haverá outras fontes com as quais a sua organização poderá contar. E aqui vai uma dica de ouro: tão importante quanto diversificar as fontes de receita é garantir um balanço entre elas. Pouco adianta ter 10 cestas se em uma delas você colocar 91% dos seus ovos.


Pois é,
tá chovendo edital, mas isso não quer dizer que vai chover na sua horta. Tudo exige tempo e dedicação, e quem diz o contrário certamente nunca precisou gerenciar uma OSC do zero. Sabemos que quem nos acompanha no Portal do Impacto não tem um só dia de descanso, por isso é preciso conhecer as melhores táticas e ferramentas para superar todas as batalhas. E é para isso que existimos: para auxiliá-los nesse processo.



Curtiu esse conteúdo? Ele foi útil para você? Compartilhe com todo mundo e nos ajude a espalhar essas informações com o maior número de OSC possível!



Daiany França

Daiany França Saldanha é responsável pelo editorial do Portal do Impacto.


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De acordo com o pesquisador brasileiro Ewerton Naves Dias, Ph.D em Psicologia pela Universidade do Porto, no Coping , consideramos o estresse como algo contextual, “o que significa que se trata de um processo de relação entre a pessoa e o ambiente e que se transforma ao longo do tempo. Desse modo, ele é definido como uma situação avaliada pelo indivíduo como significativa e com demandas que excedem seus recursos para lidar com o respectivo evento”. Diferente dos mecanismos de defesa, que acontecem de forma inconsciente, as estratégias de enfrentamento utilizam-se da percepção da pessoa frente ao evento estressor, desencadeando pensamentos avaliativos sobre suas ferramentas internas e externas e o controle ou não da situação, a fim de escolher sua forma de lidar com a situação. Categorias ou possibilidades de enfrentamento Apesar de Lazarus e Folkman definirem as duas principais categorias de enfrentamento, podemos encontrar na literatura algumas variações dessas estratégias, sendo as mais comuns: 1) Enfrentamento com foco no problema: Quando acredita-se que é possível alterar aspectos do ambiente, diminuindo ou eliminando os fatores de estresse e atuando de forma ativa. Alguns exemplos de ações, baseadas no contexto organizacional do Terceiro Setor, são: Análise crítica e detalhada do problema gerador de estresse Conversas individuais com pessoas que estão diretamente envolvidas na situação Conversas em grupo ou equipe, caso seja uma questão que influencie o bem-estar de várias pessoas Planejamento e criação de resoluções coletivas de enfrentamento ao problema Busca de apoio externo de especialistas 2) Enfrentamento com foco na emoção: Baseado na crença de que o ambiente é pouco alterável ou imutável, o indivíduo busca recursos para lidar com os sentimentos derivados do estresse, de forma a prolongar sua permanência na situação até que as circunstâncias mudem. Este é um tipo de enfrentamento moderado e pode ser realizado com: Fortalecimento de técnicas de autocontrole emocional Busca de apoio social (inclusive de colegas de equipe) ou psicológico para a descoberta de novas possibilidades de enfrentamento Investimento em hobbies ou atividades de lazer que minimizem os sentimentos negativos e promovam distração Desenvolvimento de práticas espirituais ou religiosas 3) Enfrentamento evitativo: Esta estratégia considerada passiva, também fundamentada na crença de que não há controle sobre as circunstâncias, engloba o afastamento, fuga, esquiva ou desligamento mental do problema. Aqui a pessoa escolhe evitar o conflito, lidar com os sintomas do estresse e economizar energia emocional. Qual estratégia usar? Os estudos que avaliam a predominância e a eficácia da utilização de cada tipo de coping divergem de acordo com o público pesquisado, considerando, no entanto, a variabilidade dos diferentes tipos de personalidade. Por exemplo: Uma análise feita com trabalhadores de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em Campinas (ZANATTA, 2019), verificou que a estratégia mais utilizada pelos profissionais destes espaços foi a de resolução de problemas, onde há a elaboração de planos de ação e alternativas com o objetivo de resolução da situação. Pesquisas realizadas com profissionais da saúde que trabalham em hospitais e analisadas pela Profª Drª Liliana Antoniolli (2022), afirmam que o coping mais utilizado pelas entrevistadas eram os baseados no enfrentamento com foco na emoção, onde empregavam um esforço cognitivo para ressignificar as experiências laborais “controlando emoções, como tristeza, medo e estresse, que emergem devido a situação conflitante”. Observa-se que a tendência de utilização de cada estratégia está positivamente ligada à experiência e idade dos profissionais, sendo que, quanto maiores mais o profissional tenderia a utilizar o enfrentamento com o foco no problema, enquanto os mais jovens tendem a escolher com mais frequência o afastamento (ou evitação) do estressor, por meio de um isolamento autoimposto. Outra proposta de estratégias de coping defendida pelo pesquisador Caryl Rubust (1988), da Vrije Universiteit em Amsterdã , Holanda , destacou outras quatro alternativas de enfrentamento, relacionadas ao ambiente de trabalho, que ele chamou de EVLN (Exit/Voice/Loyalty/Neglect), traduzido para o português como: saída, voz, lealdade e negligência. Nelas, o indivíduo escolheria: Saída: Sair do trabalho e encontrar um emprego melhor Voz: Tentar melhorar a situação conflitante com a sua voz Lealdade: Ser motivadas a apoiar ativamente a organização, ignorando seus incômodos Negligência: Concentrar-se em seus interesses não relacionados ao trabalho e "negligenciar" sua situação de trabalho insatisfatória De