Na avaliação dos projetos, qual a relação entre avaliadores e gestores?

9 de março de 2023

Este conteúdo foi produzido por Maria Cecília Prates


É comum vermos organizações do terceiro setor contratarem especialistas externos, em geral, doutores da academia, para avaliarem o impacto dos seus projetos sociais. Acreditam que, dessa maneira, dão credibilidade ao trabalho social que desenvolvem e, assim, conseguem garantir novas doações e financiadores.


O problema é que, na maior parte das vezes, essas avaliações contratadas pouco interagem com a dinâmica do projeto social. Em grande medida isso se deve ao fato de que a conversa entre as equipes executoras e os avaliadores fica restrita a dois momentos: no início, na encomenda da avaliação; e ao final, na entrega dos resultados. E os aguardados resultados só fazem referência à probabilidade de o projeto ter tido (ou não) efeito significativo nas variáveis esperadas, dentro de uma determinada margem de erro. Se teve efeito, foi ótimo; se não teve, vamos procurar ter da próxima vez.


Decorre, daí, que a contribuição da avaliação para a efetividade do projeto social acaba tendo um papel muito reduzido. Sem falar que, na maior parte das vezes, a avaliação é considerada como um fardo para a organização. O que fazer para melhorar a relação entre a avaliação e o projeto social?


Para  Libby Watkins (28.06.2016) que foi “fellow” na organização think-tank dos EUA daquela época, a 'Evaluate for Change`, um aprendizado importante que ela tirou de sua experiência foi o de que as organizações do terceiro setor precisavam urgentemente melhorar o relacionamento entre os avaliadores e as equipes executoras dos projetos sociais. E, a meu ver, essa necessidade continua mais atual do que nunca. 


Segundo Watkins, as equipes executoras precisam ser diretamente envolvidas no processo da avaliação. Com isto, a avaliação – e, portanto, também os avaliadores – têm muito a ganhar. As equipes executoras são as pessoas que melhor conhecem o projeto e que mais podem ajudar na avaliação. Elas têm uma perspectiva única sobre o projeto, aí incluído o que funciona e o que não funciona, e o que realmente precisa ser mensurado. Os seus insights são essenciais para criar as perguntas avaliativas e escolher as metodologias.


Para Watkins, é preciso também que os avaliadores saibam “conquistar” as equipes executoras para serem suas aliadas. E isso não acontece da noite para o dia, porque até agora a avaliação não costuma ser bem vista pelo grupo dos executores, percebida por eles como mais carga de trabalho (e pouco útil para o andamento do projeto em si) e ainda podendo vir a ter caráter punitivo.


Ela dá algumas dicas para essa “conquista”: 


  • Primeiro, a causa social deve ser o mantra forte a unir o trabalho de ambos os grupos – avaliadores e gestores do projeto.


  • Segundo, devemos incluir de fato as equipes executoras ao longo de todo o processo avaliativo, desde a criação do marco lógico / teoria da mudança até a apresentação dos resultados – e deixar claro que não é apenas “da boca pra fora”. 


  • Terceiro, buscar maneiras de compartilhar os dados de forma útil, de modo que os executores possam de fato melhorar o seu trabalho em tempo hábil, e a avaliação consiga iluminar os sucessos do impacto na vida dos beneficiários e sua relação com o trabalho da equipe executora. 


Dessa maneira, se cria uma parceria “simbiótica” entre avaliadores e equipe executora, em que um grupo ajuda o trabalho do outro. Além disso, é um modo de proceder que certamente vai melhorar a contribuição da avaliação para a efetividade e o fazer melhor dos projetos sociais das organizações – ao invés de ser percebida como fardo e mero requisito de compliance para obter recursos.


Maria Cecília Prates é economista e mestre em economia pela UFMG, e doutora em administração pela FGV /Ebape (RJ). A área social sempre foi o foco de suas pesquisas durante o período em que esteve como pesquisadora na FGV, e depois em seus trabalhos de monitoria, consultoria, pesquisa e voluntariado. 


