É urgente falarmos (e agirmos) sobre a qualificação dos educadores sociais

13 de julho de 2023

Este conteúdo foi produzido por Ana Carolina Ferreira (Partilha)


Se você, assim como eu (e diversos estudiosos e profissionais) acredita que as organizações sociais que realizam projetos de educação são contextos ricos de desenvolvimento humano e social, bora conversar sobre a qualificação dos educadores sociais! No texto anterior, refletimos um pouco sobre a formação, a atuação e a identidade desses profissionais que são essenciais na promoção de oportunidades, no acolhimento, na orientação, enfim, nas vivências cotidianas com os beneficiários das instituições.


Mas por que falar de qualificação? Quer dizer que esses profissionais não são qualificados? De forma alguma! Ao insistir na necessidade de qualificação dos educadores sociais - e, portanto, no papel dos gestores das organizações para com esse público -, estou me referindo, de um lado, à importância dessa atuação e, de outro, aos desafios enfrentados cotidianamente por ela. 


Todo mundo que está com os pés no chão das ONGs sabe que os desafios pessoais, familiares, comunitários, sociais atravessam nosso fazer diariamente. Como ignorar demandas como violência doméstica, insegurança alimentar, conflitos com a criminalidade, entre outros? Como ter um fazer desconectado das políticas públicas ligadas ao Terceiro Setor? Como não entender minimamente a rede de proteção social à qual nosso público pertence? 


Todos esses assuntos - e muitos outros - estão em constante efervescência e, por isso, nossa equipe precisa estar em constante formação. Além disso, precisamos pensar em como promover um programa de formação continuada se nossos educadores sociais têm uma formação inicial diversa. A seguir, vou elencar alguns temas que acredito fazer sentido para a maior parte das instituições que atuam com educação não formal.


Didaticamente, vou propor três grandes blocos de formação e exemplificar com alguns temas que podem contribuir fortemente com o fazer educativo e, portanto, com a transformação social que tanto almejamos. Para mim, é urgente ofertarmos formações continuadas ligadas à: a) fazer pedagógico; b) aspectos socioculturais e políticos; c) identidade e desenvolvimento profissional.


Começando pelo fim, diversos estudos têm discutido a importância de apoiar a construção da identidade profissional dos educadores sociais e, a partir disso,  desenvolver habilidades e competências importantes para o papel por eles ocupado. Há expectativas compartilhadas não ditas sobre a postura de um educador social, mas há formação e acompanhamento para o desenvolvimento dessas atitudes?


Esse aspecto se relaciona com o que estou chamando de “fazer pedagógico”. Se estamos falando que os projetos são intencionalmente formativos, os educadores sociais precisam saber sempre mais sobre metodologias de desenvolvimento, de aprendizagem e de condução de grupos. Creio que é fundamental também entender alguns aspectos do desenvolvimento humano e como os projetos podem apoiar - ou até mesmo atrapalhar - o desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial dos atendidos. Além disso, há alguns temas transversais essenciais: educação emocional, educação sexual, transtornos do desenvolvimento, saúde mental, entre outros.


Finalmente, mas não menos importante, não podemos nos furtar à compreensão dos aspectos socioculturais e políticos que forjam a realidade cotidiana da comunidade na qual atuamos. Quais são as políticas públicas que fundamentam nosso fazer? Como acolher, orientar, encaminhar questões como violência doméstica, de gênero e sexual? Como tratar de temas como sexualidade, uso e abuso de substâncias, racismo?


Como diz um querido professor meu: “precisamos entender que essa nossa ‘cumbuca’ é muito complexa”, por isso, é importante estarmos em constante formação, debate e construção. A meu ver, há algumas possibilidades de viabilização dessa formação: parcerias, trabalho em rede, trocas de experiência, debates, talentos, saberes e experiências da equipe interna, editais específicos para qualificação.


Respira fundo, gestor! É complexo mesmo e eu entendo que é desafiador dar conta de tudo na sua organização e ainda contribuir com a formação dos educadores sociais. Mas se eles não se qualificam, como teremos projetos de qualidade? Se estamos propondo oportunidades de desenvolvimento, é fundamental que nos desenvolvamos sempre! 




Ana Carolina Ferreira, apaixonada por educação e terceiro setor, graduada em Letras e em Psicologia e especialista em Gestão de Projetos. Fundadora da Partilha, dedica-se ao desenvolvimento de pessoas, empresas e instituições sociais, assessorando programas educacionais.



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