acordo com Lazarus e Folkman, as Estratégias de Enfrentamento ainda podem ser Adaptativas ou Desadaptativas, ou seja, quando as estratégias utilizadas são saudáveis e conseguem minimizar os sentimentos desagradáveis e desmotivadores são consideradas positivas/adaptativas. Em contraponto, quando não são saudáveis (recorrer a um vício como o cigarro, drogas ou bebidas alcoólicas, por exemplo) a estratégia é considerada negativa/desadaptativa. Como o Terceiro Setor tem lidado com os sintomas de estresse? Na “Pesquisa - A Saúde Mental e o Bem-Estar dos profissionais do Terceiro Setor ”, publicada pela Phomenta, em 2023, foram utilizados alguns questionamentos quanto às estratégias que as pessoas entrevistadas usavam para lidar com os sintomas de estresse oriundos do trabalho nas organizações sociais brasileiras, e encontramos nos resultados que: 69% relataram realizar atividades físicas 66% procuraram ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros tipos de terapias alternativas 20% fazem uso regular de medicamentos calmantes e/ou ansiolíticos Percebemos com esses dados, que a maior parte das estratégias utilizadas pelos respondentes da pesquisa são do enfrentamento com foco na emoção, o que pode amenizar temporariamente a angústia e a desmotivação de quem passa por estresse de forma recorrente, mas que a médio prazo acaba gerando a saída deste colaborador, o que podemos observar nas altas taxas de rotatividade do setor. As Profª Drª Mary Sandra Carlotto e Sheila Gonçalves Câmara da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/Canoas, em suas pesquisas na área da educação, concordam com a constatação de que as estratégias de coping focadas no problema são estratégias adaptativas (positivas) que auxiliam os profissionais a enfrentar os problemas que surgem em seu ambiente organizacional. Elas também acrescentam que esse estilo de enfrentamento pode levar a um aumento dos níveis de realização profissional. Apesar de várias organizações sociais no Brasil relatarem, na Pesquisa da Phomenta (2023), que já estão implementando ações para amenizar os sintomas de estresse de seus colaboradores, como apoio psicológico, momentos de confraternização e lazer, formações e palestras, dentre outras, e estarem discutindo temáticas relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, as mesmas ações precisam de coerência prática para realmente efetivar uma melhora da saúde coletiva. A publicação ressalta: “[...] é crucial que a organização não apenas introduza tais medidas, mas também promova mudanças que abordem os causadores de estresse, como o excesso de demanda e prazos apertados. A saúde mental não é apenas sobre discutir ou promover a conscientização, é também sobre criar um ambiente de trabalho sustentável onde os trabalhadores se sintam apoiados em suas rotinas diárias. Quando a liderança trabalha horas excessivas e perpetua um senso de urgência, por exemplo, isso pode enviar uma mensagem contraditória à equipe, sugerindo que, apesar das iniciativas de bem-estar, a cultura de trabalho exaustivo ainda prevalece”. Autoavaliação Como enfatizado no início do texto, o coping tem como característica principal a escolha consciente de sua reação frente ao estresse, o que nos leva a crer que para ser feita da forma mais eficaz, deve ser percebida, avaliada e monitorada com o passar do tempo. Dessa forma, faça agora uma autoavaliação de quais têm sido suas escolhas frente aos desafios do dia-a-dia, principalmente relacionados ao trabalho no Terceiro Setor. Avalie também quais têm sido as formas de enfrentamento utilizadas pelas pessoas em sua equipe ou em sua organização, para que se certifiquem de que por meio do apoio mútuo possam criar formas de lidar com o estresse enfrentando o problema. Referências Antoniolli, Liliana; Vega, Edwing Alberto Urrea Vega; Haack, Pâmela; Duarte, Andrey Godoy; Macedo, Andréia Barcellos Teixeira; Souza, Sônia Beatriz Cócaro de; Coping dos profissionais da enfermagem: revisão integrativa de literatura. Open Science Research - ISBN 978-65-5360-055-3 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 1 - Ano 2022 CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, vol. 26, n. 1, p. 29-46, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752008000100003 . Acesso em: 08 mar. 2023. DIAS, Ewerton Naves; PAIS-RIBEIRO, José Luís. O modelo de coping de Folkman e Lazarus: aspectos históricos e conceituais. Rev. Psicol. Saúde, Campo Grande , v. 11, n. 2, p. 55-66, ago. 2019 . Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2019000200005&lng=pt&nrm=iso >. acessos em 10 mar. 2024. http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i2.642. Lazarus, R., & Folkman, S. (1984). Stress appraisal and coping. New York: Springer. PHOMENTA. Pesquisa: A saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores do terceiro setor. Campinas: SP. 2023. Disponível em: https://www.phomenta.com.br/pesquisa-saude-mental-e-bem-estar RUSBULT, C. E.; FARREL, D.; ROGERS, G. e MAINOUS III, A. G. (1988), «Impact of exchange variables on exit, voice, loyalty and neglect: an integrative model of responses to declining satisfaction». Academy of Management Journal, vol. 31(3), pp. 599-627. Zanatta AB, Lucca SR, Sobral RC, Stephan C, Bandini M. Estresse e coping entre trabalhadores de centros de atenção psicossocial do interior do estado de São Paulo. Rev Bras Med Trab.2019;17(1) DOI:10.5327/Z1679443520190300:83-89 Coping: estratégias para enfrentar períodos estressantes ou Coping: mais saúde mental em períodos estressantes ou Coping, estratégias de saúde mental em períodos estressantes
Por Maria Cecília Prates   14 mar., 2024
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