Contato: mcecilia@estrategiasocial.com.br




Inscreva-se na nossa Newsletter

Últimas publicações

Por Maria Cecilia Prates 28 de outubro de 2025
Nem tudo que é medido gera impacto real. Este artigo reflete sobre os riscos da obsessão por métricas no Terceiro Setor e como o foco excessivo em números pode distorcer o verdadeiro propósito social das organizações.
Por Rosana Meneses 16 de outubro de 2025
Entre metas, editais e sobrecarga, muitas gestoras do Terceiro Setor vivem o desafio de fazer tudo sozinhas. Neste relato,você verá lições práticas sobre como equilibrar a gestão de projetos e a captação de recursos sem perder a saúde, nem o propósito.
Por Fernando Porto 13 de outubro de 2025
Aprenda como usar o storytelling para engajar e inspirar. Descubra como ONGs podem criar narrativas autênticas que despertam empatia, fortalecem vínculos e mobilizam doadores.
Por Kamilly Oliveira 7 de outubro de 2025
Descubra como definir a missão e a visão da sua organização de forma prática e inspiradora. Um exercício essencial para alinhar propósito, estratégia e impacto social.
Por Ci Freitas 30 de setembro de 2025
O que realmente é turismo regenerativo? Vá além do sustentável e aprenda a sobre turismo sustentável e regeneração. Confira o artigo.
Por Instituto Phomenta 17 de setembro de 2025
Segundo o Governo Federal, para cada R$ 1 aplicado em projetos culturais, até R$ 1,60 volta para a economia. Esse movimento gera emprego e renda, amplia o acesso à arte e à educação e cria novas oportunidades de desenvolvimento. Apesar desse potencial, muitas organizações culturais atuam com orçamentos reduzidos e equipe limitada. Um levantamento da Iniciativa Pipa e do Instituto Nu aponta que 31% das organizações periféricas de cultura e educação têm orçamento anual de até R$ 5 mil, e 58% funcionam de forma totalmente voluntária, sem equipe remunerada. São iniciativas que já promovem impacto real, mas enfrentam dificuldades para acessar leis de incentivo, conquistar patrocínios e participar de editais. Porém, com apoio direcionado, podem fortalecer sua atuação e alcançar mais pessoas. Fortalecimento e oportunidade de crescimento O Programa de Aceleração Cultural é uma iniciativa do Instituto Phomenta, em parceria com o Ministério da Cultura e patrocínio do Grupo Ultra e suas unidades de negócio: Ultragaz, Ultracargo, ICONIC, Ultra e Instituto Ultra e Ipiranga. A proposta é apoiar organizações que atuam com cultura e educação, oferecendo formações e acompanhamento para melhorar a gestão, ampliar as estratégias de captação e facilitar o acesso a Leis de Incentivo à Cultura. O programa é gratuito, online, acessível para pessoas com deficiência e acontecerá no 2º semestre de 2025, com 40 horas de duração entre encontros ao vivo, atividades práticas e mentorias individuais. Além do conteúdo, as organizações participantes receberão bolsa auxílio de até R$ 2.000, como incentivo para participação ativa. Quem pode participar Organizações localizadas em São Paulo (SP), Campinas (SP), Santos (SP) e Duque de Caxias (RJ) que: Tenham pelo menos 1 ano de existência e CNPJ ativo Desenvolvam atividades culturais com caráter educativo, como oficinas, cursos, programas de formação, acompanhamento pedagógico e ações culturais que visem ensino e transformação social Possuam canais de comunicação ativos (site e/ou redes sociais) Não promovam partidos políticos, religiões específicas, violência ou criminalidade Será necessário comprovar experiência mínima de 1 ano em ações culturais educativas durante a etapa de envio de documentos. O que será oferecido O Programa de Aceleração Cultural inclui mentorias personalizadas, formações em gestão, sustentabilidade financeira e captação de recursos, apoio para acessar Leis de Incentivo à Cultura e rodas de conversa para troca de experiências entre organizações participantes. Como incentivo à participação, cada organização poderá receber até R$ 2.000 em bolsa auxílio, considerando presença mínima de 75% nos módulos e participação nas atividades previstas. Por que participar Esta é uma oportunidade para fortalecer a atuação, ampliar a visibilidade e criar condições para que projetos culturais educativos se mantenham e cresçam. Além do conteúdo prático, o incentivo financeiro ajuda a garantir a presença de quem já enfrenta restrições orçamentárias. E a rede formada entre as organizações participantes favorece trocas e colaborações que podem gerar impacto duradouro. Como participar As inscrições para o processo seletivo estão abertas até 01 de outubro de 2025. Após o cadastro, haverá uma sessão explicativa para apresentar o programa e tirar dúvidas, seguida do envio de documentação para análise. As organizações aprovadas participarão dos dois módulos e das mentorias individuais. Mais informações sobre o Programa de Aceleração Cultural estão disponíveis no botão abaixo!
mostrar mais

Participe do nosso grupo no WhatsApp para receber nossos conteúdos em primeira mão

Entrar para o grupo